Mas, independente do resultado, algumas consequências vai ter na consciência dos gregos e outros povos. Passemo-las em revista:
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Ficou claro que a troika interveio de forma
abusiva, de grande agressividade, contra o governo legítimo de um país e sobre
um referendo interno que só aos próprios diria respeito, tomando partido por
uma das opções, espalhando o medo e alguma corrida aos bancos.
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E que esta atitude foi tomada por políticos não
eleitos pelos povos e que mandam nessas instituições. Só apoiados pelos dirigentes
da Alemanha e de Portugal. Passos Coelho numa atitude de decúbito, genuflexão e
lambebotismo que nos envergonha.
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Tendo espalhado este que “já demos muito
dinheiro à Grécia e que não está certo continuarmos a dar”, mentiu. Uma vez
mais. Porque ninguém dá dinheiro a ninguém. Empresta e obtém juros, mais ou
menos agiotas mas sempre usando a dívida para condicionar a liberdade de quem o
pediu.
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Também se não tem visto destes “dirigentes”
preocupações com os regimes fascistas da Hungria e da Croácia da UE, ou com os
fascistas que, por golpe de estado, tomaram o poder em Kiev. Neste caso, bem
pelo contrário, a tentativa de lhes abrir os caminhos para a UE e a NATO foram
franqueados, com provocações e um bloqueio contra a Rússia. Passos Coelho já
falou ao país para dizer as consequências que este bloqueio teve para vários sectores
exportadores portugueses, que ficaram sem encomendas com as respectivas consequências
económicas e sociais para o nosso país? Já teve uma palavra para com Angola,
também vítima da outra “retaliação” da queda dos preços do petróleo e das consequências
que isso teve no despedimento de trabalhadores e encerramento de empresas
portuguesas naquele país?
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A reacção da troika será a mesma quando e se a
Inglaterra fizer um referendo sobre a UE?
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A troika fingiu negociar. Para ela negociar era
exigir mais austeridade, menos segurança social e saúde, era essa a imposição.
A dívida grega impagável (tal como aliás a nossa), as alterações das modalidades
do seu pagamento e dos seus montantes não foram objecto de proposta dos “credores”.
Quis-se a reforma (redução de condições de vida e direitos mas não a
reestruturação da dívida. A necessidade da reestruturação da dívida é hoje
quase universalmente aceite.
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Não foi o governo do Syrisa, com seis meses de
vida particularmente ocupados com estas pseudo-negociações, o responsável pelo
estado de austeridade nos últimos 6 anos, em que 25% do PIB grego desapareceu.
Foram o PASOK e a Nova Democracia, que foram os responsáveis e pagaram por isso
eleitoralmente, daí tendo saído o actual governo.
A austeridade
imposta pela troika comprovou, tal como em Portugal, não ter resultado:
o país
empobreceu, o património público foi sendo vendido, a dívida aumentou, a queda
drástica do PIB acarretou a queda da receita fiscal. Todas as promessas do primeiro
acordo com a troika em 2010 (depois de um ano de contração deveria seguir-se um
período de recuperação e queda do desemprego) foram por água abaixo.
Como sublinhou
Paul Krugman, “Se a troika tivesse sido verdadeiramente realista, teria
reconhecido que estava a exigir o impossível. Dois anos depois de o programa
ter começado, o FMI procurou exemplos históricos em que programas do género do grego,
tentativas para pagar dívidas através da austeridade sem um grande perdão da
dívida ou inflação, tivessem sido bem-sucedidos. Não encontrou nenhum.
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Finalmente, e sem procurar esgotar essas
consequências, este episódio provou que a construção europeia, se alguma vez
foi democrática, o deixou de ser de todo. Estamos perante organismos autistas,
repressivos, sem ética, uma verdadeira quadrilha que obtém da dívida crescente
dos países o reforço dos grandes grupos, instalados na Alemanha e num reduzido
número de países, que acabarão também por ser engolidos na voragem.
No caso de o sim ganhar a Grécia
vai agravar a sua situação actual numa dinâmica de humilhação. Se o não ganhar
a situação será também muito difícil mas numa dinâmica de dignidade, de
patriotismo de soberania ferida mas não perdida.
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