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sexta-feira, 30 de junho de 2017

Bom fim de semana, por Jorge






"In tranquillo esse quisque gubernator potest."                    

 "Com mar calmo, qualquer um toma conta do leme."

Publilius Syrus
escritor latino de origem síria, 85-43 aC

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Fogos: não nos atirem areia para os olhos e vão para o essencial

A União das Misericórdias tem a obrigação, que ainda não lhe foi cometida, de prestar contas, euro a euro, do que agora vai receber.
Partindo eu do princípio que este dinheiro não vai ser destinado a pagamento de salários nem a despesas correntes das suas filiadas.
E que as obras serão acompanhadas para que não saia dinheiro dos empreiteiros contratados para os contratantes.
E que vai ser rapidamente distribuído por investimento em obras e equipamentos que reponham as condições de laboração de empresas e os postos de trabalho anteriores.
E ao pagamento de salários de quem ficou sem trabalho e falta de resposta das empresas destruídas para os garantir.
E que chegue rapidamente às mãos dos que perderam os familiares que garantiam os rendimentos familiares.
E aos que perderam estábulos, armazéns e animais e carecem da reposição das condições de exploração, etc.
 
Ao dinheiro do Meo Arena têm que se somar os apoios comunitários para estes efeitos.
E a despesa pública terá que crescer com a comparticipação naconal nestes e com outros apoios necessários.
Fica de fora outra despesa e investimento nas questões da prevenção, hoje completamente desguarnecidas pela política neoliberal e de austeridade, que Governo e AR têm que definir. Mais leis e outros papéis, não, porque já existem e ninguém fez para se cumprirem de forma visível!...
Como a imediata recriação de estruturas descentralizadas do Ministério da Agricultura, desburocratizadas e próximas dos interessados.
Como a definição das entidades a quem compete fazer a gestão florestal, simultânea à progressiva aplicação de reordenamentos e reflorestações e à realização do cadastro florestal, sem que uma coisa empate a outra.
Como recrutamento de centenas de guardas florestais e construção de centenas de postos de vigia de incêndios devidamente equipados.
Como a definição de quem faz os cortes vegetais que garantam as distâncias sem florestação em estradas, na própria floresta(aceiros), junto das habitações, depósitos e estações de combustível e de outro edificado.
Como a contratação permanente de milhares de sapadores florestais para assumir estas responsabilidades quando atribuídas ao Estado e intervir coercivamente em propriedades particulares que o não façam com o respectivo debitar das contas respectivas a esses proprietários.
Desculpem ser mais um a escrever sobre os fogos mas a atenção das pessoas está a ser centrada no funcionamento do SIRESP, da Protecção Civil, dos Ministérios, polícias e bombeiros, fdo cruzar de responsabilidades. Que merecem ser trabalhados num plano adequado. Mas não impedindo a prioridade de atenção da comunicação social e instituições de poder, e não só, questões como as que referi acima.

Pedrógão, uma raiva sem fim..., por Agostinho Lopes

Quem destruiu o aparelho do Estado para as Florestas portuguesas? E em nome de quê? E por ordem de quem? Estando tudo ou quase tudo cadastrado neste país, os homens, as casas, os carros, os contribuintes, porque nunca avançou o cadastro florestal? Quem fez avançar a ideia de que o problema dos incêndios florestais é da floresta abandonada? De terra sem dono? Dos pequenos proprietários que não cuidam das suas terras?

