A Rússia, de uma forma cautelosa, mas com uma intensa
actividade diplomática, tem assegurado contactos com todas as partes em
situação de conflito para que a situação não se torne descontrolada e caótica e
caminhe para uma guerra mais generalizada, para que não sofram alterações os
sistemas instalados de produção e distribuição do petróleo, num sentido
favorável aos apetites de Washington, para que se não agrave a crise
humanitária e o surto imigratório que, parcialmente, vão ao encontro dos
interesses de algumas economias mais desenvolvidas da Europa e dos EUA.
1. Duas questões vêm complicar ainda
mais o puzzle
É significativo que, em vez de lamentar o ocorrido, os EUA e a Inglaterra, para já, tenham preferido chamar de volta os seus cidadãos que estavam na estância balnear de Sharm el-Sheikh. Ao contrário da Rússia que apelou a que se mantivesse o fluxo turistico para a região.
É de salientar que os grades media "ocidentais”,
desde o primeiro dia, tenham avançado com a hipótese de ter sido um atentado do
Estado Islâmico, entidade que criaram e a quem deram impulso e
criaram "credibilidade" de Estado com uma organização própria e
apoio popular. Meses decorridos, o carácter torcionário de tal "regime",
a sua sanha de liquidação de património cultural milenar, ficaram revelados. O
próprio Papa declarou que a Humanidade tinha que se ver livre deste pesadelo.
Raid russo contra instalações do ISIS na Síria |
No período dos
chamados bombardeamentos aéreos dos EUA e aliados contra o ISIS, o que aconteceu
foi a progressão no terreno das forças terroristas (com quem apareceram
entrelaçados combatentes “rebeldes” da oposição síria que actuam com
operacionais da CIA). O pedido de Assad à Rússia para ajudar o governo legítimo
da Síria a travar a progressão dos invasores teve resposta positiva e
revelou-se de grande eficácia. No terreno, as forças governamentais com apoio
de militantes do Hezbollah, recuperaram território e cidades perdidas para os
terroristas. Paralelamente os curdos da Síria fizerem o mesmo, de forma
articulada, apesar de informal.
Esta tese do
atentado visará conter a acção da aviação russa contra o ISIS. É de ter em
conta que no início desta operação, uma mensagem atribuida ao ISIS ameaçava a
Rússia de atentados por se ter envolvido na sua liquidação. Mas o governo
russo, além de negar que se possa concluir que foi um atentado que provocou a
queda do seu avião, aprofundou a sua acção contra o ISIS.
Um dia destes o
Milhazes, ignorando uma vez mais isto tudo, cavalgando a tese do atentado no
caso do avião russo abatido no Egipto, ainda faz o paralelismo com a
intervenção soviética no Afeganistão, procurando aí pasto, para fazer aos
microfones apelos ao descontentamento popular na Rússia...
Por outro lado, o
resultado das eleições turcas, com práticas identificadas como fraudulentas
pelo Conselho da Europa e a OSCE, sem que ambas as instituições tenham
contestado os seus resultados. E isto apesar do chefe da delegação do Conselho
da Europa, Andreas Gross, ter afirmado "A campanha eleitoral foi
infelizmente contaminada pela
iniquidade e, em certos casos, pelo medo". E de Margareta Cederfelt, chefe
da delegação parlamentar da OSCE ter vincado que " As violências
no sudeste do país, de maioria turca, pesaram fortemente no escrutínio e as
recentes agressões e prisões de candidatos e militantes, nomeadamente do HDP,
são preocupantes na medida em que ou refrearam a sua possibilidade de fazer
campanha. Para que um processo eleitoral seja realmente democrático, os
candidatos devem ter o sentimento que podem fazer a campanha, e os eleitores,
por seu lado, podem chegar às urnas com toda a segurança ".
É significativo que a primeira
medida tomada pelo governo autocrático, depois destas eleições, tenha sido o
bombardeamento das posições curdas do PKK, solidário com a acção contra o ISIS.
Ao mesmo tempo está a exigir uma revisão constitucional
para obter o reforço dos poderes do
chefe do Estado, passando o essencial do poder executivo das mãos do
primeiro-ministro para as do presidente. Apesar de
ter recuperado a maioria absoluta, o AKP de Erdogan precisa ainda de 13
deputados que lhe viabilizem o referendo constitucional e tem vindo a avisar os partidos da oposição para
colaborarem com este objectivo.
E tudo isto, meu filho, um dia será teu (Daesh é o termo usado por franceses, e não só, para o ISIS, designação por que ficou conhecido o Estado Islâmico, depois de invadir a Síria) |
O carácter perturbador da posição turca reside, como é sabido, no facto de os terroristas do Estado
Islâmico (ISIS) terem tido até aqui em território turco os campos de
treino, com logística cedida pelo governo de Erdogan, armas cedidas pela Arábia
Saudita, inteligência e meios de combate mais sofisticados por Israel. E terem
vivido vendendo a preços vantajosos o petróleo dos poços que roubaram na zona
nordeste da Síria.