Recuperar
do atraso é difícil.
Tendo
passado mais de um século a ver o seu rendimento cair face aos países ricos, com
a exploração neo-colonial, a pilhagem de produtos agrícolas, de recursos
florestais e de recursos energéticos a que EUA e outros países ricos acederam
por “concessão da exploração” (leia-se: ou concordas ou há sarilhos…) muitos
países em vias de desenvolvimento ao longo dos últimos vinte anos deram passos
para se aproximarem deles. No entanto, a recuperação do passado tem abrandado
consideravelmente.
O
domínio da economia mundial não é aceite facilmente por aqueles que a têm
dominado quase sem concorrência desde o final do século passado.
O relatório semestral de Junho do Banco Mundial mostrou que a velocidade a que os mercados emergentes estão a
convergir para o rendimento do mundo rico caiu
em poucos anos, mesmo antes da crise financeira, cujas consequências,
apesar das causas se terem gerado nos EUA, se propagaram a todo o mundo.
Uma vez mais se confirmou que o
domínio do dólar na economia mundial e a intervenção imperialista nos mercados
como arma política, dificultam muito esse objectivo. Mesmo quando a China e a
Rússia, por um lado, e os BRICS no seu conjunto, por outro, ensaiaram
alternativas, logo a pressão política em países do leste europeu, como a
Ucrânia, se fizeram sentir contra a Rússia e os cidadãos russos desses países. A
independência da Crimeia e a sua reintegração na Rússia viriam a justificar o
embargo norte-americano (a que a Comissão Europeia servilmente se associou) à
Rússia, para quem (e não só) Obama negociou com a Arábia Saudita uma drástica
redução dos preços do petróleo, de efeitos muito negativos para ela e outros países produtores mas
positivos para outros países emergentes não produtores. Por outro lado, a China Railway qualificou na sexta-feira como "um
erro" e "irresponsável" o cancelamento unilateral por parte da
norte-americana XpressWest do contrato para uma subsidiária do grupo chinês
construir um trem de alta velocidade. Por outro lado, ainda, o Brasil e a Venezuela, com papel muito importante
no desenvolvimento da América Latina, têm sido vítimas ao longo dos últimos
anos de processos golpistas para eliminar governos de esquerda que contribuíram
pelas suas dinâmicas políticas para a convergência com os países mais ricos.
É claro que é evidente uma
política virada contra o relacionamento com os países emergentes, uma guerra com várias vertentes que exclui para já a a via militar directa. A guerra incui a guerra energética, a guerra geo-financeira, a guerra das divisas, para além de outras operações no campo da cibernética e da propaganda.
A Rússia elevou, entretanto em
muito a exportação de petróleo para a China que esta manterá como reserva
estratégica. As exportações de petróleo russo para a China atingiram um record, o que parece dar outra solidez à complementaridade eventual entre os projectos de bolsas petrolíferas: uma em S. Petersburgo e outra em Xangai.
Para os propagandistas
ocidentais, não haveria solução mágica para levantar os mercados emergentes
como um todo para um caminho de maior crescimento. Segundo eles, como o
britânico Finantial Times, no seu editorial do passado dia 8, muitos
beneficiariam da introdução de uma maior previsibilidade e transparência na
elaboração de políticas, para que os consumidores, as empresas nacionais e
investidores estrangeiros tivessem um ambiente mais confiável ( onde já ouvimos
isto?)
Para este tipo de imprensa, a que
juntaria a propósito das “leituras” deste relatório os casos domésticos do
Expresso e do Negócios, por onde passei os olhos, poucos assuntos em que as
panaceias da economia convencional se revelaram tão espetacularmente erradas
por tanto tempo como a afirmação de que os países pobres devem recuperar do
atraso para com os ricos (é o Finantial Times que o diz!!!).
Com a retoma do investimento e a
adopção de novas tecnologias muito superiores às das economias maduras, a recuperação do atraso
deveria ter sido uma simples questão de deixar os mercados fazerem o seu
trabalho (Deveria? Pergunto eu…)
E o jornal continua referindo que
a situação estava a mudar, no entanto, e não apenas na China.
Quando a crise financeira global
atingiu o mundo em 2008, cerca de 80 por cento das economias emergentes estavam
a convergir para níveis do produto interno bruto per capita próximos do dos
EUA, duplicando a proporção do início de 1990.
Mas esses dias positivos têm
diminuído.