 
Não sei porque não posso espumar de raiva, pelos mortos queimados da tragédia de sábado. E por isso cresce-me uma tal raiva capaz de pegar fogo à água que habitualmente o apaga. Uma raiva de lágrimas e palavrões, daqueles que arrebentam penedos…
Vamos ter missas de pesar… comícios de soluções… conferências de imprensa de estudos e planos… Vamos ter tudo o que é habitual em casos que tais, comissões parlamentares eventuais, investigações da PJ, declarações da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), discursos de ministros (por baixo, do, da Agricultura e da, da Administração Interna), de ex-ministros e até de ex-primeiros-ministros… Vamos ter tudo, tudo o que tivemos em vezes que tais… (perdoa-me Gedeão, a mal amanhada paráfrase…).
Vamos ter pena dos mortos, das árvores que arderam (até o eucalipto vai ter o seu avé-maria), dos coelhos e raposas, e até dos calhaus que com o calor racharam (só é pena que outros calhaus não rachem, mesmo de frio, já servia!).
Senhores, senhores, já tudo foi dito e escrito. Há muito. Há décadas. Já não posso mais ouvir falar de certas coisas. Já não aguento tanta repetição. Tanto disco riscado! Tanto relatório. Tanta comissão. Tanta chuva onde já choveu. Tanto sol na eira e chuva no nabal! Por que razão não se quer gritar alto, tão alto, que as trombetas do Apocalipse parecerão ronronar de gato… que não se fez nem faz o que se tem de fazer, porque isso custa pilim… porque isso no Orçamento do Estado implica com o défice, com a dívida, com o grupo do euro, com o Semestre Europeu e o Programa de Estabilidade, com o Moscovici e o Juncker, com o Schäuble e a Merkel, com as e os… a todos!
Porque isso, chegado Outubro, vêm umas pingas e tudo fica resolvido, cai no borralho, e até serve para assar castanhas… E lá vêm mais umas reformas da floresta, mais uma catrefa de decretos-leis, portarias e despachos, oh sim muitos despachos, que a despachar para o dia de S. Nunca em Fevereiro com 30 dias, é fácil, é barato e não chateia os senhores de Bruxelas… Haverá até, para entreter os senhores deputados umas propostas de lei, em assuntos que são da competência legislativa da Assembleia da República… Senhores, não há paciência para tanto estrume…
Pobre do Diário da República, que não há folhas que lhe cheguem para tanta lei… para tanta decisão oficial e legal… para tanta recomendação… E quatro vezes pobre, a floresta, que não lhe bastando os incêndios, ainda tem o Diário da República nas suas três séries, mais o Diário da Assembleia da República a consumir o papel das árvores que sobraram dos incêndios para escrutinar e registar os incêndios florestais…
Vamos repetir tudo de novo outra vez? Oiçam os dentes a ranger! Vejam os olhos a deitar lume. Vejam a boca a espumar. Só não dou coices porque… mas é o que apetecia. E o problema não é ser assemelhado ao animal… mas porque não tenho à beira quem os merece.
Vamos ver:
Conhece-se o que são os matos, os pinhais, as bouças, a dita floresta do Norte e Centro de Portugal? Sabe-se que é uma floresta de pequenos proprietários. Imbricada até ao sabugo com as também pequenas explorações agrícolas. Sabe-se? Então se se sabe porque não se actua em conformidade?
Sabe-se que é «abandonada» porque a madeira nada dá… e sabe-se quem compra a «madeira», ou a cortiça… o Belmiro, o Queiroz Pereira, o Amorim… E senhores, gastam-se milhões de euros de dinheiros públicos – nacionais e comunitários – a subsidiar as fábricas desses senhores, e depois não há massa para os sapadores florestais, para o cadastro, para as equipas de análise do fogo, para as faixas de gestão de combustível???
«Quem destruiu o aparelho do Estado para as Florestas portuguesas?»

