tantas vezes a tua voz me chega de longe
como um pronúncio de sorte. dizes: está tanto frio aqui. - mas é
tão grande a sorte de te ouvir que não sei que dizes - um cheiro forte a ervas
doces e no umbigo a força de sete mares - e sei da copa das árvores sob as
margens do lago da nossa morte. a água tão parada. as folhas tão quietas. a
barca tão distante - o teu peito farto de frio o meu farto de ternura. deixo
cair a cabeça no teu ombro e tu respiras tão fundo que eu sei o caminho que o
ar percorre dentro do teu corpo - tão dentro da noite. o corpo só. a
despedir-se de todas as memórias possíveis - quis dizer: perdoa-me - mas o
silêncio abandonou-me ao desespero de nunca mais saber de ti - sei que irás
desaparecer. lentamente. mais dia menos dia. lembrar-me-ei devagar do teu
rosto. adormecerei no azul escuro dos teus olhos. até que também eu desapareça
para sempre - a pele tão quente. a alma tão fria. a quem darei a minha mão. que
corpo apertarei com os meus braços. que coração dará sentido às minhas tão
poucas palavras - o céu. já quase púrpura. quase rubro. despede-se também de
mim. mas a luz não acaba e por dentro da escuridão brilham estrelas. tão
fundas. encontram o meu coração e ali vivem para sempre - por fim a vida
conhecerá o amor
Sem comentários:
Enviar um comentário