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quarta-feira, 22 de junho de 2016

Os senhores CGD


Vogal de CAs num dos períodos mais conturbados da CGD

O PS e o PSD partilharam ao longo dos anos os lugares de presidente e vice-presidente bem como vogais da Caixa Geral de Depósitos (CGD). Excepção feita a um pequeno período depois do 25 de Abril até 1976.

 
 
 
 
 
Foram presidentes:

Jacinto Nunes (PSD) de 1976 a 1980

Oliveira Pinto (PS) de 1980 a 1989

Rui Vilar (PS) de 1989 a 1995

João Salgueiro de 1996 a 1999

António Sousa (PSD) de 2000 a 2004

Vítor Martins (PSD) de 2004 a 2005

Carlos Santos Ferreira (PS) de 2005 a 2007

Faria Oliveira (PSD) de 2008 a 2013

Álvaro Nascimento (PSD) de 201a a 2015

São muitos os membros do PS, PSD e até CDS que passaram pela CGD nas últimas décadas. Entre eles, além dos já referidos, alguns dos mais conhecidos foram: Tavares Moreira, Sousa Franco, Maldonado Gonelha, Carlos Tavares, Carlos Costa, Alexandre Vaz Pinto, Tomás Correia, Mira Amaral, Almerindo Marques, Alves Monteiro, Celeste Cardona, Armando Vara, António Nogueira Leite, e Nuno Fernandes Thomaz (este do CDS). Alguns destes passaram depois para administradores de outros bancos…

Carlos Costa, o actual Governador do Banco de Portugal, foi membro vogal de 3 Conselhos de Administração da CGD entre 7 de Abril de 2004 a 30 de Setembro de 2006, um dos períodos mais problemáticos da Caixa Geral de Depósitos.

domingo, 19 de junho de 2016

Depois da grande manifestação de dia 14 em Paris, govereno francês aceita conversar


A manifestação promovida pela CGT em Paris na passada 3ª feira terá juntado cerca de um milhão de trabalhadores, segundo o secretário-geral da CGT Philippe Martinez. Tratou-se da oitava jornada nacional de luta desde que o governo “socialista” de Hollande-Valls decidiu avançar com nova legislação laboral que seria um rude golpe dos direitos e condições de vida dos trabalhadores.

Os trabalhadores têm sido de uma grande firmeza na afirmação das suas razões e todas as tentativas do governo os dividir, inclusivamente com a ameaça à requisição civil. Depois de dia 14 um grupo de provocadores causou sérias perturbações no funcionamento do Hospital de Vecker, em Paris. Hollande e Valls ameaçaram proibir futuras manifestações “analisando-as caso a caso”.

O governo francês não tem dado ordens à polícia para isolar os grupos provocadores das manifestações, apesar da CGT, insistentemente o ter solicitado. Foi, por isso, de um grande cinismo o comentário de Hollande de que a CGT tinha uma atitude “ambígua” face à vandalização promovida por esses grupos. Philippe Martinez, secretário-geral da CGT, tem repetidamente condenado essas acções violentas e afirmado que nada têm a ver com a CGT.

Estes grupos, com é sabido internacionalmente, são não só tolerados mas também criados e infiltrados por agentes da polícia, que se fazem passar por manifestantes, com bandeiras e dísticos seus. A sua função é a vandalização e darem oportunidade para jornalistas fazerem fotos, que criam na opinião pública uma pressão contra os manifestantes e os seus objectivos de luta. No caso de França, estas acções podem ser aproveitadas para medidas repressivas, previstas no “estado de emergência” que há muitos meses vigora no país.

A amálgama entre o acto terrorista cometido na segunda-feira em Magnanville  (Yvelines), as acções de grupos de hooligans no Euro 2016, e as acções destes provocadores ao lado de manifestações sindicais, Pode o governo querer aproveitar para ir mais longe no cerceamento das liberdades.

