Número total de visualizações de páginas

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Aleppo: o fim do terror aproxima-se


Face às manobras do enviado especial da ONU, De Mistura, que foram comprometendo a paz cuja procura deveria prosseguir, o governo da Síria e os seus aliados – Hezbollah e unidades de combatentes iranianos iranianas - retomaram os seus ataques aos terroristas que ainda se mantinham em parte da zona oriental de Aleppo, após três semanas de trégua declaradas unilateralmente. Com o apoio de meios aéreos russos (na foto um míssil mar-terra convencional saído de um porta-aviões no Mediterrâneo para alvejar objectivos militares do Al-Nusra e outros grupos a ele associados).
A reconquista total desta pequena parte da cidade aproxima-se, depois da recuperação do bairro estratégico de Massaken Hanano e do grande bairro de Al Qadisiyah em apenas uma hora.

Do bairro Jabal Bidaru, controlado pelos terroristas, conseguiram fugir mais de 900 civis, incluindo 119 crianças, desafiando o risco de serem fuzilados por eles, mais de cem combatentes entregaram as armas e saíram dessa parte oriental por corredores criados pelo Centro Russo de reconciliação das partes em conflito.

Além disso, mais de 3 mil casas e dez bairros foram libertados das mãos da Frente Al-Nusra. Mais de 2500 civis foram evacuados, incluindo cerca de 800 crianças. Este progresso verificou-se também noutros dois bairros vizinhos.

Nestes últimos dias os terroristas perderam cerca da terça parte de Aleppo Oriental – a sua maior derrota nestes quatro anos.
 
A NATO aproveitou-se dessas tréguas para tentar enviar reforços, saídos de Idlib, no noroeste da Síria, em direção a Alepo-Leste. Mas o Hezbollah, apanhado numa tenaz entre os dois grupos jihadistas, conseguiu manter, sozinho, as suas posições e evitar a ruptura do cerco a Aleppo.
A propósito deste apoio da NATO aos Jihadistas, o Hezbollah do Líbano, reconhecido como organização terrorista pelos EUA, exibiu em Qusayr um grande número de veículos militares fabricados pelos EUA e enviados para os terroristas na Síria, provocando perguntas sobre a questão numa das conferências de imprensa diárias do Departamento de Estado dos EUA na passada terça-feira.

Estes novos ataques por terra e por ar, apenas a alguns alvos militares, são dolorosos mas os terroristas não deixaram alternativas. Recusaram-se a deixar sair a população por um corredor que lhes foi aberto. Recusaram-se a eles próprios saírem, a salvo, por outro corredor. E recusaram-se ainda a deixar transitar num outro corredor ajuda humanitária para o interior desses bairros. A aviação russa largou grande número de folhetos informando da iminência do retomar dos ataques face à atitude dos terroristas que continuam a usar como escudos a população que têm mantido refém.

O jornalista da RTP João Fernando Ramos escrevia na passada 5ª feira no site da RTP:

“O meu camarada Paulo Dentinho afirmava esta semana na RTP que na Síria só há maus e que uns serão menos maus que outros. Como em todas as guerras - recordo sempre os bombardeamentos a Sarajevo e o ignóbil ataque ao mercado da cidade, que acabou por mudar o curso da guerra - há um forte e sujo jogo de propaganda. Quem quer mais apoios internacionais joga com as imagens, com os alegados massacres, com o drama de inocentes para ganhar vantagem.

Não sei se é isso que está a acontecer em Alepo, mas devemos questionar tudo. Será que os bombardeamentos russos causam sempre danos colaterais e provocam aquilo que vemos e os americanos e a coligação internacional, que largam milhares de bombas por dia, acertam milimetricamente nos alvos militares, nunca provocando a morte a nenhum civil? Serão estes rebeldes, que se misturam com o estado islâmico e mais uma dúzia de movimentos terroristas, “meninos do coro” que não provocam nunca danos nos civis que vivem do lado das tropas de Assad?

Uma freira que viveu em Alepo confessava à RTP que estes rebeldes de Alepo não deixam sair da cidade os civis, as crianças, as mães, as famílias, para manterem verdadeiros escudos humanos nos pontos vitais.” (fim de citação).

É incontornável que tem que se colocar em questão o trabalho do enviado das Nações Unidas. A Rússia sustenta que “sabota desde há mais de seis meses a resolução do Conselho de Segurança (CS) da ONU que determinava a organização de negociações internas na Síria sem condições prévias”.

Quando há quase um ano o Conselho de Segurança da ONU deliberou que em Janeiro deste ano começasse um diálogo até ao Verão que então permitisse chegar a “um governo credível, inclusivo e não sectário”, importa constatar que o senhor De Mistura não foi capaz de fazer sentar a «oposição síria” à mesa de negociações, nem conseguiu separar o Al Nusra, a quem a ONU não reconhecia o direito de participarem em negociações por serem terroristas. Na mesma linha, o responsável pelas operações humanitárias, O’Brien falou de uma suposta “táctica cruel” aplicada pelos militares russos e sírios em Alepo e Damasco Oriental, ilibando de responsabilidades os “rebeldes” que, efectivamente, sujeitam os civis, a quem não permitem a saída dessa parte da cidade, à fome severa e à carência de assistência médica. O Estado Islâmico está a agir de forma idêntica em Mossul (cidade de 1,5 milhões de habitantes donde até agora só terão fugido 68 mil, segundo dados oficiais). Mas neste caso, nenhuma “boa alma” contesta as consequências da intensa campanha militar em curso ou acuse os seus protagonistas (EUA, Iraque, etc.) de crimes de guerra e «punição colectiva.

