Nos próximos dois meses ocorrem em Cuba, com poucos dias de intervalo, dois acontecimentos de grande alcance: a visita à ilha de Obama nos dias 21 e 22 de Março e a realização do VII Congresso do Partido Comunista de Cuba no dia 16 de Abril.
Entretanto os voos dos EUA para
Cuba e de aviões cubanos para os EUA estarão já reatados.
Segundo uma
responsável do Ministério das Relações Exteriores de Cuba “Será uma oportunidade para que o presidente Obama possa perceber a
realidade cubana e continuar a dialogar sobre as possibilidades de ampliar o
diálogo e a cooperação bilateral sobre temas de interesse mútuo para ambos os
países”. Mas referiu que para chegar à normalização dessas relações bilaterais teriam que ser solucionados assuntos chaves pendentes, incluindo o fim do bloqueio e a devolução a Cuba do território ilegalmente ocupado pela Base Naval em Guantánamo.
No que respeita aos chamados “direitos humanos”, a mesma responsável
clarificou que houve conversas sobre o assunto na base do respeito, igualdade,
reciprocidade e sem intervenção nos assuntos internos. De facto, Obama ao
anunciar a visita a Cuba referiu-se a isso. São conhecidas as
diferenças de conceções neste campo com os EUA a consideraram a liberdade numa
perspetiva unidimensional e conformando-se com a fraca participação cívica dos
cidadãos e a impossibilidade prática de, por razões financeiras e de condicionamentos
diversos, os cidadãos poderem construir alternativas ao sistema bipartidário em
que os partidos ”de poder” pouco se diferenciam nas questões essenciais. E com
Cuba tendo construído um sistema de poder popular, aberto a todos os cidadãos,
que privilegia a sua participação continuada na vida política, pese embora a
necessidade de ser relançado com novas dinâmicas como o PCC tem sublinhado nos
últimos anos. E com uma conceção de democracia com várias vertentes e grandes desempenhos
nos planos político, social e cultural, com uma vertente económica que 50 anos
de bloqueio têm procurado eliminar.
A receção
"vai ser muito calorosa, com muito entusiasmo" e pode levar a uma
certa "abertura", considerou, por seu lado, o presidente do centro de
estudos Diálogo Interamericano, Michael Shifter, que considera que Obama quer
"aproveitar ao máximo o tempo de mandato que lhe resta" para
aprofundar, até onde seja possível, esta nova relação entre os dois países.
Esta visita
poderá ser a oportunidade para a irreversibilidade deste reatar de relações.
Os responsáveis
cubanos compreendem os aspetos positivos deste facto tal como compreendem os
riscos de apoios norte-americanos a grupos que aproveitem este facto para confrontar
o processo de reformas e de abertura cubano, que já dura há vários anos.
É o que se
passa com o projecto “Génesis” que tem atraído jovens cubanos nos últimos anos
que visa a constituição de uma “Fundação Génesis para a Liberdade” que teria um
lançamento mediático à escala mundial como uma alternativa, a que não faltariam
referências de esquerda e respeito pela revolução cubana mas considerada como
arrumada no passado, com uma roupagem juvenil e com dinâmicas audiovisuais e de
redes sociais. Os responsáveis cubanos conhecem esta actividade e estão
convictos de saber lidar com ela e com projectos similares que conhecem e de
que o povo cubano não deixaria de perguntar de onde viria o dinheiro para isso.
Pela nossa parte, estamos com Cuba, com o seu povo e com a Revolução Cubana.