Na entrega de uma segunda Palma
de Ouro de Cannes, ontem, Ken Koach referiu o “ mundo perigoso” em que vivemos,
e a necessidade de o cinema protestar contra o neoliberalismo crescente que,
nas suas palavras, tem feito definhar a Europa, a Grécia, Portugal, porque
“outro mundo é possível, outro mundo é necessário”.
Kenneth
"Ken" Loach nasceu
na Escócia em 17 de Junho de 1936 e na infância teve que se deslocar com a
família entre várias cidades para escaparem aos bombardeamentos alemães.
Na
juventude, estudou direito no St Peter's College, da Universidade de Oxford,
onde participou num grupo de teatro experimental da universidade. Depois de
concluir o curso, participou de espetáculos teatrais, como actor e director,
sobretudo em Birmingham. Em 1961 passa a trabalhar como assistente de direção
na televisão ABC. Trabalhou depois na BBC, iniciando uma colaboração com Tony
Garnett, produtor com o qual partilhava uma formação socialista. Boa parte de
sua obra está centrada na descrição das condições de vida da classe operária.
Num
estilo naturalista, Loach realiza uma abordagem sem concessões sobre a miséria
na Grã-Bretanha, sobre as patologias sociais e familiares e a destruição das
políticas públicas de bem-estar social (Riff-Raff, Raining Stones,
Ladybird, Ladybird, Carla's Song, Sweet Sixteen). Tratou
também momentos sombrios da história do Reino Unido (Agenda Secreta, Land and Freedom, Ventos
da Liberdade, Route Irish). A sua obra é comprometida, revelando um
alinhamento político à esquerda (aderiu ao Respect Party) quando trata de
conflitos sociais e da luta pelos direitos dos trabalhadores ou dos imigrantes
clandestinos (The Flickering Flame, Bread and Roses, The
Navigators, It's a Free World!). Embora trabalhasse com muito mais
frequência na televisão - vinte curtas e longas-metragens - do que no cinema, nos
anos 1980-1990, quando surgiu a onda de renovação do cinema britânico, com Mike
Leigh, Stephen Frears, Larry Clarke, David Leland e outros, Loach pareceu
abrir-lhes o caminho, mantendo-se entretanto fiel a um tipo uma posição
política marxista e assumindo posições públicas que muitas vezes foram uma
fonte de controvérsia no Reino Unido.
Vários
dos seus filmes estão disponíveis no Youtube.
Em
2006, recebeu a Palma de Ouro do 59º Festival de Cannes por “Ventos da Liberdade”. E
agora recebeu a segunda Palma de Ouro por “I, Daniel Blake”.