No que respeita a acusações sobre a utilização de armas químicas, parece haver também uma atitude dúplice. No passado dia 11, o Ministério da Defesa da Federação Russa disse ter provas do uso de armas químicas por parte dos terroristas em Aleppo. No mesmo dia, a ONU denunciou que o Estado Islâmico armazena grandes quantidades de amoníaco e enxofre em zonas civis de Mossul, no Norte do Iraque, onde se sucedem os relatos do uso de armas químicas. Mas de novo umas “boas almas” foram desenterrar tal acusação mas dirigida à Síria que o adequado organismo da ONU já anteriormente negara.

A agência noticiosa síria, SANA, informou que o exército assegurou a saída de cerca de 1500 habitantes de zonas de Aleppo oriental ainda nas mãos dos grupos armados. Em dois dias a progressão das tropas sírias foi grande em Aleppo oriental.

Espera-se que os próximos ataques libertarão completamente Aleppo e outras bolsas de terroristas.

O Daesh perdeu até hoje 56% do território que controlava no Iraque e 28% do que controlava na Síria.

Entretanto, uma "enorme quantidade" de informações do Estado islâmico foi encontrada após a captura da cidade síria de Manbij. Elas estavam relacionadas com ameaças terroristas na Europa, de acordo com o comandante-chefe da Grã-Bretanha no Iraque e Síria, citado pela comunicação social britânica.

O general britânico Rupert Jones disse, de acordo com o Guardian,"Eu não vou entrar em detalhes, mas sabemos que as operações externas têm sido orquestradas de forma muito significativa de dentro de Raqqa e de Manbij”. Para este militar britânico, enquanto Raqqa estiver na posse do Daesh poderá organizar a partir daí ações no estrangeiro.

“Há uma quantidade enorme de informações secretas, documentação, material eletrónico que lá foi utilizado e que aponta muito directamente contra todos os tipos de nações em todo o mundo ", acrescentou. Foi criada por nós no Kuwait uma unidade para processar todos os discos rígidos, chaves USB e outros dados retirados de Manbij. Este material inclui alegadamente detalhes de financiamento, de propaganda e bases terroristas em toda a Europa, informou o Guardian.

A Síria sofre desde Março de 2011 um conflito no seu interior, apoiado em recursos das “democracias” ocidentais, que já fez, segundo as Nações Unidas cerca de 300 mil mortos. Mais de 2,3 milhões de sírios refugiaram-se em países estrangeiros. As forças armadas sírias e os seus aliados enfrentam a agressão de diferentes grupos armados de diferentes origens e que incluem mercenários estrangeiros.

É tempo de libertar a Síria de terroristas, de proceder às negociações acordadas entre a Rússia, os EUA e as Nações Unidas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Parlamento Europeu quer decretar o fim da liberdade de informação na Europa


Foto Agência Lusa
Os deputados de Estrasburgo votaram na 4ª feira passada uma resolução, sem carácter legislativo, que exige que a UE "responda à guerra de informação conduzida pela Rússia". A agência de notícias RussiaToday e a Sputnik News estão entre as "ferramentas" mais perigosas da "propaganda hostil".

O relatório foi aprovado com os votos a favor de cinco deputados do PSD e de uma deputada do PS. Os três deputados do PCP, dois deputados do PS, a deputada do BE, o deputado do MPT e Marinho Pinto votaram contra. Abstiveram-se o deputado do CDS-PP e cinco deputados do PS. No total, o relatório foi aprovado com 304 votos a favor, 179 contra e 208 abstenções.

A proposta, apresentada por uma deputada conservadora polaca, Anna Fotyga, é inaceitável no quadro da muitas vezes invocada liberdade de informar e ser informado existente na maioria dos países europeus. Hoje é reconhecido por organizações de jornalistas e um número crescente de países e organismos internacionais que a liberdade de expressão baseia-se no princípio de que os factos são sagrados e os comentários livres e que mesmo que um comentário possa não nos agradar, este princípio deve prevalecer.

Trata-se, de uma forma clara e sem sofismas, de perseguir cidadãos russos ou de nacionalidades europeias que trabalham para esses meios de comunicação social russos…Imaginemos que a Organização dos Estados Americanos fazia o mesmo em relação aos EUA, cujos grandes media têm correspondentes e equipamento jornalístico em toda a América Latina. Caía a Wall Street e a Estátua da Liberdade! E a

indignação espalhar-se-ia como óleo…

Putin referiu-se à resolução, no próprio dia, como uma "degradação política" em relação à "ideia de democracia" no Ocidente.

Putin assinalou que, enquanto "todos tentam dar lições" sobre a democracia na Rússia, os próprios legisladores europeus recorrem a uma política de restrições, "que não é a melhor maneira" de lidar com quaisquer questões. A melhor abordagem é uma discussão aberta, na qual devem ser apresentados argumentos brilhantes e sólidos".

Acrescentando que espera que a e deliberação não leve a sérias restrições, o presidente felicitou os jornalistas da RT e da Sputnik pelo seu trabalho.

Na votação de quarta-feira, 304 deputados apoiaram a resolução baseada no relatório "Comunicação estratégica da UE para neutralizar a propaganda contra ela por parte de terceiros", 179 votaram contra e registram-se 208 abstenções. E isso significou que a maioria dos eurodeputados presentes não apoiou a resolução.

A resolução afirma, nomeadamente, que é intencional nesses meios de comunicação social "distorcer a verdade, provocar dúvidas, dividir a UE e seus parceiros norte-americanos, paralisar o processo de tomada de decisão, Desacreditar as instituições da UE e incitar ao medo e à incerteza entre os cidadãos da UE ". Enfim!...

