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quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Afeganistão: uma das muitas promessas que Obama não cumpriu



O Le Monde publicou em 12 de Maio deste ano uma reportagem de um enviado seu a Kabul sobre o que considerou ter sido esta uma Primavera sangrenta dos talibans afegãos, que teriam passado a controlar um terço do território, particularmente nas províncias do Norte.
A gravidade desta questão junta-se à paralisia política da solução imposta pelos EUA depois das eleições fraudulentas de 2014, de ter o poder partilhado por dois adversários: o presidente Ashraf Ghani e Abdullah Abdullah. Que atingiram a incompatibilidade. E junta-se ainda o nepotismo de uma série de governadores provinciais que lança os habitantes nos braços dos talibans que detêm muito dinheiro da venda do ópio que este beneficiará até de uma produção extraordinária.
Hamid Karzai, que no final do seu mandato já era particularmente crítico da presença dos EUA no seu país, continua a sublinhar que a presença destes foi um fracasso. As redes terroristas dos Haqqani e Hezbi Islam, esteve ativamente envolvida desde 2010 numa revolta talibã por todo o país, que incluiu centenas de assassinatos e ataque suicidas. O território controlado pelo governo está cada vez mais reduzido. Cabul controla agora menos de 65% do país. O governo está quase completamente ausente dos distritos do norte, como Musa Qala, Sangin e Kajaki, que fazem fronteira com os países da CEI. Por isso, para Karzai "alguma coisa está errada" e, portanto, “as forças estrangeiras deviam deixar o país.

O Afeganistão está a constituir uma despesa extra-orçamental de vulto e a Câmara dos Representantes dos EUA já avisou Obama de que deve apresentar um pedido de financiamento adicional. Isto deve-se ao recuo do projecto de redução de tropas previsto para este ano. Mas o Congresso parece não estar preocupado com isso mas sim com o que aconteceu aconteceu com os 17 mil milhões de dólares destinados a apoiar as forças de segurança do Afeganistão. A partir de 31 de maio de 2016 os Estados Unidos gastou quase 13 mil milhões de dólares com o exército afegão e 4,2 mil milhões para armar a polícia afegã, não estando incluídos nestes gastos os da compra de armamento pesado moderno. De facto, o exército afegão não tem qualquer avião militar, instalações de mísseis, ou modernos helicópteros de combate. Todo o dinheiro a isso destinado dinheiro evaporou-se inviabilizando qualquer assistência significativa ao combate aos opositores do governo em Cabul.

Os EUA dispõem de cerca de 9,8 mil soldados no Afeganistão, a grande maioria dos quais (6.950) apoiam o exército afegão, e só os 2 mil soldados e oficiais restantes estão diretamente envolvidos em operações de combate. Ao abandonar o compromisso da sua redução, Obama pediu aos seus aliados da OTAN para apoiar esta sua iniciativa mas nada está claro quer quanto a estratégia, quer quanto a recursos para a sustentar. As forças da NATO estão longe de se retirar do Afeganistão, treze anos após a intervenção militar norte-americana contra os Talibã e a Al-Qaeda no território – em resposta aos atentados de 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque e Washington.

Os 28 países da Aliança Atlântica comprometeram-se, na Cimeira de Varsóvia passada, a prolongar a missão de apoio às forças afegãs para lá da data limite do final do ano.

Washington decidiu já rever em baixa a redução dos seus militares estacionados no país (1.400 em vez de mais de 4.000 previstos), enquanto 13 mil soldados da coligação deverão permanecer no país em 2017.

A favor desta permanência joga a crescente acção terrorista dos talibans. Segundo a ONU, o número de vítimas de ataques terroristas aumentou no ano passado, e sobretudo entre as mulheres e crianças, o que éum indicador do aumento de combates em zonas urbanas densamente povoadas e o abandono pelos talibans da exclusivo em matar militares afegãos.

 No passado dia 23 de Julho, um atentado, durante uma manifestação pacífica em Cabul, provocou a morte de, pelo menos, 80 pessoas e ferimentos em mais de 230.

Durante a manhã, milhares de manifestantes, maioritariamente da comunidade hazara xiita protestavam, quando dois homens se fizeram explodir. Face às anteriores ameaças do governo aos promotores da manifestação, estes acabaram por considerar que a autoria do atentado tinha sido do próprio governo.

Os “enganos” dos EUA nesta guerra continuaram e em Abril os “Médicos Sem Fronteiras” consideraram “incompreensível” que os Estados Unidos tivessem atacado o seu hospital no Afeganistão no ano passado e considerou leves as sanções administrativas sobre os militares que levaram a cabo o ataque, depois de o Pentágono ter anunciado que o bombardeamento de outubro não foi um crime de guerra, apesar dos 42 mortos.

Que contributo para fazer face a este grave problema podem trazer as eleições presidenciais norte-americanas?

Hillary Clinton tem um compromisso com a guerra. Sempre foi a favor do uso da força. Apoiou o bombardeamento da Sérvia em 1999, votou a favor da guerra contra Saddam em 2003, criticou Obama quando este se recusou a bombardear a Síria e insistiu em que se armassem os “grupos rebeldes”. Como Secretária de Estado em 2009, propôs o envio de mais militares para o Afeganistão, que depois Obama viria a fazer, o apesar de depois ter dito isso ter sido um erro.

Donald Trump, em 2003 pediu a saída das tropas americanas e criticou o “desperdício” de milhares de milhões de dólares na guerra o Afeganistão, propondo que esse dinheiro fosse aplicado na “reconstrução dos Estados Unidos”. Já nesta campanha não falou nem em saída nem em redução de efectivos, defendendo antes uma revisão de objectivos para uma actividade de combate mais autónoma em vez de um simples apoio às operações locais do exército afegão E sublinhou o perigo das armas nucleares paquistanesas caíssem nas mãos de terroristas, sugerindo um reforço da aliança com a Índia como contrapartida à influência do Paquistão nos assuntos do Afeganistão.

Negociações de paz neste quadro são difíceis de imaginar e a continuação do conflito vai persistir.

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