Por favor, não brinquem com a gente, feitos sátrapas de meia tigela. Por que razão não se recompõe o corpo de guardas florestais, constatado o crime público que foi a sua liquidação? Custa dinheiro ao erário público? Pois custa, que ninguém trabalha de borla. Nem os da Santa Casa… Cresce o número de funcionários públicos, e isso mexe com a despesa orçamental, e sobretudo com os bonzos de Bruxelas? Pois mexe, mas a não ser que os convençam a ingressar nos corpos de bombeiros voluntários – e podia ser uma forma da burocracia bruxelense fazer férias activas – não há maneira…
Por que razão o número de Equipas de Sapadores Florestais – 500 – previsto num Plano oficial de técnicos florestais da passagem do século, 2000, se me não engano, há tanto tempo foi, continua a meio pau? Porquê? Falta de graveto? Mas ele há tanto na nossa floresta…
(Mas não se seja injusto. Os que liquidaram o corpo de guardas florestais, os mesmos que nada fazem para que o número de Equipas de Sapadores chegue aos 500, previsto há quase duas décadas, gente que passa os dias a falar da qualificação dos portugueses, têm avançado com a interessante hipótese de resolver o problema da carência de recursos humanos da floresta portuguesa pelo recurso (repetição adequada) a trabalhadores desempregados e reclusos! Como quem diz, para quem é, (a floresta portuguesa) bacalhau basta, isto quando o bacalhau era a pataco… É claro que nem os desempregados nem os reclusos têm alguma responsabilidade nesta miserável instrumentalização…).
Por que razão as faixas de gestão de combustível, as primárias pelo menos, constando de sucessiva legislação – desde o Decreto-Lei 124/2006 – não estão concretizadas? Não acham que 10 anos deviam chegar? Falta de quê? De vontade? De verba? De um comando único e eficaz de todos estes processos da floresta portuguesa, prevenção e combate, espartilhados por não sei quantos ministérios, certamente para que ninguém verdadeiramente possa assumir as responsabilidades dos desastres que, fatais como o destino, fatais como dizem que era o fado, fatais como a brutalidade da morte que tão brutalmente cortou cerce a vida a 64 homens e mulheres deste país!
Quem destruiu o aparelho do Estado para as Florestas portuguesas? E em nome de quê? E por ordem de quem? Estando tudo ou quase tudo cadastrado neste país, os homens, as casas, os carros, os contribuintes, porque nunca avançou o cadastro florestal, que todos, suma hipocrisia, diziam e dizem ser condição necessária para a boa gestão florestal. Quem fez avançar a ideia de que o problema dos incêndios florestais é da floresta abandonada? De terra sem dono? Dos pequenos proprietários que não cuidam das suas terras?
«Quem defendeu uma política agrícola de liquidação da pequena agricultura para lá pôr eucalipto?»
E logo, faz-se uma lei para que essa terra possa ser roubada, faz-se outra lei para criar uma bolsa ou banco de terras, dão-se uns «incentivos fiscais» a uns fundos de investimento, que vem a correr da Bolsa de Nova Iorque para a arrendar/comprar e plantar rosas e orquídeas… (Senhor, Senhor porque lhes não dais juizinho!!!).
Poderão alguns, com alguma razão, dizer que não se deve brincar com coisas sérias. Mas o que dizer do sucedido com o anterior governo PSD/CDS e a ministra Cristas que, depois de excluir do Regime Florestal total a Herdade do Ribeiro do Freixo, de 320 hectares, e desanexá-la da tutela pública para dar movimento (privatizá-la!) à sua bolsa de terras, devolveu à tutela pública a Mata da Margaraça de 67,578 hectares de propriedade pública para «compensar». Baralhados?
Como bem percebem os especialistas em algoritmos, 320 hectares na Floresta 4.0 valem o mesmo que 67,578 hectares, dos antigos agrimensores. E que o público se compensa com público, mesmo que em escala reduzida! Foi o Decreto 9/2015, diploma que também ninguém sabe bem o que é…
Quem são os responsáveis pela floresta em mancha contínua de pinheiro ou eucalipto? (E agora parece que já não lhes serve esse eucalipto…) Quem sacudiu os povos dos baldios do que era seu, para lá pôr pinheiro? Quem defendeu uma política agrícola de liquidação da pequena agricultura para lá pôr eucalipto? E o problema é que acham, continuam a achar, depois de tudo o que aconteceu, e do que vai acontecer ainda, que estão com o passo certo… E, contrariamente à bem conhecida anedota, sabem que não vão com o passo trocado, mas a toque de caixa de quem considera a floresta portuguesa o seu banco Fort Knox! A quem devem preito de menagem…
Dizemos isto, mas não nos sai da boca este sabor a raiva e lama, a raiva e carvão negro, a raiva e a um infinito lamento… Eram as horas certas em todos os relógios (perdoa-me Garcia Lorca), mas nos nossos relógios só podem rimar a raiva e a dor pelo que não podia ter acontecido… no sábado 17 de Junho de 2017, em Pedrógão Grande.
Que raiva e dor não poder fazer nada, quando tanto podia ter sido feito!

sexta-feira, 16 de junho de 2017

Bom fim de semana, por Jorge




"Resistir é preciso"

Alípio de Freitas
ex-padre, revolucionário e jornalista,
1929-2017

no título do seu livro de 1981

quarta-feira, 14 de junho de 2017

O que está por detrás do cerco ao Qatar?

A Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos (EAU) avançam com a justificação de que o Qatar apoia grupos jihadistas mas a Arábia Saudita, que se encontra por detrás da ideologia wahhabi, também os apoia, nomeadamente na Síria.