O relatório sugere que Moscovo fornece apoio financeiro a partidos e organizações de oposição nos estados da UE, causando a sua desintegração. E ainda que promove uma "guerra de informação", através do canal de TV Russia Today, da agência de notícias Sputnik, da agência federal Rossotrudnichestvo e do fundo Russkiy Mir, que figurariam entre as suas ameaçadoras ferramentas de propaganda. O documento coloca estes ao lado de grupos terroristas como o Estado Islâmico. E apelou para o estabelecimento de medidas para enfrentar a ameaça de propaganda russa, por meio do "investimento em sensibilização, educação, meios on-line e locais". Também sugere uma cooperação mais forte entre a UE e a NATO "sobre a comunicação estratégica". É evidente na resolução o objectivo de parar a sua actividade na UE. No debate um eurodeputado afirmou que a UE estava em guerra com a Rússia, numa rota de colisão a uma velocidade mais rápida da de um caça a jato…Um outro declarou que muitos dos que apoiaram o documento são da Europa Oriental, enquanto os representantes da parte sul da UE se abstiveram ou votaram contra.

Antes da votação de quarta-feira, o documento tinha sido criticado por alguns deputados, que o designaram por demente e ridículo. A UE "precisa desesperadamente de um inimigo, seja a Rússia ou qualquer outro", que pode culpar por qualquer de suas próprias falhas, disse o deputado francês Jean-Luc Schaffhaueser à RT. O eurodeputado espanhol Javier Couso Permuy disse que "promove a histeria contra a Rússia", enquanto o deputado britânico James Carver observou que o relatório "lembra preocupantemente a Guerra Fria" também à RT.

O eurodeputado do PCP, João Pimenta Lopes referindo-se ao relatório, afirmou: ”Absolutiza-se como verdadeira a informação da UE distinguindo propaganda e crítica, balizando o que é a crítica aceitável. Abrem-se assim as portas da censura que tantas páginas negras escreveu em solo europeu. Práticas dignas de regimes autoritários e ditatoriais”.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, disse em entrevista ao canal Rossiya 1 que as autoridades russas sempre trataram com respeito a comunicação social estrangeiros que trabalha na Rússia e "nunca discriminaram" jornalistas de outros países. Segundo a mesma diplomata, Moscovo nunca impediu ninguém de fazer relatos da Rússia na base dos seus conteúdos e ideologias, disse o diplomata, acrescentando que agora pode estar a ser forçado a agir em conformidade e responder aos movimentos da UE se os jornalistas russos forem oprimidos no Ocidente.

As reacções das organizações internacionais de jornalistas não se fizeram esperar.

O presidente da Federação Europeia de Jornalistas condenou a resolução como um acto de “demonização e censura” e que pretende perpetuar uma “narrativa de guerra fria” e considerou “bizarra” a comparação dos meios de comunicação social russos com os terroristas do Daesh. E aproveitou para convidar os EUA a promover um jornalismo independente, um pluralismo mediático e uma maior compreensão do grande público em relação à comunicação social. Quanto à Federação Internacional dos Jornalistas, que representa 320 mil jornalistas de 43 países, o seu presidente Philippe Leruth comentou a resolução, afirmando que, na sua opinião, esses órgãos de

comunicação social deveriam ter sido ouvidos antes pelo Parlamento Europeu, para explicarem o seu trabalho, e isso não lhes foi proporcionado.

Não é a primeira vez que a administração Obama suscita junto de alguns países europeus “preocupações” com o êxito de meios de comunicação social russos, outros não russos e na blogosfera, na condenação da política atlantista de agressão a outros povos e de retrocesso em relação a períodos de maior estabilidade e confiança nas relações internacionais. Também no universo mediático, os que apostam na guerra e em atitudes imperialistas se sentem a perder terreno na eficácia da sua propaganda. Sem que isso signifique que não dominem já, numa base de grande desigualdade esses meios com consequências na ausência de pluralismo e no curso da História, como mostram os casos recentes do Brasil, Argentina, Venezuela ou na Ucrânia, não nos alongando em mais exemplos.

A ameaça à liberdade de informação está também mais presente na linguagem de altos quadros militares da NATO, numa altura em que os EUA instalam nos países fronteiros com a Rússia bases de mísseis, susceptíveis de serem equipadas com

engenhos nucleares.

Nestes países, uma orientação anti-imperialista e de melhoria das condições de vida de camadas significativas dos seus povos, dos respectivos governos, resultantes de eleições livres, não foi bastante para fazer respeitar a vontade popular. Isso coexistiu com a propriedade de meios privados de comunicação que desencadearam contínuas e agressivas (mais do que já conhecemos aqui em Portugal) campanhas baseadas na mentira e na falsidade, na criação de factos e provocações, na falsificação de imagens em vez de jornalismo.

Mais uma vez, a liberdade de informar e ser informado, caminha a par da defesa da paz e da rejeição do imperialismo.



sábado, 26 de novembro de 2016

Hasta la victoria, siempre!


Há homens que, pelo seu trabalho e exemplo, nunca morrem. O grande revolucionário, que impulsionou a libertação da América Latina e muitos povos do mundo, não o é apenas de um tempo passado nem presente mas do futuro. Hasta la victoria sempre!

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Bom fim de semana, por Jorge

"Id est vera perfectio hominis quaerere imperfectis."
 
 

 "O indagar do homem acerca da sua imperfeição
é a sua verdadeira perfeição"
 
 
 
 
Agostinho de Hipona
filósofo e teólogo,
354-430

Visita do presidente Al-Sissi a Portugal. O Egipto e Djibuti

Registo a importância da visita de Abdel Fattah Al-Sissi, presidente do Egipto a Portugal nestes dias. A visita foi oportunidade para abordar as vias e os meios que permitam reforçar as relações políticas e diplomáticas entre os dois países, e dar melhores perspetivas à cooperação nos domínios económico, da pesquisa científica e da defesa. O desenvolvimento das trocas com Portugal podem alargar-se muito com o Canal do Suez alargado, que também permite a passagem de mais navios pelos portos portugueses.

