Esta reviravolta política prenunciava-se já com o plano de resgate, promovido pelos organismos da UE e que o actual governo aceitou. O impacto muito negativo que teve sobre as camadas com menos recursos da população provocaram lutas contra a austeridade muito antes destas eleições. As recentes manifestações contra a aplicação de uma taxa de água “igual para todos”, incluída nos compromissos com Bruxelas, deixava poderia provocar esse resultado eleitoral, com uma grande subida do Sinn Fein, partido nacionalista irlandês, que no passado teve o IRA como braço militar, mas também de outros pequenos partidos que se opõem à política de austeridade como os Verdes, a Aliança Anti-Austeridade (AAA) e os sociais-democratas.
A receita da austeridade levou à saída de mais de 80 mil
jovens à procura de emprego na Reino Unido, na Austrália ou nos EUA. Durante a crise perderam-se mais de 22% de postos de trabalho
e a procura interna teve uma quebra de 20%. Depois disso o desemprego jovem
manteve-se nos 20%. A crise gerou um movimento muito forte
contra o “ajustamento brutal” que criou também uma série de taxas adicionais.
Se, apesar de tudo o Fine Gaël e o Primeiro-Ministro Enda
Kenny se mantiverem no poder, a oposição à austeridade irá manter-se. O
regresso ao crescimento económico, tão valorizado pelas autoridades europeias, não
se traduziu na melhoria das condições de vida. As multinacionais têm beneficiado de um tratamento fiscal privilegiado e contribuíram
para o crescimento económico atendendo ao critério comunitário de que os seus números sejam contabilizados nesse crescimento. Mas têm reforçado as
desigualdades ao partir o país em dois em função de quem trabalha ou não para
elas. Desta forma o tal crescimento económico não tem nada a ver com as
defendidas “reformas estruturais” defendidas pelo governantes, resultando, pelo
contrário, da criação de empregos com altos salários.