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quinta-feira, 20 de julho de 2023

Lula, a América Latina e a UE em cimeira com cimeira alternativa ao lado

A Cimeira UE-CELAC realizou-se em Bruxelas de 17 a 18 de julho.

Nela, os membros da UE tentaram minar abertamente as relações da Rússia com a América Latina, que estão ligadas por muitas décadas de amizade, afinidade cultural e cooperação mutuamente benéfica".

De acordo com fontes diplomáticas e meios de comunicação europeus, os líderes da UE pretendiam convidar o presidente ucraniano, Vladimir Zelensky, para a cúpula e inicialmente prepararam um rascunho de declaração final com uma parte significativa dedicada à Ucrânia. No entanto, os participantes latino-americanos exigiram que a visita de Zelensky fosse cancelada e que os parágrafos relacionados à Ucrânia fossem excluídos do texto final. O cancelamento da visita de Zelensky foi confirmado no fim de semana pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

Agora há que estarmos atentos a se se realizam ou não promessas de investimento. Como disse na altura Lula da Silva “Os EUA não querem investir? Há mais quem o queira!”, “A UE não quer investir? Há mais quem o queira”.

Durante o encontro de dois dias, os europeus anunciaram investimentos de 45 mil milhões de dólares na América Latina, apesar de parte dos recursos se referirem a projetos já em andamento. Mas Lula destacou o compromisso reiterado pelos europeus de desembolsar 100 milhões por ano para o financiamento climático, necessários para combater o desmatamento na Amazônia, território soberano do Brasil, e outras florestas.

Lula afirmou que em duas ou três semanas vai mandar a resposta de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai à carta (“side letter”), que ele considerou "agressiva" do bloco europeu, com exigências ambientais adicionais para a implementação do tratado.

“Nós não aceitamos a carta adicional da União Europeia. É impossível você imaginar que entre parceiros históricos como nós, alguém faça uma carta com ameaças. Nós fizemos uma carta-resposta e achamos que a União Europeia vai concordar tranquilamente com a nossa resposta”, sublinhou.

Ele voltou a dizer que o Brasil não pretende ceder no capítulo das compras governamentais, consideradas um instrumento de desenvolvimento interno para a indústria nacional e de todo o Mercosul.

“A França é muito ciosa da proteção de seus produtos agrícolas, de seu pequeno e médio agricultor. Da mesma forma que a França tem essa primazia de defender seu patrimônio produtivo, nós temos o direito de defender o nosso”, destacou. “A riqueza de uma negociação é que todos têm de ceder”, argumentou. "Fecharemos o acordo que for possível", insistiu.

O presidente Lula da Silva fez várias críticas aos países europeus, ao falar na abertura da cimeira entre a União Europeia (UE) e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nesta segunda-feira (17), em Bruxelas. Ele disse que as preocupações ambientais não podem ser utilizadas para justificar o protecionismo comercial.

Lula lembrou que desde o início do ano o desmatamento recuou 33% na Amazônia. "Proteger a Amazônia é uma obrigação. Vamos eliminar seu desmatamento até 2030. Mas a floresta tropical não pode ser vista apenas como um santuário ecológico", disse Lula, argumentando que o desenvolvimento sustentável tem três dimensões inseparáveis: a econômica, a social e a ambiental.

Já antes, Lula havia insistido com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que 50 milhões de pessoas vivem na Amazônia e precisam ter condições de sobrevivência "dignas e decentes".

Lula recordou que a cooperação entre as duas regiões deve refletir as realidades e prioridades de ambos os lados do Atlântico. "Para a América Latina e o Caribe, isso se traduz em um enfoque claro na redução das desigualdades e na erradicação da fome e da pobreza", destacou.

Mas o atual modelo de governança global perpetua assimetrias, aumenta a instabilidade e reduz as oportunidades para os países em desenvolvimento, destacou Lula que afirmou que a reforma da governança global será um dos principais temas da presidência brasileira do G20, no ano que vem. "As legítimas preocupações dos países em desenvolvimento devem ser atendidas, e precisamos estar adequadamente representados nas instâncias decisórias", concluiu o brasileiro, que foi bastante aplaudido.

Sobre a inclusão da condenação da Rússia na declaração, Lula sublinhou que em fevereiro do ano passado, o Brasil votou a favor de resoluções na ONU que condenaram o uso da força contra a integridade territorial da Ucrânia, ferindo um princípio garantido pelas Nações Unidas. 

Mas o governo brasileiro discordou de sanções aplicadas de forma unilateral contra a Rússia ou qualquer outro país. "Recorrer a sanções e bloqueios sem o amparo do direito internacional serve apenas para penalizar as populações mais vulneráveis", salientou. O Brasil prefere apoiar as iniciativas em favor da cessação imediata das hostilidades e uma solução de paz negociada.

 

À margem desta a Cimeira dos Povos juntou em Bruxelas mais de 200 organizações políticas e sociais da América Latina.

Como a abrilabril referia no passado dia 18, para alguns, seria uma surpresa que o maior aplauso da noite num auditório de centenas de pessoas à espera do presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, ou da Colômbia, Gustavo Petro, tivesse sido para uma cientista: a cubana Belinda Sánchez Ramírez, diretora do Centro de Imunologia Molecular, uma das «criadoras» da vacina cubana contra a covid-19.

Mas é esse o propósito da Cimeira dos Povos, a contra-cimeira ou cimeira alternativa, paralela à reunião dos chefes de Estado da União Europeia com os países da América Latina e Caribe (CELAC). Se na segunda se falou de Putin, da guerra na Ucrânia, da NATO, de segurança, de negócios e de investimento, na primeira, discutiu-se a paz, a soberania, a cooperação internacional, o clima, a saúde, a dívida, o fim de bloqueios e de ingerências.


Como disse o presidente cubano Díaz-Canel, que visitou, fora do alinhamento previsto, o Festival da Solidariedade, que encerrou o primeiro dia da Cimeira dos Povos: «Como não havíamos de vir à verdadeira cimeira, esta, que é onde os povos estão?» 



A declaração da Cimeira pode encontrar-se em

https://ambientedomeio.com/2023/07/18/declaracao-da-cupula-celac-ue-2023/

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