Com mais de 85 milhões de habitantes, o Egito é um dos países mais populosos da África e do Médio Oriente, sendo o 15.º mais populoso do mundo. A população está concentrada, sobretudo, nas margens do rio Nilo, que é a única região não desértica do país. Cerca de metade da população egípcia vive nos centros urbanos, em especial no Cairo, em Alexandria e nas outras grandes cidades do delta do Nilo, de maior densidade demográfica.
Entre outras características gere o canal mais famoso o mundo: o Canal do Suez, cujo alargamento permitiu reduzir de 11 para 3 horas a travessia de 72 km que separam o Suez no Mar vermelho de PortPort Saïd, no Mediterrâneo.A expansão do canal, a primeira desde o início da sua existência, consistiu numa nova via paralela com 37 quilómetros, e no alargamento e aprofundamento da via original, de 72 quilómetros, numa extensão de 35 quilómetros.
Previa-se poder aumentar de 49 para 97 o número de navios a passar diariamente pelo canal e que o tempo de navegação fosse reduzido de cerca de 20 para 11 horas.
A inauguração desta expansão ocorreu há dois anos.
A obra foi executada pelo exército egípcio para estimular a economia egípcia e consolidar a popularidade do próprio presidente. O Canal, antes do alargamento, dava um lucro de 3,9 mil milhões de euros ao Egito e com a nova via, projecta-se um aumentado dos lucros para 10,5 mil milhões euros em 2023.

 O Canal do Suez tem 147 anos e foi nacionalizado por Nasser, em 1956, contra os acionistas franceses e britânicos.
Em 1975, reabriu, depois de oito anos de fecho na sequência da Guerra dos Seis Dias. Foi então que apareceram os grandes cargueiros de contentores.
 
 O alargamento teve um custo total calculado em 3 mil milhões de euros. Para o financiar, o Estado emitiu obrigações do tesouro que podiam dar a ganhar até 12% do investimento inicial. Só os egípcios residentes as puderam comprar. Este inédito modelo de financiamento da obra permitiu ao Estado arrecadar 7,8 mil milhões de euros. 
Objecto de uma das primeiras “revoluções coloridas”, dirigidas pela administração norte-americana (através dos apoios da National Endowment for Democracy) em 2011, levou à demissão do presidente Mubarak (episódios da Praça Tahrir). Os Irmãos Muçulmanos, radicais de correntes jihadistas, realizaram então um golpe de estado, tomando o poder e, após as eleições presidenciais de 2012, e pressionaram a Comissão Eleitoral Presidencial para que o seu dirigente Mohamed Morsi fosse por ela proclamado como presidente eleito.
A deriva islamista da sua acção contrariou o anterior laicismo do Estado e provocou grandes confrontos na sociedade egícia. Morsi concentrou poderes e fez aprovar uma Constituição islâmica.
Mais de 3 milhões de egípcios saíriam à rua para exigir o fim do governo Morsi enquanto desencadeava a violência contra os seus adversários. Em 2 anos, o número de pessoas vivendo abaixo do limiar da pobreza aumentou, pelo menos 50%, as reservas em divisas diminuíram para metade. A economia ficou num caos.

 
Esta situação levou a que as forças armadas o destituíssem, com o apoio da generalidade dos partidos políticos, incluindo o Partido Comunista do Egipto, à excepção dos Irmãos Muçulmanos, em Julho de 2013. Seguiram-se novas eleições presidenciais em 2014, ganhas pelo actual presidente, Al-Sissi, que teve mais 10 milhões de votos que Morsi obtivera no ano anterior.
 
Em 14 de Agosto de 2013, centenas de civis e militares confrontaram-se no Cairo durante um protesto contra a destituição de Morsi, que assumiu as proporções de um novo golpe. Quase duas mil pessoas foram presas e 529 condenadas à morte, num país onde o recurso a esta pena é frequente. O que gerou protestos que foram levando à libertação sucessiva de presos.
 
As  referências feitas em Portugal, agora nesta visita de Sissi, a que Morsi foi o primeiro presidente eleito democraticamente não contemplam os factos fundadores do Egipto moderno. A Constituição referendada em 1956 e a respectiva eleição do Presidente Nasser selaram democraticamente a revolta popular e de militares de patente intermédia que derrubaram o Rei Faruk e depois a monarquia, constituindo a República em 1953. Nasser foi eleito para três mandatos. Foi eleito sem oposição  nos referendos de 1956, 1958 e 1965.
O presidente Abdel Fattah Al-Sissi, na entrevista de 21 deste mês à RTP, garantiu o percurso democrático do país. Depois da entrevista à RTP as agências internacionais anunciavam já a decisão judicial egípcia de repetição dos julgamentos de Morsi e centenas de membros da Irmandade Muçulmana. Também manifestou o apoio a uma solução política na Síria, sem a presença de forças armadas estrangeiras e a liquidação do terrorismo.
No ponto oposto do Mar Vermelho, Djibuti torna-se num grande entreposto comercial e militar, uma nova porta de África
O Djibuti, pequeno país de 23.200 m2  e com 820 mil habitantes, cuja capital tem o nome do país, está transformado num grande entreposto comercial com uma diversificada presença militar de vários países, por força da competição internacional no tráfego de petróleo e não só. No decurso das transformações que estão a ocorrer, o país poderá tornar-se numa nova “porta de África”. Com um relacionamento com todos os países do mundo, só o não tem com a Eritreia que mantem um conflito de fronteira com a Etiópia.
 
Obras de envergadura no porto, realizadas por americanos e chineses, coexistem com bases militares de ambos os países, que irão fazer deste entreposto milenar uma nova realidade geo-estratégica. É neste território, com uma área que é um quarto da de Portugal, que Pequim está a instalar a sua base militar mais afastada do Mar da China. Outros países pretendem instalar-se aqui também. A Arábia Saudita assinou este ano um acordo com Djibuti para a instalação também de uma base militar. A Rússia viu negada tal pretensão mas está a negociar para lhe ser permitido que os seus navios acostem no cais controlado pela China.
 
