O apoio de Bernie Sanders a Hillary Clinton corre o risco de levar para a abstenção nas eleições presidenciais de Novembro milhões de eleitores, muitos dos quais antigos abstencionistas que seguiram os propósitos de Sanders antes da conclusão das primárias do Partido Democrata. O apelo agora ao “voto útil” não funcionará para muitas pessoas que se redescobriram para a vida política com ele. Bernie Sanders quer deslocar toda a “esquerda” (conceito alargado em uso nos EUA) para o apoio a Hillary.
Poderia dizer-se que esse afluxo de esquerda iria determinar a política conduzida por uma administração democrata, e essa narrativa subentende-se nas palavras de Sanders, mas quem conhece o percurso de Hillary Clinton sabe que isso não será assim. Sabe que o que se pretende é vencer Trump e aproveitar para desorganizar essa “esquerda” que se estimulara com a candidatura de Sanders.
Sanders não teria outra saída que não apelar ao voto em Clinton? Esse é um dos dramas de um sistema eleitoral que concentra nos candidatos apurados pelos dois partidos que sustentam o sistema as escolhas possíveis, negando na prática a candidatos independentes o direito de beneficiarem dos meios.
Donald Trump tem a seu favor um populismo de direita e racismo contra os imigrantes (“eles, particularmente os latinos e agora os árabes fugidos das guerras, não querem trabalhar mas beneficiar da nossa segurança social”…). E disputa com Sanders o apoio dos desiludidos com décadas de uma alternância PR/PD que enfraqueceu os EUA, no que respeita à capacidade de gerar um crescimento económico e desenvolvimento e de criar emprego. A política interna que defende é bem pior que a de Hillary mas, talvez não surpreendentemente, na política externa é melhor. Desenvolveremos isso noutro artigo. Mas a defesa de boas relações com a Rússia e a China e a defesa duma maior efectividade na luta anti-terrorista não se encontram no programa eleitoral de Hillary. Pelo contrário.
O efeito Sanders, que gerou inicialmente um grande apoio no Partido Democrático, e que levou a que a direcção nacional do partido tudo tenha feito de forma irregular para o prejudicar em relação a Hillary (revelações de 2ª feira dos mails do Wikileaks), o que causou grande indignação, poderá ter-se desfeito horas depois com o apelo ao voto na convenção em Hillary.
Para onde irão os 13 milhões de votos que anteriormente tinham sido em Sanders?
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