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sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

A Nicarágua venceu o golpe de Estado mas enfrenta dificuldades económicas, por António Abreu



O presidente da Bolívia, Evo Morales, saiu em defesa do governo da Nicarágua nesta quarta-feira (25), dando a entender que a onda de desestabilização que assolou o país desde abril se tratou de uma tentativa dos Estados Unidos de tentarem um novo golpe de Estado no continente, desta vez contra Daniel Ortega.
A Presidente da Bolívia referiu que ao tentar interromper o processo constitucional da Nicarágua e forçar eleições antecipadas, os EUA “mostram sua obsessão pela ingerência em assuntos internos dos países soberanos”, esclareceu o presidente.
Na sua conta no Twitter, Evo acusou os EUA de ter uma postura de “patrão do mundo” e que a ingerência do país americano na Nicarágua é um “anúncio de golpe contra o diálogo e a paz”.
A onda de desestabilização começou em abril quando uma manifestação de estudantes da Universidade Politécnica pediu a revogação da reforma laboral apresentada por Daniel Ortega. O presidente atendeu o pedido popular com rapidez e não avançou com a reforma, porém, as manifestações continuaram, desta vez, no dia seguinte (!) com uma nova reivindicação: a renúncia do chefe de Estado.
Imediatamente começaram as ações violentas que resultaram em mortes de manifestantes a favor e contra o governo, destruição de prédios públicos incluindo bibliotecas e equipamentos de saúde, além de agressão gratuita contra militantes sandinistas.
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), afirmou em julho estar disposto a voltar à mesa de diálogo com a oposição para encontrar uma saída pacífica e negociada para a grave crise social em que se encontra seu país. Os sectores mais agressivos da oposição rejeitaram-no.
O interesse norte-americano em mudar, de forma precipitada, o atual governo da Nicarágua está diretamente ligado às negociações do país com a China para a construção de um novo canal que será muito maior em capacidade que o Canal do Panamá, caminho dominado pelos EUA para receber importações e exportar sua produção.
Stephen Sefton, analista político da Global Research, salientou na passada 6ª feira (28) que, depois do falhado o golpe na Nicarágua e da OEA e Amnistia Internacional ignorarem as mortes e torturas de sandinistas, o povo da Nicarágua exige reparações por parte dos golpistas, apoiados pelos EUA.
Na passada quarta-feira (25) o Congresso dos Estados Unidos aprovou por unanimidade a resolução bipartidária (votada por 241 parlamentares republicanos e 194 democratas) que condena e responsabiliza o governo de Daniel Ortega pela violência nas manifestações.
O documento legislativo propõe, além disso, eleições presidenciais antecipadas no país centro-americano - os EUA a legislarem para os outros…
Entre abril e julho deste ano, a Nicarágua sofreu uma tentativa extremamente violenta de mudança de regime apoiada pelo governo dos EUA e aliados seus. Componentes essenciais e cruciais dessa tentativa de golpe foram os relatórios de má fé de organizações internacionais de direitos humanos e a cobertura de notícias extremamente tendenciosa pela comunicação social ocidental.
Todos eles mentiram ao acusar o governo sandinista da Nicarágua por quase todas as mortes durante o golpe, quando foi o contrário que aconteceu.
Milhares de pessoas voltaram a manifestar-se no último sábado (25), em Manágua, capital da Nicarágua, para exigir justiça e reparação para as vítimas da violência que marcou a intentona golpista, provocada pela extrema-direita, com apoio financeiro norte-americano.
Mais de duzentos sandinistas, transeuntes não envolvidos e policias foram mortos e centenas sofreram intimidações, abuso e tortura às mãos das forças de oposição apoiadas pelos EUA.
A mais falsa referência por elas ao conflito é a insistência em que a oposição nicaraguense realizou no essencial protestos pacíficos, o que é um absurdo, atendendo ao número de baixas sandinistas e policiais. Essa cobertura deliberadamente enganosa dos acontecimentos na Nicarágua reflete a ampla contaminação das sociedades ocidentais, a que o economista Bill Black e outros chamam de "fraude de controle" por meio da qual empresas, especialmente empresas financeiras poderosas, usam contas superficialmente legítimas e controles de auditoria deliberadamente para enganar os investidores. Essas empresas relatam ativos inflacionados e custos mínimos, dando uma visão deliberadamente falsa e enganosa da posição financeira da empresa. Essas poderosas empresas põem de lado as práticas empresariais honestas e manipulam os líderes políticos, e atraem os profissionais da justiça para escaparem ao processo criminal.

A fracassada tentativa de mudança de regimes pelo governo dos EUA na Nicarágua neste ano, como as ofensivas dos EUA contra a Venezuela ou o Irão, por exemplo, revelam como esses processos de corrupção atingem instituições ocidentais de todos os tipos. As organizações sem fins lucrativos, a comunicação social e as instituições multilaterais ocidentais operam como uma enorme combinação corrupta por meio de um ciclo de feedback infinito de desinformação, negando aos povos de seus países uma visão verdadeira e justa dos eventos mundiais. Alargam-se nos anúncios das suas boas intenções e superioridade moral, enquanto minimizam, mentindo, os custos, as incontáveis ​​vítimas e o sofrimento incalculável. Assim, as populações investidas nessa vasta preocupação fraudulenta pensam que os supostos controles do sistema, como a comunicação social e setores não-governamentais, funcionam muito bem quando, na verdade, quase todos são corruptos.