 
Num raio de menos de 30 km, já se encontram a base dos EUA, onde estão sediadas as suas operações clandestinas no Corno de África e np Iémen. Também aí estão instladas a do Japão, que é a sua primeira-base no estrangeiro depois do pós-guerra, os campos e bases franceses, restos da sua presença colonial e, numa fase posterior à independência em 1977, potência estrangeira dominante, e também a única base no estrangeiro de Itália. A Alemanha está presente também mas sem este tipo de equipamentos.
 
A Etiópia tem em Djibuti, cuja economia abastece, uma saída natural das suas exportações que aumentarão com a potassa(1) que será produzida em fábricas que a China lá vai instalar. A principal atividade económica do Djibuti é a reexportação de produtos de países africanos sem acesso para o mar. O país importa a maior parte dos bens de consumo e de produção: máquinas, veículos, alimentos, produtos têxteis e derivados de petróleo, procedentes da França, Etiópia, Japão e vários países europeus.
 
O Djibuti é governado pela atual constituição promulgada em 1992. O sistema de governo adotado no país é a república presidencialista. Esmagadoramente habitada por muçulmanos de duas diferentes etnias, tem hoje uma situação interna estável
Dos muitos acordos que o Djibuti tem com muitos países, os de maior envergadura são, de longe, com os chineses, com quem assinaram acordos para 14 mega-projectos, no valor global de 8,9 mil milhões de dólares.

 
(1) A palavra potassa é usada em geral para indicar o carbonato de potássio (K2CO3), que pode substituir a soda no fabrico de vidro. A potassa foi originalmente obtida pela lixívia de cinzas de madeira queimada fervidas em solução em grandes caldeirões abertos. A potassa a partir da lixívia é usada na preparação de sabão cru. O carbonato de potássio é preparado comercialmente a partir do minério silvita, um composto quase puro de cloro e potássio.
É o nome comercial dado ao carbonato de potássio e ao cloreto de potássio utilizado como adubo.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Crítica ao ensaio de Jorge Sampaio

(entre aspas vão passagens do ensaio)


 
Como muitos de vós, li o ensaio de Jorge Sampaio que há dias o Publico publicou.

No essencial o ensaio pretende o relançamento do europeísmo, embora “seja hoje consensual o estado de crise crónica do projecto europeu” e que “ninguém parece acreditar que Bruxelas (ou Berlim) tenha qualquer iniciativa nos próximos meses para responder à crise da eurozona, para alterar a ortodoxia financeira dos credores ou para criar as condições institucionais e orçamentais que tornem possíveis programas de reforma nas economias mais frágeis”. Mas continua a constatar que hoje, de uma forma já muito generalizada, existe uma “ erosão da confiança na Europa, no seu funcionamento, na sua capacidade de cuidar dos bens públicos europeus e de responder às expectativas dos cidadãos”.

E, a propósito, estabelece que “se exige da Europa e dos países europeus a determinação de se constituir como uma alternativa sólida, por um lado, à financeirização da economia (parecendo não aceitar a crítica ao neo-liberalismo, que, apesar de ir perdendo gás como teoria económica, continua a determinar o pensamento e acção da maioria dos dirigentes europeus) e, por outro, alternativa também ao capitalismo autoritário de “valores asiáticos (não fica claro se com esta última expressão se rejeita o relacionamento económico consistente com a China, o desenvolvimento da gestão do seu capitalismo ou ainda o planeamento da actividade económica).

Não põe em causa a própria “Europa” - termo impreciso onde cabe muita coisa - desígnio que, para além da rejeição da financeirização, deveria explicitar opiniões, pelo menos, sobre a falhada Constituição Europeia, as “deficiências” do euro, tratado orçamental, a austeridade socialmente desigual, o tratado transatlântico TTIP, ou a NATO. E limita-se a afirmar o óbvio “devemos reconhecer que a Europa tem um problema imediato para resolver, e que são as deficiências da moeda única. Há um conflito entre países em torno do cumprimento do Tratado Orçamental, do reforço da união bancária e da definição de elementos de união política. “.

Essa ausência de reflexões, e outras considerações que faz permitem levá-lo a concluir que, de debate em debate sobre o “futuro da Europa” (as aspas são do ensaísta), o Brexit e outros movimentos que considera “populistas” foram ganhando terreno na opinião pública e na mudança de realidades, se pudesse concluir que não se deveria ter discutido a Europa…para se referir de seguida aos “radicalizados (sic!) que à esquerda ou à direita, apelam ao fim do projecto europeu e ao regresso do protecionismo e dos nacionalismos”.

A questão da imigração, resultante das guerras que os EUA e a “Europa” promoveram no Médio Oriente e Norte de África, seja imigração de quem foge às grandes violências nestas guerras, seja a dos que chegam por razões económicas, apenas lhe merece a identificação nela de um “polo de fricções e de clivagem no seio das sociedades europeias, designadamente devido às migrações descontroladas do ano passado, à questão da repartição e integração dos refugiados, que continua por resolver” e que seria resultante da má gestão europeia da questão que, parte dos seus dirigentes ajudaram a criar

Juntou ainda os riscos da eleição de Trump às preocupações, que muitos temos, com eleições do próximo ano na França e Alemanha. Mas para concluir que é necessário restabelecer a confiança e reinventar a democracia, combinando “a liberdade que vem do liberalismo com a estabilidade, o bem-estar e a equidade social que vêm da social-democracia”. Esquecendo, assim, que foram o liberalismo e a social-democracia os responsáveis nas últimas décadas pelas políticas cujas consequências sociais, a que não quiseram fazer frente, entregaram à extrema-direita extensas camadas de deserdados, desempregados, flexibilizados. É à esquerda e não a esse bloco central da nossa desgraça que caberá fazer frente às novas hordas.

