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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Bom fim de semana, por Jorge


"L'illusione è la gramigna più tenace della 
coscienza collettiva: la storia insegna, ma non ha scolari."

"A ilusão é a erva daninha mais tenaz da 
consciência coletiva: a História ensina, mas não tem estudantes."

Antonio Gramsci 
filósofo e militante marxista italiano, 1831-1937 
em L'Ordine Nuovo nº.70 (1921)

A Nicarágua venceu o golpe de Estado mas enfrenta dificuldades económicas, por António Abreu



O presidente da Bolívia, Evo Morales, saiu em defesa do governo da Nicarágua nesta quarta-feira (25), dando a entender que a onda de desestabilização que assolou o país desde abril se tratou de uma tentativa dos Estados Unidos de tentarem um novo golpe de Estado no continente, desta vez contra Daniel Ortega.
A Presidente da Bolívia referiu que ao tentar interromper o processo constitucional da Nicarágua e forçar eleições antecipadas, os EUA “mostram sua obsessão pela ingerência em assuntos internos dos países soberanos”, esclareceu o presidente.
Na sua conta no Twitter, Evo acusou os EUA de ter uma postura de “patrão do mundo” e que a ingerência do país americano na Nicarágua é um “anúncio de golpe contra o diálogo e a paz”.
A onda de desestabilização começou em abril quando uma manifestação de estudantes da Universidade Politécnica pediu a revogação da reforma laboral apresentada por Daniel Ortega. O presidente atendeu o pedido popular com rapidez e não avançou com a reforma, porém, as manifestações continuaram, desta vez, no dia seguinte (!) com uma nova reivindicação: a renúncia do chefe de Estado.
Imediatamente começaram as ações violentas que resultaram em mortes de manifestantes a favor e contra o governo, destruição de prédios públicos incluindo bibliotecas e equipamentos de saúde, além de agressão gratuita contra militantes sandinistas.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), afirmou em julho estar disposto a voltar à mesa de diálogo com a oposição para encontrar uma saída pacífica e negociada para a grave crise social em que se encontra seu país. Os sectores mais agressivos da oposição rejeitaram-no.
O interesse norte-americano em mudar, de forma precipitada, o atual governo da Nicarágua está diretamente ligado às negociações do país com a China para a construção de um novo canal que será muito maior em capacidade que o Canal do Panamá, caminho dominado pelos EUA para receber importações e exportar sua produção.
Stephen Sefton, analista político da Global Research, salientou na passada 6ª feira (28) que, depois do falhado o golpe na Nicarágua e da OEA e Amnistia Internacional ignorarem as mortes e torturas de sandinistas, o povo da Nicarágua exige reparações por parte dos golpistas, apoiados pelos EUA.
Na passada quarta-feira (25) o Congresso dos Estados Unidos aprovou por unanimidade a resolução bipartidária (votada por 241 parlamentares republicanos e 194 democratas) que condena e responsabiliza o governo de Daniel Ortega pela violência nas manifestações.
O documento legislativo propõe, além disso, eleições presidenciais antecipadas no país centro-americano - os EUA a legislarem para os outros…
Entre abril e julho deste ano, a Nicarágua sofreu uma tentativa extremamente violenta de mudança de regime apoiada pelo governo dos EUA e aliados seus. Componentes essenciais e cruciais dessa tentativa de golpe foram os relatórios de má fé de organizações internacionais de direitos humanos e a cobertura de notícias extremamente tendenciosa pela comunicação social ocidental.
Todos eles mentiram ao acusar o governo sandinista da Nicarágua por quase todas as mortes durante o golpe, quando foi o contrário que aconteceu.
Milhares de pessoas voltaram a manifestar-se no último sábado (25), em Manágua, capital da Nicarágua, para exigir justiça e reparação para as vítimas da violência que marcou a intentona golpista, provocada pela extrema-direita, com apoio financeiro norte-americano.
Mais de duzentos sandinistas, transeuntes não envolvidos e policias foram mortos e centenas sofreram intimidações, abuso e tortura às mãos das forças de oposição apoiadas pelos EUA.
A mais falsa referência por elas ao conflito é a insistência em que a oposição nicaraguense realizou no essencial protestos pacíficos, o que é um absurdo, atendendo ao número de baixas sandinistas e policiais. Essa cobertura deliberadamente enganosa dos acontecimentos na Nicarágua reflete a ampla contaminação das sociedades ocidentais, a que o economista Bill Black e outros chamam de "fraude de controle" por meio da qual empresas, especialmente empresas financeiras poderosas, usam contas superficialmente legítimas e controles de auditoria deliberadamente para enganar os investidores. Essas empresas relatam ativos inflacionados e custos mínimos, dando uma visão deliberadamente falsa e enganosa da posição financeira da empresa. Essas poderosas empresas põem de lado as práticas empresariais honestas e manipulam os líderes políticos, e atraem os profissionais da justiça para escaparem ao processo criminal.

A fracassada tentativa de mudança de regimes pelo governo dos EUA na Nicarágua neste ano, como as ofensivas dos EUA contra a Venezuela ou o Irão, por exemplo, revelam como esses processos de corrupção atingem instituições ocidentais de todos os tipos. As organizações sem fins lucrativos, a comunicação social e as instituições multilaterais ocidentais operam como uma enorme combinação corrupta por meio de um ciclo de feedback infinito de desinformação, negando aos povos de seus países uma visão verdadeira e justa dos eventos mundiais. Alargam-se nos anúncios das suas boas intenções e superioridade moral, enquanto minimizam, mentindo, os custos, as incontáveis ​​vítimas e o sofrimento incalculável. Assim, as populações investidas nessa vasta preocupação fraudulenta pensam que os supostos controles do sistema, como a comunicação social e setores não-governamentais, funcionam muito bem quando, na verdade, quase todos são corruptos.

Segundo o autor, no caso da Nicarágua, dois acontecimentos demonstram essa realidade com muita clareza.
Em primeiro lugar, os relatórios ocidentais contra a Nicarágua foram completamente omissos quanto ao ataque assassino em maio do ano passado na rádio sandinista, Nuevo Radio Ya. O ataque resultou da falsa alegação sensacionalista de Miguel Mora, do canal de propaganda da oposição com 100% de noticias que lhe eram favoráveis, de que sua emissora de TV estava a ser atacada nesse dia. Mora pediu a ativistas da oposição que atacassem a Nuevo Radio Ya, o que fizeram, incendiando-a, mantendo mais de 20 funcionários de rádio reféns e disparando sobre bombeiros e policias que tentavam controlar o fogo e resgatar as pessoas. Apenas a bravura dos serviços de resgate e do pessoal da estação de rádio impediu lesões mais graves e perda de vidas.
Um segundo incidente, entre dezenas de casos semelhantes, também demonstra a corrupção da indústria ocidental de direitos humanos e dos seus cúmplices da comunicação social. Na semana passada, as autoridades nicaraguenses divulgaram os resultados de uma minuciosa investigação sobre uma das principais atrocidades atribuídas pela CIDH e pela Amnistia Internacional ao governo no dia 16 de junho. Naquele dia, uma família de seis pessoas, incluindo duas crianças, foi queimada até a morte num incêndio criminoso em sua casa. Imediatamente, a virulenta organização de defesa dos direitos humanos CENIDH teve seus ativistas em cena acusando falsamente o governo do crime. Em poucas horas, a CIDH também atribuiu o hediondo ataque ao governo. Agora, após meses de investigação, a polícia identificou quatro dos incendiários com base em acusações de sobreviventes do incêndio, identificação e testemunho de testemunhas, análise forense e material incriminatório da comunicação social da oposição. Dois dos acusados ​​foram enviados para julgamento e dois são fugitivos.
Desde os primeiros momentos da tentativa de golpe, o governo da Nicarágua convidou a OEA a enviar um Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes para ajudar as autoridades nicaraguenses nas suas investigações como parte da missão da CIDH na Nicarágua. Mas a CIDH apresentou o que chamou de relatório final ao Conselho Permanente da OEA, antes mesmo desse grupo de especialistas ter começado a trabalhar. Agora, o grupo de especialistas apresentou um relatório cobrindo eventos até 30 de maio que, e que, como era previsível, reproduziu as mesmas informações falsas do anterior relatório perentório da CIDH, com base em relatos da comunicação social da oposição e de organizações de direitos humanos. Como o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o grupo de peritos da CIDH quebrou os termos de seu acordo original com o governo, envolvendo-se em atividades que não tinha autoridade para empreender.
O termo da visita do grupo de especialistas já havia expirado quando, em 19 de dezembro, o governo decidiu suspender a presença dos corpos da CIDH na Nicarágua, acusando-os de apoiar a oposição minoritária do país e os seus esforços para derrubar o governo constitucional da Nicarágua. Antes disso, o Ministério do Interior confirmou em 14 de dezembro a medida da Assembleia Nacional que cancelou o estatuto legal de nove organizações sem fins lucrativos que fizeram uso ilegal dos seus recursos para participarem e apoiarem ativamente a tentativa de golpe. Essas ONGs representam 0,2% de cerca de 4300 organizações sem fins lucrativos registadas no Ministério do Interior do país. Num outro movimento para desmantelar as redes de oposição envolvidas na tentativa fracassada de golpe, o governo aplicou a legislação de longa data do país contra o incitamento ao ódio e prendeu Miguel Mora, diretor da rádio que foi organizadora das manifestações violentas, rádio essa que foi encerrada.