Desde 2008, a proporção de países
que recuperou o atraso em relação aos EUA caiu para os níveis de 1990. Entre
2003 e 2008, os mercados emergentes, foram crescendo, em média, a uma taxa que
teria apanhado até 2015 os níveis do PIB per capita dos EUA per capita em 40
anos. Em 2013-2015, essa lapso de tempo já se tinha alargado para mais de 60
anos.
Valendo a pena então perguntar a
quem deu jeito esta crise e quem não sofreu tanto como isso com ela.
Continua o Finantial Times,
tirando uma crítica da cartola, que o ambiente de grande apoio para muitos mercados
emergentes nos primeiros anos após a crise - altos preços das commodities (1) e
empréstimos externos baratos, em parte graças à flexibilização da Reserva
Federal, é preocupante que não tenham feito mais progressos. Agora que esses
apoios têm diminuído, a sua tarefa tornou-se ainda mais difícil.
Para o jornal as condições gerais
que podem ajudar os mercados emergentes a voltar à estrada são bem conhecidas:
a desregulamentação se for caso disso, a política macroeconómica de apoio onde
for possível. Lá está a receita do costume.
O Expresso e o Negócios até chegaram
a afirmar que os países ricos do Ocidente estão a puxar pela recuperação dos
países em desenvolvimento.
Fazendo a
interpretação do relatório, o Finantial Times refere que a volatilidade nos
mercados financeiros em 2015 e no início deste ano se deveu muito à incerteza
na China, e, particularmente, como as autoridades chinesas reagiram à fuga de
capitais e às pressões sobre o renminbi. Queria que a China não reagisse? Na passada semana, o Banco Popular da
China deixou a "taxa de referência" e adoptou um cabaz de outras
moedas que levou a um deslizar consideravelmente menor do que os comerciantes
esperavam, e o seu compromisso pôs em causa uma taxa determinada pelo mercado.
O movimento não foi dramático, mas, para o Finantial Times, adicionou incerteza a um processo político
muito importante que deveria ser mais transparente. Mas estes cavalheiros já se
esqueceram que foi a China que aguentou a economia mundial quando do baque
vindo da Wall Street?
São hoje menos as nações em vias
de desenvolvimento que estão a convergir com as economias ricas. Mas dinheiro
para a guerra abunda cada vez mais nos países ricos do “Ocidente”. Então o
dinheiro para alimentar as guerras não podia já ter sido utilizado para alterar
esta situação?
Não, os EUA optaram pela guerra económica e financeira contra estes países, acentuaram a uniformização temática informativa, definiram estratégias de apoios a uns e abandono de outros. Como mais uma vez se verificou na passada reunião dos G7.
Nas últimas semanas é evidente
que o reforço da capacidade do Daesh e Al Nusra, depois das derrotas que lhe
têm sido infligidas, revela um jogo
duplo dos EUA e da França, nomeadamente. Vale tudo mesmo quando neste relatório
do BM nos Estados Unidos, se verifica um declínio
acentuado no investimento do sector da energia e que as exportações mais fracas levaram à redução
na previsão de crescimento em 0,8 pontos percentuais, ficando em 1,9%, enquanto
a zona euro registou uma ligeira queda para 1,6%, apesar do apoio da política
monetária e preços mais baixos das commodities.
Mas os senhores da guerra
insistem. Vejamos o que nos diz o francês La Tribune do passado dia 9: “O
Conselho das Indústrias de Defesa Francesas (CIDEF) reclama que o esforço na
defesa, excluando as pensões, seja rapidamente elevado para 2% do PIB. E deseja
particularmente que o Estado consagre no mínimo 24 mil milhões de euros por ano
a equipamentos e preparação do futuro…Desde 1990, a redução da parte da riqueza
nacional consagrada à Defesa fragilizou
muito os equipamentos militares e multiplicou as faltas de capacidade, ao ponto
de transformar a actual LPM numa lei de sobrevivência. A próxima LPM deve ser a
da renovação, assinalando o regresso rápido aos 2% do PIB, sem pensões, para o
funcionamento das forças armadas”.
(1) Refere-se
a transações comerciais na bolsa de valores de produtos de origem primária,
relativas a produtos de qualidade e características uniformes, que não são
diferenciados de acordo com quem os produziu ou da sua origem, sendo o seu
preço determinado de forma uniforme pela oferta e procura internacionais.