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sexta-feira, 29 de junho de 2018

Bom fim de semana, por Jorge

"Il calcio è un rituale in cui i diseredati
bruciano l'energia combattiva e la voglia di rivolta."
 
"O futebol é um ritual em que os desfavorecidos
queimam a energia de combate e a vontade de revolta."

Umberto Eco
escritor e semiólogo italiano
1932 – 2016
em entrevista de 1997

Todos cantam vitória: extrema-direita e policiamento ganharam mas imigrantes perderam, por António Abreu


Nesta madrugada a Cimeira Europeia concluiu um compromisso para salvar as aparências, tendo os líderes da UE concordado em permitir que os estados-membros obedeçam «voluntariamente» às cláusulas mais controversas do acordo de migração.
Os ex-colonialistas da África subsaariana, onde praticaram o comércio de escravos, não criando recursos para o desenvolvimento e deixando esses países na fome e na miséria e os mesmos, mais os EUA, que desenvolveram, com o apoio do Estado Islâmico, «revoltas», que invadiram e destruíram vários países do Norte de África e do Médio Oriente, defrontam uma outra grave consequência dos seus anteriores comportamentos criminosos. E a extrema-direita beneficia eleitoralmente dela.
O que revolta ainda mais é a natureza desumana de algumas medidas. Uma primeira são os centros de acolhimento que, por muito bem organizados que sejam, serão uma fonte de discriminação, de ruptura das relações sociais, de tráfico de crianças e de jovens empurradas para a prostituição, e recrutamento entre os desesperados para redes criminosas, incluindo terroristas. Os traficantes de seres humanos, deixados em embarcações à deriva no Mediterrâneo estão há muito coordenados com redes de tráfico para estes efeitos a trabalharem em solo europeu.
A segunda é a distinção entre refugiados (políticos ou de guerra, susceptíveis de direito a asilo, nomeadamente oriunda do Médio Oriente, com mais altas qualificações académicas) e a imigração económica (os mais desprovidos de tudo mas que ainda são camadas com algumas posses, espoliadas pelos traficantes, nomeadamente vindos de países subsaarianos).
E a terceira, o reforço policial das fronteiras, através do reforço do Frontex e da capacidade de fazerem este rastreio e divisão entre os que poderão entrar e os que são imediatamente rejeitados. Com agentes bem armados.
Pressionados pelas pressões da Itália, dos países do chamado Visegrado, e dos aliados de Merkel, os bávaros da CSU, os 28 líderes da União Europeia (UE) concordaram em reformar o sistema de asilo por consenso e incluir uma cláusula sobre o acolhimento de migrantes nos países da UE de forma voluntária. Parte do acordo dá à Itália e à Grécia a opção de instalar centros de migrantes no seu território, se assim o desejarem.
O Conselho Europeu concluiu: «No território da UE, aqueles que são salvos, de acordo com o direito internacional, devem ser acolhidos, com base num esforço partilhado, através da transferência para centros controlados instalados nos estados-membros, apenas numa base voluntária, onde o processamento rápido e seguro permitiria, com todo o apoio da UE, distinguir entre os migrantes irregulares, que serão devolvidos, e aqueles que necessitam de proteção internacional, aos quais se aplicaria o princípio da solidariedade»..
«Todas as medidas no contexto desses centros controlados, incluindo a deslocalização e instalação, serão voluntárias, sem prejuízo da reforma de Dublin.»
Os líderes também apelaram à «necessidade de os estados-membros assegurarem o controlo efectivo das fronteiras externas da UE com o apoio financeiro e material da UE», sublinhando a «necessidade de dar significativos novos passos» no regresso dos migrantes.
O presidente francês, Emmanuel Macron, passou parte da quinta-feira em conversações com o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, tentando encontrar um compromisso para salvar a UE. «Foi a cooperação europeia que venceu», disse após negociações que foram apresentadas como «tensas».
«A Europa terá que viver com pressões migratórias por muito tempo. Temos que ser capazes de enfrentar este desafio, respeitando os nossos valores.»
A chanceler alemã, Angela Merkel, cuja política de «porta aberta» para refugiados qualificados de que carecia para trabalhar na sua indústria, contribuiu para o actual fluxo migratório para a Europa, saudou o resultado das negociações, observando, no entanto, que há muito trabalho a ser feito para superar as diferenças em toda a UE...
«No geral, após uma discussão intensa sobre este tema que mais desafiou a União Europeia, a saber, é um bom sinal que concordamos com um texto comum», disse Merkel. «Ainda temos muito trabalho a fazer para superar as diferentes visões».
As negociações também incluíram o já referido acordo para aumentar a segurança das fronteiras e acelerar o processo de tratamento do direito de asilo dos requerentes e de extradição dos que não forem para isso elegíveis.
É esta a Europa dos valores, de que Macron tanto fala, nas suas aspirações a Bonaparte deslocado do tempo.
Arrumado desta forma a questão, o primeiro-ministro italiano já autoriza que o Conselho continue em Bruxelas para tratar de outras questões. Em algumas delas, Macron aceita submeter-se à vontade da Alemanha, como ficou claro no encontro preparatório que teve com Merkel na passada terça-feira.
Como são os casos da União Económica e Monetária, da União Bancária e do Orçamento da Zona Euro, a criação de um sistema de resolução (Fundo Único) da zona euro com consequências desastrosas para os bancos do nosso país.

artigo originalmente publicado em www.abrilabril.pt

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Bom fim de semana, por Jorge



"Au football, tout est compliqué par la présence de l’équipe adverse."
 