Como o Le Monde de sábado refere, um deputado do Partido Socialista, Christian Paul lembrou “a liberdade de manifestação não é negociável e “não pode ser sacrificada às provocações. Criticando a "teimosia" do governo, e  seu camarada Benoît Hamon aconselhou este a "reabrir as negociações", e afirmando que” o serviço de ordem da CGT não pode fazer o trabalho que a própria polícia não faz”.  

A Ministra do Trabalho, Myriam El Khomri, foi, nestas circunstâncias, e depois da grande manif de dia 14 e de estarem agendadas para dias 23 e 28 manifestações ainda mais firmes, forçada a abrir a porta ao diálogo, convocando o líder da CGT para uma reunião que teve lugar neste sábado.

Antes da reunião, Philippe Martínez congratulou-se com a proposta, vendo-a como «um progresso» na posição do governo. «Há três meses que pedimos para discutir com o governo. Registamos com satisfação que agora isso é possível», disse o dirigente sindical, sublinhando que há trabalhadores em greve há mais de 20 dias. Já depois da reunião, representantes da CGT referiram que tinham pedido a suspensão da proposta de lei do governo em debate no parlamento e a abertura de negociações para voltar a escrever um diploma e que entregaram à Ministra como contributo para essa discussão uma proposta da CGT sobre o Código do Trabalho para o século XXI. A Ministra afirmou Aos dirigentes sindicais que essas eram propostas sérias e construtivas.

Apesar desta aparente abertura, e porque fica a aguardar resposta às suas propostas, a CGT decidiu manter as jornadas de dias 23 e 28, esta última data em que está previsto ser entregue ao Presidente da República o resultado da votação cidadã que a CGT tem estado a promover em todo o país sobre o sim ou não à proposta de Código de Trabalho do governo

sexta-feira, 17 de junho de 2016

O exercício militar na Polónia da NATO, Anakonda 16, terminou mas a provocação continua


Começou dia 6 e terminou hoje, dia 17, na Polónia o Anakonda 16, "o maior exercício aliado deste ano".
Nele participaram mais de 25.000 homens de 19 países da NATO (EUA, Alemanha, Grã-Bretanha, Turquia e outros) e 6 parceiros: Geórgia, Ucrânia e Kosovo (reconhecido como um estado), na verdade sob o comando dos Estados Unidos; a Macedónia, que ainda não está na NATO apenas porque a Grécia se opõe à utilização do nome do nome (o mesmo que o de uma província grega, que a Macedónia poderia reivindicar); A Suécia e a Finlândia, que estão a ficar cada vez mais perto da NATO (e que participaram na reunião de Maio de chefes de governo da Aliança).
Formalmente o nome do exercício foi induzido pela Polónia (a partir do "k" no nome), para atender ao orgulho nacional de Varsóvia.
Numa escola primária polaca o Anaconda 16 instrumentalizou cranças
 
Na realidade o comando do exército dos EUA/ Europa, com uma "área de responsabilidade '' que compreende 51 países (incluindo toda a Rússia), tem a missão oficial de" promover os interesses estratégicos americanos na Europa e Eurásia. " Anualmente realiza mais de 1.000 operações militares em mais de 40 países da região.
O  exército dos EUA/Europa participa no exercício, com as suas 18 unidades, incluindo a 173ª Brigada Aerotransportada em Vicenza, na Itália. O Anakonda 16, que decorreu até hoje, foi claramente dirigido contra a Rússia. Incluiu "missões de combate das forças multinacionais no ar" e também na área do Báltico, perto do território russo. Na véspera do Anakonda 16, Varsóvia anunciou que em 2017 vai expandir as forças armadas polacas de 100 para 150 000 homens, formando uma força para-militar de 35.000 homens chamada "força de defesa territorial." Esta estará distribuída em todas as províncias começando com a oriental, que terá a tarefa de "impedir a Rússia de se apoderar do território polaco, como fez na Ucrânia."
Os membros da nova força, que receberá um salário mensal, serão treinados, a partir de Setembro, por instrutores dos EUA e da NATO de acordo com o modelo adotado na Ucrânia, onde treinam os batalhões da Guarda Nacional que incluem neo-nazis. A associação paramilitar polaca Strzelec, com mais de 10.000 homens vai constituir a espinha dorsal da nova força, e já começou a treinar participando no Anakonda 16. A criação da força paramilitar, que fornece internamente ao presidente Andrzej Duda uma nova ferramenta para suprimir a oposição, é parte do referido crescimento militar da Polónia, com um custo estimado de 34 mil milhões de dólares até 2022, e é encorajada pelos EUA e NATO na função anti-russa.
Já começou o trabalho para instalar na Polónia uma bateria de mísseis terrestres do sistema norte-americano Aegis, semelhante à que já opera na Roménia, que pode lançar dois mísseis mísseis interceptores de um ataque nuclear.