Como no caso das medidas tomadas pelas autoridades venezuelanas para proteger a sociedade de seus países contra crimes semelhantes, a cobertura da comunicação social ocidental sobre estes recentes acontecimentos na Nicarágua, deturpa-os apresentando-os como “ações de uma ditadura!” Mas para os nicaraguenses elas representam medidas legítimas para defender o Estado de Direito, a estabilidade económica e a segurança dos cidadãos.
Todos estes “paladinos” dos direitos humanos omitem a violência sádica e assassina da oposição e deturpam, de forma grotesca, os passos dos governos da Venezuela e da Nicarágua para proteger as pessoas contra ela. Ao encobrir os crimes da oposição, eles tornam-se cúmplices deles.

Recusando-se a reconhecer a realidade da violenta e opressiva violência da oposição durante a tentativa frustrada de golpe, a CIDH e seus seguidores em acampamentos de ONGs, como a Amnistia Internacional, confirmaram que ela foi acessória para o golpe tentado uma vez mais. Eles têm sido cúmplices com as práticas de matar, queimar, realizar violações, abusar sexualmente de mulheres.
O governo dos Estados Unidos anunciou na última terça, 27, novas sanções contra a vice-presidente e primeira-dama da Nicarágua, Rosário Murillo, como resposta a alegada repressão promovida por Daniel, aos protestos contra o governo. E estendeu essas sanções ao assessor de segurança nacional, Néstor Moncada Lau
Este é um dos golpes que o imperialismo norte-americano, de diferentes formas, tem implantado na América do Sul e Caraíbas. A mais recente vai ser agora os contratos que Bolsonaro vai assinar com Israel, na altura da sua investidura que incluem assuntos económicos e de “segurança”, ou seja, Israel vai tentar implantar, com a Mossad, mais uma plataforma logística de agressão contra os países de regimes progressistas da América Latina.

sábado, 22 de dezembro de 2018

Bom fim de semana, bom Natal e smile... por Jorge


"A day without laughter 
is a day wasted."

"Um dia sem rir 
é um dia desperdiçado."

Charles Chaplin 
1889-1977 
num dia de Natal

A saída norte-americana da Síria e o impasse no novo muro dos EUA com o México

A saída da Síria de todos os norte americanos a curto prazo, declarada por Trump, na sequência de anteriores alusões nesse sentido, pode agravar a tensão dentro da administração norte-americana acelerando as tentativas de impeachment do presidente.

Esse facto, só por hipocrisia pode escandalizar a França ou o Reino Unido, que ainda mantêm forças suas na Síria, apoiadas pelos respetivos serviços secretos, a DGES e o MI6, antes alinhadas sob o comando dos EUA. E que em alguns casos recorrem a combatentes curdos para combates que lhes evite a perda das suas próprias forças.
Combatentes estes que foram recrutados ou “comprados” com a miragem da criação futura dum Curdistão constituído por parcelas da Síria, do Iraque e da Turquia, há muito desenhado pelos estrategas norte-americanos como meio para, dividindo, reinarem melhor. Isso constituiria uma tragédia com os enormes conflitos que iria gerar.
A saída da França e do Reino Unido da Síria, pode encalhar na sua tradição imperial na região e ser abrilhantada por lamúrias de que os curdos seriam agora… “abandonados às mãos da tropa de Assad” ou de presos do ISIS que saíssem das cadeias.
Na guerra imposta à Síria pelos EUA, que criaram o ISIS ou Estado Islâmico, com apoio doutros países ocidentais, nomeadamente os dois referidos, têm sido encontradas soluções para a saída do país desses combatentes, como aconteceu com a saída dos do ISIS de várias cidades recuperadas pelo Exército Árabe da Síria e Damasco encontrará, certamente, soluções semelhantes e que serão acompanhadas pelo apaziguamento e manutenção de autonomias, e desejavelmente também por ações semelhantes no Iraque e na Turquia.


Por outro lado, a Câmara dos Representantes aprovou por 217 votos contra 185 a nova versão do projeto de orçamento, que inclui o financiamento de 5,7 mil milhões de dólares para o muro com o México, de Trump,mas no Senado vários republicanos e democratas, rejeitarão qualquer financiamento do muro com clara alocação no Orçamento. Sem um acordo bem-sucedido, o financiamento para muitos departamentos governamentais expirará à meia-noite de hoje, sexta-feira, provocando inclusivamente o despedimento de centenas de milhares de trabalhadores precários.
Enquanto os republicanos têm uma maioria no Senado de 51 lugares contra 49 dos democratas, um projeto de lei precisa de 60 votos para aprovação, ao contrário da Câmara, onde a maioria simples é suficiente.

O início da construção do Muro do México ocorreu no ano de 1991 (Georges Bush), mas foi em 1994 (Bil Clinton) que as suas obras se intensificaram, durante a chamada “Operação Guardian”. Essa operação pretendia colocar um fim à onda de imigração ilegal que aumentava no país ano após ano, fruto das políticas impostas pelos EUA para a América Latina, que sempre a consierou o "seu quintal". O território mexicano era considerado a principal porta de entrada para esses imigrantes.
O conflito com o Senado sobre esta questão é um esticar de corda em que se Trump perder e beneficiará da crítica dos sectores que o elegeram aos que, ganhando, pensam usar isso no impeachment a Trump, ganhando algum novo fôlego alguma simpatia externa e dos meios urbans dos EUA.

Hoje a construção de um novo muro, é questão de “honra” para o Presidente dos EUA. Enquanto uma nova guerra mundial bate à porta de todos nós, resultante da irresponsabilidade da administração norte-americana, nomeadamente da sua componente militar.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Bom fim de semana, por Jorge

"O que mais valor tem para as próximas gerações vale zero para a economia."

