Os países da UE que não aderiram ao euro (Inglaterra, Hungria, Polónia e Suécia) não estão mal de todo. Mas os que aderiram, depois da crise de 2010, ficaram paralisados pela austeridade, a que muitos eleitores reagiram virando o seu voto para partidos populistas ou “eurocépticos” (seguindo a terminologia dos eurocratas).
No plano dos “valores”
de que a UE faz gala em ostentar, há que registar o seu desrespeito na
agressão à Grécia e agora a Portugal. Com um orçamento comunitário reduzido a
1,25 % do PIB, o euro caiu e arrastou a sua influência recessiva e destruidora,
que se faz sentir de há 15 anos a esta parte.
O euro provocou uma
acentuada redução do crescimento nos países que o utilizaram. Comparando com as outras economias
da Europa, a queda do crescimento médio anual foi de 1%.
A crise foi
mais facilmente ultrapassada nos países que não são do euro.
Quadro
1
Comparação
entre o crescimento dos países da zona Euro e 5 outros países da OCDE
PIB
em 2015, indice 100=1999
|
Taxa
de cr
Escimento
médio em
1999-2015
|
Taxa
média em 1999-2007
|
Taxa
médiaem
2008-2015
|
Impacto
da crise
|
|
Belgica
|
125,6%
|
1,43%
|
2,23%
|
0,6%
|
-1,6%
|
Finlandia
|
128,2%
|
1,56%
|
3,73%
|
-0,6%
|
-4,3%
|
França
|
122,2%
|
1,26%
|
2,11%
|
0,4%
|
-1,7%
|
Alemanha
|
121,5%
|
1,23%
|
1,64%
|
0,8%
|
-0,8%
|
Grécia
|
104,7%
|
0,29%
|
4,07%
|
-3,4%
|
-7,4%
|
Italia
|
102,9%
|
0,18%
|
1,48%
|
-1,1%
|
-2,6%
|
Holanda
|
121,6%
|
1,23%
|
2,28%
|
0,2%
|
-2,1%
|
Portugal
|
106,2%
|
0,38%
|
1,52%
|
-0,8%
|
-2,3%
|
Espanha
|
130,6%
|
1,68%
|
3,74%
|
-0,3%
|
-4,1%
|
Total
9 países da zona Euro
|
119,1%
|
1,10%
|
2,18%
|
0,0%
|
-2,1%
|
Total
sem Alemanha
|
118,1%
|
1,05%
|
2,40%
|
-0,3%
|
-2,7%
|
Canadá
|
142,3%
|
2,23%
|
2,80%
|
1,7%
|
-1,1%
|
Noruega
|
130,0%
|
1,65%
|
2,44%
|
0,9%
|
-1,6%
|
Suécia
|
140,2%
|
2,14%
|
3,24%
|
1,0%
|
-2,2%
|
Inglaterra
|
134,9%
|
1,89%
|
3,00%
|
0,8%
|
-2,2%
|
EUA
|
137,5%
|
2,01%
|
2,65%
|
1,4%
|
-1,3%
|
Fonte: base de dados do FMI
Quadro
2
Taxa de
crescimento mundial média do PIB par habitante de 1999 a 2015
Taxa média em1999-2015
|
Taxa média em 1999-2007
|
Taxa média em
2008-2015
|
Impacto da crise
|
|
Bélgica
|
0,8%
|
1,8%
|
-0,1%
|
-1,9%
|
Finlândia
|
1,0%
|
3,2%
|
-1,0%
|
-4,2%
|
França
|
0,7%
|
1,4%
|
-0,1%
|
-1,5%
|
Alemanha
|
1,3%
|
1,6%
|
0,9%
|
-0,7%
|
Grécia
|
0,2%
|
3,7%
|
-3,2%
|
-6,9%
|
Itália
|
-0,2%
|
1,2%
|
-1,5%
|
-2,7%
|
Holandas
|
0,8%
|
1,8%
|
-0,2%
|
-2,1%
|
Portugal
|
0,3%
|
1,1%
|
-0,6%
|
-1,7%
|
Espanha
|
0,7%
|
2,1%
|
-0,6%
|
-2,8%
|
Canadá
|
1,2%
|
1,8%
|
0,5%
|
-1,3%
|
Suécia
|
1,5%
|
2,8%
|
0,2%
|
-2,6%
|
Inglaterra
|
1,2%
|
2,5%
|
0,0%
|
-2,5%
|
EUA
|
1,1%
|
1,7%
|
0,6%
|
-1,1%
|
Fonte : FMI
Mas se se tivesse em conta o PIB por habitante que nos dá uma maior
proximidade da situação em cada país, verificaríamos que desde 1999 só a Alemanha tem um crescimento
contínuo deste índice quer dos países da zona Euro quer dos que estão de fora!
