Há días no Il Manifesto assinalava-se o facto de
existirem nuances na forma de um
tratamento mais distanciado Em relação à Arábia Saudita em sectores da administração
norte-americana enquanto valorizavam mais o diálogo com a Síria. E que os media
norte-americanos valorizam hoje mais os crimes da Arábia Saudita.
Porém os EUA ainda
patrocinam como parte negociadora sobre o fim do conflito da Síria um homem e
respectiva organização que combateram o regime sírio a partir da Arábia Saudita,
e que ontem chegou a Genebra para a mesa negocial. Enquanto cooperam com este
país nos bombardeamentos aos rebeldes houtis no Iémen.
A relação entre os
serviços secretos dos EUA e do regime wahabita vem de longe.
A entrega de armas
à Al-Qaeda e ao Daesh já fora antecedida por apoios à UNITA, o armar de
mujahidines contra a URSS no Afganistão ou o financiamento aos contras na
Nicarágua, antecederam outras cooperações na guerra contra a Síria (1).
A política de fazer
cair, a partir da OPEP, o preço de venda do petróleo nos mercados
internacionais para defender a sua posição dominante como produtora de novas
grandes quantidades de petróleo vindos agora dos EUA (xisto) e do Irão, com o
fim das sanções, causa sérios problemas
às economías russa, brasileira, venezuelana ou angolana.
Essas nuances têm,
é claro, a ver com o progresso nas relações norte-americanas com o regime xiita
de Teerão mas isso não foi suficiente para
que Obama tivesse condenado a execução do xeque xiita Nimr al-Nimr, há
días, pela Arábia Saudita . Antes da sua execução, o xeque xiita descrevia assim
a vida da população xiita: ”Desde o momento em que nascemos, vimo-nos rodeados
do medo, da intimidação, perseguições e abusos. Nascemos numa atmosfera de
intimidação. Temos medo até das paredes. Quem entre nós não está familiarizado
com a intimidação e a injustiça a que fomos submetidos neste país? Eu tenho 55
anos, vivi mais de meio século. Desde que nasci nunca me sentí seguro neste
país. Estamos sempre a ser acusados de alguma coisa. Sempre sofremos ameaças.
Quando me prenderam disseram-me “Vocês, xiitas, deviam ser todos mortos” é essa
a lógica deles”.
Os EUA têm três
grandes aliados no Médio Oriente, a saber, a Arábia Saudita, Israel e a
Turquia. Podem ter, por vezes, ter diferentes atitudes face a este ou aquele
problemas, mas a sua aliança é sólida.
Mas essa solidez poderá ser posta em causa com a normalização de relações com o Irão e com a possível queda da familia Saoun, que a execução do xeque xiita poderá acelerar. Os EUA tinham resolvido o complexo problema da sucessão do rei Abdallah. Mas agora a sucessão do rei Salman recaiu no príncipe Mohammed que se apoderou das grandes empresas do país, desencadeou os ataques contra o Iémene e insistiu com a execução de Nimr al-Nimr.
Ao nível religioso,
o wahabismo é a religião do Estado mas a familia Saoud apoia-se apenas nos
sunitas e pratica um verdadeiro apartheid para com as populações que têm outras
religiões.
Neste quadro, a
revolta alastra e pode ser aumentada
entre as camadas que têm apoiado o regime, em virtude da degradação das
condições de vida internas decorrentes da desvalorização do petróleo, de uma
possível bancarrota daqui a dois anos, nunca evitável com o endividamento acelerado já em
curso. Ou pela venda de parte da Aramco
(empresa petrolífera da Arábia Saudita que produz, manufatura e comercializa em
petroleiros o crude e o gás natural e os derivados do petróleo para corresponder
à procura global).
O projeto há anos abandonado pelos
EUA de dividir a Arábia Saudita em cinco partes renascerá neste quadro?
(1) [1] “U.S. Relies Heavily on
Saudi Money to Support Syrian Rebels”, Mark Mazzetti & Matt Apuzzojan, The
New York Times, 23 de Janeiro de 2016.