 
                                   Créditos STR/EPA / Agência Lusa
O alcance do bloqueio ao Qatar e interdições diversas a dezenas dos seus altos cargos dirigentes, promovido pela Arábia Saudita e por outros membros do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG), irá definir-se nas próximas semanas. Sendo certo que o pano de fundo dos recentes acontecimentos é mais a disputa da influência maioritária na região, tão rica em petróleo e gás natural, cruzamento terrestre e marítimo de rotas comerciais, entre a Arábia Saudita e o Irão.
Mas, vamos a factos, ao que é certo.
É certo que Donald Trump, aludindo ao presente bloqueio ao Qatar, naquele seu jeito de cowboy pretensioso, entrou na disputa diplomática entre o Qatar e os vizinhos do Golfo Pérsico ao dizer que a sua visita à Arábia Saudita «já está a dar resultados».
Numa série de tweets, Donald Trump disse que os líderes do Médio Oriente prometeram combater o extremismo e já estão a fazê-lo, ao cortarem relações com o Qatar. «Durante a minha recente visita ao Médio Oriente, disse que não podia haver financiamento da ideologia radical. Os líderes apontaram o dedo ao Qatar» e «a minha viagem já está a dar resultados. Eles disseram que iriam optar pela linha dura quanto ao extremismo. Talvez este seja o início do fim do horror do terrorismo», escreveu, sugerindo que foi ele quem incentivou o isolamento do Qatar. Já em 20 de Maio, ao ser recebido de forma imponente em Riade, Trump apoiara a Arábia Saudita ao mesmo tempo que atacava o Irão.
É certo que o Kuweit, a Turquia e a Rússia desde o primeiro dia se pronunciaram no sentido de haver negociações entre as partes para não agravar ainda mais as tensões no Médio Oriente. Os dois primeiros ofereceram-se como mediadores. E a Al-Jazeera, face à sucessão de tweets de Trump, interrogava-se, então, se não estaria a ocorrer uma mudança de política externa norte-americana em relação ao Golfo Pérsico.
É certo que a Al-Jazeera, para além de instrumento das «primaveras árabes» de 2011 e apoiante da acção de grupos terroristas, também tem sido muito crítica dos EUA e da Arábia Saudita, tratando bem o Irão, o Hezbollah ou o Hamas. E que a Arábia Saudita exige o fim deste canal.
É certo que particularmente a Arábia Saudita e os Emiratos Árabes Unidos (EAU) avançam com a justificação de que o Qatar apoia grupos jihadistas mas a Arábia Saudita, que se encontra por detrás da ideologia wahhabi, também os apoia, nomeadamente na Síria, sendo claro que a acusação pretende ser um pretexto para uma guerra económica e talvez militar contra o Qatar, visando também o Irão.
É certo que o principal apoio a grupos fundamentalistas por parte do Qatar são os «Irmãos Muçulmanos», também eles criados pelos sauditas para agirem nas «primaveras árabes», tendo agora rompido com a Arábia Saudita, que passou a apoiar apenas grupos mais fanáticos e terroristas.
É certo que a Arábia Saudita comprou material militar aos EUA no valor de 110 mil milhões de dólares, facto que o Qatar classifica de verdadeiro «suborno» aos EUA para alinharem preferencialmente com os seus opositores.
É certo que no território do Qatar está sediada a maior base militar dos EUA na região, Al Udeid, a pouco mais de 30 quilómetros da capital, Doha, construída nos anos 90 e que conta com onze mil soldados norte-americanos e a maior pista de aterragem do Golfo Pérsico, de 3,8 quilómetros, e com o Centro de Operações Aéreas Combinadas, responsável pela supervisão do funcionamento da Força Aérea dos EUA no Afeganistão, Síria, Iraque e em outros 17 países.
É certo que na Síria grupos apoiados por ambos os países se digladiam ferozmente entre si como estando a disputar zonas de influência.
É certo que, já desde as «primaveras árabes» de 2011, Arábia Saudita e Qatar procuravam controlar a região MENA (Médio Oriente e Norte de África), começando pela Tunísia para acabar na Síria. Mas já antes, nos anos 50, este despique ocorreu com o apoio da Arábia Saudita à «Irmandade Muçulmana», começando a ser inimigos com a Guerra do Golfo.
