Nas suas últimas decisões A
NATO coloca à beira do conflito nuclear uma série de países do leste europeu
com cerca de uma centena de milhões de habitantes. A cabeça da NATO, os EUA,
estará longe do local do conflito, uma vez mais na História, e despreza a vida
de tantas pessoas inocentes!
Na cimeira de dias 8 e 9 em
Varsóvia e nos maiores exercícios militares jamais realizados na Europa que
começaram dias antes, várias foram as decisões graves, como foi referido por
muitos comentadores como Eric Draitser (1). Particularmente grave é a expansão
da presença militar da NATO, com bases permanentes e sistemas de escudos antimísseis
(2) ao longo das fronteiras da Rússia, particularmente na Polónia e nos países bálticos,
Estónia, Letónia e Lituânia, a partir de 1917, com fundamento numa suposta
ameaça russa que já se teria verificado quando este país aceitou a integração em
território da Federação Russa, da Crimeia, decidida esmagadoramente pela sua
população em referendo, ou quando apoiou as populações russas do Donbass,
fustigadas, como na Crimeia, pelas hordas fascistas que os EUA desencadearam ao
apoiar o golpe na Ucrânia.
Os sistemas antimísseis
incluem a presença de soldados norte-americanos e, “para não vexar” a população
desses países a NATO até “se permite” haver uma rotação dos batalhões blindados
e ser ela (e não os EUA) a terem o seu comando - o que é uma hipocrisia pois o
comandante-geral da NATO é sempre um norte-americano.
Para quebrar qualquer interpretação
positiva do retomar das reuniões do Conselho NATO/Rússia, um destroyer
norte-americano equipado com um sistema para teleguiar mísseis, o USS Ross,
equipado com o avançado sistema de defesa de mísseis Aegis, entrou para o Mar
Negro neste sábado e dirigiu-se para o porto da cidade ucraniana de Odessa para
se juntar aos exercícios marítimos internacionais Sea Breeze 2016.
A NATO conhece bem a posição
da Rússia quanto a este acto provocatório.
“Vamos destruir essas armas. A Rússia nunca mais voltará a lutar no seu próprio
território”, afirmou no passado dia 13 ao Der Spiegel Sergei Kraganov, do
Ministério dos Estrangeiros russo (2).
Putin não demorou a responder
à provocação, dando indicações para que se procedesse a uma inspecção do estado
de preparação para combate das forças russas e dos seus arsenais. O novo
secretário-geral da NATO, M. Stoltenberg reagiu dizendo que não estão a
provocar o regresso à “guerra fria” e que nenhum país membro da NATO se encontrava
sob ameaça.
Porém a decisão foi tomada e a
instalação na Polónia e na Roménia, desde já, de sistemas antimísseis não ficou
sem resposta. Um arsenal russo foi instalado em Kalininegrado, enclave russo
entre a Polónia e a Lituânia, habitado por 400 mil pessoas.
Porém, a NATO está a ficar claramente enfraquecida em matéria de opinião
pública. E para isso também ajudou, antes e depois desta cimeira, que a NATO
persista com uma narrativa relativa às intervenções no Iraque e no Afeganistão que
omitem as tragédias que as populações desses dois países sofreram por elas se
terem realizado. E que, uma vez mais,
não tenha produzido uma reflexão sobre a falhada previsão de que o fim dos
países socialistas do leste europeu iria acabar com as tensões internacionais e
promoveria os direitos humanos, a paz e a prosperidade. Hoje é claro para a
maioria dos que criaram tais expectativas que a NATO à solta foi uma máquina de
guerra que países da Europa, do Médio Oriente e Norte de África pagaram bem
caro.
A NATO foi criada em 1949,
para corresponder militarmente ao Plano Marshall e mais tarde da CEE, para ser
um instrumento de ameaça aos soviéticos e para os dissuadir de apoiar os
comunistas ocidentais, saídos da guerra especialmente prestigiados pelo seu
papel heróico, e por vezes decisivo, na libertação do nazi-fascismo. Tem
procurado sempre ser, na prática, o braço armado da União Europeia. Face à
agressividade da NATO os países socialistas criaram em 1955 o Pacto de Varsóvia
e depois o Comecon, com semelhanças mas não tão coercivo quanto a CEE. Ambos os
pactos militares fizeram sair da esfera da influência da Carta das Nações
Unidas as suas forças armadas por aceitarem em ambos os pactos, colocar as suas
tropas, na prática, sob o comando quer dos EUA quer da URSS.
