Este Conselho é composto por
um conjunto de países árabes ricos. De entre eles, os Emiratos Árabes Unidos
(EAU) são uma confederação de 7 monarquias retrógradas como o Dubai e o Abu Dhabi.
Foi formado com o aconselhamento discreto dos EUA e de Israel.
Segundo o Expresso, de dia
27, “O atentado acontece dias depois de o Governo iemenita e os rebeldes terem
reagido positivamente a uma nova iniciativa de paz anunciada na semana passada
pelos Estados Unidos e sob a qual os houthis aceitam abandonar a capital,
Sanaa, e dar início a conversações para formar um Governo de unidade.
Os
rebeldes dizem estar preparados para retomar as negociações suspensas no início
de Agosto no Kuwait apenas se a coligação liderada pelos sauditas parar de
atacar os seus bastiões no Iémen e acabar com o cerco aos territórios sob o seu
controlo”.
Algo
salta à vista sobre a forma como esta guerra foi vendida aos membros do CCG, em
que só o Omã se recusou a participar. Para a população dos
Emiratos Árabes Unidos, foi a promessa da “Cidade Luz” (Al-Noor, Djibuti e
Iémen) que poderia incentivar o comércio no Oceano Índico e abrir este ao leste
da Ásia, apesar de se manter sob a administração do Dubai. Para os sauditas as
promessas ainda foram mais aliciantes com o controlo uniforme da “quarta parte
vazia” (Rub’al-Khali), lendárias jazidas de petróleo e gás que os EUA tinham
mantido inexploradas no subsolo…enquanto se mantivesse o governo iemenita!
Esta guerra é a prática
habitual de construção e destruição de sociedades e governos por
bombardeamentos de precisão contra uma população que depende da importação de
alimentos. Uma vitória tão contundente na Península Arábica punha-a sob o
controlo da Arábia Saudita que, rápida e publicamente, celebraria uma paz com
Israel.
Responsáveis
sauditas já referiram em Junho do ano passado, na presença de responsáveis
norte-americanos e israelitas, que esta jazida Rub’Al-Khali obrigaria
os países do CCG e o Iémen a cooperarem para protegerem o seu rendimento e que a
esta união se devia seguir um modelo de Constituição como a que uniu a América e
lhe conferiu a sua democracia… Segundo esses mesmos responsáveis sauditas, quanto
à promissora jazida de petróleo de Ogaden, na Etiópia, ela permitiria unificar
países sob a sua direcção. E ainda propuseram que se deveria construir uma
ponte entre o continente africano e a Península Arábica, a ponte Al-Noor que
ligaria a cidade de Al-Noor, no Djibuti, à cidade Al-Noor, no Iémen.
Exposto a uma guerra em que
os interesses do Irão e Arábia Saudita estão presentes, atormentado pela Al-Qaeda,
e dividido por disputas tribais e um movimento de secessão, apesar de tudo, o
Iémen tem sobrevivido.
Antes
no início do século XX, o Iémen foi dividido entre os Impérios Britânico e
Otomano. O Reino Zaydi Mutawakkilite do Iémen foi criado depois
da 1ª Guerra no Iémen do Norte. Passou a República Árabe do Iémen em 1962,
ficando o sul como protectorado britânico até 1967. Os dois estados iemenitas
acabaram por se unir e criar a República do Iémen em 1990.
O
Iémen é um país em vias de desenvolvimento e o país mais pobre do Médio Oriente. Até
há pouco tempo era uma ditadura dirigida pelo Presidente Ali Abdullah Saleh e
um dos países com mais elevados índices de corrupção em todo o mundo. Na
ausência de instituições do Estado fortes tinha uma forma de governação
informal com representações tribais rivais, religiosas e interesses políticos,
dirigida pelo Presidente, que controlava o Estado, pelo major general Ali
Mohsen al-Ahmar, que controlava a maior parte do exército e pelo xeique
Abdullah al-Ahmar, que dirigia o partido islamita Islah. A Arábia Saudita garantia o pagamento a estes quadros políticos e aos
xeiques tribais, controlando desta forma as decisões políticas dos dirigentes.
Para entender o derrube em
2012 do governo pelo movimento rebelde xiita Houthi, importa lembrar as origens
do movimento Houthi em 1991, quando foi criado para proteger o ziadismo, uma
forma de xiismo, face à invasão de islamitas sunitas.
Depois do 11 de Setembro, os
EUA atribuíram à luta do movimento uma dimensão geopolítica, porque os seus
combatentes se opuseram à decisão do Iémen em colaborar com os Estados Unidos e
em reforçar a cooperação entre serviços secretos.
De 2004 a 2010, o grupo
conduziu seis guerras contra o governo iemenita e teve mesmo escaramuças com a
Arábia Saudita. No entanto, nunca conseguiu expandir o seu alcance para além da
sua fortaleza no norte do país. Isso mudou em 2011, quando os protestos
populares e o caos político resultante da Primavera Árabe levaram à paralisia
institucional generalizada, levando a que os Houthis regressassem a uma postura
militar que tinham abandonado. Os protestos na rua eram contra a pobreza, o
desemprego, a corrupção e contra o plano do Presidente Saleh emendar a
Constituição da República para se poder eternizar no poder. Os seus poderes
foram transferidos para o vice-Presidente Abd Rabbu Mansour Hadi, que seria
formalmente eleito presidente em Fevereiro de 2012, não se tendo apresentado mais
nenhum candidato, o que não garantiu consistência à transição. Este processo
foi interrompido por conflitos provocados pelo partido Islah contra os Houthis
e pelo aparecimento da Al-Qaeda. Em
Setembro de 2014 a capital Sana caiu nas mãos dos Houthis que assumiram o
governo. Desde então a guerra foi introduzida no país pela Arábia Saudita e
Aliados do Golfo.
Os bombardeamentos ao Iémen
pelo CCG têm contado, em geral, com o silêncio da imprensa ocidental. Apesar da
desproporção de forças, o Iémen ousou no início deste ano resistir à invasão,
matando em Marib militares da coligação liderada pelos sauditas. Seguiu-se um
massacre por bombardeamentos sauditas, que testam aqui equipamentos militares
para novas guerras (o Iémen já tinha servido de laboratório para os drones
americanos).
Os EUA e a Grã-Bretanha têm sido
os principais fornecedores de armas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes
Unidos, países, que não dispõem de indústria militar mas que pretendem ser
potências regionais, sendo, sem dúvida, os principais envolvidos na agressão ao
Iémen, mas também no recrutamento, detenção e violência sexual contra menores,
responsáveis pela morte de crianças, bem como por ataques a hospitais e ataques
e ameaças contra pessoal protegido, como reconheceu a ONU.
Um cessar-fogo acordado entre as forças
houthis e as do governo apoiado pela Arábia Saudita – que desde 19 de Março do
ano passado desencadeia uma agressão no território – entrou em vigor domingo,
dia 10 de Abril mas não durou muito tempo.
Agora, sob a designação
“Daesh” os agressores do costume mataram no atentado mais de 60 pessoas.
(publicado originalmente e nesta mesma data em www.abrilabril.PT)
(publicado originalmente e nesta mesma data em www.abrilabril.PT)
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