É certo que o Qatar disputa o domínio de influência sobre os países do CCG e desafia as estratégias da Arábia Saudita, ao assumir um perfil de relacionamentos internacionais diferenciado com o Irão, rompendo com a lógica Sunitas versus Xiitas, mas também com os EUA e a Rússia, por interesses comuns no abastecimento internacional de gás natural, de que Qatar e Rússia são grandes produtores, e com grandes ambições em investimentos na Europa, particularmente em França.
É certo que na recente cimeira árabe, Donald Trump colocou o Hamas dentro do mesmo quadro de organizações terroristas no discurso que fez em Riade. E, de facto, o Qatar tem laços estreitos com o Hamas. O presidente da comissão política do Hamas, Khaled Mashal, reside no Qatar.
É certo que o Qatar, para além deste seu expansionismo económico, detém uma influência política e cultural através da estação Al-Jazeera, que faz com que a Arábia Saudita a queira encerrar.
É certo que o Qatar, no início da agressão à Síria em 2011, financiou e armou rebeldes mas agora, como o confirma o Financial Times, negociou tréguas com o Irão que permitiram a retirada de populações sitiadas, duas pelas forças sírias e duas outras por forças que confrontam militarmente o regime.
É certo que na recente guerra de agressão da Arábia Saudita contra o Iémen, o Qatar, sem a condenar, ficou numa posição distanciada.
É certo que a Arábia Saudita, apesar do seu imenso poderio económico (petróleo) e militar, tem vindo a perder na guerra da Síria, está encalhada nos ataques ao Iémen e nas derrotas sucessivas do Daesh, e isso desequilibra o seu peso face ao Qatar.
É certo que o Ministro dos Negócios Estrangeiros dos Emiratos Árabes Unidos (EAU) avisou o Irão de que não deve explorar as divisões agora acentuadas no seio do CCG.
É certo que o Grupo de Bilderberg, que tem sido um instrumento de promoção nas elites dominantes de muitos países das políticas da NATO, após a sua criação em 1956 pela CIA, norte-americana, e pelo MI6, britânico, na sua última reunião de dias 1 a 4 de Junho deste ano, na sua sede, na mansão apalaçada gigante em Chantilly, no estado de Virgínia, nos EUA, terá registado no seu seio um confronto singular, a propósito do Médio Oriente, entre diferentes facções imperialistas.
«É visível que enquanto Washington deu mais força à consideração de Teerão como grande inimigo, consolidou a sua aliança com Riade, garantindo o romper com a Irmandade em troca de 110 mil milhões de dólares de armamento.»
Segundo o jornalista Thierry Meyssan, Londres estava a pressionar para uma mudança de paradigma no Médio Oriente que, mesmo que o modelo das «primaveras árabes» (sucedâneas da revolta árabe de 1916, organizada por Lawrence da Arábia para substituir o Império Otomano pelo Império Britânico) seja abandonado, o MI6 espera criar uma nova entente com base no islamismo político. E avança que o único consenso entre os «Aliados», ali tão bem representados neste grupo ultrassecreto, é a «necessidade de abandonar o princípio de um Estado jihadista. Todos admitem que é preciso devolver o diabo à sua caixa. Quer dizer, acabar com o Daesh (E.I.), mesmo que alguns continuem com a Al Qaeda». O secretismo do areópago levará, porém, o seu tempo a integrar o argumentário dos analistas
A agência de notícias do Qatar tinha feito, no início deste conflito, uma notícia atribuindo ao Emir Tamim declarações favoráveis para com o Irão e pretendendo que a sua própria família, os Al-Thani, fosse descendente do pregador Abdelwahhab, o fundador do wahhabismo. A Arábia Saudita reagiu de imediato em todos os seus canais de TV e o Qatar acabou por declarar que o sítio da Internet da sua agência tinha sido atacado por hackers e retirou a notícia. O Qatar chegou mesmo a pedir a «ajuda» do FBI norte-americano para lançar luz sobre este caso.
Na realidade, este episódio não foi mais do que a parte visível do iceberg: o Qatar poderia estar a participar com o Reino Unido numa tentativa de reorganizar o Médio-Oriente que poderia alterar todas as actuais alianças aí existentes
É visível que enquanto Washington deu mais força à consideração de Teerão como grande inimigo, consolidou a sua aliança com Riade, garantindo o romper com a Irmandade em troca de 110 mil milhões de dólares de armamento. Londres pressiona por um entendimento entre o Irão, o Qatar, a Turquia e os Irmãos Muçulmanos.