Não é de estranhar, pois, que Jorge Sampaio manifeste preocupações com “ o relacionamento transatlântico, tão essencial à própria dinâmica intra-europeia, [que] está hoje suspenso por um pesado conjunto de incertezas, resultantes quer de todas as incógnitas e indefinições que rodeiam a próxima administração americana, quer, do lado europeu, das consequências do "Brexit" na redefinição dos equilíbrios intra-europeus e do seu impacto geral nas relações de cooperação, num vasto plano de matérias, incluindo a segurança e a defesa e nomeadamente com a NATO”.

Para Jorge Sampaio, um dos grandes desafios que se nos colocaria hoje seria reforçar o sentimento de pertença dos europeus, e fortalecer o sentido dessa identidade partilhada, revigorando o orgulho de ser europeu. Tudo à frente do sentimento de pertença dos portugueses e do orgulho nacional, que decididamente não quer reconhecer como alavancas da melhoria da vida dos portugueses e para o relançamento da economia, da nossa identidade nacional, da educação e da cultura, da projecção de Portugal no mundo.

Como europeu, acima de qualquer outra condição, é na adesão à CEE que vê o alfa e o ómega da nossa história contemporânea, instando-nos a garantir uma participação “de qualidade” na União Europeia. E mostra-se preocupado com as divisões que separam os europeístas e os atlantistas, e as cada vez mais fortes posições nacionalistas contra a integração europeia, incluindo o Partido Comunista e do Bloco de Esquerda, na ausência de uma força populista de direita. Não sendo claro os inclui na categoria de “radicalizados” (expressão que não pode ignorar se tem aplicado aos que percorrem o caminho da formação como terroristas…).

Meu caro amigo, não me saem da memória tempos em que os alinhamentos políticos eram outros, no movimento estudantil que arrecadou vitórias ao fascismo, na experiência de uma coligação inovadora em Lisboa que modernizou a cidade, correspondeu aos anseios dos munícipes e a projectou internacionalmente ou ainda numa presidência da república que impediu projectos negativos da direita. Tal como não me esqueço que, em todos estes três casos, o aceder ao protagonismo que o Jorge Sampaio pôde ter se deveu muito àqueles que parece hoje designar por “radicalizados”…

Terá sido certamente como europeu, acima de qualquer outra condição que, não fez uma única referência aos portugueses.

Mas essas memórias iniciais continuarão a ser as que mais pesam na imagem que mantenho de si.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Efeito de estufa e expansão das zonas verdes terrestres


O “efeito de estufa” ocorre naturalmente na atmosfera. Nele estão envolvidos gases que permitem que a luz do sol penetre na superfície terrestre, mas que impedem que a radiação e o calor voltem ao espaço, mantendo assim um nível de aquecimento óptimo para a manutenção da vida. Os principais gases de efeito estufa são: o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4), os clorofluorcarbonetos (CFCs) e outros halocarbonetos, o ozono (O3) e o óxido nitroso (N2O).


As emissões de carbono estão, porém, a aumentar – e mais depressa do que “a maioria dos cientistas previam”. Mas muitos alarmistas das mudanças climáticas (1) parecem afirmar que todas as mudanças climáticas são piores do que o “esperado”. E isso ignora que uma parte dos dados é realmente menos catastrófica do que o “esperado”.

Al Gore apareceu em 2005 com o documentário “Uma verdade inconveniente”. O documentário servia uma futura candidatura presidencial mas reflectia também o receio do império de que os países emergentes, com grandes taxas de crescimento do PIB, passassem a constituir, como veio a acontecer, contraponto à influência global dos EUA, e não era alheio aos interesses multinacionais de algumas empresas ligadas às “tecnologias limpas”. Isso implicava começar a contestar os consumos energéticos desses e de outros países (consumos que são indicadores de crescimento económico e desenvolvimento), sobrevalorizando o medo das alterações climáticas que daí adviria.

Mas em 2005 o Juiz do Supremo Tribunal de Justiça Britânico, Michael Burton, caracterizou o filme de Al Gore como “alarmista e exagerado no apoio a uma sua tese política”. O tribunal dava razão assim a uma acção movida por um pai, e determinou que o filme era “unilateral” e não poderia ser exibido nas escolas britânicas, a menos que contivesse orientações para equilibrar a tentativa de Gore em promover a sua “doutrinação política”. O Juiz baseou a sua decisão nas chamadas nove inverdades de Al Gore que aparecem no filme e que ficaram demonstradas nos autos, com a inexistência de evidências científicas que as pudessem validar (2).  

A emissão de gases com efeito de estufa, geograficamente desigual, ao longo de mais de um século foi reflexo do que que tornou possível que uns países fossem mais ricos que outros ou garantissem maiores padrões de vida para os seus habitantes, apesar das grandes discrepâncias desses padrões internamente em cada país no mundo capitalista. E desde antes da revolução industrial até aos dias de hoje (mais de 160 anos) a temperatura média subiu 1%.

Assim, os mais poluidores historicamente terão que reduzir as suas emissões de gases poluentes, e mais dos que não beneficiaram disso. A China, hoje o país mais poluidor com 20% das emissões, comprometeu-se em reduzi-las no país em 18% até 2020. Os EUA são os segundos com 18% e ainda não assumiram compromissos …E, além disso, devem apoiar as alterações a realizar nos países emergentes e outros países em desenvolvimento para que neles o desenvolvimento industrial se baseie menos na queima de combustíveis fósseis e possam dispor de indústrias mais “limpas” e renováveis. O que exige investimento e tecnologia a que têm dificuldade de aceder. Nestas COPs foi referido um valor de financiamento de mais de 200 mil milhões de euros.