Segundo o autor, no caso da Nicarágua, dois acontecimentos demonstram essa realidade com muita clareza.
Em primeiro lugar, os relatórios ocidentais contra a Nicarágua foram completamente omissos quanto ao ataque assassino em maio do ano passado na rádio sandinista, Nuevo Radio Ya. O ataque resultou da falsa alegação sensacionalista de Miguel Mora, do canal de propaganda da oposição com 100% de noticias que lhe eram favoráveis, de que sua emissora de TV estava a ser atacada nesse dia. Mora pediu a ativistas da oposição que atacassem a Nuevo Radio Ya, o que fizeram, incendiando-a, mantendo mais de 20 funcionários de rádio reféns e disparando sobre bombeiros e policias que tentavam controlar o fogo e resgatar as pessoas. Apenas a bravura dos serviços de resgate e do pessoal da estação de rádio impediu lesões mais graves e perda de vidas.
Um segundo incidente, entre dezenas de casos semelhantes, também demonstra a corrupção da indústria ocidental de direitos humanos e dos seus cúmplices da comunicação social. Na semana passada, as autoridades nicaraguenses divulgaram os resultados de uma minuciosa investigação sobre uma das principais atrocidades atribuídas pela CIDH e pela Amnistia Internacional ao governo no dia 16 de junho. Naquele dia, uma família de seis pessoas, incluindo duas crianças, foi queimada até a morte num incêndio criminoso em sua casa. Imediatamente, a virulenta organização de defesa dos direitos humanos CENIDH teve seus ativistas em cena acusando falsamente o governo do crime. Em poucas horas, a CIDH também atribuiu o hediondo ataque ao governo. Agora, após meses de investigação, a polícia identificou quatro dos incendiários com base em acusações de sobreviventes do incêndio, identificação e testemunho de testemunhas, análise forense e material incriminatório da comunicação social da oposição. Dois dos acusados ​​foram enviados para julgamento e dois são fugitivos.
Desde os primeiros momentos da tentativa de golpe, o governo da Nicarágua convidou a OEA a enviar um Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes para ajudar as autoridades nicaraguenses nas suas investigações como parte da missão da CIDH na Nicarágua. Mas a CIDH apresentou o que chamou de relatório final ao Conselho Permanente da OEA, antes mesmo desse grupo de especialistas ter começado a trabalhar. Agora, o grupo de especialistas apresentou um relatório cobrindo eventos até 30 de maio que, e que, como era previsível, reproduziu as mesmas informações falsas do anterior relatório perentório da CIDH, com base em relatos da comunicação social da oposição e de organizações de direitos humanos. Como o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o grupo de peritos da CIDH quebrou os termos de seu acordo original com o governo, envolvendo-se em atividades que não tinha autoridade para empreender.
O termo da visita do grupo de especialistas já havia expirado quando, em 19 de dezembro, o governo decidiu suspender a presença dos corpos da CIDH na Nicarágua, acusando-os de apoiar a oposição minoritária do país e os seus esforços para derrubar o governo constitucional da Nicarágua. Antes disso, o Ministério do Interior confirmou em 14 de dezembro a medida da Assembleia Nacional que cancelou o estatuto legal de nove organizações sem fins lucrativos que fizeram uso ilegal dos seus recursos para participarem e apoiarem ativamente a tentativa de golpe. Essas ONGs representam 0,2% de cerca de 4300 organizações sem fins lucrativos registadas no Ministério do Interior do país. Num outro movimento para desmantelar as redes de oposição envolvidas na tentativa fracassada de golpe, o governo aplicou a legislação de longa data do país contra o incitamento ao ódio e prendeu Miguel Mora, diretor da rádio que foi organizadora das manifestações violentas, rádio essa que foi encerrada.

Como no caso das medidas tomadas pelas autoridades venezuelanas para proteger a sociedade de seus países contra crimes semelhantes, a cobertura da comunicação social ocidental sobre estes recentes acontecimentos na Nicarágua, deturpa-os apresentando-os como “ações de uma ditadura!” Mas para os nicaraguenses elas representam medidas legítimas para defender o Estado de Direito, a estabilidade económica e a segurança dos cidadãos.
Todos estes “paladinos” dos direitos humanos omitem a violência sádica e assassina da oposição e deturpam, de forma grotesca, os passos dos governos da Venezuela e da Nicarágua para proteger as pessoas contra ela. Ao encobrir os crimes da oposição, eles tornam-se cúmplices deles.

Recusando-se a reconhecer a realidade da violenta e opressiva violência da oposição durante a tentativa frustrada de golpe, a CIDH e seus seguidores em acampamentos de ONGs, como a Amnistia Internacional, confirmaram que ela foi acessória para o golpe tentado uma vez mais. Eles têm sido cúmplices com as práticas de matar, queimar, realizar violações, abusar sexualmente de mulheres.
O governo dos Estados Unidos anunciou na última terça, 27, novas sanções contra a vice-presidente e primeira-dama da Nicarágua, Rosário Murillo, como resposta a alegada repressão promovida por Daniel, aos protestos contra o governo. E estendeu essas sanções ao assessor de segurança nacional, Néstor Moncada Lau
Este é um dos golpes que o imperialismo norte-americano, de diferentes formas, tem implantado na América do Sul e Caraíbas. A mais recente vai ser agora os contratos que Bolsonaro vai assinar com Israel, na altura da sua investidura que incluem assuntos económicos e de “segurança”, ou seja, Israel vai tentar implantar, com a Mossad, mais uma plataforma logística de agressão contra os países de regimes progressistas da América Latina.

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