A Associação de Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) tomou há dias posição, que aqui transcrevemos e que dá bem conta da irracionalidade da construção europeia. Foi momento para manifestações de protesto de produtores.
Neste caso acabando com as cotas de importação e inundando o mercado português com excedentes de produções dos grandes países produtores.
E que os patrões das grandes superfícies aproveitam para reduzir as quantidades e os preços pagos aos produtores.
A APROLEP, batendo-se pela soberania e segurança alimentar do país, afirma que a produção de leite em Portugal atravessa provavelmente a etapa mais difícil da sua história.
No último ano, o preço do leite ao produtor baixou 25%. Os últimos dados oficiais indicam que em Maio, no continente, registou-se um preço médio de 28,3 cêntimos/ kg de leite ao produtor, bem longe dos 35 cêntimos que pode atingir o custo de produção. Depois disso alguns compradores impuseram novas descidas e largas dezenas de produtores estão com preço médio de 23 cêntimos por litro de leite produzido. Muitos estão desesperados com falta de liquidez, aumentou o abate de animais e registar-se-á certamente o racionamento alimentar em muitas vacarias.
Perspectiva-se o abandono da atividade para muitos produtores e o aumento do endividamento para os poucos que resistam.
Três meses depois do fim das quotas leiteiras, situação que a União Europeia apresentou com a oportunidade para produzir sem limites, diversos compradores estão a impor aos produtores limites inferiores à quota detida até Março, o que obriga os produtores a travar a fundo para conter a produção e vai limitar ainda mais o já baixo rendimento, pois mantém-se os custos fixos.
Esses limites são motivados pelo aumento dos stocks de leite e produtos lácteos transformados e esse aumento de stocks foi consequência do ligeiro aumento de produção de leite em Portugal mas sobretudo da redução do consumo (devido aos mitos e dúvidas infundadas que foram lançadas sobre os benefícios do leite como alimento) e da dificuldade de exportação para mercados tradicionais como Espanha ou Angola.
Apesar das dificuldades crescentes na produção de leite nacional, continua a registar-se a importação de leite para marcas brancas, queijo e iogurtes, de que resulta um défice anual de 200 milhões de Euros em produtos lácteos, inaceitável quando temos disponibilidade de leite fresco, próximo e de qualidade reconhecida.
Para que o consumidor possa “comprar o que é nosso”, é necessário que as superfícies comerciais disponibilizem e dêem prioridade aos produtos nacionais nas suas prateleiras, substituindo as atuais importações de sobras de produtos lácteos europeus por produto nacional, para que a produção nacional possa sobreviver.
Por outro lado, consideramos que compete à indústria de lacticínios apostar em produtos de valor acrescentado, na inovação, no marketing, na partilha de resultados e comunicação com os produtores, na conquista de novos mercados e na fidelização dos consumidores nacionais, dando maior visibilidade ao símbolo PT ou outro equivalente, como o “Portugal sou Eu”, que identifique claramente a origem do leite e produtos lácteos nacionais, como é o caso dos excelentes iogurtes e saborosos queijos que se produzem em Portugal através do trabalho de milhares de pessoas, do prado ao prato.
Consideramos ainda que compete ao Governo fiscalizar as importações que ocorrem a preços estranhamente baixos, dinamizar as exportações e atuar como mediador para uma repartição mais justa da margem na cadeia de valor do leite, entre Distribuição, Indústria e Produção. Compete-lhe ainda defender a produção portuguesa em Bruxelas, onde o Comissário Europeu da Agricultura, Phil Hogan, continua a negar a existência de crise na produção de leite da Europa.
Recordamos que apesar de sermos cada vez menos produtores produzimos leite de alta qualidade e em quantidade suficiente para as necessidades do país, pelo que renovamos o apelo ao consumo de leite e produtos lácteos nacionais, com o símbolo PT, porque só essa opção poderá permitir a independência e segurança alimentar do nosso país.
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