Tudo à espera  da cimeira da NATO em Varsóvia (8 e 9 de Julho), que formalizará a escalada anti-Rússia, o Pentágono está a preparar-se para implantar na Europa uma brigada de combate de 5.000 homens  entre a Polónia e os países bálticos.
O Ministério da Defesa de Portugal, no seu site, não se refere à operação Anaconda 16 nem à participação que nela terão tido as nossas forças armadas, referindo, sim,  que "a reunião dos Ministros da Defesa" que terminou no passado dia 15 "antecede a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da NATO, que irá ter lugar em Varsóvia nos próximos dias 8 e 9 de ´Julho, e que  se constituiu, assim, num momento essencial de preparação das principais decisões que definirão os rumos da Aliança Atlântica para o futuro. A“Cimeira de Varsóvia” será a 27ª desde que a aliança foi criada em 1949; a última, teve lugar no País de Gales, no Reino Unido, em 2014. Nada é referido no site sobre o carácter anti-russo desta cimeira.
Intensificaram-se ao mesmo tempo, os exercícios da NATO/EUA contra a Rússia: em 5 de junho, dois dias antes do Anakonda 16 ter começado, iniciou-se no mar Báltico a Baltops 16, com  6100 militares, 45 navios e 60 aviões de guerra de 17 países (incluindo a Itália), sob o comando dos EUA. Neles também participaram os bombardeiros estratégicos americanos B-52. A cerca de 100 milhas do território russo de Kalininegrado...
Uma nova escalada da estratégia de tensão, que empurra a Europa para um confronto não menos perigoso do que a Guerra Fria. Sob o silêncio política político-mediático das "grandes democracias ocidentais."

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Uma vez mais Tribunal de Contas, ADSE e SNS


Num relatório de auditoria, o Tribunal de Contas (TdC) continua a reconhecer que a ADSE é um sistema complementar ao SNS, à semelhança dos seguros de saúde, que não se pretende substituir ao SNS, e que é por opção própria que os trabalhadores da Função Pública nela se inscrevem apesar de, por descontos que realizam para a segurança social, poderem ser utentes do SNS.
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Vitor Caldeira, presidente do TdC

O TdC entende que “a ADSE deverá ser excluída das disputas ideológicas que opõem o setor público de prestação de cuidados de saúde ao privado, e vice-versa “. Porém o TdC não pode ignorar que já em relatório anterior, citava o estudo da Entidade Reguladora do Sistema de Saúde, que reconhecia que a subida de descontos para os 3,5% da ADSE tinha feito fugir aderentes desta para seguros privados de saúde, para então defender um alargamento da base de aderentes à ADSE que já aqui criticamos em Março e que na presente auditoria ao seguimento desse relatório é retomado.
Por decisão de José Sócrates de 2010, a ADSE deixou de receber transferências do Orçamento do Estado para pagar cuidados de saúde prestados aos seus beneficiários nos serviços públicos de saúde nacionais e regionais. Foi na esteira desta decisão que o anterior director-geral da ADSE, Carlos Liberato Batista, do PSD, nunca reconheceu qualquer obrigação perante os gastos do serviço regional de saúde da Madeira, desde Dezembro de 2009 e Setembro de 2015, data do relatório de auditoria do TdC de Setembro de 2015. Relatório de que a presente auditoria é seguimento das Recomendações então formuladas (Relatório n.º 12/2015 – 2ª Secção). É ainda na sequência de tais factos que o TdC considera que o governos regional da Madeira e o governo de Passos Coelho usaram indevidamente dinheiro da ADSE para pagar despesas do SNS.