"No futebol, tudo se complica pela presença da equipa adversária." 

Jean-Paul Sartre
filósofo e militante político francês,
1905-1980

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Duas semanas de excepcionais acontecimentos, por António Abreu


Alguns acontecimentos destas duas semanas criam um conjunto complexo de interações que deixam prever mudanças significativas ao nível das relações internacionais nos próximos tempos, com um agravar de crises no mundo capitalista ocidental e algumas perspectivas promissoras no território mais amplo da Eurásia. É certo que as geoestratégias sofrem ajustamentos mas os movimentos e sabedoria populares também têm influência neles.
As decisões da Fed e do BCE no que respeita a taxas de juro, com o BCE a anunciar o fim para este ano dos apoios às economias pela compra das dívidas soberanas e as consequências disso para Portugal, e a adiar para 2019 a subida das taxas de juros.
O fracasso da cimeira dos G7 no Quebeque e o início de guerras comerciais em torno das taxas aduaneiras entre os EUA e vários países de todos os cantos do mundo.
A soma de vários fracassos da União Europeia, agora com o novo episódio de refugiados subsaarianos e a tentativa de uma fuga para a frente da França e da Alemanha, com posicionamentos diferenciados, no aprofundamento desta integração europeia, virada para um Orçamento comum. Terem acertado entre si listas transnacionais para as eleições no PE em 2024 é novo grau de afastamento de eleitores e eleitos e alienação das responsabilidades nacionais destes.
O eixo franco-alemão debilitado no que respeita às dinâmicas de ambos, já não tem o mesmo peso numa EU esfrangalhada. A “fuga para a frente” destas condições é duplamente uma aventura de aprendizes de feiticeiros. O Conselho Europeu dos próximos dias 28 e 29, em Berlim, tem uma agenda pesada de pontos contraditórios. A política anti-imigração do novo governo italiano,

 
justamente criticada, não apaga que os restantes países europeus não se comprometeram com as cotas de acolhimento acordadas entre si enquanto a Itália recebera até aqui 15 mil imigrantes. Numa demonstração fatal da hipocrisia da humanidade dos chefes do velho continente…a UE parece querer ignorar e o “eixo” parece, em matéria de imigração, só querer avançar para o reforço policial das fronteiras (diz Merkl “Não devemos deixar aos traficantes a decisão sobre quem vem para a Europa”…que se pode interpretar de várias maneiras: só os queremos com uma certa formação, os traficantes que continuem mas respeitando isso, etc.).
A desumanidade da administração Trump na separação de filhos de pais imigrantes. A saída dos EUA da Comissão da ONU para os Direitos Humanos (por esta ser hostil a Israel…) na sequência da anterior saída da UNESCO, depois de deixar de pagar à agência. De novo pela mesma razão do “antissemitismo” e por não aceitar um árabe na sua presidência.
Os EUA rejeitaram a subida dos preços do petróleo pela OPEP. Mas não se lembraram que isso será útil para parte dos países produtores equilibrarem os seus orçamentos, incluindo alguns contra os quais os EUA decretaram, no passado, sanções comerciais (Irão e Venezuela).
O impacto da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai OSC) e o contraponto que fez com o

A verde os países membros da OSC, a azul osobservadores
desaire dos G7 afirmaram a pujança relativa da organização. Depois da adesão da Índia e do Paquistão, a OSC tornou-se o maior organismo regional do mundo, em termos de cobertura geográfica e população, abrangendo todo o continente eurasiático com mais de 3 mil milhões de pessoas. As economias destes países juntas constituem a maior economia regional do planeta e têm metade da população mundial


O BCE e o "fim da bonança"...Qual bonança?, por António Abreu

Mário Draghi anunciou há dias que o BCE vai abandonar em duas fases até ao final deste ano a compra de dívida soberana dos países da UE e que as taxas de juros baixas só se manterão baixas até Agosto de 2019. Ontem veio a Sintra a um forum do BCE em Sintra insistir nessa orientação apesar de diferentes economistas e reponsáveis de bancos centrais terem expresso dúvidas sobre elas (remeto o çleitor para uma peça assinada hoje no Publico por Sérgio Aníbal).
 
