A
perseguição aos curdos baseou-se num atentado, não reivindicado pelos curdos, e
quebrou as tréguas entre as duas parte,s correndo-se agora o risco de se
reacender esta guerra que já custou muitas vidas no passado. O partido de
Erdogan, o AKP, e outro partido nacionalista, o MHP, por outro lado, já anunciaram
a intenção de ilegalizar o partido pró-curdo, o HDP.
A “exigência”
dos EUA de que a Turquia
bombardeie o Estado Islâmico é um exercício de hipocrisia. O Estado Islâmico
foi criado pelos EUA para combater a Síria, substituindo os “rebeldes sírios” que
tinham sido derrotados nesse objectivo e criar um tapete de acesso à Rússia.
Hoje
é sustentado, como já aqui referimos, por Israel, a Arábia Saudita e pela Turquia.
Em território turco existe mesmo um hospital para tratar dos jihadistas do EI
feridos em combate, dirigido pela própria filha de Erdogan, Tayyp Erdogan, responsável
pelas relações internacionais do AKP. E é um outro filho de Erdogan, Bilal
Erdogan quem negoceia o petróleo roubado pelos jihadistas nos territórios por
onde passa, usando a sua companhia marítima, a BMZ Ltd.
Erdogan
poderá fingir um recuo até porque a situação interna na Turquia está à beira de
uma revolta popular e pairam de novo velhos projectos da cisão da Turquia em
três partes. Mas, com vista às eleições lá vai tomando medidas para que o
partido pró-curdo não participe nelas.
O
Estado Islâmico é, assim, neste momento um instrumento da NATO e da União
Europeia contra a Rússia. E chegará o dia em que também o será contra a China.
Não
foi por acaso que a Rússia, no âmbito das conversações 5+1 com o Irão, fez
consagrar cláusulas que, na sua óptica, poderão evitar o deslocar do Estado
Islâmico do Levante para o Cáucaso, no que terá tido o apoio de Washington. Isso
envolveria um acordo entre a Síria, que é atacada pelo EI, a Arábia Saudita,
que é hoje o principal financiador dos terroristas e a Turquia, que garante o
comando operacional do EI e lhe dá apoios que já atrás referimos. Estas
diligências de Putin começaram há um mês e passaram a ser consideradas pelas
partes envolvidas.
Os acordos de Viena do passado dia 14 entre o Irão e o Grupo 5+1 (as potências com assento permanente no
Conselho de Segurança mais a Alemanha), levaram a que o presidente iraniano os
saudasse, referindo que não tinham beliscado “as linhas vermelhas” do país e
que iriam permitir o Irão concentrar-se noutras questões.
Mas há também
quem veja neles uma partilha de zonas de influência entre Washington e Teerão.
É o caso de José Goulão que sustenta no seu blogue O Mundo Cão, que os acordos
se traduziram “ numa partilha de influências no Médio
Oriente ampliado, envolvendo pois a chamada Eurásia, capaz de permitir ao
Pentágono transferir o núcleo duro do seu impressionante aparelho de guerra do
Médio Oriente para a Ásia, posicionando-se ante os novos inimigos, a China e a
Rússia (…) “em termos gerais, os Estados Unidos e os seus principais aliados no
Médio Oriente, leia-se Israel e Arábia Saudita, têm como zona de influência as
petromonarquias da Península Arábica mais o Iémen e respectiva ponte para o
Corno de África, a Jordânia, o Egipto e a Palestina – o acordo prevê que o
processo de Oslo seja retomado, outra medida que deixa Netanyahu fora de si. O
Irão, que se compromete a “não exportar a revolução”, mantém as suas
influências na Síria, no governo iraquiano instalado em Bagdade e nas correntes
islâmicas mais intervenientes no Líbano, devendo o Hamas adaptar-se ao que seja
estabelecido em relação à Palestina.” Traduzindo-se
num aparente recuo de Washington, importa, por exemplo, ter em conta que o Daesh
está também já presente nas fileiras do exército ucraniano, como forma de
compensar a desmoralização das tropas ucranianas. Mas não só. E isto numa
altura em que NATO iniciou no passado dia 20, manobras militares
no oeste da Ucrânia, com quase dois mil militares de 18 países, tendo Moscovo
avisado dos riscos que isso envolvia para o processo de paz. Ucrânia em que o
governo de Kiev anunciou a intenção de ilegalizar os partidos comunistas do
país para não concorrerem às próximas eleições.
A diplomacia
marca pontos mas os riscos de guerra estão bem presentes.
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