Desta vez o TdC sublinha que “ao tornar os quotizados da ADSE os financiadores exclusivos do sistema em 2014, o Estado alterou a natureza do financiamento, “privatizando” a receita.” (refere-se a deliberação do governo de Passos Coelho nesse sentido). Talvez por isso o TdC não tem referido que a ADSE tem funcionado como uma grande seguradora de saúde privada que é sustentáculo muito importante para hospitais e clínicas privados, que sem ela não sobreviveriam por méritos próprios. E naturalmente vem referir agora, quando existe um governo diferente do anterior, ser uma ameaça ao futuro da ADSE “o entendimento do Ministro da Saúde de que rendimento disponível dos trabalhadores e aposentados da função pública, entregue voluntariamente à ADSE sob a forma de desconto, poder ser utilizado para financiar o Serviço Nacional de Saúde”

O TdC continua, uma vez mais a defender o que defendia quando o anterior governo governava, com um parecer da ERS que fundamentava, sem o dizer, o debilitar progressivo do SNS por captação de utentes seus para soluções de fornecimento de serviços de saúde privados, enquanto os mais ricos da ADSE passavam para seguradoras. É uma atitude coerente com a do relatório de 2015 mas o SNS irá sobreviver, vencendo este canto de cisme.

 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

As dificuldades impostas às economias emergentes para recuperarem do atraso

 
Recuperar do atraso é difícil.
Tendo passado mais de um século a ver o seu rendimento cair face aos países ricos, com a exploração neo-colonial, a pilhagem de produtos agrícolas, de recursos florestais e de recursos energéticos a que EUA e outros países ricos acederam por “concessão da exploração” (leia-se: ou concordas ou há sarilhos…) muitos países em vias de desenvolvimento ao longo dos últimos vinte anos deram passos para se aproximarem deles. No entanto, a recuperação do passado tem abrandado consideravelmente.
O domínio da economia mundial não é aceite facilmente por aqueles que a têm dominado quase sem concorrência desde o final do século passado.
 
O relatório semestral de Junho do Banco Mundial mostrou que a velocidade a que os mercados emergentes estão a convergir para o rendimento do mundo rico caiu  em poucos anos, mesmo antes da crise financeira, cujas consequências, apesar das causas se terem gerado nos EUA, se propagaram a todo o mundo.
Uma vez mais se confirmou que o domínio do dólar na economia mundial e a intervenção imperialista nos mercados como arma política, dificultam muito esse objectivo. Mesmo quando a China e a Rússia, por um lado, e os BRICS no seu conjunto, por outro, ensaiaram alternativas, logo a pressão política em países do leste europeu, como a Ucrânia, se fizeram sentir contra a Rússia e os cidadãos russos desses países. A independência da Crimeia e a sua reintegração na Rússia viriam a justificar o embargo norte-americano (a que a Comissão Europeia servilmente se associou) à Rússia, para quem (e não só) Obama negociou com a Arábia Saudita uma drástica redução dos preços do petróleo, de efeitos muito negativos para ela e outros países produtores mas positivos para outros países emergentes não produtores. Por outro lado, a China Railway qualificou na sexta-feira como "um erro" e "irresponsável" o cancelamento unilateral por parte da norte-americana XpressWest do contrato para uma subsidiária do grupo chinês construir um trem de alta velocidade. Por outro lado, ainda, o Brasil e a Venezuela, com papel muito importante no desenvolvimento da América Latina, têm sido vítimas ao longo dos últimos anos de processos golpistas para eliminar governos de esquerda que contribuíram pelas suas dinâmicas políticas para a convergência com os países mais ricos.
 