A compra de activos seria para estimular o crédito para ajudar as economias. Num ambiente que nos quer criar receios quanto ao futuro, na sequência de uma revisão em baixa do crescimento na UE de 2,4% para 2,1%, da subida do preço do petróleo e na expectativa da “guerra” comercial com os EUA. E deixando tudo na incerteza de alterações num sentido ou noutro das economias…
A taxa de empréstimos aos bancos está a ser de 0% e de -0,25% nos depósitos dos excedentes de liquidez desses bancos no BCE.
Mas já houve a amarga experiência de isto ter sido feito com bancos que “não estavam saudáveis”, que se descapitalizaram, que beneficiaram desse programa de apoio. Mas isso não teve reflexo no crédito para o investimento mas apenas no consumo para o endividamento crescente das famílias, situação que agora, sem a banca ter resolvido os seus problemas, se acentuará, não contribuindo para criar emprego nem para fazer crescer a economia (apesar da inflação já aí estar sem a economia a crescer…), mas dirigindo as suas orientações para a especulação e para o aumento do preço dos activos, podendo nesta a criar novas bolhas que rebentarão como a do subprime em…E como a banca se porta mal, em estreita articulação com a especulação dos grandes grupos económicos e financeiros do “mundo ocidental”, não faltará o dia em que o BCE voltará a interpelar os países-membros a garantirem nova capitalização da banca…
Para alguns comentadores isto seria um aviso para o regresso a uma “normalidade do mundo capitalista” do crescimento contínuo das taxas de juro. Só que uma vez mais sem crescimento da economia…E seria uma forma de conciliar de posições opostas em que, dum lado, se destaca a Alemanha que se opõe à compra de dívida porque tem a economia a crescer (essencialmente pública…para estimular a economia) e do outro se encontram países como a Itália mas também como Portugal.
Os comentadores querem-nos fazer crer que isto é um aviso de que pode vir aí o “fim da bonança”…Bonança? Qual? Onde? Trocando em miúdos aquilo a que estes comentadores querem abrir caminho é: nada de aumento de despesas com salários, reformas, ajustamento de carreiras, recuperação de anos perdidos para elas, nada de investimentos na saúde, educação, transportes públicos,etc

domingo, 17 de junho de 2018

De Oeiras à boleia, Lenine entra no Técnico ao romper da madrugada, por António Abreu



 
No 100º aniversário do nascimento de Lenine, em 1970, as portas e vitrinas do IST receberam centenas de vinhetas, feitas com um linóleo onde a maestria das goivas esculpira a sua efígie num delicado carimbo. 

Um grande escultor e professor da Escola António Arroio, o Vasco Pereira da Conceição, com obras por exemplo nos jardins e lago do Parque Eduardo VII, companheiro de outra escultora, a Maria Barreira, (1914-1992), esculpiu-o em gesso. Era uma peça que teria uns 50x30x50cm, com cerca de 10 kg de peso. Veio de carro e entrou pela porta da Av. Rovisco Pais.
Foi colocado inicialmente no muro que separa os pavilhões de Química e Minas do campo de jogos da AEIST. O director de então, Fraústo da Silva não o soube ou decidiu não tomar nenhuma atitude. Alguém o terá metido, posteriormente no cimo do armário, na sala de biblioteca/ reuniões da AEIST, o que certamente inspirou alguns pensamentos aos muitos estudantes que lá reuniam. Outro alguém o mutilaria mais tarde e acabou por sair de lá, não sei para onde.

Um outro camarada do Técnico, mas que integrava outro organismo do Partido foi encarregado de produzir e distribuir pequenos panfletos com o rosto do Lenine e as palavras, se bem se recorda: “ Por comemorações no Técnico”.

Estes pequenos panfletos (tamanho A5?) produziram alguma preocupação na Direcção da AEIST. Numa reunião de colaboradores o assunto foi abordado e este camarada recorda um dirigente da associação declarar, então, com ar de entendido, que devia ser coisa da Legião pois o panfleto teria sido feito em stencil electrónico…

Para ele fora a glória nas lides do Agit-Prop. De facto tinha sido utilizado um duplicador manual, que ele e outros tinham construído e que não funcionava lá muito bem (o rolo era um vulgar. “rolo da massa” revestido com uma câmara de ar de bicicleta). O desenho foi preparado por ele (que confessa não ter grande jeito) por decalque do contorno de uma fotografia, com uma esferográfica directamente sobre o stencil que se apoiava numa capa de plástico rugoso (daí o ar de stencil electrónico).

Não se recorda se usaram o duplicador para algum outro material, mas pensa que não pois não tinha qualidade suficiente para imprimir texto normal.

 

sábado, 16 de junho de 2018

Bom fim de smana, por Jorge



"The very meaninglessness of life
forces man to create his own meaning."
 
"A própria falta de sentido da vida
obriga a humanidade a criar o seu."

Stanley Kubrick
cineasta americano, 1928-1999
em entrevista ao magazine Playboy em 1968

sexta-feira, 8 de junho de 2018

A “guerra comercial” de Trump pode virar-se contra os interesses dos EUA, por António Abreu


Taxa de cobertura das importações pelas exportações(tx=export/importx100) dos EUA, de vários países e da UE


    A taxa de cobertura de Portugal passou de 79,0 em 1996 para 104,3 em 2017.Na U28 o país em que esta taxa mais cresceu foi a Alemanha onde passou neste período de 103,7 para 119,3
 
A tensão entre as grandes potências económicas pode vir a afectar vários países e reduzir o fluxo do comércio internacional, com consequências difíceis de antecipar quanto é certo que continuam a decorrer negociações entre as partes envolvidas.

