Como
um comentador chinês classificou, a diplomacia americana “padece de obsessão
pela
criação de discórdia”, acrescentando que a sua atividade está dividida num
ciclo vicioso de vários polos, sendo estes “falta de eficiência na distribuição
de bens públicos; país poderoso com carisma enfraquecido; promoção do caos;
propagação da negatividade no cenário internacional”.
Sendo
certo que o centro da economia mundial se tem vindo a deslocar do Atlântico para
o Pacífico, onde se deu início a relações de cooperação mutuamente vantajosas
com o “período dourado de 20 anos” entre a China
e os países do Sudeste Asiático, logo vieram os EUA procurar instalar
nestes meios militares virados para a China. E depois criar a “questão” do Mar
do Sul da China, estando agora a instalar o sistema THAAD de “defesa”
antimísseis em países como a Coreia do Sul. Neste caso, a opinião pública
sul-coreana é francamente adversa a esta iniciativa, e a presidente deste país chegou
a impedir ontem uma conferência de imprensa, em Pequim, de enviados do seu país
para explicações ante as autoridades chinesas sobre este sistema,
classificando-os como “traidores e lacaios da China”.
O
que nestes vinte anos se realizou é o resultado dos esforços conjuntos levados
a cabo pelos países da região. A China, enquanto maior país costeiro do Mar do
Sul da China, tem uma responsabilidade adicional na manutenção da estabilidade
regional. De forma a prevenir a instabilidade, a China tem mantido uma postura
de contenção e de negociação dos problemas existentes na região e de procura de
cooperações bilaterais e com a ASEAN.
Na América Latina, os EUA chegaram ao final da primeira
década com uma viragem à esquerda quase global. Perspectivas promissoras de
desenvolvimento foram realizadas, escapando à lógica de domínio pelas grandes
multinacionais do agro-negócios e de outros sectores. A ascensão nas condições
sociais dos trabalhadores e outros sectores menos favorecidos
pela distribuição completamente assimétrica do rendimento foi uma realidade e verificou-se
o crescimento da capacidade reivindicativa e de defesa do novo património
político.
A CIA conspirou e as conquistas
democráticas estão a fazer marcha atrás nas Honduras, Paraguai, Argentina. A
Venezuela, depois de tentativas de golpe contra Chávez, resiste, agora com
Maduro, aos grandes capitalistas que procuram impedir que os alimentos cheguem
às bancas.
O
golpe do Brasil, feito a partir da embaixada dos EUA, fez
regressar ao pontificado os apoiantes do golpe de 1964. Os grandes corruptos,
muitos deles com crimes no âmbito da operação Lavajato, quiseram livrar-se das
consequências dela, que Dilma estava a impulsionar contra uma parte do sistema
judiciário também corrupto. O Congresso e o Senado Brasileiro são maioritariamente
constituídos por bandidos destes, em má hora eleitos pelo povo brasileiro. Nos
dias que correm este bando de corruptos procura demitir Dilma e impedi-la a ela
e a Lula da Silva, de voltarem a candidatar-se custe o que lhes custar. Para já
estão isolados no país e internacionalmente. A continuação da luta e da
resistência tiveram sucesso mas os golpistas, apesar de quase “clandestinos” na
sociedade continuam com o poder de grande parte do aparelho de Estado.
Na Europa os
EUA combateram o Brexit, e têm procurado que os dirigentes europeus salvem a
União Europeia e tratados associados à zona euro, mantenham políticas de
austeridade, e se submetam ao tratado TTIP, que iria fazer desaparecer as
economias e outras realidades de países europeus num mercado alargado, dirigido
pelos EUA e onde diminuiriam mais os direitos dos trabalhadores, se reduziriam
os níveis de exigência de qualidade e de respeito pelo ambiente e a qualidade
alimentar seria afectada, fossem eliminados controlos financeiros, progredissem
planos de privatização do ensino, saúde e segurança social e seriam
introduzidos tribunais arbitrais em que as multinacionais confrontassem os
estado soberanos.
A
Europa, que já hoje sofre as consequências de um processo de integração que a
coloca à beira da desintegração, seria definitivamente açambarcada pelos
“parceiros” do outro lado do Atlântico.
Mas
também no leste europeu os EUA jogaram duas cartadas cujas consequências
poderão não ser as que desejariam. Estiveram por detrás do golpe fascista em Kiev, que afrontou as populações russas
particularmente na Crimeia e no Donbass. A Crimeia pediu a sua integração na
Federação Russa, o que foi aceite, os referendos em Donetsk e Luhansk foram no
mesmo sentido mas a Rússia não aceitou a integração em si esses territórios,
onde se vive hoje uma guerra contra eles por parte de Kiev. Estes
acontecimentos levaram a que os EUA pressionassem a UE para um embargo à
Rússia, o que os dirigentes europeus aceitaram diligentemente. O contra-embargo
da Rússia não se fez esperar e são vários os países europeus que, em diferentes
sectores de actividade, sofreram as consequências da loucura dos seus
dirigentes, procurando acabar na prática e de jure com ela.
A instalação de sistemas de “defesa”
antimíssil em países do leste europeu que fazem fronteira com a Federação Russa,
outra medida tomada pela NATO para conter “a agressividade russa” (conversa
para criancinhas…) aumenta a tensão militar nessas fronteiras e aqui, mais uma
vez, se os EUA desencadearem um ataque, fazem cair uma lógica de terror sobre
os povos desses países, que sofreriam consequências enquanto os dirigentes
norte-americanos ficariam convencidos que, lá longe, nada seria com eles.
Entre
a Europa e o Médio Oriente, os EUA cometeram o que poderá ter sido um dos erros
mais grosseiro ao apoiar na Turquia a
conspiração e o golpe que viria a falhar. Na sequência disso a Turquia
voltou-se para uma linha de cooperação com a Rússia, que já começara antes com
a preparação do fornecimento de gás à Europa através da Turquia e da Grécia, e que
poderá ter sido então um dos motivos para esta tentativa de golpe.
No Norte
de África e Médio Oriente prossegue a destruição de países que, no início do
século eram sociedades florescentes e berços de civilizações para darem origem
a ocupações dominadas por grupos de bandidos e seitas terroristas que os
próprios EUA criaram (os talibans, depois a Al-Qaeda, seguindo-se o Estado
Islâmico criado por John Mccain, sob orientações de Obama e Hillary Clinton, e
os sucessivos sucedâneos destes 2 grupos terroristas).
As
consequências históricas que resultaram da destruição do Afeganistão e do
Iraque e, depois, da Síria, poderão ser enormes contra o que a administração
norte-americana considera serem os seus interesses. No caso da Síria e, particularmente depois do início de
conversações para a paz em Bruxelas, e face às derrotas do Daesh frente ao
Exército Nacional Sírio, com o apoio da aviação russa, o comportamento dos EUA
deixa antever tudo menos a paz. Muda o nome aos grupos terroristas para poderem
ser aceites como parceiros nas discussões de paz e faz-lhes chegar imenso
material militar, particularmente através da Jordânia, com apoio de Israel,
Arábia Saudita e países do Golfo.
O Mundo está cada vez mais inseguro. Mas
os EUA estão a perder o pé, nomeadamente face à política construtiva da China,
Rússia, Índia e outros países emergentes.
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