É claro que é evidente uma política virada contra o relacionamento com os países emergentes, uma guerra com várias vertentes que exclui para já a a via militar directa. A guerra incui a guerra energética, a guerra geo-financeira, a guerra das divisas, para além de outras operações no campo da cibernética e da propaganda.
A Rússia elevou, entretanto em muito a exportação de petróleo para a China que esta manterá como reserva estratégica. As exportações de petróleo russo para a China atingiram um record, o que parece dar outra solidez à complementaridade eventual entre os projectos de bolsas petrolíferas: uma em S. Petersburgo e outra em Xangai.
Para os propagandistas ocidentais, não haveria solução mágica para levantar os mercados emergentes como um todo para um caminho de maior crescimento. Segundo eles, como o britânico Finantial Times, no seu editorial do passado dia 8, muitos beneficiariam da introdução de uma maior previsibilidade e transparência na elaboração de políticas, para que os consumidores, as empresas nacionais e investidores estrangeiros tivessem um ambiente mais confiável ( onde já ouvimos isto?)

Para este tipo de imprensa, a que juntaria a propósito das “leituras” deste relatório os casos domésticos do Expresso e do Negócios, por onde passei os olhos, poucos assuntos em que as panaceias da economia convencional se revelaram tão espetacularmente erradas por tanto tempo como a afirmação de que os países pobres devem recuperar do atraso para com os ricos (é o Finantial Times que o diz!!!).
Com a retoma do investimento e a adopção de novas tecnologias muito superiores às das  economias maduras, a recuperação do atraso deveria ter sido uma simples questão de deixar os mercados fazerem o seu trabalho (Deveria? Pergunto eu…)
E o jornal continua referindo que a situação estava a mudar, no entanto, e não apenas na China.

Quando a crise financeira global atingiu o mundo em 2008, cerca de 80 por cento das economias emergentes estavam a convergir para níveis do produto interno bruto per capita próximos do dos EUA, duplicando a proporção do início de 1990.
Mas esses dias positivos têm diminuído.
Desde 2008, a proporção de países que recuperou o atraso em relação aos EUA caiu para os níveis de 1990. Entre 2003 e 2008, os mercados emergentes, foram crescendo, em média, a uma taxa que teria apanhado até 2015 os níveis do PIB per capita dos EUA per capita em 40 anos. Em 2013-2015, essa lapso de tempo já se tinha alargado para mais de 60 anos.
Valendo a pena então perguntar a quem deu jeito esta crise e quem não sofreu tanto como isso com ela.
Continua o Finantial Times, tirando uma crítica da cartola, que o ambiente de grande apoio para muitos mercados emergentes nos primeiros anos após a crise - altos preços das commodities (1) e empréstimos externos baratos, em parte graças à flexibilização da Reserva Federal, é preocupante que não tenham feito mais progressos. Agora que esses apoios têm diminuído, a sua tarefa tornou-se ainda mais difícil.
Para o jornal as condições gerais que podem ajudar os mercados emergentes a voltar à estrada são bem conhecidas: a desregulamentação se for caso disso, a política macroeconómica de apoio onde for possível. Lá está a receita do costume.
O Expresso e o Negócios até chegaram a afirmar que os países ricos do Ocidente estão a puxar pela recuperação dos países em desenvolvimento.
Fazendo a interpretação do relatório, o Finantial Times refere que a volatilidade nos mercados financeiros em 2015 e no início deste ano se deveu muito à incerteza na China, e, particularmente, como as autoridades chinesas reagiram à fuga de capitais e às pressões sobre o renminbi. Queria que a China não reagisse? Na passada semana, o Banco Popular da China deixou a "taxa de referência" e adoptou um cabaz de outras moedas que levou a um deslizar consideravelmente menor do que os comerciantes esperavam, e o seu compromisso pôs em causa uma taxa determinada pelo mercado. O movimento não foi dramático, mas, para o Finantial Times,  adicionou incerteza a um processo político muito importante que deveria ser mais transparente. Mas estes cavalheiros já se esqueceram que foi a China que aguentou a economia mundial quando do baque vindo da Wall Street?
São hoje menos as nações em vias de desenvolvimento que estão a convergir com as economias ricas. Mas dinheiro para a guerra abunda cada vez mais nos países ricos do “Ocidente”. Então o dinheiro para alimentar as guerras não podia já ter sido utilizado para alterar esta situação?
Não, os EUA optaram pela guerra económica e financeira contra estes países, acentuaram a uniformização temática informativa, definiram estratégias de apoios a uns e abandono de outros. Como mais uma vez se verificou na passada reunião dos G7. 
Nas últimas semanas é evidente que o reforço da capacidade do Daesh e Al Nusra, depois das derrotas que lhe têm sido infligidas,  revela um jogo duplo dos EUA e da França, nomeadamente. Vale tudo mesmo quando neste relatório do BM nos Estados Unidos, se verifica um declínio acentuado no investimento do sector da energia e que  as exportações mais fracas levaram à redução na previsão de crescimento em 0,8 pontos percentuais, ficando em 1,9%, enquanto a zona euro registou uma ligeira queda para 1,6%, apesar do apoio da política monetária e preços mais baixos das commodities.
Mas os senhores da guerra insistem. Vejamos o que nos diz o francês La Tribune do passado dia 9: “O Conselho das Indústrias de Defesa Francesas (CIDEF) reclama que o esforço na defesa, excluando as pensões, seja rapidamente elevado para 2% do PIB. E deseja particularmente que o Estado consagre no mínimo 24 mil milhões de euros por ano a equipamentos e preparação do futuro…Desde 1990, a redução da parte da riqueza nacional consagrada à Defesa  fragilizou muito os equipamentos militares e multiplicou as faltas de capacidade, ao ponto de transformar a actual LPM numa lei de sobrevivência. A próxima LPM deve ser a da renovação, assinalando o regresso rápido aos 2% do PIB, sem pensões, para o funcionamento das forças armadas”.
 
