A Cimeira UE-CELAC realizou-se em Bruxelas de 17 a 18 de
julho.
Nela, os membros da UE tentaram minar abertamente as
relações da Rússia com a América Latina, que estão ligadas por muitas décadas
de amizade, afinidade cultural e cooperação mutuamente benéfica".
De acordo com fontes diplomáticas e meios de comunicação
europeus, os líderes da UE pretendiam convidar o presidente ucraniano, Vladimir
Zelensky, para a cúpula e inicialmente prepararam um rascunho de declaração
final com uma parte significativa dedicada à Ucrânia. No entanto, os
participantes latino-americanos exigiram que a visita de Zelensky fosse
cancelada e que os parágrafos relacionados à Ucrânia fossem excluídos do texto
final. O cancelamento da visita de Zelensky foi confirmado no fim de semana
pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Agora há que estarmos atentos a se se realizam ou não
promessas de investimento. Como disse na altura Lula da Silva “Os EUA não querem
investir? Há mais quem o queira!”, “A UE não quer investir? Há mais quem o
queira”.
Durante o encontro de dois dias, os europeus anunciaram
investimentos de 45 mil milhões de dólares na América Latina, apesar de parte
dos recursos se referirem a projetos já em andamento. Mas Lula destacou o
compromisso reiterado pelos europeus de desembolsar 100 milhões por ano para o
financiamento climático, necessários para combater o desmatamento na Amazônia,
território soberano do Brasil, e outras florestas.
Lula afirmou que em duas ou três semanas vai mandar a
resposta de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai à carta (“side letter”), que
ele considerou "agressiva" do bloco europeu, com exigências
ambientais adicionais para a implementação do tratado.
“Nós não aceitamos a carta adicional da União Europeia. É
impossível você imaginar que entre parceiros históricos como nós, alguém faça
uma carta com ameaças. Nós fizemos uma carta-resposta e achamos que a União
Europeia vai concordar tranquilamente com a nossa resposta”, sublinhou.
Ele voltou a dizer que o Brasil não pretende ceder no
capítulo das compras governamentais, consideradas um instrumento de
desenvolvimento interno para a indústria nacional e de todo o Mercosul.
“A França é muito ciosa da proteção de seus produtos
agrícolas, de seu pequeno e médio agricultor. Da mesma forma que a França tem
essa primazia de defender seu patrimônio produtivo, nós temos o direito de
defender o nosso”, destacou. “A riqueza de uma negociação é que todos têm de
ceder”, argumentou. "Fecharemos o acordo que for possível", insistiu.
O presidente Lula da Silva fez várias críticas aos países
europeus, ao falar na abertura da cimeira entre a União Europeia (UE) e a
Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta segunda-feira
(17), em Bruxelas. Ele disse que as preocupações ambientais não podem ser
utilizadas para justificar o protecionismo comercial.
Lula lembrou que desde o início do ano o desmatamento recuou
33% na Amazônia. "Proteger a Amazônia é uma obrigação. Vamos eliminar seu
desmatamento até 2030. Mas a floresta tropical não pode ser vista apenas como
um santuário ecológico", disse Lula, argumentando que o desenvolvimento
sustentável tem três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a
ambiental.
Já antes, Lula havia insistido com a presidente da Comissão
Europeia, Ursula von der Leyen, que 50 milhões de pessoas vivem na Amazônia e
precisam ter condições de sobrevivência "dignas e decentes".
Lula recordou que a cooperação entre as duas regiões deve
refletir as realidades e prioridades de ambos os lados do Atlântico. "Para
a América Latina e o Caribe, isso se traduz em um enfoque claro na redução das
desigualdades e na erradicação da fome e da pobreza", destacou.
Mas o atual modelo de governança global perpetua
assimetrias, aumenta a instabilidade e reduz as oportunidades para os países em
desenvolvimento, destacou Lula que afirmou que a reforma da governança global
será um dos principais temas da presidência brasileira do G20, no ano que vem.
"As legítimas preocupações dos países em desenvolvimento devem ser
atendidas, e precisamos estar adequadamente representados nas instâncias
decisórias", concluiu o brasileiro, que foi bastante aplaudido.
Sobre a inclusão da condenação da Rússia na declaração, Lula
sublinhou que em fevereiro do ano passado, o Brasil votou a favor de resoluções
na ONU que condenaram o uso da força contra a integridade territorial da
Ucrânia, ferindo um princípio garantido pelas Nações Unidas.
Mas o governo brasileiro discordou de sanções aplicadas de
forma unilateral contra a Rússia ou qualquer outro país. "Recorrer a
sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para
penalizar as populações mais vulneráveis", salientou. O Brasil prefere
apoiar as iniciativas em favor da cessação imediata das hostilidades e uma
solução de paz negociada.
À margem desta a
Cimeira dos Povos juntou em Bruxelas mais de 200 organizações políticas e
sociais da América Latina.
Como a abrilabril referia no passado dia 18, para alguns,
seria uma surpresa que o maior aplauso da noite num auditório de centenas de
pessoas à espera do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, ou
da Colômbia, Gustavo Petro, tivesse sido para uma cientista: a cubana Belinda
Sánchez Ramírez, diretora do Centro de Imunologia Molecular, uma das
«criadoras» da vacina cubana contra a covid-19.
Mas é esse o propósito da Cimeira dos Povos, a
contra-cimeira ou cimeira alternativa, paralela à reunião dos chefes de Estado
da União Europeia com os países da América Latina e Caribe (CELAC). Se na
segunda se falou de Putin, da guerra na Ucrânia, da NATO, de segurança, de
negócios e de investimento, na primeira, discutiu-se a paz, a soberania, a
cooperação internacional, o clima, a saúde, a dívida, o fim de bloqueios e de
ingerências.
Como disse o presidente cubano Díaz-Canel, que visitou, fora
do alinhamento previsto, o Festival da Solidariedade, que encerrou o primeiro
dia da Cimeira dos Povos: «Como não havíamos de vir à verdadeira cimeira, esta,
que é onde os povos estão?»
A declaração da Cimeira pode encontrar-se em
https://ambientedomeio.com/2023/07/18/declaracao-da-cupula-celac-ue-2023/