Quando há quinze dias, a
presidente da Reserva Federal norte-americana (Fed), Janet Yellen, depois de
ter reunido com o Comité Federal do Mercado Aberto (FOMC), fez o anúncio de que
a taxa de juros de referência se mantinha entre os 0,25 e os 0,50%, confirmou-se que a recuperação em pleno da
economia norte-americana tinha falhado, contrariando anterior anúncio de Obama.
Isso foi acompanhado por previsões de crescimento económico que em Dezembro
apontavam para entre os 2,3 e os 2,5% no crescimento do PIB, já em Março deste
ano, a previsão já era entre os 2,1 e 2,3%, e, recentemente, esse valor desceu
para entre 1,9 e 2,0%.
No primeiro trimestre deste ano,
a taxa de crescimento do PIB da economia dos EUA foi apenas 0,80%. A
recuperação do mercado de trabalho, entretanto, permaneceu muito frágil, apesar
de que é suposto ser o principal sucesso das políticas implementadas pelo Fed.
Lembre-se que em Dezembro, quando o Fed elevou 25 pontos base a sua taxa de
juro de referência, a taxa de desemprego oficial foi de 4,7%, valor que alguns
membros do FOMC, consideraram ser uma situação de "pleno emprego".
Mas o Fed estava errado. Os dados mais recentes não deixam dúvidas: os ventos
de alerta de recessão ameaçam aquela que já foi a maior economia mundial. Em
Maio passado, o sector não-agrícola aumentou apenas em 38 mil postos de
trabalho, o menor aumento desde 2010. Além disso, os dados de Março e Abril
foram revistos em baixa, os empregadores contrataram 59.000 pessoas menos do
que o esperado.
A taxa de desemprego caiu para
4,7%, mas a taxa de actividade diminuiu para 62,6% com os milhares de pessoas
-se à procura de um trabalho tendo em conta a falta de oportunidades. A
realidade é que a taxa de desemprego oficial esconde um enorme subemprego. Tendo
em conta as pessoas que tinham empregos a tempo parcial e aqueles que
recentemente deixaram de constituir força de trabalho, a taxa de desemprego
estaria em 9,7%, mais que o dobro da taxa oficial de desemprego.
A economia norte-americana sofre
de um anémico investimento empresarial, em resultado de uma escassa taxa de
retorno desse capital que não gera a criação de novas empresas e de importante
criação de empregos, sendo que muitos empresários não elevam os salários com as
consequências imediatas no dificultar o aumento da inflação – o índice de
preços ao consumidor aumentou apenas em 1.1%.
Por outro lado, a instituição responsável
pela supervisão da competitividade a nível mundial assinalou que a economia
americana sofrerá este ano a primeira contração no seu nível de produtividade
ao longo dos últimos trinta anos. A imagem de uma economia dinâmica está em
contínuo recuo. Na ausência de inovação, a produtividade dos EUA cairá este ano
em 0,2%.
A questão é em quanto os EUA poderiam
aumentar a sua dívida para tirar a economia da próxima recessão. A experiência
de crises passadas gerou uma grande discordância entre os economistas sobre
estas respostas.
Embora a dívida do governo — que
avançou para 74% do produto interno bruto, face aos 39% em 2008 — seja alta
para os padrões históricos, o déficite orçamental recuou para 2,4% do PIB, o
que dá ao país um pouco mais de margem de manobra fiscal. Mas, mesmo que a
economia cresça a um ritmo constante, o déficite deve ultrapassar os 3% do PIB
no fim da década, aumentando ainda mais a dívida.
“Se houver outra recessão, haverá pressão
para aumentar a dívida rapidamente, para um nível sem precedentes nos tempos
modernos”, escreveu Stephen King, economista sénior do HSBC, num relatório
recente.
A tentativa de atribuir as
dificuldades à redução da taxa de crescimento chinesa não resulta. A economia
chinesa aguentou à sua custa com os males da economia mundial decorrentes da
crise do sub-prime gerada nos EUA. Consequências negativas doBrexit para a economia
dos EUA são algo que qualquer país da UE poderá prever para si próprio.
Entretanto, os EUA querem vencer as dificuldades impondo aos países europeus e
outros um TTIP que corresponde aos interesses dos EUA, que seria um novo passo
na globalização económica enquadrada por instituições supranacionais não
controladas pelos povos, contrário a regras que são adoptadas na UE de
protecção da qualidade e do ambiente e que liquidaria as soberanias.
Se as dificuldades persistirem, os EUA poderão lançar-se numa nova
guerra, maior do que aquela em que estão já envolvidos. As manobras da NATO nos
próximos dias 8 e 9 na Polónia, numa lógica de confronto com a Rússia são
preocupantes.
A realidade económica dramática dos
EUA vai prevalecer face a todos os disfarces. Mas os EUA terão que passar a
saber relacionar-se de outra maneira com os outros países, praticar a
cooperação mesmo no quadro das economias capitalistas. Abandonar a lógica do Império,
ainda mais quando as debilidades exigiriam uma maior prudência.