Ainda segundo Thierry Meyssan, que não tem escondido algum apoio a Trump, «se este projecto avançasse, assistiríamos ao abandono do conflito sunita/xiita e à criação de um "crescente do islão político", indo de Teerão, a Doha, a Ancara, a Idlib, a Beirute e a Gaza. Este novo arranjo permitiria ao Reino Unido conservar a sua influência na região
Não terá sido por acaso que o Irão foi há dias, pela primeira vez, alvo de atentados reivindicados pelo Daesh, tendo o Irão acusado disso a Arábia Saudita e os EUA, e prometendo retaliações. Já em Março, o Daesh divulgara um vídeo em língua farsi onde pedia aos membros da minoria sunita do Irão que atacassem os símbolos religiosos e políticos da República Islâmica.
O atentado agora perpetrado contra o Mausoléu do Ayatollah Khomeini é um ataque contra um dos principais destinos turísticos da cidade de Teerão e de peregrinos que ali vão celebrar o líder da revolução iraniana que criou a República Islâmica, com ayatollahs como guardiões do regime. É um acto de desespero, também com acções em vários países europeus, contra a perda de posições do Daesh no seu «Califado» do Iraque e da Síria.
Por outro lado, a China sabe que quem criou o Califado o fez também para cortar a «Rota da Seda» no Iraque e na Síria, e lançou depois a guerra na Ucrânia para cortar «a Nova Rota da Seda», se pode estar a preparar para, preventivamente, abrir uma terceira frente nas Filipinas e uma quarta na Venezuela, a fim de cortar outros projectos de comunicação.
A agência de notícias chinesa, Xinhua, sustentava há dias que em nome da justiça e da paz, Washington e os seus aliados têm visto nas últimas décadas as suas estratégias, ditas de combate ao terrorismo no Médio Oriente, realizarem-se uma após outra, em alguns casos com contra-ataques brutais que ceifaram muitas vítimas inocentes e provocaram a catástrofe humanitária dos refugiados que caiu sobre vários países europeus.
Mas a China destacou sempre a importância de se criar uma ordem política e económica global mais justa, atendendo ao desenvolvimento desequilibrado de diferentes partes do mundo face ao actual arranjo injusto posterior à Guerra Fria, que trouxe o desespero e o ódio, criando apenas de fundamentalismo e paranoia. Enquanto se manteve ao lado das vítimas do terrorismo, estando sempre pronta para trabalhar com o ocidente e para promover o desenvolvimento comum na comunidade do futuro.
Donald Trump descreveu a luta contra o terrorismo como uma batalha entre «o bem e o mal», exortando os líderes árabes a fazer sua parte para «expulsar» o terrorismo dos seus países num discurso semelhante ao que o seu antecessor, Barack Obama, fizera em Junho de 2009, quando também prometeu redefinir as relações da América com o mundo árabe, o que não se realizou de facto.
Os EUA sabem que qualquer mudança na política real no Qatar não afectará a sua base militar. Isso está para além da disputa actual. Os laços americanos com os Estados do Golfo, especialmente com a Arábia Saudita, são mais importantes que isso. E o Qatar, com a referida base militar, serve os EUA e a CIA. Há uma apreensão dentro do mundo islâmico, talvez porque a nova estratégia dos EUA se basear num cisma entre xiitas e sunitas no mundo islâmico e particularmente no Médio Oriente, onde o conflito da Arábia Saudita com o Irão se agravou.
O bloqueio ao Qatar vai ter profundas consequências negativas para o seu povo e Washington e Riade podem até esperar, com isso, poder trabalhar para a mudança da direcção política do Qatar. Mas Doha conta com o apoio do Irão e da Turquia, bem como com a simpatia da China e da Rússia, sendo que estas têm procurado arrefecer os ânimos e feito apelos ao diálogo.
A base militar de Al Udeid, numa situação de crise acentuada, bem como o imenso material militar que os EUA venderam à Arábia Saudita, poderá até levar a uma invasão do Qatar pela Arábia Saudita e outros estados do CCG e à própria ocupação da Síria e do Irão. Ocupação em que Israel desempenharia seguramente um papel importante.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Bom fim de semana, por Jorge




"A arte melhora sempre a verdade


Ali Smith escritora escocesa,
n.1962
em entrevista no Público
de 12 de maio deste ano