Maduro reconheceu a derrota
eleitoral do passado domingo. Os militares não saíram à rua como vaticinaram
alguns comentadores dos nossos painéis televisivos e radiofónicos.
Desde que o governo de Maduro foi
empossado, após a morte de Chávez, até domingo, ficaram por resolver questões
essenciais como a política económica de um país muito dependente das receitas
do petróleo, por isso muito sensível às variações nas suas vendas feitas em
dólares, como a corrupção que atravessa todo o país ou como a insegurança que
se vive nas ruas. Apesar da queda de mais de 50% dos preços do petróleo
impostos pelos EUA e agora acentuada na recente cimeira da OPEP, o governo de
Maduro fez questão de não afectar os programas sociais.
Importa, porém, ter em conta que,
para além da agressão militar contra a revolução sandinista nos anos 80, nunca
depois do governo de Unidade Popular de Allende no Chile, qualquer outro país
sofreu uma tão violenta e persistente desestabilização, incluindo uma
tentativa falhada de golpe militar em Fevereiro deste ano – a operação Jericó.
O domínio por redes de traficantes
da fronteira com a Colômbia fez desaparecer os produtos de primeira
necessidade, que passaram a ser vendidos a preços mais altos do outro lado da
fronteira e desapareceram dos supermercados na Venezuela. Esta fronteira passou a ser
dominada por uma amálgama de contrabandistas dos dois países e organizações
mafiosas, de oposicionistas de extrema-direita, de criminosos venezuelanos e
paramilitares, que se relacionavam e entreajudavam. À perseguição a estas
realidades, EUA e União Europeia e o governo socialista francês opunham-se em
nome dos “direitos humanos”. A que se juntaram também os ex-torcionários
colombiano Álvaro Uribe e mexicano Felipe Calderón.
Os casos de ajuda a estes e
outros criminosos e a outros como Guzman Loera (“El Chapo Guzman”) por parte
dos EUA e países “amigos” foram muito além disso. Quando os EUA se queixavam da
falta de combate à corrupção na Venezuela, faziam aliás um silêncio ruidoso
sobre a presença nos EUA de grandes delinquentes que o governo de que este país
pedia, sem resposta, a extradição, como os casos bem conhecidos de corrupção do ex-juiz do
Supremo Tribunal, Luís Velasquez Alvaray ou de Rafael Isea, ex-ministro das
Finanças de Chávez e governador do estado de Aragua, ou do ex-juiz Eladio Aponte,
envolvido no narcotráfico.
Não aconteceu por acaso o assassinato do secretário-geral
da Acção Democrática (AD) do estado de Orituco, Luís Manuel Diaz, a onze dias
das eleições com diversos disparos a partir de um carro que se pôs em fuga. A
atribuição deste crime ao partido do presidente (Partido Socialista Unificado
da Venezuela – PSUV), tese subscrita por Le Monde on-line que acabou por
acolher na edição em papel que, de facto, como tinham referido as autoridades venezuelanas,
o crime se devera a “um ajuste de contas entre bandos rivais”. Apesar disso, a
União Europeia, Rajoy, os EUA, subscreveram a tese inicial. Mas no funeral do
criminoso nenhum dirigente da oposição teve coragem de comparecer…
Vargas Llosa, em 14 de Junho, no
El País vaticinava que, o partido de Maduro dificilmente perderia as eleições
porque procederia a uma fraude eleitoral e recorreria a um banho de sangue
colectivo. Vargas Llosa, intelectual da direita é hoje conhecido por “Marquês”,
por ter recebido essa graça do ex-rei de Espanha, Juan Carlos, após ter
renunciado à sua nacionalidade para se nacionalizar espanhol. Lilian Tintori,
mulher do dirigente do partido da extrema-direita Vontade Popular, Leopoldo
Lopéz, condenado em 13 anos e meio de cadeia, por tentar um golpe de estado em
2014, passou a clamar “que a queriam matar”, recusando qualquer protecção
policial. O correspondente da RTP, Pacheco Miranda, deu tempo de antena a esta
senhora. Mas não referiu que em resultado da guerrilha urbana, entre Fevereiro
e Maio foram mortas por terroristas quarenta pessoas, oito das quais polícias. Ou
ao assassinato em casa de Victor Serra, jovem dirigente do PSUV, em 1914, por
um paramilitar colombiano, que viria a ser julgado por isso com 16 polícias
venezuelanos polícias. Mas espalhou o boato de 17 de Novembro de que Maduro
estaria envolvido num caso de tráfico de cocaína e o presidente da Assembleia,
também militante do PSUV, deteria um cartel de droga
Isto e as campanhas e sondagens
criadas a partir dos media “de referência” na Europa e Estados Unidos, em
articulação com a poderosa rede mediática da oposição venezuelana, dariam bons
filmes.
Não pretendemos com estas
palavras interpretar a causa destes maus resultados eleitorais. Isso cabe a
quem viveu estes dezasseis anos heróicos criando um regime que procurou dar
melhores condições de vida aos que delas precisavam.
A nós cabe a denúncia do que
poderá acontecer às condições económicas e sociais do povo da Venezuela e o
estímulo que este resultado, na sequência do das eleições recentes na
Argentina, poderá dar ao imperialismo para ameaçar os regimes progressistas que
restam na América Latina.
Como a
Telesur referia hoje , Maduro falou de um “debate integral, para fortalecer a
revolução e procurar soluções para as questões do país”, um debate para “fazer
mais revolução”.
O chefe de Estado venezuelano fez o apelo, na companhia dos ministros e ex-candidatos às eleições parlamentares. Disse que o debate não é para o chavismo se “autoflagelar”, como “quer a embaixada norte-americana e o imperialismo”, mas para “reconstruir nova maioria revolucionária”. Acrescentou que será feita “uma grande jornada de debate, de consulta e de elaboração da estratégia de ação” face à nova etapa que começa na revolução bolivariana.
“Vocês não sabem a dor que levamos no coração depois deste revés eleitoral, de como a burguesia fez danos ao povo, não apenas economicamente, mas também confundindo importantes setores de nossa sociedade, do nosso amado povo, ao qual dirigimos uma mensagem: Nós somos vocês”, disse Maduro. Segundo ele, “não há tempo para tristezas”, mas para “lutar” e procurar a união entre os chavistas.
O chefe de Estado venezuelano fez o apelo, na companhia dos ministros e ex-candidatos às eleições parlamentares. Disse que o debate não é para o chavismo se “autoflagelar”, como “quer a embaixada norte-americana e o imperialismo”, mas para “reconstruir nova maioria revolucionária”. Acrescentou que será feita “uma grande jornada de debate, de consulta e de elaboração da estratégia de ação” face à nova etapa que começa na revolução bolivariana.
“Vocês não sabem a dor que levamos no coração depois deste revés eleitoral, de como a burguesia fez danos ao povo, não apenas economicamente, mas também confundindo importantes setores de nossa sociedade, do nosso amado povo, ao qual dirigimos uma mensagem: Nós somos vocês”, disse Maduro. Segundo ele, “não há tempo para tristezas”, mas para “lutar” e procurar a união entre os chavistas.