Mas dois anos depois deste documentário, um outro era produzido por 19 cientistas de diferentes países (3) que apontava para um arrefecimento global. 0 jornal britânico Express dava conta na passada 3ª feira de estudos recentes que sugerem que a atividade solar está a diminuir a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento na história. Os estudos que não identifica, prevêem que essa tendência vai continuar ao longo dos próximos quatro anos, levando a Terra a uma mini idade do gelo, com consequências desastrosas para o planeta.

O meteorologista e astrofísico britânico Piers Corbyn prevê que a Terra vai enfrentar nos próximos anos uma mini era do gelo que irá ter consequências devastadoras para o planeta, informa o jornal britânico Express.

Estudos recentes sugerem que a atividade solar está diminuindo a um ritmo mais rápido do que em qualquer outro momento na história. Os cientistas prevêem que essa tendência vai continuar ao longo dos próximos quatro anos, atingindo um mínimo entre 2019 e 2020, e que até 15 anos terão que passar para que o sol volte a uma atividade normal.

Agora foi de novo difundido em muitas televisões do mundo e noutras plataformas um outro documentário “Antes do Dilúvio” apresentado por Leonardo di Caprio que, numa concepção catastrofista semelhante ao precedente nos trouxe outra catadupa de adivinhações que devem muito pouco ao conhecimento científico e experimental (4)

A Conferência de Paris de 2015 aprovou conclusões não vinculativas sobre limites das emissões poluentes e o arranque de compromissos quantificados da sua redução país a país. Hoje já 190 países o fizeram. Agora, na Conferência de Marraquexe, as questões mais difíceis em aberto são como vai ser financiada a reconversão das economias e quem e como poderá monitorizar os resultados das duas questões. O objectivo de redução a partir de 2020 do aumento da temperatura média de 2-2,5% já nesta conferência se pretende que seja substituída por 1,5-2%.

Para o investigador Alfredo Rocha, investigador do Departamento de Física e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar da Universidade de Aveiro, “O ciclo de produção/destruição de gases com efeito de estufa é complexo e envolve contribuições naturais e humanas. Vários processos de retroacção entre as várias componentes do sistema climático resultam numa relação não linear entre as emissões de gases com efeito de estufa de origem humana, a concentração desses gases na atmosfera e a consequente variação da temperatura do ar próximo da superfície da Terra (e outras alterações climáticas). A resposta da temperatura a alterações das emissões também não é imediata mas sim retardada.

Desta forma, a alteração climática que se observa actualmente não resulta das emissões actuais mas sim do histórico de emissões, sobretudo desde o início da revolução industrial. Conclusão: “o mal está feito”!

Independentemente das nossas acções actuais no sentido de reduzir (realisticamente) emissões, a concentração atmosférica de gases com efeito de estufa irá aumentar durante as próximas décadas e as alterações climáticas irão fazer-se sentir durante um período mais longo do que os próximos anos /décadas ou um século). As nossas acções imediatas poderão, sim, atenuar essas tendências e invertê-las num horizonte temporal menor do que o previsto se nada for feito mas que, mesmo assim, será de muitas décadas” (5).


 “É um segredo bem guardado, mas constatou-se que 95% dos modelos climáticos que teoricamente provavam a ligação entre as emissões humanas de CO e o aquecimento global catastrófico estão errados”, escreveu Maurice Newman, que presidia ao Conselho Consultivo Empresarial do então primeiro-ministro Tony Abbott, em 2015 (6). O cientista denunciou ainda mentiras de agências meteorológicas que apresentavam dados “homogeneizados” para vir em apoio das narrativas manipuladoras (7). A respeito do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC), da ONU, que analisa e avalia os trabalhos científicos relevantes para mudanças climáticas, Newman afirmou que este tinha sido denunciado repetidamente por várias comunidades científicas por “declarações falsas e métodos de má qualidade”.

Filipe Duarte Santos, Professor de Física, da Universidade de Lisboa já referia, antes da Conferência de Paris de 2015, que era “necessário incentivar e investir na investigação científica e na inovação tecnológica para melhorar o nosso conhecimento sobre o sistema climático, as alterações climáticas antropogénicas e as medidas de adaptação e mitigação mais adequadas. É necessário diminuir a incerteza associada aos cenários climáticos e socio-económicos futuros. Em simultâneo, é preciso informar e sensibilizar os agentes envolvidos na problemática das alterações climáticas” (8).

A comunidade científica de vários países está hoje muito dividida quanto a considerar essencialmente antropogénico (com origem na acção do homem) o efeito de estufa e as alterações climáticas e quanto às previsões dos níveis para elas apontados por alguns cientistas e por resultados de modelos em computador.

Com base nisto, Trump poderá ter encontrado apoio às suas intenções manifestadas em campanha eleitoral de alterar anteriores compromissos dos EUA de reduzir as emissões de gases de efeito de estufa no país e de apoiar a reconversão das emissões de outros países. Isso comprometeria os sucessos da Conferência de Paris nesta Conferência de Marraquexe.

As alterações climáticas continuam a ser motivo de múltiplas simplificações para efeito mediático mas as hipóteses fiáveis sobre a sua ocorrência carecem de uma recolha de dados durante pelo menos durante 30 anos.

Dentro desse padrão, em Abril deste ano, cientistas chineses apresentaram na Academia Chinesa de Ciências os resultados do seu trabalho de investigação sobre a evolução da vegetação terrestre no período 1982-2009 (9).


O relatório destes cientistas revela que essa evolução se traduziu na expansão da vegetação da Terra, numa superfície que é o dobro da dos EUA, e verificando-se no sudeste dos EUA, no norte da Amazónia, na África Central, no Sudeste Asiático e na Sibéria, enquanto a redução dessa área só aconteceu em 4% da superfície do planeta (ver gravuras).