Paulo Magalhães, jurista e ambientalista, presidente do projeto internacional "Casa Comum da Humanidade" (o planeta visto como um condomínio de todos)


Para onde vais Ocidente, para onde nos levas? por António Abreu



A revolta das classes médias e populares dos maiores países europeus, contra as classes dominantes que se foram globalizando, começou há dois anos.
Mas na realidade a recessão das economias já tinha resultado
  • do desaparecimento da URSS;
  • da transformação dos EUA na “única” potencia líder mundial, na base de uma “nova ordem mundial”, acolitada pela Grã-Bretanha da Sra. Thatcher;
  • da operação Tempestade no Deserto.
  • da extraordinária financeirização da economia, que viria a confrontar-se com o “livre comércio”, concebido séculos atrás para a exploração das riquezas coloniais. O antigo Presidente da Reserva Federal dos EUA, Paul Volcker, foi um dos arquitetos dessa financeirização global e membro destacado da Pilgrim’s Society, o clube transatlântico presidido por Sua Majestade. Tendo-se, nessa qualidade, tornado o principal conselheiro económico do Presidente Barack Obama a quem deu indicações para a composição de parte da administração deste;
  • de, apesar de terem consciência do seu declínio relativo, as potencias ocidentais, particularmente os EUA, terem participado num quadro de concertação-rivalidade entre si;
  • de insistirem na ingerência interna noutros países, na sua desestabilização e na desestabilização de regiões que consideram estratégicas para si, desprezando centenas de milhares de vidas ceifadas em guerras provocadas e que incendeiam com a venda de armas 
         
No Iémen já 60 mil mortos
  • de rejeitarem, assim, o desenvolvimento nestes países como base essencial para a paz.


O combate ao crescimento quer do fascismo quer da guerra tem-se vindo a manifestar apesar da imposição de muitos medos. É um combate, intimamente ligado ao combate contra a exploração e a opressão, pela soberania e a democracia, em defesa dos direitos dos trabalhadores e dos povos, pela paz e contra as guerras do imperialismo, como têm sublinhado os comunistas.
Fascistas polacos

O Conselho Europeu de 13 e 14 de dezembro, apesar das tensões e contradições, e do relevo mediático dado à questão do Brexit, prosseguiu com a crítica à intervenção russa no estreito de Kech, à entrada do Mar de Azov, o estado de implementação dos Acordos de Minsk sobre o conflito na Ucrânia (já rejeitados pela provável futura Presidente da República deste país, Iulia Timoshenko), decidindo renovar as sanções económicas contra a Rússia pela invocada não aplicação deles (de facto quem não aceitou foram os independentistas do Donbass), prosseguiu o estudo para o aprofundamento do mercado único, decidiu imprimir maior celeridade nas negociações sobre a Guarda Costeira e de Fronteiras Europeia (EBCG), acompanhou  o trabalho da UE, para criar um  quadro de clima e energia de 2030 , que define uma série de metas e medidas políticas fundamentais para o período de 2020-2030, para “dar mais segurança aos investidores”…

Apelaram também a esforços adicionais para concluir as negociações sobre a Agência de Asilo, a diretiva de retorno e a reforma do sistema de asilo da UE.

Consciente da recessão do Ocidente em relação à Ásia, o povo britânico foi o primeiro a tentar salvar o seu nível de vida deixando a União Europeia e virando-se para a China e para a Commonwealth. O referendo de 23 de junho de 2016 procurou atingir esse objetivo, mas o governo de Theresa May não tem conseguido uma negociação sobre os termos do Brexit pela vontade assim expressa da “democrática” União Europeia rejeitar, custe o que custar e a quem custar, em permitir a saída de qualquer país da EU.
Seguiu-se o povo norte-americano, elegendo Trump nesse mesmo ano, mas Trump também não está a cumprir parte das suas promessas que mais faziam diferença em relação às administrações anteriores. É contraditório quanto a expectativas de contenção dos focos de tensão internacionais. Mas tem a administração dividida e continua acossado.
Depois foram os italianos, dois anos mais tarde, a viabilizar uma governação de partidos um dos quais de extrema direita, de fora do “sistema”, por se terem sentido traídos pela sua classe dominante. Não aceitam a contenção dos deficites orçamentais, resultantes de redução de salários e direitos sociais, dentro dos limites que a UE está disposta a aceitar. E isso foi expresso pelo atual  governo, que beneficiou desse descontentamento e que receia a perda do apoio popular.
Enquanto que em França, com as contribuições obrigatórias, já entre as mais altas do mundo, a aumentarem 30% a sua carga fiscal, os manifestantes dos “coletes amarelos” ocuparam consecutivamente as ruas de Paris e outras cidades, com centenas de milhares de manifestantes a opor-se à polícia e sobrevalorizando esta, uma vez mais tal como noutros anos, as cenas de incêndios, destruições e saques, em relação ao essencial dos protestos. Macron cedeu com a subida do salário mínimo, mas isso não parou os protestos ainda antes do Natal. Os “coletes amarelos” convocaram mais um protesto para o sábado passado considerando que as medidas anunciadas pelo presidente tinham sido insuficientes e exigindo o respeito pelos direitos dos trabalhadores e o fim da política de austeridade, além de pedirem a demissão de Macron. Esta manifestação foi muito menor do que as anteriores. (…). Mas provavelmente serão retomadas com maior participação depois das festas de Natal e Fim de Ano.
A economia alemã é a maior e mais influente em termos financeiros dos países que integram a zona euro, e da União Europeia em geral, com um poder de compra que é o maior da Europa, e o quinto mais avançado do mundo, segundo dados de 2010, seguindo-se-lhe então o Reino Unido e a França.
A Alemanha é um país rico, com um superavit fiscal recorde de 23,7 mil milhões de euros ou 0,8% do PIB (receita muito maior do que os cortes fiscais realizados) mas que, no entanto, vem arrastando os planos de investir na melhoria das infraestruturas já muito degradadas. Investe-se, mas pouco e tarde, segundo os especialistas. O banco de desenvolvimento alemão KfW calcula que as cidades alemãs precisem de um investimento de 126 mil milhões de euros em infraestrutura. Um total de 33 mil milhões para escolas e 34 mil milhões para estradas.
As pontes, o sistema ferroviário, as escolas… envelheceram e precisam de ser substituídas ou reabilitadas, mas os últimos governos, tal como outros governos da UE, incluindo Portugal, têm considerado mais importante ter deficites nulos do que investimento público. A aversão à dívida alimentou durante muitos anos o sistema político alemão. Acrescentando-lhe os   problemas herdados da austeridade imposta quando a Alemanha foi o “país doente” da Europa, fazem com que que a situação financeira varie muito entre a federação, os estados e os municípios, alguns deles endividados. O travão ao limite da dívida imposto por emenda constitucional em 2009, justificou com que limitasse os deficites do Governo central e dos Länder (cada um dos 16 estados que compõem a federação alemã).
A Alemanha é dos países da UE menos entusiastas com o cerco à Rússia devido às grandes trocas comerciais entre os dois países.
Apresentando algumas dificuldades no plano económico só têm sido mediatizados os confrontos entre manifestantes nazis e de esquerda, com aparatosas intervenções policiais.

Se abordarmos cada um destes cinco países de forma distinta, podemos explicar o que aí se passa de forma diferente. E, de facto, são situações distintas, culturas diferentes.
E teremos que ter em conta que nestes protestos estão cada vez mais presentes os temas ambientais porque algum desespero com a não aplicação dos acordos de País e outros, alimentado pela ausência de uma reflexão crítica sobre as suas causas.
Mas, se os analisarmos em conjunto, encontraremos os mesmos mecanismos:
  • nestes quatro países, consecutivamente com a crise do capitalismo tal como o temos conhecido, as classes médias vão desaparecendo, mais ou menos rapidamente,
  • e com elas vai-se estreitando cada vez mais o conceito e práticas de democracia que já fustigara os trabalhadores e tinha alocado cada vez mais os direitos humanos aos mais ricos, restringindo-os às camadas mais exploradas.
  • É certo que noutros países como o nosso isso continua a acontecer, 
  • Mas são as economias motoras desta integração europeia e a que conduziu a fase inicial da globalização, os EUA, onde surgem dificuldades sentidas pelas classes dominantes, daí decorrendo a procura de forjar novas soluções governativas, algumas das as quais com recurso a novos partidos devido â desconfiança generalizada das populações em relação aos partidos “tradicionais” – mais rigorosamente os partidos que se foram gestores dessas espirais de desigualdades, que na oposição disseram uma coisa para depois no governo fazerem o seu contrário.

