A
tentativa de impedimento (impeachement) do exercício de funções da Presidenta
Dilma Roussef é o elemento principal do golpe de estado que se prepara.
Na Câmara dos Deputados,
o presidente Eduardo Cunha, é a cabeça mais visível do golpe, atropelando o
regimento para criar as condições para o impeachement. Transformou a Câmara em
instrumento do golpe com confrontação permanente com a Presidenta. Num acto
político que a Justiça tem rejeitado.
Cunha exprime a
reviravolta dos “tucanos” do PSDB, cujo chefe honorário, Fernando Henriques
Cardoso, andou aqui em Lisboa a falar do futuro dos povos e talvez mais alguma
coisa.
Segundo os comunistas
brasileiros, que integram o governo, “o quadro que se desenha, nesta
conjuntura, opõe os setores modernos e avançados da sociedade brasileira –
juristas democráticos, movimentos sociais, sindicatos, partidos avançados,
juventude, mulheres, negros, a população mobilizada que exige o avanço da
democracia e dos direitos sociais – contra os fatores do atraso nacional
representados pelos setores golpistas da classe dominante, pelos especuladores
rentistas e por aqueles que rezam submissos pela cartilha do imperialismo”.
Aqui entre nós, para uma
esquerda bem pensante, o governo de Dilma foi afectado pela corrupção, teve
resultados fracos na economia, desencantou os trabalhadores. Logo não tomam
posição solidária por um dos lados nesta acesa luta de classes. Passam ao lado
da chuva…Para eles será pouco importante que os grandes media no Brasil estejam
na mão dos golpistas. Que o grande capital organize a sabotagem económica. Que
o Brasil tenha sido seriamente afectado pela queda do preço do barril do
petróleo em cerca de 50% imposto pelos EUA e a OPEP (Arábia Saudita).
Mas no Brasil, os
golpistas têm pela frente entidades de
grande expressão, reunidas na Frente Brasil Popular – entre elas a Central dos
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil, a Central Única dos Trabalhadores, o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, a União Nacional dos Estudantes,
a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, a Marcha Mundial das
Mulheres, e muitas outras que falam ao sentimento e à acção do povo. Que
constituem a oposição e confronto com a direita neoliberal que sonha em rasgar
a constituição e tomar de assalto a presidência da República. A resistência democrática
ocorre simultaneamente nas esferas institucional e nas ruas. Os seus pilares estão no
Congresso Nacional e nos poderes judicial e executivo(o sistema é
presidencialista e Dilma é simultâneamente quem dirige o governo),
destacando-se a ação do governador do Maranhão, o comunista Flávio Dino, e a
própria presidenta Dilma Rousseff, que tem papel central no enfrentar do golpe
e na defesa da legalidade. E no povo organizado que se manifesta em defesa da
legalidade e contra o impeachement.
A direita foi derrotada em todas as eleições presidenciais desde 2002, e está
com dificuldades em impôr os seus objectivos. Por isso procura o golpe,
evitando o risco de disputas eleitorais para retomar o governo e imponha o que foi
construído desde 2003. E os brasileiros
estão confrontados com a necessidade de reunir forças em torno de um consenso que permita a normalidade política e
institucional, mas também o combate à crise económica com a retoma do
crescimento.