As tarifas de 25% aplicadas pelos EUA ao aço e de 10% a o alumínio importados começaram a ser aplicadas em relação ao Canadá e México. A UE e a China também são alvo de medidas semelhantes. Todos os atingidos estão a retaliar, não sendo claro quem vai ficar pior no fim disto tudo.

Os EUA importam mais destes países do que exportam para eles (importa 296 mil milhões de dólares do Canadá e exporta para ele apenas 266, enquanto importa do México 302 enquanto exporta para ele apenas 229). O argumento de que passou a praticar essas taxas em nome da segurança nacional foi ridicularizado pelo 1º ministro do Canadá mas é real que os EUA estão a depender cada vez mais de importações de aço e alumínio - particularmente importantes na construção de navios e aviões - para satisfazer os apetites do complexo militar-industrial em construir cada vez mais para vender cada vez mais.

Em relação à China, esta e os EUA tiveram uma reunião nos passados dias 2 e 3 e para a China os resultados destas conversas devem respeitar o pré-requisito de que as duas partes encontrem o equilíbrio e não entrem numa guerra comercial. Segundo o documento saído das reuniões, para a parte chinesa implica que” todos os resultados económicos e comerciais das conversas não entrarão em vigor se o lado norte-americano impuser sanções comerciais, incluindo o aumento das tarifas", o que parece normal para quem negoceia de boa-fé.

Dos acordos bilaterais que os EUA queriam assinar com outros países, já foram assinados acordos com a Coreia do Sul, a Austrália, a Argentina e o Brasil. Mas, o mais importante, foi a guerra comercial com a China ter sido suspensa por tempo indeterminado, uma vez que Pequim se mostrou disposta a negociar um acordo que prevê o aumento das importações chinesas de energia e bens alimentares norte-americanos num valor que permita aos Estados Unidos reduzir o seu défice comercial com a China.

A China comprometeu-se a trabalhar com os exportadores chineses para reduzir o déficite comercial dos EUA com a China. Mas para isso os EUA precisariam de uma redução de pelo menos 200 mil milhões de dólares até o fim de 2020. Ora, vários especialistas em comércio internacional dizem que os EUA não têm pura e simplesmente a capacidade de aumentar a produção o suficiente para atingir essa meta, substituindo as importações por produtos equivalentes produzidos nos EUA. Para eles, os EUA estão a operar com pleno emprego nas suas empresas que trabalhem para esse fim e nelas não há uma grande capacidade produtiva subutilizada.

Uma “guerra” de tarifas aduaneiras dos EUA com a China podem, por exemplo, provocar a queda abrupta da competitividade da indústria automobilística dos EUA. E, nesse caso, a China aumentará as encomendas de automóveis aos países europeus e asiáticos e potenciará o crescimento da indústria automóvel da China para o seu enorme mercado interno.

A economia dos EUA na sua relação com outros países está, de facto, a evoluir de forma negativa (ver anexo).

Quanto à Alemanha, esta fechou 2017 com um recorde de exportações, embora o seu excedente comercial tenha recuado pela primeira vez em oito anos.

As exportações da maior economia europeia chegaram a 1,279 biliões de euros, num acréscimo anual de 6,3%. Já as importações foram de 1,034 biliões de euros (+8,3%).O excedente comercial foi, consequentemente, de 244,9 mil milhões de euros.

As exportações alemãs para a Europa aumentaram 6,3% em 2017, atingindo os 750 mil milhões de euros, com subida de 7% nas vendas para os países da zona do euro, e de 5,1%, para os demais. As exportações para países não europeus, incluindo os Estados Unidos, maior parceiro comercial da Alemanha, também cresceram 6,3%, isto é, 529,4 mil milhões de euros.

As importações dos EUA de países não europeus cresceram 2,3%, enquanto as procedentes da Europa subiram 7,9% (!). Em Janeiro, o presidente Donald Trump voltou a criticar a Alemanha, por considerar excessivo o seu superavit comercial com os EUA. O líder americano tinha ameaçado impor tarifas aduaneiras como represália, o que poderia afetar a indústria automobilística alemã. E também criticou a Alemanha por esta comprar gás natural à Rússia, potência “inimiga”, e permitir que o seu território fosse atravessado pelos gasodutos da Gazprom para outros países europeus.

Para compreender esta debilidade relativa dos EUA, há que ter em conta que a economia dos EUA e as suas estruturas financeiras nunca recuperaram da grande crise financeira de 2008, apesar de já terem passado dez anos. Pouco se discutiu o facto de o Congresso Republicano no ano passado ter abandonado o processo de cortes orçamentais obrigatórios ou cativações automáticas que tinham sido votados numa tentativa de conter o aumento da dívida do governo dos EUA. Se se atender aos orçamentos federais, cerca de 75% dos gastos federais são economicamente improdutivos, neles estando incluídas as despesas militares, o serviço da dívida mas também outras despesas. Ao contrário da Grande Depressão dos anos 30, quando os níveis da dívida federal eram quase nulos, hoje a dívida é de 105% do PIB e está a aumentar. Os gastos em infraestruturas económicas nacionais, incluindo a Tennessee Valley Authority e uma rede de barragens construídas pelo governo federal e outras infraestruturas, resultaram do grande boom económico dos anos 50. Depois disso nada de significativo foi feito e os 1,5 biliões de dólares aprovados para o programa do novo caça F-35 contribuirão para agravar muito mais o déficite.