·   Nas questões ambientais  continua a ser privilegiada a lógica comercial da compra e venda de créditos de carbono, depois seguidas pela tarifa sobre o carbono, ou ecotaxa, em vez da lógica regulamentar com consequências efetivas, com os governos nacionais a imprimirem políticas públicas convergentes nesses objetivos.

A saída deste quadro de crise não é compatível com esta integração europeia, com os constrangimentos que o euro e a união bancária colocam à melhoria da situação de cada país, com o alinhamento da EU com a agressividade contra a Rússia, a Síria e outros países com o acentuar da federalização e as perdas da democracia que acarretam, com a construção de um exército europeu, missões em países terceiros que não sejam exclusivamente de carácter humanitário, instalação de mísseis virados contra a Rússia. 

O que se exige a países como Portugal é a defesa da soberania e independência nacionais e a libertação do País da submissão ao Euro e dos condicionamentos e imposições da UE, que entravam o desenvolvimento soberano de Portugal e a resolução dos problemas nacionais.

Face ao processo de saída do Reino Unido da UE, importa que a decisão soberana do povo britânico seja completamente respeitada e que o Governo português contribua para que sejam respeitados os direitos dos portugueses que trabalham e vivem no Reino Unido e seja garantido o desenvolvimento de relações bilaterais mutuamente vantajosas entre Portugal e o Reino Unido, respeitadoras da soberania de cada um dos países e das aspirações de cada um dos povos.


sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Bom fim de semana, por Jorge


"If we don’t take action, the collapse of our civilisations and the extinction of much of the natural world is on the horizon.” 

"Se não tomarmos medidas, está no horizonte o colapso das nossas civilizações e a extinção de grande parte do mundo natural."

David Attenborough (naturalista inglês,1926-)
) na Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, a decorrer em Katowice, Polónia

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

A quem aproveita a provocação ucraniana no estreitol de Kerch?, por António Abreu

O presidente da Ucrânia teria 8% dos votos numa primeira volta das próximas presidenciais, longe de lhe permitir aceder a uma segunda volta.



Previsões eleitorais assustam Poroshenko
Em 31 de Março do próximo ano realizam-se eleições presidenciais na Ucrânia. Segundo uma sondagem do Instituto Sociopolis divulgada no fim da semana passada, o actual presidente, Piotr Poroshenko, não é desejado para continuar nessas funções por 81% da população.
Poroshenko teria 8% dos votos numa primeira volta das presidenciais, o que estaria longe de lhe permitir aceder a uma segunda volta. A referida sondagem deu como provável vencedora a candidata Iulia Timoshenko.
Acusada em tempos, pelos seus críticos, de ser pró-russa, Timoshenko respondeu que «tento apenas defender os nossos interesses de forma a que encontremos um equilíbrio no nosso relacionamento com a União Europeia (UE) e a Rússia»1. Em 2010 foi uma das mais duras críticas do presidente Viktor Ianukovich, acusando-o de estar a vender o país à Rússia em troca de estabilidade política2. Timoshenko esteve presa dois anos e meio, entre 2011 e o início de 2014. Quando foi libertada, no auge do golpe que afastou o presidente Ianukovich, pronunciou-se por uma «Ucrânia membro da União Europeia e membro de pleno direito da NATO»3.
Em 2002 fundou o Bloco Iulia Timoshenko, que teve 7,2% dos votos nas eleições legislativas ucranianas desse ano.
Iulia Timoshenko foi designada primeira-ministra interina em 2005, na presidência de Viktor Iuchenko. Depois de prolongadas negociações sobre a composição do gabinete, ela acabou por ser confirmada como primeira-ministra pelo parlamento ucraniano (Verhovna Rada, "Conselho Supremo") por uma maioria absoluta de 373 votos, muito acima dos 226 votos necessários. Em 2007 foi novamente eleita como primeira-ministra.
Nas eleições presidenciais de 2010, ficou em segundo lugar, perdendo para o candidato de oposição Viktor Ianukovich.
Desde 2011 esteve presa, acusada de abuso de poder, numa decisão que os meios ocidentais consideraram controversa. Em 2014, depois do golpe de direita e extrema-direita que derrubou Ianukovich, foi libertada.
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Candidatos diabolizados por Kiev
Esta e outros candidatos potenciais desde há um ano que têm vindo a ser diabolizados por Kiev com expressões como as utilizadas por Aleksei Arestovich, em entrevista ao Fakty.ua:
«À medida que se aproximam as eleições presidenciais e para a Suprema Rada, a Rússia vai usar cada vez mais recursos para obter o controle político e económico da Ucrânia». E «agora muitos querem que [Piotr] Poroshenko saia. Posso dizer com certeza absoluta: os outros candidatos, com exceção de Poroshenko, são da Rússia, infelizmente. Se vencer alguém que não seja Poroshenko, vão ser lançadas ideias sobre a responsabilidade do “regime de Poroshenko no início da guerra no Donbass, vão começar a reconciliar a Rússia com a Ucrânia. E, no final, Putin vai obter uma Ucrânia prontinha dentro de um ou dois anos. Com tal cenário, o nosso país ficaria muito dependente da Rússia: obrigar-nos-iam a comprar gás, petróleo e armas russas. E assim, a Ucrânia vai perder a sua independência». Por fim: «a situação será horrível: o Kremlin vai desestabilizar activamente a situação, em especial o Sul», concluiu Arestovich.

A "necessidade" das provocações
De facto, a extrema-direita e os fascistas, no poder desde o golpe de estado de Maidan, em 2014, cometeram uma série de sucessivas provocações e crimes, com as costas aquecidas pelos EUA e a NATO. Desde os assassinatos de centenas de ucranianos de origem russa, muitos deles enterrados em valas comuns – como revelaram os próprios autores desses crimes – até ao assalto violento dos organismos do estado e de órgãos de comunicação social; desde os muitos saneamentos acompanhados de agressões até à política económica, que não lhe ficou atrás, através da compra reiterada de armas aos EUA, o esfrangalhar da economia e o descurar do bem-estar da população – a qual, nesta altura do ano, em muitos apartamentos da capital, já não dispõe de aquecimento…
A «necessidade» de uma provocação à Rússia por parte de Poroshenko
Neste quadro aventureiro, Poroshenko precisava de provocar a Rússia, uma vez mais, mas em moldes que pudessem angariar novos e mais amplos apoios no Ocidente. A segurança russa tem longa experiência na prevenção destas provocações. Poroshenko está pronto para sacrificar toda a sua frota e as respectivas tripulações. Mas a Rússia, no quadro que ocorreu no passado dia 25, adquire o direito de responder. E o Ocidente já sabe que as respostas da Rússia são de relâmpago e inesperadas (assimétricas).


Os próprios EUA uma vez tentaram entrar nas águas territoriais da URSS, perto de Sebastopol, na Crimeia, porto onde aquela tinha parte essencial da sua marinha de guerra, invocando também, em apoio das suas acções o «direito de passagem livre». Naquela época, isso terminou com um barco de patrulha soviético a atacar um navio de combate americano. Já havia precedentes e Poroshenko e os seus chefes militares não o deveriam ignorar.