Em 1998 a NATO conduziu a sua
primeira guerra. E logo contra um país europeu e pequeno, depois do desmembrar
sangrento da Jugoslávia, a Sérvia (tive a oportunidade de ter estado em
Belgrado sob os bombardeamentos da NATO). Os EUA criaram a mafia terrorista
kosovar e formaram-na na base turca de Incirlik, que agora teve um papel de
relevo no golpe na Turquia da semana passada.
Sendo para a generalidade dos
povos encarado como natural que a NATO pudesse ser extinta por ter sido extinto
o Pacto de Varsóvia e “a ameaça soviética”, depois do 11 de Setembro de 2001, a
NATO foi reabilitada para combater o terrorismo… (3) Porém, mais uma vez, nesta
cimeira de Varsóvia a questão do terrorismo não mereceu mais que retórica. A
firme coordenação internacional da luta contra o terrorismo, que passou a
frequentar a Europa de forma intensa, ficou em “águas de bacalhau”.
Em 2011 a NATO coordenou a
queda do regime líbio e o assassinato selvático de Mouamar El-Kadhafi (como já
o fizera com Saddam Husein).
Em 2012 coordenou o lançamento
das intervenções contra a Síria, a partir do Comando Aliado de Terra, em 2012,
em Esmirna, também na Turquia. E se a NATO passou a actuar fora da Europa, logo
foram integrados na Aliança outros países dessas bandas: Koweit, Qatar, Jordânia,
Israel e Bahrein.
Nesta cimeira de Varsóvia, os
EUA tiveram de ouvir as bocas do presidente francês que já referi no artigo anterior
e a Inglaterra recusou-se a aumentar a sua participação financeira. Mas isso
são peanuts relativamente ao que se
exigiria aos dirigentes europeus para fazer parar a besta. Será desejável que o
façam antes dela estar a andar.
Há meses atrás o Departamento de
Estado para a Defesa reclamou a quadruplicação do orçamento destinado a
financiar as já atrás referidas medidas de reforço da NATO (4), que
actualmente. A administração dos EUA deseja que os parceiros da NATO reforcem
as suas comparticipações, questão que mantem em análise. Actualmente, cada membro
deve pagar 2% do seu PIB para adquirir armas que respeitem as normas da NATO…que
só se encontram em fornecedores dos EUA!!!... As indústrias nacionais de
armamento, entretanto, foram sendo postas de lado, por isso. Entretanto a
Rússia já reconstitui e modernizou a sua indústria de armamento e a China está
prestes a atingir os mesmos níveis de qualidade e fabrico. Os EUA e a NATO
estão, gradualmente a ficar para trás.
As debilidades dos EUA que se
estendem a diferentes sectores podem, porém, desencadear acções de graves
consequências para a Humanidade.
Eric
Draitser é o fundador do StopImperialism.org
e comentador convidado da CounterPunch
Radio. É um analista geopolítico independente,
sediado na cidade de Nova Iorque e que pode ser contactado pelo mail ericdraitser@gmail.com.
(2) O
“antimíssil” pode ter uma leitura perversa, o de ser uma defesa contra mísseis.
De facto, significa impedir a resposta com mísseis de um país a mísseis de
longo alcance que já estejam no seu trajecto contra si, usando para instalar
esses sistemas países mais próximos do alvo a atingir, a Rússia. A Rússia já
fez saber que atingirá o atacante como os países de proximidade que a isso se
prestem.
(4) Nesta cimeira de Varsóvia a questão não mereceu mais que retórica e a firme coordenação internacional da luta contra o terrorismo, que passou a frequentar a Europa de forma intensa, ficou em “águas de bacalhau”. A NATO mostrou-se preocupada, sim, com a Coreia do Norte, a instalação pelo Pentágono na Africom. Não tratou da América Latina, reservada nestes areópagos, como coutada privativa dos EUA.
(5)
Le Monde de 17
de Junho de 2016.
(publicado em 25/7/16, em www.abrilabril.pt)
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