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sexta-feira, 2 de março de 2018

“Ninguém quis falar connosco. Ninguém nos quis ouvir. Pois ouçam-nos agora”, por António Abreu

Face aos perigos aumentados de guerra, a Rússia dirigiu-se aos EUA e UE “Ninguém quis falar connosco. Ninguém nos quis ouvir. Pois ouçam-nos agora”.
A exibição Por Putin da força militar russa ontem não foi um acto de provocação ou de intenções de desencadear de uma agressão. Quem conhece a Rússia e o seu povo sabe que os dirigentes russos, com grande apoio popular interno, procuram uma intervenção global baseada na cooperação, na não ingerência e na paz, mesmo quando a Rússia é vítima de um bloqueio feroz.
 
 
E não se encontrem nos casos Crimeia e da Síria argumentos ad contrario. A integração da Crimeia de novo na Rússia ocorre por vontade da sua população, quando a população de origem russa da Ucrânia, depois do golpe fascista saído dos movimentos da Praça Maidan, começou a ser perseguida, marginalizada e vítima de atentados, estando uma importante esquadra russa há décadas situada na península da Crimeia no Porto de Sebastopol. A intervenção na Síria resulta de um pedido do governo eleito deste país, face a uma guerra de agressão que dura há quase 7 anos, realizada por grupos terroristas, sob a orientação dos EUA, países da UE e Israel, e que conta já com a ocupação de algumas zonas pelos EUA e Turquia.
A diabolização da Rússia ultrapassa por vezes o que os EUA fizeram contra a então URSS durante a guerra fria.
Esta afirmação de força não vem, pois, na esteira de uma pretensa atitude belicista da Rússia. Bem pelo contrário. Acumulam-se os sinais de que os EUA, a UE, com o apoio da Arábia Saudita e emiratos, de Israel e, mesmo, da Turquia em fazer soar bem alto os tambores da guerra. Na Síria, com um olho para o Líbano, no Iraque, com um olho para as repúblicas ex-soviéticas da Ásia Central, no Afeganistão, com um olho para a China, em África no Sahel com a intervenção militar dos G5, dirigida pelos EUA, e uma nova intervenção no Norte de África, no Brasil, caminhando de novo para um regime militar de direita, na elevação do tom com a China, etc.
Nos dias que vão correndo há que estar atento a estes sinais.
A intervenção ontem de Putin ocorre neste quadro e começou por chamar a atenção para que o complexo militar e de segurança dos EUA criou estruturas em todos os estados, que a campanha russofóbica contamina a opinião pública americana.
Putin revelou uma superioridade nuclear em relação aos EUA, que a encara como factor de defesa e não de agressão, defendendo uma interacção construtiva e normal com os EUA e a UE.
Afirmou que a propaganda e a tentativa de cercar a Rússia e de a conter tinham falhado. Alertou os europeus para a estratégia norte-americana e criticou a intervenção idiota do MNE inglês contra o seu país.
E rematou “Ninguém quis falar connosco. Ninguém nos quis ouvir. Pois ouçam-nos agora”.

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