A provocação no estreito de Kerch

Na foto, o estreito de Kerch visto do espaço, após a construção da ponte que liga a Crimeia aos territórios russos do Cáucas onde ocorreu o incidente

CréditosAnton Shkaplerov / Roscosmos


A acção de Kiev violou os artigos 19 e 21 da Convenção da ONU sobre o Direito do Mar, ao fazer entrar em águas territoriais russas, sem permissão, três embarcações suas, e revelou incapacidade de responder às exigências legais russas de não realizar manobras perigosas.
Esta acção também não se compagina com o tratado de 2003, que estabeleceu que a Rússia e a Ucrânia tinham liberdade de direitos de navegação no estreito de Kerch, fornecendo regras definidas, a serem aplicadas através duma banda marítima estreita.
Na realidade, a referida convenção das Nações Unidas sobre a lei marítima estipula o direito de passagem de navios de guerra pelas águas territoriais de outro Estado. É o chamado «direito de livre passagem» e, para sua aplicação, basta uma simples notificação. Esta mesma convenção estipula o direito de qualquer estado de fechar as suas águas territoriais, temporariamente ou não, ou introduzir outras restrições nesse regime.
Isso foi o que a Rússia fez no Estreito de Kerch, accionando a segurança da navegação e da ponte de Kerch, que um oficial ucraniano e outros oficiais subalternos ameaçaram por em causa com o envio de cinco embarcações, saídas de Odessa, para aportarem em dois portos ucranianos do Mar de Azov. Os russos dispararam, com seria normal nesta situação, e detiveram a tripulação de três dos navios, tendo três dos seus marinheiros ficado feridos e estando a ser tratados no hospital de Kersh. Dois outros navios de guerra ucranianos regressaram à base de Odessa depois da reação dos barcos-patrulha russos.


E foram as próprias autoridades ucranianas que revelaram que seguiam a bordo vários oficiais dos seus serviços secretos, que obviamente conduziam a provocação, bem como várias armas ligeiras e metralhadoras.
Uma das três mbarcações aprisionadas no porto de Kerch
Alguns dos detidos, referiram nos interrogatórios – e gravaram depoimentos em vídeo, no mesmo sentido – que tinham recebido ordens superiores para montarem a provocação. Os dirigentes ucranianos tentaram, pois, obter uma posição política vantajosa com derramamento de sangue dos seus marinheiros. Kiev deixou de ter compaixão pelo seu povo há muito tempo…
Desde há alguns anos que a passagem, durante o Verão, de navios ucranianos através do Estreito de Kerch, observando todas as regras que agora Kiev critica, enfraquecem a posição ucraniana nesta aventura. De facto, a própria Ucrânia reconheceu o direito da Rússia de introduzir restrições à passagem de navios através do Estreito de Kerch e obedeceu a essas regras ainda no Verão passado. E, por isso, que a histeria de hoje não parece convincente.
Desta vez, violaram normas internacionais e acordos entre os dois países sobre a entrada e saída de navios entre o Mar de Azov e o Mar Negro.

A lei marcial
Logo de seguida, Poroshenko decretou a lei marcial (estado de excepção). Na Rada (assembleia legislativa) a oposição conseguiu reduzir a vigência da lei de 60 para 30 dias e garantir, sem condicionantes, a realização das eleições nas datas previstas.
Ainda assim, o compromisso alcançado na Rada jogou a seu favor, mesmo que isso possa ser apresentado pela oposição como um recuo. O mais importante é que a lei marcial foi introduzida, embora parcialmente. Agora ele tem a oportunidade de a usar nos seus decretos com as palavras «com base na lei marcial», e poderá exigir o que quiser.
Os efeitos e os riscos da lei marcial
É preciso ter em conta que falamos da Ucrânia, onde, como é sabido, desde a presidência de Yushchenko, as leis apenas se cheiram para sentir o odor do seu espírito e não para cumprir o que, na sua letra, estipulam.


Assim, depois da lei marcial e tentando adivinhar as acções adicionais de Poroshenko e da oposição, é muito provável que esta finja que não estará em vigor a lei marcial… Mas, como se costuma dizer, se Poroshenko for derrotado nas urnas, «enquanto o pau vai e vem, folgam as costas»…
Se o terror oculto da SBU (serviços de segurança) e dos «esquadrões da morte» nazis já não parecem suficientes para assustar a oposição, esta precisa mais do que nunca de actuar em condições democráticas, para bem do seu povo e por relações normais com a vizinha Rússia.
Na prática, esta medida dará poderes ao Governo para limitar as manifestações públicas, interferir com o que é divulgado pelos media, obrigar os cidadãos a realizar «tarefas socialmente necessárias», como trabalharem em instalações de defesa.
A lei marcial, que nunca foi declarada na Ucrânia depois na anexação da Crimeia pela Rússia, em 2014, nem durante a guerra que ainda se prolonga no leste do país com forças militares de duas regiões (Donbass e Donetsk) que em referendo declararam a sua independência de Kiev – e que mantêm poderes regionais próprios, eleitos, forças de ordem e de defesa próprias, certamente com o apoio do governo russo – poderá querer aplicar-se a elas, o que poderia elevar muito as consequências do conflito, que já provocou mais de dez mil mortos desde o seu início, apesar de silenciado na comunicação social ocidental.

Introduzir a lei marcial ou o estado de emergência é sempre mais simples do que cancelá-lo. Os órgãos governamentais acostumam-se a trabalhar em regime descontrolado e a burocracia e os políticos começam a entender o encanto de uma ditadura, porque fazem parte dessa ditadura. O trabalho da oposição é complicado, e vai perdendo a sua influência. Assim, prolongar a lei marcial será mais natural, para Poroshenko, do que pôr-lhe fim.

O que os EUA e a NATO querem da Ucrânia
A Ucrânia divide uma fronteira terrestre e marítima de quase 1500 milhas com a Federação Russa, a mais longa fronteira ocidental com o país.
Estreito de Kerch e a longa fronteira da Ucrânia com a Rússia


A NATO quer que a Ucrânia seja «o eixo decisivo dos planos dos EUA» e dos seus aliados da aliança, para criar «um cordão militar que separe a Rússia da Europa», componente de uma estratégia sinistra que arrisca o confronto Oriente/Ocidente.
Vladimir Putin referiu, porém, que «a aparição nas nossas fronteiras de um poderoso bloco militar [...] será considerada pela Rússia como uma ameaça directa à segurança de nosso país», acrescentando: «os mísseis russos terão como alvo a Ucrânia se esta ingressar na NATO ou permitirem que o escudo de defesa antimísseis de Washington seja instalado no seu território».

Histeria anti-russa
A histeria anti-russa continuou nos dias seguintes à provocação dos navios à entrada do Mar de Azov, com a manifestação de arruaceiros nazis nos últimos dias, com elevada capacidade de destruição, fazendo de um centro comercial o seu alvo. Os ocupantes usavam máscaras negras e ostentavam a bandeira da organização juvenil militante "Sokil" (Falcão), uma ramificação do partido de extrema-direita Svoboda (Liberdade). O Svoboda opõe-se violentamente à influência russa e à «decadência» do Ocidente liberal, e está ligado a grupos neonazis na Ucrânia. Inicialmente conhecido como o partido nacional-social da Ucrânia, os políticos do Svoboda descreveram o partido como «a última esperança da raça branca», citando com aprovação o Mein Kampf em reuniões de conselho e organizando acampamentos de verão para crianças, treinando os jovens para jogar, escalar montanhas e disparar sobre os russos.