Pelo contrário, a queda é significativa para os outros países: Grécia,
Finlândia, Espanha, Portugal e Itália.
Gráfico 1 - PIB por habitante
Queda
do investimento produtivo
Investimento
global
|
Investimento
por habitante
|
|||
Nível de 2015 em percentagem de 1999
|
Taxa de crescimento anual médio
|
Nível de 2015 em percentagem de 1999
|
Taxa de crescimento médio anual
|
|
Bélgica
|
120,8%
|
1,2%
|
109,8%
|
0,6%
|
Finlândia
|
114,9%
|
0,9%
|
107,9%
|
0,5%
|
França
|
122,9%
|
1,3%
|
111,9%
|
0,7%
|
Alemanha
|
96,2%
|
-0,2%
|
97,1%
|
-0,2%
|
Grécia
|
47,2%
|
-4,6%
|
46,7%
|
-4,7%
|
Itália
|
77,2%
|
-1,6%
|
73,0%
|
-2,0%
|
Holanda
|
97,0%
|
-0,2%
|
90,6%
|
-0,6%
|
Portugal
|
53,6%
|
-3,8%
|
52,6%
|
-3,9%
|
Espanha
|
100,5%
|
0,0%
|
86,5%
|
-0,9%
|
Total
dos 9 países da zona euro
|
98,3%
|
-0,1%
|
92,5%
|
-0,5%
|
Canadá
|
163,2%
|
3,1%
|
138,2%
|
2,0%
|
Noruega
|
152,0%
|
2,7%
|
130,5%
|
1,7%
|
Suécia
|
157,8%
|
2,9%
|
142,2%
|
2,2%
|
Inglaterra
|
123,8%
|
1,3%
|
111,9%
|
0,7%
|
EUA
|
120,2%
|
1,2%
|
104,4%
|
0,3%
|
Fonte : base de dados do FMI
O investimento que mede o progresso e social dos países caiu na
maior parte dos países e ainda mais no investimento por habitante
Gráfico 2 - Investimento por habitante
Fonte: FMI
Se esta contração é
importante para a Itália e a Espanha, é catastrófico para a Grécia ou Portugal (passam para níveis
de investimento de meados dos anos oitenta do século passado). É uma cegueira
continuar a ter ilusões sobre os efeitos positivos da austeridade. A quebra no
investimento provoca a não renovação do stock de capital per capita. No que
respeita ao capital fixo isso atinge
todas as infraestruturas (estradas, pontes, caminho de ferro e outros transportes
públicos, aeroportos, sistemas de captação, tratamento e distribuição de água,
sistemas de comunicações). E no que respeita ao capital mais diretamente
produtivo, as máquinas, etc. Isto põe em causa o futuro das populações dos
países da zona euro, ao contrário do que acontece com os outros países europeus,
os EUA ou o Canadá.
Este efeito induz também um efeito depressivo na economia mundial. Mas
também, entre nós, no emprego, particularmente entre os jovens, e na confiança,
o que pode gerar sérios conflitos sociais.
Não há fum-fum nem gaitinhas que defendam os aldrabões. Cavaco, Passos Coelho,
os comentadores sabichões, os jornalistas dos fretes, por muito alienígenas
que sejam, não podem contornar os dados da economia real: insistir na tragédia
do euro, é a liquidação de Portugal e da Europa!