(1) Refere-se a transações comerciais na bolsa de valores de produtos de origem primária, relativas a produtos de qualidade e características uniformes, que não são diferenciados de acordo com quem os produziu ou da sua origem, sendo o seu preço determinado de forma uniforme pela oferta e procura internacionais.

sábado, 11 de junho de 2016

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Em 8 e 9 de Julho, a NATO vai dar um passo de gigante em direcção a uma guerra mais generalizada

No passado dia 19 de Maio o Guardian noticiou a prisão do político polaco Andrzej Mateusz Piskorski.
Piskorski é o presidente de um novo partido do seu país que fundou em Fevereiro do ano passado, o Zmiana (Mudança), que pretende ser uma plataforma de esquerda, que luta pelas causas sociais, anti-capitalista, anti-imperialista e pacifista.

Professor universitário, publicista e jornalista, publicou já depois da sua prisão um artigo intitulado “A guerra contra a História, uma campanha da NATO de longo prazo” que começava com as afirmações seguintes “Varsóvia acolherá a cimeira de Chefes de Estado e de Governo da NATO, que vão realizar uma reunião do Conselho do Atlântico Norte, nos dias 8 e 9 de Julho de 2016. Esta 25ª cimeira da aliança atlântica irá aprofundar o acordo concluído em 2014 em Newport. No essencial irá tratar da instalação no leste da Europa a Força de Intervenção Rápida para defender flanco oriental da aliança. O ministro polaco dos Negócios Estrangeiros, Witold Waszczykowski, já avisou que durante esta cimeira se vai anunciar a instalação em território polaco de bases militares permanentes dos EUA e da NATO”. O território da Rússia encontra-se praticamente cercado de bases militares e mísseis a ele apontados (Letónia, Estónia, Lituânia, Polónia, Hungria, Eslováquia, Roménia, Bulgária e Turquia). Mais a Oriente o mesmo se passa relativamente ao território da República da China.