No centro comercial, a polícia escoltou alguns dos ultranacionalistas para fora do prédio, mas muitos ficaram lá dentro, como relatou o Korrespondent.net. Lá dentro culparam empresários russos pelo conflito do seu país com a Rússia, e gritaram: «exigimos acabar com o financiamento do terrorismo e a morte de soldados ucranianos por dinheiro que está a ser retirado da Ucrânia através deste centro comercial» e «fora com os negócios russos na Ucrânia!».
Há dois dias, Poroshenko decidiu proibir a entrada de homens russos, com idades entre os 16 e os 20 anos, justificando a medida com a necessidade de evitar a criação de «exércitos privados russos». Na prática vai impedir a reunificação na época natalícia de famílias, pois muitos cidadãos têm as suas famílias na Ucrânia. O governo russo já declarou que não iria responder na mesma moeda.
Para além deste episódio ficaram para trás operações como a da falsificação do assassinato do jornalista russo Arkady Babchenko, a pretexto de ser anti-Putin, que acabou por ser desmascarada internacionalmente.

O caso da Igreja Ortodoxa Ucraniana

Nesta situação há que estar atento às consequências da lei marcial para a Igreja Cristã Ortodoxa Ucraniana.
É muito importante para Poroshenko controlar uma estrutura que é autoritária e ramificada e que pode ser usada como um mecanismo para arrebanhar votos. Poroshenko sabe muito bem que nas aldeias as pessoas geralmente votam «de acordo com o que o Padre diz durante o culto da igreja». Ele precisa que os padres preguem diariamente que Poroshenko é a única escolha digna entre os crentes em Cristo.


A Igreja Ortodoxa Ucraniana, do Patriarcado de Moscovo, é a única estrutura religiosa totalmente ucraniana, gozando de enorme autoridade e do apoio da população em praticamente todas as regiões da Ucrânia. Esta estrutura, apesar de todas as tentativas de a fazer permanecer fora da política, mobilizou-se abertamente em oposição a Poroshenko. Eventuais conflitos com a Igreja Ortodoxa Ucraniana não convêm, por isso, ser tornados públicos.

sábado, 24 de novembro de 2018

Estas coisas não podem voltar a acontecer, por António Abreu



Tem-se dado prioridade depois do abatimento da estrada Borba - Vila Viçosa, à recuperação dos corpos das vítimas encarcerados em viaturas e presos  nos blocos de mármore, resíduos da exploração.
Mas há que apurar os termos dos licenciamentos da exploração das  pedreiras, com particular relevo para as garantias de segurança a que as empresas se obrigavam, fiscalização continuada por parte da entidade licenciadora e as suas interações com as empresas e as conclusões a que ia chegando, quem fez os pedidos, e a quem, dos estudos de estabilidade e quem se devia pronunciar sobre eles, analisando os despachos que tiveram dessas entidades.
Ouvi um empresário dizer "que já tinha pedido a interdição do trânsito automóvel na estrada que abateu para ela ser apenas usados pelas viaturas e pelos trabalhadores das empresas”!!! Donde se deduz que o empresário sobre-explorador do mármore não se importaria que fossem trabalhadores das empresas e respetivas viaturas a serem vítimas da catástrofe!!! E tudo em nome da liberdade da circulação dessas viaturas.
Entretanto com a "desclassificação” da estrada nacional e a sua passagem a municipal (nome feio este da desclassificação quando se tratou apenas de desresponsabilização…), municípios passaram a ter engenheiros civis com capacidades de fiscalização e de reparação das estradas “confiadas? Não.
E receberam recursos para fazer as caras obras de recuperação nem para analisar a estabilidade das estruturas para fazerem adequada fiscalização? Também não. Todos estes processos de "descentralização estão viciados. Vários governos quiseram libertar-se de pessoal da administração central e local mas não criaram condições para que os municípios os poderem voltar a ter em especialidades essenciais para a sua ação.
É que uma responsabilidade desta natureza não é só poder contratar empreitadas de beneficiação -poder especialmente atrativo, só por si, para muitos autarca. Mas isso  não esgota a responsabilidade que se assume.
É um horror olhar para as imagens captadas por drone daquelas explorações e da estrada da morte que para ela contribuíram escavações para além de quaiquer razoabilidade.
A tais “empresários” só foi possível fazer tal barbaridade com  o “fechar de olhos” de alguns organismos do Estado. Isto tem que ser apurado.

terça-feira, 20 de novembro de 2018

Bom fim de semana, por Jorge


"Ce n'est pas assez d'avoir l'esprit bon, mais le principal est de l'appliquer bien."

"Não basta ter boa cabeça, o importante é usá-la bem."

René Descartes (1596-1650) no Discours de la Méthode (1637)

Em Israel: depois dos ataques a Gaza e do cessar-fogo entre as partes, o quê?, por António Abreu

Bombardeamento a Gaza em 13 de Novembro



Os acontecimentos recentes
Esperava-se que hoje às oito da próxima 2ª feira (TMG) Netanyahu se dirigiria ao Knesset anunciando que eleições eram inevitáveis, remetendo-as para o fim do ano. Mas mnão é certo que isso aconteça já que o primeiro-ministro ainda continuou a pressionar os parceiros da coligação para não as precipitarem enquanto já acertava o cunho eleitoralista do próximo orçamento ano. 
Para trás ficou o leitmotiv  desta crise governamental:  milícias palestinianas de Gaza, incluindo o movimento islamita Hamas, terem concordado na terça-feira num cessar-fogo após o recrudescer de ataques do domingo anterior, com o lançamento em pouco mais de 24 horas de mais de 460 rockets da Gaza para Israel e 160 bombardeamentos israelitas sobre o enclave, para destruir casas, infraestruturas e cobrir os assassinatos a dirigentes palestinianos seletivos por agentes israelitas descaracterizados.
Nessa altura "os esforços do Egito permitiram alcançar um cessar-fogo entre a resistência e o inimigo sionista, e a resistência vai respeitá-lo enquanto o inimigo sionista o respeite", anunciaram os grupos num comunicado conjunto assinado pelo Centro de operações conjunto das organizações palestinianas.
O Egito, com apoio das Nações Unidas, foi intermediário para pôr termo à mais grave escalada de violência entre milícias palestinianas e Israel desde 2014, com um balanço de 16 mortos, onde se incluem 14 combatentes palestinianos, um militar israelita e um civil palestiniano em Israel.
Não se devem, porém, ignorar projetos de alguns para criar a partir deste pequeno território um “novo” estado que se prolongaria para a península do Sinai, gerido pelo Hamas e pelo Egipto e que formalizaria nova delapidação da Palestina. Mas também se deverão ter em conta os projetos da Rússia, no que respeita ao gás natural que exporta, cujas condutas poderão atravessar vários destes países até ao Egipto.

Os antecedentes imediatos
A escalada iniciou-se com a declaração de Netanyahu em Paris no 100º aniversário do armistício do final da Primeira Guerra de que não havia solução negocial para o seu conflito com Gaza.
Seguiu-se uma operação especial israelita no interior da Faixa de Gaza nessa noite de domingo, onde foram mortos sete milicianos palestinianos e o soldado israelita, seguida na tarde de segunda-feira pelo lançamento em massa de rockets durante 24 horas seguidas.
Por sua vez, as forças israelitas bombardearam dezenas de posições das milícias palestinianas, incluindo a Al-Aqsa, a estação televisiva do Hamas na Faixa de Gaza, que deixou de emitir após o ataque.