Nesta situação precária, Washington está a confrontar os próprios países de que precisa para financiar esse déficite, comprando-lhe a dívida dos EUA. Como acontece com a China, Rússia e o Japão. Como os investidores financeiros exigem mais juros para investir na dívida dos EUA, as taxas mais altas agravarão a situação e os ratings das notadoras financeiras, mesmo seguindo os interesses da administração norte-americana, não perdoarão. Parece que ninguém em Washington se importa com isso e esse é um facto alarmante.

A generalização de taxas de importação maiores, como expressão do confronto comercial entre grandes grupos económicos mais ou menos aliados dos EUA, não vai resolver o problema da economia americana e irá gerar uma grande redução do comércio internacional com consequências para os EUA e para muitos outros países.

Este é o pano de fundo das perigosas opções de política externa dos EUA no momento em que os efeitos positivos do processo de desnuclearização na península coreana são obscurecidos por provocações de diferentes tipos como as intervenções com bandos dedicados a destruições na Venezuela e na Nicarágua, a manutenção ainda do apoio a grupos terroristas já praticamente derrotados na Síria, e os bombardeamentos nesta de força da "coligação internacional
 
A verde os países que hoje integram a Organização de Cooperação de Xangai (OCS)
 
Contrastando com esta situação de conflitualidade, realizou-se  na China o 18º encontro do Conselho de Chefes de Estado da Organização de Cooperação de Shanghai (OCS), Ao longo dos últimos 17 anos os estados que a integram acompanharam a tendência de paz, desenvolvimento, cooperação e benefício mútuo, apostando nos dois vectores da segurança e da economia para avançarem em conjunto. 

Nesta reunião participaram os novos membros India e Paquistão que assim se juntam ao Cazaquistão, República Popular da China, Quirguistão, Rússia, Uzbequistão e Tajiquistão. Inclui ainda cerca de vinte observadores (incluindo o Irão, Afeganistão, Bielorússia e Mongólia), parceiros de diálogo e convidados. A cimeira vai facilitar as trocas comerciais e a cooperação entre os países-membros e que isso inclui a cooperação entre micro, pequenas e médias empresas e o desenvolvimento do comércio de serviços, comércio eletrónico e think tanks económicos. Para além do apoio à luta travada pela Síria, entenderam que os conflitos no Afeganistão devem ser resolvidos pela própria população
O comunicado em 10 pontos saído da reunião contempla

1- Oposição à fragmentação nas relações comerciais mundiais e a qualquer forma de protecionismo comercial.
2 – Apoiar a Exposição Internacional de Importação da China, a ter lugar em novembro de 2018, em Shanghai.
3 - Persistir na resolução da questão da Península Coreana através do diálogo e da consulta.
4 - Enfatizar o diálogo político e a criação de um processo de paz e reconciliação, liderado pelo Afeganistão, como única forma de resolver a questão afegã.
5 – Destacar a importância da implementação sustentável do acordo nuclear iraniano, e apelar às partes concernentes para garantir a total implementação deste.
6 – Oposição ao uso de armas químicas por qualquer pessoa, em qualquer lugar, independentemente das circunstâncias.
7 – Aprovar a concepção da Cooperação na Proteção Ambiental dos Estados Membros da OCS.
8 – Apoiar a cooperação na área da inovação.
9 – Dar continuidade à pesquisa para a criação de um banco de desenvolvimento e de um fundo de desenvolvimento da OCS.
10 - Promover a cooperação mediática e apoiar a realização de uma cimeira de imprensa da OCS.
 




 
Anexo - Alguns dados sobre a economia norte-americana
 
Principais produtos agropecuários produzidos: milho, algodão, frutas, trigo, vegetais, leite, carne de porco, peixe.

 Principais produtos industrializados produzidos: automóveis, máquinas, aviões, computadores, equipamentos eletrônicos, navios, produtos químicos, têxteis, alimentos processados, equipamentos de telecomunicações.

Principais recursos exportados: agrícolas (trigo, milho, frutas); suprimentos industriais (adesivos, cerâmica, vidro, ferramentas, gesso, lanternas); manufacturados (motores de veículos, computadores, equipamentos de telecomunicações, transistores).

Principais recursos importados: carros, crude, unidades de disco digitais, e medicamentos embalados

Principais parceiros económicos (exportação): Canadá, México, China, Japão e Alemanha

Principais parceiros económicos (importação): China, Canadá, México, Japão e Alemanha

Exportações (em 2016): 1,471 biliões de dólares

Importações (em 2016): 2,205 biliões de d´lares

Saldo da balança comercial: déficite de 734 mil milhões (em 2016)

PIB dos EUA cresceu 1,6% em 2016, ficando, em valores nominais, pelos 18,2 biliões de dólares, e o PIB per capita 57,5 mil dólares

Os Estados Unidos são a 2º maior economia exportadora no mundo (a 1ª é a China). Em 2016, os Estados Unidos exportaram 3,5 biliões e importaram 4,88 biliões de dólares, do que resultou um saldo comercial negativo de 1,38 biliões. Em 2016, o PIB nominal dos Estados Unidos foi de 18,6 biliões e o seu PIB per capita de 57,5 mil dólares.