O recurso aos satélites ajudou na deteção desse crescimento. Desde os anos 1980, os satélites foram equipados para verificar como a vegetação se desenvolvia ao longo do tempo. No decurso das suas órbitas foram captando os raios infravermelhos refletidos pela superfície da Terra e também os raios que, ao atingir a superfície de uma folha verde, são absorvidos e refletidos de forma diferente daqueles que atingem o solo. O seu comprimento de onda pode determinar a massa de folhas num determinado local e desta forma são obtidos mapas de florestação da Terra.

No Canadá e no hinterland russo da Sibéria, desenvolveram-se florestas de coníferas na tundra, onde anteriormente só existiam relva e arbustos. Nos EUA, as florestas de faias espalharam-se pelo norte do país. O planalto tibetano está agora coberto de pastagem. Na região da montanha chinesa de Shangnan são os pinheiros que se desenvolveram e na Noruega as árvores de flores. No sul do Sahara cresceram árvores e nos trópicos tem-se intensificado a cobertura florestal.


Tão positivas mudanças, devida à acção dos seres humanos, foi também verificada com modelos de computador que entraram com variáveis como o CO2, o conteúdo de azoto do solo e as próprias alterações climáticas, tendo chegado a que 70% do acréscimo da vegetação pode ser explicada pelo aumento do CO2 no ar após a combustão do petróleo, do carvão mineral e do gás.

Segundo Sönke Zaehle, do Instituto Max Planck de Bioquímica, estes esforços não eliminar as mudança climáticas. As plantas e o solo retêm cerca de um quarto do dióxido de carbono que é libertado no ar. Segundo este investigador, "o estudo ajuda a compreender para onde o dióxido de carbono (CO2) vai". "E essas são as regiões que se tornaram mais verdes."

Pode, pois concluir-se que a vegetação pode adaptar-se de forma mais eficiente do que os humanos, que têm de lidar cada vez mais com condições meteorológicas extremas, como secas, que destroem colheitas e secam as fontes de água, e grandes inundações e outras catástrofes naturais com efeitos semelhantes (id.).

Todas estas abordagens não são contraditórias com a ocorrência de alterações climáticas. Assim foi o entendimento de diferentes assembleias de governos, instituições científicas e organizações ambientalistas, que durante quase 30 anos têm promovido conferências internacionais para tomar conhecimento de estudos de base científica e tentar tomar as medidas para reduzir, nomeadamente o “efeito de estufa”.

Há que rejeitar o catastrofismo e valorizar as descobertas da comunidade científica, as projecções feitas através de medições reais, para melhorar as condições ambientais em articulação com os processos económicos que suportam o desenvolvimento.



(2)https://agfdag.wordpress.com/2009/10/27/as-nove-mentiras-de-al-gore/

(3)https://www.youtube.com/watch?v=52Mx0_8YEtg

(4)https://www.youtube.com/watch?v=NZ02JpdbzJg

(5)https://uaonline.ua.pt/pub/detail.asp?c=44788


(7)https://www.globalresearch.ca/global-warming-a-convenient-lie/5086

(8)www.cienciaviva.pt/img/upload/Situacaoactualecenariosfuturos-FDuarteSantos.pdf

(9)http://international.sueddeutsche.de/post/151099503860/earths-expanding-greenery-has-an-unlikely-hero


Este artigo foi originalmente publicado nesta mesma data em www,abrilabril.pt

 

domingo, 13 de novembro de 2016

"La rebelión", de Forough Farrokhzad


A escritora iraniana iraní Forough Farrokhzad (1935-1967) teve uma vida curta mas deixou
 belos poemas de amor, alguns dos quais se podem encontrar na antologia poética trilingue
(iraniano, espanhol, francês) numa coedição de 2011 da “Oreille du Loup” e da Universidade
 Autónoma mexicana de Sinaloa. Deixo-vos um.
 


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
La rebelión
 

No me impongas el silencio

Tengo una historia para contar

Quítame esta cadena de los pies

Mi corazón es agitado por una pasión


Ven, hombre, egoísta, ven

Abre las rejas de esta jaula

Me hiciste prisionera de por vida

Libérame para mi último soplo

 
Soy ese pájaro

Que desde hace tiempo sueña el vuelo

Mi canto se hizo suspiro

En mi pesado corazón

Mis días huyeron en lamentos


No me impongas el silencio

Debo revelar mi secreto

Hacer oír a todo el mundo

El eco fulminante de mi poema

 

Ven a abrir la reja, para que vuele

Al cielo límpido de la poesía

Si me dejas volar

Seré una flor

En el jardín de la poesía

 
Mis labios se impregnan del azúcar de tu beso

Mi cuerpo retiene el olor de tu cuerpo

 
Mi mirada arroja sus chispas contenidas

Y mi corazón canta su dolor sangriento

 
Hombre egoísta

No digas

Tu poesía es una vergüenza

 
El espacio de una jaula es estrecho

Para el alma tomada de pasión

No digas que mi poesía es sólo pecado

 
Dame el vino de este pecado y esta vergüenza

Te dejaré el paraíso

Sus vírgenes y sus fuentes

Alójame en un rincón del infierno

 
Un libro, un lugar tranquilo, un poema, un silencio

Bastan para embriagarme de vida

Ninguna pena si el paraíso se me escapa

Otro también eterno habita mi corazón

 
Una noche que la luna danzaba despacio

En medio del cielo

Dormías y yo excitada con todos mis deseos

Tomé su cuerpo en mis manos

 
El viento del alba me daba mil besos

Y mil besos di al sol

Una noche en la prisión donde eras el guardián

Un beso hizo temblar mi existencia

 
Hombre, detén esta fábula del honor

La vergüenza me colmó de un placer delirante

El dios que me dotó de un corazón de poeta

Sabrá perdonarme

 
Ábreme la puerta

Para que me escape por el cielo límpido

Déjame volar

Y seré una flor en el jardín de la poesía