Um cerco que se aperta
 
O que arrisca a Humanidade com esta cimeira é um passo de gigante em direcção a uma guerra mais generalizada do que as que temos vivido longe da nossa parte.
Um analista checo, Martin Koller, afirmava recentemente de forma preocupada: “Estou convencido de que uma guerra contra a Rússia (…), inesperada e preventiva, é o objetivo dos EUA, que procuram realizar a hegemonia mundial. A maioría das bases militares norte-americanas estão instaladas de maneira a ter como objectivo a Rússia e a China, e ao mesmo tempo protegerem os recursos petrolífereos do Médio Oriente (https://goo.gl/nzaAmB)”. Segundo Koller umaa guerra nuclear é realizável, e “terá maiores impactos na Ucrânia, nos países Bálticos, Noruega, Polónia, Grã- Bretanha, Alemanha, Holanda e Bélgica, já que é nesses países que estão instaladas a maior parte das bases da NATO”. 
Depois de cerca de vinte anos, temos vivido em guerras permanentes promovidas pelas grandes potencias“ocidentais”, directamente ou através de diferentes grupos terroristas, com os quais se escandalizam, que dizem combater, com resultados muito pouco visíveis mas que continuam a ser armados e reforçados em pessoal mercenário por eles treinado. Já na Síria, sem que as autoridades sírias o tivessem solicitado estão contingentes norte-americanos e franceses, no norte, a pretexto do apoio aos curdos e a grupos “rebeldes moderados”.
A estas guerras somam-se outras de natureza económica e financeira. A nova crise do capitalismo de 2007/8, que espalhou o caos só contido com o esforço da China, atingiu todo o mundo. O crescimento económico tornou-se anémico ou negativo ma maioria dos países. Na União Europeia a situação é má e piora com os planos de reestruturação impostos a vários países mais pequenos para garantir os déficites que não são exigidos aos países mais fortes. Esta União Europeia desagrega-se enquanto os seus dirigentes continuam a aceitar o papel de apoiantes dos projectos delirantes dos EUA, ao mesmo tempo que vão depreciando o euro, que insistem no Tratado Orçamental, na União Monetária, como caminhos para aprovar em segredo a não menos delirante  TTIP – Parceria Trans-Atlântica parra o Comércio e Investimento.
A Comissão Europeia quer trazer-nos o animal cá para dentro

O esmagamento do Brasil, da Venezuela, da Rússia e de outros países que contam com a exportação do seu petróleo como importante contributo dos seus orçamentos, a serem seriamente atingidos pela quebra drástica dos seus preços de venda combinada pelos EUA e a Arábia Saudita.
Vias alternativas têm sido tentadas pela China, Rússia, os BRICS em geral e a América Latina. É certo com dificuldades momentâneas na América Latina. A alternativa às condições leoninas impostas para a assistência do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional estão a fazer progressos. A libertação do dólar como moeda que comanda as condições das trocas está já a ser realizada nalgumas relações bilaterais e multilaterais.
Os conceitos geo-estratégicos de domínio do mundo pelos EUA incluem cercear à Europa a possibilidade de se abrir comercialmente à Rússia e à Ásia (inviabilizar a Eurásia ou a recreação da Rota da Seda – ponte de relações mutuamente vantajosas, como na Antiguidade, dos povos e estados desta região, actualmente erigida como política da China). Este cercear de relações inclui a troca de bens, a circulação destes e das pessoas, incluindo o fornecimento de gás natural e outros hidrocarbonetos.
Presença militar dos EUA no mundo
O desenvolvimento dos países é uma forma muito importante para que as respectivas populações se oponham à guerra. Não foi por acaso que o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, a Síria, foram arrasados. A administração dos EUA, e a Comissão Europeia, atrás de si à arreata, sabem porque que o fizeram.
Não é inevitável que tenhamos um caminho de via única, como  não tivemos de pensamento único.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

"Quem dorme à noite comigo?, poema de Reinaldo Ferreira

 