As exportações principais do Estados Unidos são Indeterminado (159 mil milhões), Produtos refinados do petróleo (63,9 mil milhões), Carros (62,3 mil milhões), Aviões, helicópteros, e / ou naves espaciais (60,2 mil milhões) e Turbinas a Gás (56,1 mil milhões). As suas principais importações são Carros (177 mil milhões), Crude de Petróleo (104 mil milhões), Unidades de Disco Digital (88,6 mil milhões), Indeterminado (85,8 mil milhões) e Medicamentos embalados (74,4 mil milhões).

Os principais destinos de exportação dos Estados Unidos são o Canadá (266 mil milhões), o México (229 mil milhões), a China (115 mil milhões), o Japão (63,2 mil milhões) e o Reino Unido (55,3 mil milhões).

As origens de importação de topo são da China (385 mil milhões), do México (302 mil milhões), do Canadá (296 mil milhões), do Japão (130 mil milhões) e da Alemanha (118 mil milhões).

O saldo negativo da balança comercial dos EUA aumentou 1,59% em Fevereiro deste ano, ascendendo a 57.600 milhões de dólares (46,9 mil milhões de euros), o valor mais elevado em mais de nove anos.

Nota - Actualizado em 18/6/18 

Bom fim de semana, por Jorge


"Inside every cynical person,
there is a disappointed idealist."
 
"No íntimo de cada cínico jaz
um idealista desiludido."

George Carlin
comediante americano
937-2008

sábado, 2 de junho de 2018

A agressão bárbara por esquerdistas a José Manuel Jara em 1972 numa reunião da RIA, por António Abreu

José Manuel Jara, presidente da Direcção da CPA de Medicina foi barbaramente espancado na noite de 24 de abril de 1972, ao entrar numa reunião da RIA (Reunião Inter-Associações de Estudantes) que estava a decorrer nas instalações da AE do ISCEF, com entrada pela Rua Miguel Lupi.

Uma delegação da Pró-Associação de Medicina, que incluía Sita Vales e Ferreira Mendes, compareceu a essa reunião, e o Jara chegaria mais tarde por estar numa reunião com a Ordem dos Médicos. A ordem de trabalhos tinha como ponto único a luta contra a repressão. No começo da RIA a delegação da Associação de Ciências propôs como ponto prévio que a reunião tomasse uma posição face aos “provocadores”.

A delegação de Ciências adiantou que conhecia um provocador pidesco… e esse provocador pidesco era o Jara (!!!). Porque tinha acusado os dirigentes da AE de Ciências de ter abandonado os estudantes da sua escola, encerrada. Para espanto total de todos os estudantes de boa-fé que ali estavam, iniciou-se o “julgamento" sem a presença do "réu”.

A maquinação e a trama não se ficaram por aqui. Como esta questão não fosse suficiente" (?) para a "condenação" fizeram-se alegações falsas de intuito deliberadamente provocatório e não provadas sobre "outra conversa pessoal". O Jara tinha sido abordado na CPA de Medicina por uma estudante de Medicina, irmã de uma dirigente associativa de Ciências, que lhe mostrou um comunicado clandestino do PCP apelando ao 1º de Maio, e ele comentou ser um risco andar com ele e, ironicamente, afirmou ainda que não mostrassem “aos gajos de Ciências que não iriam gostar disso…”

Foi votada a sua expulsão da RIA por 3 votos a favor (Ciências, Técnico, e MAEESL - Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário de Lisboa), 2 votos contra do Instituto Industrial e da Pró-Associação da Faculdade de Medicina e uma abstenção da Associação da Faculdade de Direito de Lisboa, que se distanciou do ocorrido (1).  

A direcção da CPA de Medicina presente, através de Sita Vales e Ferreira Mendes, afirmaram imediatamente em declaração de voto que não estariam presentes na R.I.A. enquanto não fosse revogada a decisão.
Foi uma “deliberação” contra o presidente da CPA da Faculdade de Medicina que sempre tinha defendido o Movimento Associativo, que fora eleito democraticamente eleito pela grande maioria dos estudantes desta Faculdade, que sempre tinha merecido a confiança destes para cumprir as suas decisões maioritárias. Tentou-se um processo maquiavélico de o "queimar" inquisitorialmente.

Quando a força não se impunha pelas ideias, optaram por impor as ideias pela força, a murro…
Ao chegar a Económicas para a reunião da RIA, o Jara foi avisado pela Sita Vales e pelo Ferreira Mendes, ambos da CPA de Medicina, e por outros estudantes, que lhe estava preparada uma “espera”, o que provocou a interrupção da RIA e gerou uma escaramuça, pois logo acorreram a defendê-lo vários estudantes.

