Algumas palavras sobre a campanha
de Edgar Silva começam pela constatação de que foi, sem dúvida para mim, o
melhor candidato que o PCP podia ter escolhido. A votação final pouco tem a ver
com o mérito próprio da campanha que fez. Só quem acompanhou o candidato no
dia-a-dia dos seus contactos, conversas e intervenções terá observado que a sua
linguagem foi fluente, sem a preocupação de ficar formatada em conceitos, que
sendo ideias de campanha, só alguns meios de comunicação se fixaram neles para
limitar os diálogos do candidato a “patriótico e de esquerda”, “valores de
Abril”, etc., etc., que poderiam sugerir uma padronização de mensagens que não
existiu.
Na minha opinião a candidatura
devia ter sido no discurso mais virada para o apontar do que defendia para
exercício do futuro PR do que definir políticas de governo, se bem que, inevitavelmente,
e por questões de atualidade, a abordagem de questões como a recuperação de
rendimentos em curso, a reversão do negócio da TAP, a venda do Banif. Já me
parece fora do contexto e um “tiro no pé” várias críticas a um governo, em cujo acordo de
existência participamos.
Já agora, o PCP terá que repensar
as suas campanhas eleitorais para uma mais justa relação entre sentimentos de
entusiasmo para militantes e para os media e a necessária e prolongada captação
de confiança que se traduza em votos de muitos sectores que se não satisfazem
com a imagem mas aspiram as respostas concretas aos problemas concretos, ideias
claras sobre como poderão ser as saídas para o emprego, para o crescimento económico,
onde investir e com que recursos e como deslaçar os constrangimentos à
soberania..
Marisa Matias tem méritos
próprios para além dos que lhe tenham sido conferidos pela campanha de
marketing que contratou. Não percorreu os temas obrigatórios do “ao que venho”
e optou pelas manifestações de simpatia de rua. Teve a perceção da guinada de
votos não esperada que a questão das “reformas vitalícias de políticos” lhe
poderia dar. Passou três dias a abordar o tema de forma ligeira enquanto os media
pontuavam a seu favor. Discordo da forma como o fez. O tema devia ter sido
tratado com o rigor da história que lhe está associado. Desta forma demagogia e
populismo podem-lhe ser legitimamente invocados. Já não estarei de acordo em,
como fez o secretário-geral do meu partido poder sugerir que era uma
engraçadinha a que o PCP nunca recorreria. Jerónimo é um grande secretário-geral,
e nessa qualidade projetou a influência do Partido para eu só poder entender
isso como um deslize.
Não falarei de mais candidatos.
Tem-se feito muito uma comparação
que é disparatada. Os resultados nas presidenciais não são comparáveis com os
das legislativas e nenhuma destas duas é comparável com os das autárquicas. Nem
um resultado de uma candidatura do PCP pode ser comparado com o resultado de
candidaturas anteriores. Se isso fosse possível, o Edgar teria tido uma votação
superior à que a minha candidatura teve em 2001. Naturalmente que o PCP terá
que apreciar as causas de debilidades diversas e de evoluções negativas no que
é comparável para reverter tendências que não favoreçam um partido com maior
projeção, como a sociedade portuguesa precisa, para um caminho mais consequente
de uma nova política. Também a pressão que vem de comentadores de direita de
que a “nova correlação de forças BE/PCP” vai agitar o PS e os acordos de
viabilização do governo, será um desejo pífio duma direita que ainda não largou
o revanchismo pós 4 de Dezembro e que anda de braço dado com atitudes
despropositadas de Bruxelas, da ingerência na nossa vida interna da Moody's ou do
cherne Barroso (que deita gordura do pescoço, alto lá com ela!).
Enquanto isso, venha a proposta
do Orçamento para 2016 para nos debruçarmos todos sobre ela. E a troika que baixe bem a bola depois das revelações de ontem da estória da troika do Passos.
Ah! Marcelo é o Presidente “de
todos os portugueses” (aqui a minha prima ao lado diz “ámen!”).
Ai, meu Deus acabei de ouvir a Cristas...Que mais nos irá acontecer???