As reações
A Organização de Libertação da Palestina (OLP) responsabilizou Israel pela perigosa escalada da violência na faixa de Gaza bloqueada e pelo terror. As autoridades palestinianas denunciaram os ataques israelitas nos dois dias anteriores contra estruturas civis no enclave de Gaza, afirmando que os dois milhões de palestinianos que sofreram o bloqueio ilegal de Israel durante os últimos 12 anos foram atacados e não têm onde refugiar-se. Os bombardeamentos deliberados de Israel a edifícios residenciais, a uma estação de televisão e a outras instalações civis são para a OLP “crimes de guerra e Israel terá que sofrer as consequências das suas ações”.
A OLP declarou-se comprometida em defender o direito do seu povo a viver em paz, segurança e liberdade, utilizando todas as ferramentas diplomáticas e legais disponíveis. E concluíram que “com a ajuda do Egipto e de outras partes interessadas, continuaremos os nossos esforços sérios para conseguir a reconciliação e a unidade da Palestina
Em Ramallah, o ministro palestiniano dos Negócios Estrangeiros, Riyad al-Malik, solicitou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU para discutir os ataques militares israelitas contra a faixa de Gaza.
Por seu lado, a Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) apelou a todos os amigos da Palestina no mundo para que se solidarizem com Gaza sob ataque de Israel. «Este ataque é uma tentativa de suprimir as conquistas da Grande Marcha de Retorno, na qual milhares de palestinianos na faixa de Gaza exigiram o direito fundamental de regressar e de romper o bloqueio», considera a FPLP.
O Hamas considerou a demissão de ministro israelita uma “vitória política para Gaza, que conseguiu pela sua resistência minar o cenário político de Israel", afirmou hoje num comunicado o Hamas, que governa o enclave palestiniano de Gaza. O Hamas já há algum tempo trocou uma relação preferencial apoios com o Irão por outra com o Qatar que lhe tem feito chegar diferentes tipos de apoios.
Para o jornal Haaretz, Netanyahu e as Forças Armadas de Israel agiram, contra vários ministros israelitas para evitar que a guerra fosse evitada no último minuto.

Os silêncios “justificados” de Netanyahu
Falando no Memorial a Ben-Gurion, fundador do estado de Israel, Netanyahu afirmou, e citamos, "Em tempos normais, um líder deve estar atento ao coração das pessoas e o nosso povo é sábio. Mas em tempos de crise, ao tomar decisões críticas no campo da segurança, o público nem sempre pode ser um parceiro nas considerações cruciais que devem ser ocultadas do inimigo.
Nesses momentos, a liderança não é fazer a coisa fácil. A liderança é fazer a coisa certa, mesmo que seja difícil. A liderança às vezes enfrenta críticas quando se conhecem informações confidenciais que se não podem compartilhar com os cidadãos de Israel e, nesse caso, com os residentes do Sul, que eu amo e aprecio muito.
Eu ouço as vozes dos moradores do sul. Acreditem em mim, eles são preciosos para mim, suas palavras penetram no meu coração. Mas junto com os chefes das forças de segurança, vejo o quadro geral da segurança de Israel, que não posso compartilhar com o público. Eu gostaria de poder compartilhar com os cidadãos de Israel tudo o que eu sei, mas com a segurança de Israel ela será essencialmente reservada. Os nossos inimigos pediram um cessar-fogo e sabem muito bem por quê.
Não posso elaborar nossos planos para o futuro. Determinaremos as condições certas e os tempos certos para o Estado de Israel, que são corretos para a segurança de nossos cidadãos".
Para o Haaretz, houve implicitamente referência à frente norte (Síria, Líbano, com influência russa) no discurso de Netanyahu no memorial.
Ainda segundo o mesmo jornal, o chefe do Exército apresentou ao conselho de ministros cenários sombrios: ou uma guerra na qual Israel conquistava a Faixa de Gaza, ou semanas de violência após as quais ambos os lados regressariam ao ponto de partida.

Condicionantes
Os interesses da Rússia na Síria e no Líbano, a norte, estão a limitar as opções militares de Israel. Para o jornal, jogar xadrez com o Hezbollah, que governa o Líbano, é uma coisa. Tentar descobrir o que a Rússia quer, na Síria e talvez também no Líbano, mesmo que o Hezbollah lá esteja a tentar fabricar armas, é um desafio completamente diferente. Daí a aparente “cautela” de Israel lidar com o Hamas na Faixa de Gaza, ao aceitar este cessar-fogo. O incidente em que caças F-16 se esconderam atrás dum avião russo, o que levou a que este fosse atingido por fogo sírio, levou a um sério aviso por parte da Rússia de que ambos os países têm que coordenar melhor as suas iniciativas políticas e militares na região.
Vários analistas, com preocupações bem diferentes dos falcões ultraortodoxos israelitas, sustentam que Israel tem todo o interesse em manter boas relações com a Rússia numa situação que é tão frágil e com interesses tão contraditórios e potencialmente violentos e que não é do interesse de ambos os países que a guerra na Síria se transfira para outros países, lembrando que fi a Rússia que manteve negociações com Teerão e vários grupos apoiados pelos iranianos para que estes retirassem do sudoeste sírio, próximo do norte de Israel.
Acordos entre Israel e China

Por outro lado, como referimos em artigo anterior a China passará a controlar nos próximos dois anos o essencial da indústria agroalimentar israelita, da sua alta tecnologia e das suas trocas internacionais, devendo seguir-se entre as partes um acordo de comércio livre, em que único sector importante da economia israelita fechado ao capital chinês é o do armamento. E não aceitará a instabilidade provocada pelas teorhinansões entre Israel e a Palestina. Os EUA poderão “puxar as orelhas” a Netanyahu por isso, mas não têm capacidade para se constituir como alternativa credível.
A confrontação permanente entre Israel e a faixa de Gaza não tem apenas motivações racistas. Israel quis controlar as fontes de gás natural existentes nas águas de Gaza, evitando assim acordos com a Turquia e o Egipto quanto a condutas de petróleo vindas da Rússia ou do Qatar. E apesar da soberania nessas águas não lhe pertencer fez apelos a investidores ocidentais para aí iniciarem a exploração.