O José Manuel Jara explicaria perante a reunião, de facto um tribunal-farsa, que confirmava (e repetia) ter dito em conversa pessoal - aquilo que trágico-comicamente se considerou o delito - com um membro da Direcção da AE de Ciências que foi a uma reunião de estudantes de Medicina para aí denegrir a luta dos Estudantes de Coimbra (1968-1969). Ao que o Jara retorquiu ter sido essa uma luta de grande combatividade, com a direcção eleita pelos estudantes sempre presente nela, o que contrastava com o desaparecimento, em plena luta dos estudantes da Faculdade de Ciências, da sua direcção associativa que “tinha recolhido ao leito”.

 

Depois da parte "legal", o pessoal das direcções de Ciências, Técnico e MAEESL, passou à violência. Impediram a saída do Jara e em jeito de piquetes "policiais", em atitude agressiva rodearam os estudantes que o apoiavam, e que estavam em minoria.
Chovem provocações das mais mesquinhas! Entre os agressores destacam-se Pedro Ferraz de Abreu, e dirigentes da AEIST, da AE de Económicas (o mesmo que já agredira a Violante Saramago em episódio que aqui referi noutro post) e do MAEESL (2).
Tendo-se encerrado a Associação todos os presentes se deslocaram para o corredor da entrada. Crescia o clima de tensão. O Ferreira Mendes que apoiou e protegeu o colega foi agredido. Um membro da delegação do Instituto Industrial, Rui Baltazar, que se virou contra os agressores a defender o Jara foi também agredido, tendo-lhe sido quebrados os óculos cujas lentes quebradas lhe provocariam ferimentos na cara.
Eram entre 30 e 40 indivíduos, com atitudes do mais refinado gangsterismo. Choveram murros e pontapés sobre o Jara que não respondeu às agressões e avançou para a saída. As várias dezenas de valentaços cercaram-no e passaram a uma nova tortura ainda mais vergonhosa.
Empurraram-no para o centro, onde estava o Ferraz de Abreu que lhe foi dizendo "Hás-de confessar que és um provocador!” “Hás-de falar senão comes",  "estás aqui se for preciso até às 6 da manhã", "se for preciso até te matamos", "fala", etc.,etc.

Com um lábio rebentado, teve que receber tratamento no banco do Hospital de Santa Maria.
Os esbirros só desistiram porque instantaneamente tomaram consciência da inutilidade dos seus actos… Durou uma hora a exibição de vandalismo dumas dezenas de agressores, dois deles "estudantes" de Medicina, o Pedro Paulo e o João Moreira.

Nos dias seguintes realizaram-se plenários de estudantes em Medicina, no Técnico e na Faculdade de Letras que condenaram as agressões e exigiram a reintegração do Jara na RIA. Em Medicina, os dois agressores desta escola foram expulsos num plenário com cerca de 700 estudantes. No IST, a tropa de choque agressora tentou perturbar a RGA mas foi dissuadida disso, apenas pela presença física de estudantes comunistas e simpatizantes. Os valentões recuaram em boa ordem… (3).
Mas, apesar de derrotados, os caceteiros insistiram na campanha através de publicações suas (4).
Depois de uma tentativa gorada de “reintegrar” o Jara na RIA, numa reunião onde até foram buscar a Livrelco, para empatarem a votação, a RIA não voltaria a reunir a não ser depois do 25 de Abril. A correlação de forças, entretanto, passara a ser outra e já não interessava aos caceteiros viabilizar o funcionamento da RIA, particularmente num período de ascenso das lutas estudantis que, em resposta à política do governo, praticamente paralisou a universidade e institutos de ensino “médio”. O fascismo beneficiou disso.

Mas o Jara continuaria a ser alvo de uma campanha provocatória com atitudes e pinturas de paredes, WCs e cartazes contra si em termos perfeitamente ignóbeis durante bastante tempo.
E impediram-no de entrar na cantina da Cidade Universitária.
Nunca nenhum dos agressores, após 46 anos, pediu desculpa ao Jara

Se desenvolvi num debate recente sobre o movimento estudantil o tema desta agressão ao Jara, fi-lo, e aqui o repito, como tributo à sua coragem, reconhecendo o sofrimento que este episódio provocou na sua vida. E porque, por ter feito uma esclarecedora intervenção televisiva há dias contra a eutanásia, eu ter sentido novos uivos e mandíbulas a quererem mordê-lo como há 46 anos.
Mas o Jara é uma pessoa de coragem e não verga.

 
(1)  Comunicado da direcção da AEFDL, “Provocação e luta de tendências”, sem data, mas seguramente de Maio de 1972.
 
(2)  Não referimos, propositadamente, mais de uma dezena dos agressores, identificados por testemunhos de presentes na cena.
 
(3)  Comunicado da direcção da Comissão Pró- Associação (CPA) da Faculdade de Medicina, de 25/4/72; um outro, também da CPA da FML, sem data mas provavelmente de 27/4/72; outro ainda assinado pela CPA sobre as resoluções da AG de Medicina, sem data mas provavelmente do mesmo dia, depois da AG.
 
