A manifestação promovida pela CGT
em Paris na passada 3ª feira terá juntado cerca de um milhão de trabalhadores,
segundo o secretário-geral da CGT Philippe Martinez. Tratou-se da oitava
jornada nacional de luta desde que o governo “socialista” de Hollande-Valls
decidiu avançar com nova legislação laboral que seria um rude golpe dos
direitos e condições de vida dos trabalhadores.
Os trabalhadores têm sido de uma
grande firmeza na afirmação das suas razões e todas as tentativas do governo os
dividir, inclusivamente com a ameaça à requisição civil. Depois de dia 14 um grupo
de provocadores causou sérias perturbações no funcionamento do Hospital de Vecker,
em Paris. Hollande e Valls ameaçaram proibir futuras manifestações “analisando-as
caso a caso”.
O governo francês não tem dado
ordens à polícia para isolar os grupos provocadores das manifestações, apesar
da CGT, insistentemente o ter solicitado. Foi, por isso, de um grande cinismo o
comentário de Hollande de que a CGT tinha uma atitude “ambígua” face à
vandalização promovida por esses grupos. Philippe Martinez, secretário-geral da
CGT, tem repetidamente condenado essas acções violentas e afirmado que nada têm
a ver com a CGT.
Estes grupos, com é sabido
internacionalmente, são não só tolerados mas também criados e infiltrados por
agentes da polícia, que se fazem passar por manifestantes, com bandeiras e
dísticos seus. A sua função é a vandalização e darem oportunidade para
jornalistas fazerem fotos, que criam na opinião pública uma pressão contra os
manifestantes e os seus objectivos de luta. No caso de França, estas acções
podem ser aproveitadas para medidas repressivas, previstas no “estado de
emergência” que há muitos meses vigora no país.
A amálgama entre o acto
terrorista cometido na segunda-feira em Magnanville (Yvelines), as acções de grupos de hooligans
no Euro 2016, e as acções destes provocadores ao lado de manifestações
sindicais, Pode o governo querer aproveitar para ir mais longe no cerceamento
das liberdades.
Como o Le Monde de sábado refere, um deputado do Partido
Socialista, Christian Paul lembrou “a liberdade de manifestação não é negociável
e “não pode ser sacrificada às provocações. Criticando a "teimosia"
do governo, e seu camarada Benoît Hamon
aconselhou este a "reabrir as negociações", e afirmando que” o serviço
de ordem da CGT não pode fazer o trabalho que a própria polícia não faz”.
A Ministra do Trabalho, Myriam El
Khomri, foi, nestas circunstâncias, e depois da grande manif de dia 14 e de
estarem agendadas para dias 23 e 28 manifestações ainda mais firmes, forçada a
abrir a porta ao diálogo, convocando o líder da CGT para uma reunião que teve
lugar neste sábado.
Antes da reunião, Philippe Martínez
congratulou-se com a proposta, vendo-a como «um progresso» na posição do
governo. «Há três meses que pedimos para discutir com o governo. Registamos com
satisfação que agora isso é possível», disse o dirigente sindical, sublinhando
que há trabalhadores em greve há mais de 20 dias. Já depois da reunião, representantes da CGT
referiram que tinham pedido a suspensão da proposta de lei do governo em debate
no parlamento e a abertura de negociações para voltar a escrever um diploma e
que entregaram à Ministra como contributo para essa discussão uma proposta da
CGT sobre o Código do Trabalho para o século XXI. A Ministra afirmou Aos
dirigentes sindicais que essas eram propostas sérias e construtivas.
Apesar desta aparente abertura, e
porque fica a aguardar resposta às suas propostas, a CGT decidiu manter as
jornadas de dias 23 e 28, esta última data em que está previsto ser entregue ao
Presidente da República o resultado da votação cidadã que a CGT tem estado a promover
em todo o país sobre o sim ou não à proposta de Código de Trabalho do governo