A derrocada da coligação e a perspetiva de eleições antecipadas
O ex-ministro Lieberman já tinha entrado em confronto com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu durante o acordo que Israel estabeleceu permitindo ao Qatar armazenar combustível e transferir dinheiro para o Hamas.
Defensor da separação física de judeus e árabes, Lieberman considera insensato dar um poder ilegítimo em Gaza ao Qatar e recursos para o Hamas. Paras ele não há dúvida de que, se esta decisão faz descer a pressão a curto prazo, permitiria, porém, um ressurgimento de atos de guerra por parte da Irmandade Muçulmana, a longo prazo. Segundo o mesmo jornal, ao contrário da versão da imprensa internacional, Avigdor Lieberman estaria interessado na paz, enquanto o aparelho militar tinha a intenção de manter o status quo e que Netanyahu desse continuidade ao projeto da Grande Israel Zeev Jabotinsky (1).”
Nesta 6ª feira Netanyahu disse ao The Times de Israel que ainda tentaria "preservar o governo de direita", mas Israel poderá estar à beira de eleições agora quase inevitáveis, depois do primeiro-ministro ter rejeitado a exigência - um verdadeiro ultimato - do ministro da educação Naftali Bennett em ser designado ministro da Defesa. Essas eleições seriam consequência da saída, já anunciada, da coligação governamental do partido de Bennett. O sionista religioso Bennett é muito mais extremista que Lieberman.
Segundo o próprio Netanyahu a rejeição do ultimato baseou-se na sua intenção de manter a pasta da Defesa "à luz dos desafios críticos enfrentados atualmente pelo Estado de Israel".
De acordo com uma sondagem, realizada no próprio dia destes acontecimentos, quase três quartos dos israelitas apoiam as opiniões expressas por Liberman. Muitos israelitas que vivem a menos de 30 quilómetros da Faixa de Gaza, numa região alvo dos mísseis desde a governação de Gaza pelo Hamas em 2006, manifestaram-se pelo cessar-fogo, exigindo uma política de segurança a longo prazo.
A imprensa israelita não divulga sondagens de opinião sobre os habitantes de Gaza.
O Hadash e o Partido Comunista (PCC) de Israel pediram eleições logo após a demissão Avigdor Lieberman, afirmando que “chegou a hora de trazer um governo melhor para Israel. Chegou a hora de eleições democráticas e quanto mais cedo melhor. Os negócios correntes não podem ser deixados nas mãos de um bando de fascistas e colonos”, e que a renúncia de Lieberman “revelou o que já sabíamos há muito tempo - este governo não tem uma estratégia para acabar com o bloqueio continuado da Faixa de Gaza, a fome do povo palestino em Gaza, a ocupação contínua dos territórios palestinos e seu abandono dos moradores do sul de Israel”.
Através de um comunicado, o chefe do governo, reagiu de imediato sublinhando a importância de fazer todos os esforços para preservar o governo de direita e não repetir o “erro histórico” de 1992, quando o governo de direita foi derrubado, a esquerda chegou ao poder e trouxe, segundo ele o “desastre de Oslo” para o Estado de Israel.
Esqueceu-se de referir o assassinato de Isaac Rabin em 1995 por um adversário desses acordos estabelecidos com Yasser Arafat.
O ministro da Defesa cessante, Avigdor Liberman, ao anunciar a sua renúncia ao cargo na 4ª feira, disse que o cessar fogo e os acordos com o Hamas, tinham sido uma “capitulação face ao terror”.
Ao retirar também o seu partido, o Yisrael Beytenu, da coligação, Liberman deixou o governo com uma maioria estreita, com apenas 61 em 120 deputados no Knesset. O “Lar judaico” (Jewish Home), partido nacionalista, de extrema direita e religioso, que dispõe de 8 lugares, declarou então, rapidamente, que derrubaria o governo se o seu líder Bennett não recebesse a pasta da Defesa (2).
Quando da formação deste governo, a OLP referiu “Este Governo visa matar, e reforçar a colonização”. E acrescentou que era “um Governo de união para a guerra e contra a paz e a estabilidade na nossa região”.
Não devem ser ignorados, no início deste mês, e antes destes acontecimentos, ter começado a ser discutida no Knesset uma proposta de lei que prevê que os culpados de terrorismo possam ser condenados à morte e sem acordo unânime dos juízes do tribunal. Netanyahu saudou, dias depois, a reimposição de todas as sanções dos EUA ao Irão, com o argumento de que este país punha “em perigo o mundo inteiro”.
Bennett há muito criticava a relutância do governo Netanyahu em responder com mais força aos ataques com rockets sobre Gaza, e defendia incursões terrestres na Faixa de Gaza.
Embora, em teoria, Netanyahu pudesse trazer outro partido para a coligação em vez do “Lar Judaico”, todos os partidos da oposição declararam a sua intenção de concorrer contra ele e a possibilidade de se lhe juntarem é altamente improvável (3).
Fez uma série de telefonemas para os chefes da coligação dizendo que não havia razão para desmantelar a coligação neste momento. Contrariou as declarações de Bennett de que se iria para eleições antecipadas, apesar de uma fonte do “Lar Judaico”, no entanto, ter declarado que “ficou claro que, à luz da posição resoluta do Presidente do Kulanu (partido que nas eleições de 2015 apareceu pela primera vez, obtendo logo 10 deputados, e do Ministro Kahlon (que advogou eleições antecipadas], haver a necessidade de ir a eleições o quanto antes sem possibilidade de o atual governo continuar”. Um eventual convite ao ultraortodoxo Shas, que tem visto as suas propostas mais graves serem aplicadas pelo primeiro-ministro, não garante a maioria a novo governo liderado pelo Likud e os contactos com Khalom e o Kulanu parecerem ir ser tentados. O fim-de-semana passado terá sido decisivo para um “arranjo” de última hora.
Ainda não há, portanto, data para as eleições que estavam já normalmente marcadas para novembro de 2019. Alguns partidos esperam agora que elas sejam realizadas entre março e maio, com Netanyahu a pressionar para uma data posterior, se possível no final do ano.
Para as eleições de 2015 já vigorou a meta de 3,25% em vez dos anteriores 2% para poder haver representação parlamentar. Essa nova lei e as sondagens finais das intenções de voto para desse ano, impulsionaram a constituição, à esquerda, da Lista Conjunta (integrada por quatro pequenos partidos árabes, que no conjunto somaram 9 deputados e o Partido Comunista, o Hadash, com 4), que antes se estimava que pudesse ficar como terceira força parlamentar, com 13 deputados. Porém, também na oposição, a União Sionista alcançou os 24, Os Verdes ficaram apenas com 1. A barreira de 3,25% ameaçou a sobrevivência dos partidos Meretz (esquerda) e do “Lar Judeu” (ultradireita), do ministro de Assuntos Exteriores Avigdor Libermann, que poderiam ser excluídos da nova Knesset. O que não aconteceu, tendo o Meretz ficado pelos 5 e o “Lar judeu” pelos 8. A União Sionista, composta pelo Partido Trabalhista, de Herzog, defendendo o congelamento dos colonatos e a solução de dois estados, teve 18 deputados e o Hatnuah, de Tzipi Livni, 6. O primeiro social-democrata, de centro-esquerda e o segundo liberal, de centro com atitudes pacifistas, seculares e ambientalistas.  Os restantes partidos de oposição de direita ou esquerda, somaram 17 deputados.
Paradoxalmente, foi exatamente Libermann que, antes das eleições de 2015, propôs elevar o patamar que dá acesso à Câmara, para interromper a marcha dos partidos árabes e dos comunistas, que chamou de “traidores de Israel”, o que não conseguiu, mas arriscando a não entrada do seu próprio partido.

(1)    Foi o criador do revisionismo sionista do Likud, feroz opositor do socialista Ben Gurion. Os conflitos entre judeus e árabes na Palestina foram adquirindo contornos cada vez mais amplos, à medida que crescia a oposição dos líderes árabes ao estabelecimento de um estado nacional judaico na região. Em 1929 Jabotinsky viajou para participar do 16º Congresso Sionista. Sob pressão dos árabes, os ingleses não permitiram o retorno de Jabotinsky, que se assumiu como sionista fascista. Ao mesmo tempo, surgem novas lideranças sionistas mais radicais que Jabotinsky que pregavam o combate contra o mandato britânico. Surgem grupos como o Irgun e o Lehi. Mas este percurso político interno em Israel, mesmo antes da criação do estado pelas Nações Unidas até ao presente, poderá ser tema para um outro artigo.  A história de Israel está indissociavelmente ligada à continuada tensão no Médio Oriente.

(2)    Na atual composição do governo participam 5 dos 10 partidos com representação no Knessett: o Likud, de Benjamin Netanyahu, com 30 deputados, o Kulanu (dirigido por  Moshe Kahlon, anterior ministro do Likud), com 10, o ultraortodoxo Shas (acrónimo hebreu dos Guardiões Sefarditas da Torah, dirigido  pelo rabino, mentor espiritual, Ovadia Yosef e pelo chefe político Eli Yishai), com 7, o Judaísmo Unido da Tora (dirigido por Yaakov Litzman e por Moshe Gafni) com 6 e a formação ultranacionalista Bayit Yehudi (ou Lar Judaico, dirigida por  Naftali Bennett) com 8.


(3)    Na vigência dos governos de Netanyahu, chefe do Likud e chefe do governo de 1996 e 1998 e de 2009, por indigitação de Shimon Peres, até hoje (para não contar também com os governos de Ehud Barak de 1999 a 2009), têm havido sucessivas crises, na última das quais Netanyahu demitiu vários ministros e isso acarretou eleições em 2015 que deram origem à atual coligação de direita que, agora, corre o risco de não concluir a legislatura de 4 anos. Nessas eleições para garantir a vitória da direita, Netanyahu não se coibiu de fazer, em vídeo no Facebook, o apelo racista contra os seus concidadãos árabes: “O Governo de direita está em perigo. Os eleitores árabes estão acorrendo em manada às urnas. Organizações de esquerda estão a transportá-los”