Perguntaram-me se eu fosse
deputado, se teria aplaudido de pé no fim do discurso de tomada de posse do novo
Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Respondi que ficaria de pé
mas que não bateria palmas.
Porque, apesar de um respeito que
na altura era devido, o conteúdo não merecia aplausos.
Marcelo fez um discurso com a
pretensão de agradar a todos, e foi a pormenores que relevam da propaganda ou
de um marketing de paternalismo que não se compadeciam com as circunstâncias. Ou
pelo uso que fez de terminologias como a ”linhagem” ou a citação “este reino é
obra de soldados ”mas que revelam conceções pouco republicanas…
Marcelo fez questão de sublinhar
que em matéria de solidariedade institucional garantiria a que para ele é
indefetível, “a solidariedade institucional
indefetível entre os dois únicos órgãos de soberania fundados no voto universal
e direto de todo o Povo que somos, distanciando-se da solidariedade com o
Governo.
Em matéria de Constituição, admitiu uma revisão na base de “consensos
alargados” que unam em vez de dividir, o que sabemos bem o que é. Não só nisso
fez a sugestão da convergência de PSD, CDS e PS. Também entendeu que no próprio
sistema político se deve ir mais longe (sempre que o ouvi falar disso no
passado era a pensar na alteração das leis eleitorais para garantir uma “governabilidade”
de dois partidos, em regime de alternância, para resolver na secretaria questão
que é do foro e devia ser garantida por políticas que respeitem a Constituição).
Afirmar que “ temos de cicatrizar feridas destes tão longos anos
de sacrifícios, no fragilizar do tecido social, na perda de consensos de
regime, na divisão entre hemisférios políticos. Tudo indesejável, precisamente em anos em que
urge recriar convergências, redescobrir diálogos, refazer entendimentos,
reconstruir razões para mais esperança”, carecia esclarecesse que isso não era
aproximar a direita do PS para que as retificações das malfeitorias de anos aos
portugueses fossem suspensas.
A própria amálgama de intenções para os próximos cinco anos (do
seu mandato) em que nos esperariam “cinco anos de busca de unidade, de
pacificação, de reforçada coesão nacional, de encontro complexo entre
democracia e internacionalização estratégica, dentro e fora de fronteiras e
entre crescimento, emprego e justiça social de um lado, e viabilidade
financeira do outro, de criação de consonâncias nos sistemas sociais e
políticos, de incessante construção de uma comunidade convivial e solidária”
tem muito que se lhe diga para não ser apenas um desconexo rol de intenções”.
Creio que todos esperamos que o Presidente da
República respeite, como jurou, a Constituição da República e os outros órgãos
de soberania, não usando as funções presidenciais, como aconteceu
anteriormente, para dar força à direita e para apoiar a política de direita a
partir da Presidência da República.