(4)  Binómio da AEIST, de 29/4/72 com um comunicado da ainda direcção da AEIST, que não pode deixar de referir que foi derrotada na Assembleia Geral Eleitoral de 26/4; Improp da AEFCL, também de 29/4/72, que é um verdadeiro case study, de uma ideologia caceteira, altamente sectária, com uma fraseologia delirante; de um “grupo de colaboradores da CPA de Medicina”, em que se incluíam os dois já referidos espancadores de Jara, de 3/5/72, já expulsos, por isso da CPA de Medicina; um “comunicado federativo” nº 5 assinado “As Associações de Estudantes de Lisboa”, sem as especificar, porque casos houve em que as direcções unitárias substituíram entretanto as esquerdistas, e com a data de 1 e Maio de 1972 (assim mesmo, por extenso…); um comunicado do MAEESL datado de Maio de1972.

 
corrigido e actualizado em 6/6/2018
AA

Debate "O movimento estudantil no Técnico entre 1967 e 1974, por António Abreu

A sessão-debate, realizada no passado dia 29 de Maio, e organizada pela AEIST, a Ephemera, alguns ex-dirigentes da AEIST desse período e  pelo IST tinha como tema “O movimento estudantil no Técnico entre 1967 e 1974”.



 O Pacheco Pereira introduziu o debate, situou-o como integrado num projecto que integra outros debates, uma exposição e uma publicação, referiu a dimensão ímpar da AEIST no movimento associativo português, com um orçamento equivalente a 20-30 milhões de euros, a sua capacidade de mobilização dos estudantes e a sua crescente politização.            Seguiram-se no uso da palavra três antigos presidentes da AEIST António Redol, Fernando Sacramento e Carlos Costa, sendo este o último antes do 25 de Abril.

O António Redol sublinhou que a ruptura definitiva entre os estudantes ocorrera a partir de 1962, com a crise universitária e não apenas a partir de 1967. A orientação do MUD juvenil a partir do final dos anos 40 para a dinamização das associações de estudantes (AAEE), contribuiu para isso, sendo a luta geral nas universidades contra o decreto-lei 40900, acompanhada pelo próprio corpo docente até à sua derrota. Referiu também a importância da criação do CDUL, em cuja direcção as AAEE tinham uma participação maioritária, e a criação do INDU (Instituto Nacional para o Desporto Universitário). E em 1961 o 1º Dia do Estudante foi assinalado com uma participação de 3 mil estudantes. Nesse ano ocorreram o assalto ao Forte de Beja, o assalto ao paquete Santa Maria, a invasão de Goa pela União Indiana. Não sendo, por tudo isto de estranhar a elevada politização em torno da crise académica de 1962. Esclareceu que a defesa da AEIST face à repressão se baseava na ligação aos estudantes, no assegurar de serviços essenciais como a cantina, as folhas para suporte das aulas, a prática desportiva (natação basquetebol, etc.)

O Fernando Sacramento fez uma longa dissertação sobre os novos olhares da escola mas fundamentalmente sobre o seu próprio percurso pessoal numa série de instituições em que participou essencialmente depois do 25 de Abril.

O Carlos Costa referiu as lutas na escola em 1972-1973, a presença da polícia no seu interior, o sacrifício que foi colectivamente assumido pelos estudantes com a perda de um semestre na greve aos exames e as negociações para o fim da greve. Nestas participaram representantes da AEIST, para a qual tinha sido eleito presidente, dos assistentes, de professores e do director que tinha contacto com o governo no desenrolar dessas negociações. Referiu ainda o derrube pelos estudantes de uma câmara para os filmar em plenários, instalada na cobertura do pavilhão de Química. Fez referência à influência crescente, desde 1969, da corrente associativa em que participara. E terminou com o funeral de Ribeiro dos Santos, assassinado pela PIDE no ISCEF, que teve algumas expressões de sectarismo, não muito visíveis para quem observava o funeral.

Pedi para intervir e atribuí esse período de confrontações a dois factos. O primeiro, a sucessiva divisão de vários grupos maoistas que, além de atacarem o PCP, se digladiavam entre si. O segundo, a noção por parte desses grupos que a influência comunista se recuperava depois de as organizações estudantis do PCP terem sido fortemente abaladas com as prisões de 1964-1965. Nas vésperas do 25 de Abril as associações cujas direcções tinham uma influência maioritária do PCP eram a grande maioria em Lisboa.

Lembrei, para além deste episódio a agressão a Violante Saramago, no ISCEF, por um activista da respectiva AE que lhe partiu o nariz depois de lhe ter retirado propaganda que levava consigo.

A propósito da questão do sectarismo vivido principalmente nos anos de 1972 e1973, e porque estava presente na sala o principal agressor de José Manuel Jara, de que falo num outro post, interpelei o Pedro Ferraz de Abreu e, com 46 anos de atraso, acusei-o dessa agressão e de outros factos numa reunião da RIA no ISCEF (a que chamávamos ”Económicas”, tal como o IST era conhecido por “Técnico”). O Ferraz de Abreu respondeu-me, ainda com ar de gozo, que "só lhe tinha dado um tabefe" (!) e apresentou uma narrativa do que se passara bem diferente da que eu avançara.
 
 

 


sexta-feira, 1 de junho de 2018

Bom fim de semana, por Jorge



"I'm not young enough to know everything."
"Não sou suficientemente jovem para saber tudo."

James Matthew Barrie
escritor escocês
criador de "Peter Pan",
1860-1937