Quem dorme à noite comigo? É meu segredo, é meu segredo! Mas se insistirem, desdigo. O medo mora comigo, Mas só o medo, mas só o medo! E cedo, porque me embala Num vaivém de solidão, É com silêncio que fala, Com voz de móvel que estala E nos perturba a razão. Que farei quando, deitado, Fitando o espaço vazio, Grita no espaço fitado Que está dormindo a meu lado, Lázaro e frio? Gritar? Quem pode salvar-me Do que está dentro de mim? Gostava até de matar-me. Mas eu sei que ele há-de esperar-me Ao pé da ponte do fim.
  Amália Rodrigues cantou em "Medo" este poema, não incluindo a terceira estrofe.

sábado, 4 de junho de 2016

Zona de Aleppo bombardeada pela Al Nusra, a partir de território dominado por "rebeldes moderados" (foto de Hosan Katan para a Reut
 
As forças do exército sírio com apoio de aviação russa estão a expulsar os terroristas do ISIS de Raqqa, que consideravam a sua capital na Síria.
 
Em Aleppo, entretanto, 40 pessoas foram mortas numa intensa barragem de artilharia da Frente Al Nusra contra a cidade.
O ramo sírio da Al-Qaeda usou rockets, morteiros e canhões para uso anti-aéreo.
No ataque foi destruída uma esquadra de polícia e foram seriamente atingidos prédios de habitação. Entre os mortos contam-se habitantes, oficiais de segurança e militares. Registaram-se ainda cerca de cem feridos.
Mas - espantemo-nos ou nem por isso - os EUA pediram à Rússia para não atacar os terroristas da Al Nusra porque podiam atingir forças rebeldes moderadas que estão misturadas com eles... Disseram que estava a discutir com eles para se afastarem dos combatentes terroristas. Os russos reagiram dizendo que há muito os EUA anunciaram essa tentativa mas ela não está a resultar. Pelo contrário, é de terreno dominado pelos "moderados" que saem os ataques da Al Nusra.
Há, de facto, rebeldes moderados que estão aptos a entrarem na mesa das negociações. Os EUA querem ou continuam com esta rábula?



sexta-feira, 3 de junho de 2016

Marretas de olhos semi-cerrados...

Eurogrupo ataca Comissão Europeia pela proteção aos "pecadores do défice"

 A troca de “mimos” entre o presidente do Eurogrupo e o presidente da Comissão Europeia só confirma o que qualquer jornalista interessado verdadeiramente em esclarecer a hipocrisia da perseguição aos deficites excessivos já poderia ter feito.

Mas não se encontrou um aqui pelo burgo que o dissesse alto e em bom som porque não interessava estragar este marmanjar dos políticos de direita e eurocratas na discussão empolada sobre as décimas do deficite.

Que a França, a Alemanha e outros países mais ricos viram perdoados deficites excessivos ou prolongados prazos para os cumprirem enquanto forçaram a Grécia a ajoelhar e Portugal com a direita a ser massacrado na austeridade porque não eram tão ricos ou “pesavam pouco” - figura adoptada hoje por Sérgio Sousa Pinto em entrevista ao Público ao arrepio de invocadas disposições comunitárias em sentido inverso – era conhecido de todos mas para alguns dava jeito não relembrar.

E ainda de décimas se fala ao pretender ler nalgumas delas um suposto relançamento económico europeu.

Portugal apresenta os indicadores económicos que apresenta porque a Europa há muito que está em queda por força de políticas neoliberais e porque quatro anos de tamanha austeridade vai impedir durante anos que se possa atingir um relançamento da economia significativo, tanto mais que o desvario bolsista e as reservas ao aumento de relações com a Rússia, a China, bem como o resto do Oriente o impõem, porque isso escapa à lógica desta UE a destroçar-se, à lógica da NATO e aos interesses dos EUA.
Um pensamento partidário estreito e as vinculações cada vez mais indesejadas não são bom caldo de cultura para sair do ponto em que estamos. Há que abrir os olhos à realidade.