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sábado, 17 de março de 2018

Os "rebeldes moderados" de Ghouta, por Thierry Meyssan (voltairenet.org)

 
Enquanto as forças da República Síria e da Rússia estão a libertar Ghouta Oriental e uma média de 800 sírios por hora estão a fugir para Damasco, publicamos este estudo sobre os combatentes designados pelos "ocidentais" como "rebeldes moderados". Os meios de comunicação "ocidentais" dizem que a Síria e a Rússia estão a esmagar estes democratas corajosos em Ghouta oriental…
De acordo com os governos inglês e francês, seriam três grupos armados: o Exército do Islão, a Legião Rahman e a Ahrar al-Sham.

 Mas de acordo com a Síria e a Rússia, essas três denominações não designam ideologias separadas. Essas três entidades na verdade não defenderiam uma idéia da Síria, mas os interesses de seus patrocinadores. Reagruparam-se de acordo com a Resolução 2401 do Conselho de Segurança e com os ataques que têm realizado.
Muitos são os números de soldados de cada um desses grupos que têm circulado bem como sobre o número de habitantes de Ghouta Oriental. Na realidade, nenhum desses dados é verificável, chegando a ONUa abandonar essa quantificação. Se os civis presentes no local são verdadeiramente sírios, não se conhece a nacionalidade dos combatentes. É certo que alguns são sírios, frequentemente perseguidos pela Justiça, mas muitos outros são estrangeiros (que, por definição, não podem ser "rebeldes"). Novamente, as estimativas não são verificáveis.

 Há apenas duas coisas que sabemos ao certo sobre esses grupos:
- Primeiro, as armas de um deles, o Exército do Islão, em 2015. Este é obviamente um pouco antigo, mas é verificável graças ao vídeo de um desfile militar organizado por seu líder, em Ghouta, em 2015. Este grupo participa nele com 4 blindados e quase 2 mil homens, ou seja, 10 vezes menos combatentes do que aqueles que afirma ter.
https://www.youtube.com/watch?v=Bi_DBfq18mc
- E, por fim, conhecemos esses grupos através de sua comunicação: logotipos, bandeiras, sites, contas do Twitter, porta-vozes.
 
Exército do Islão (Jeish el Islam)

 Jeïch el-Islam, ou seja, o Exército do Islão, é o único destes grupos a ter uma presença local. Foi criado em setembro de 2013 pela família Allouche, de outro grupo, a Brigada do Islão, um gangue que impõs a sua lei aos comerciantes de Ghouta, não hesitando em executar publicamente aqueles que desafiaram o seu poder.
Foi inicialmente comandado por Zahran Allouche, filho do pregador Abdallah Allouche, um refugiado da Irmandade Muçulmana na Arábia Saudita. De 2009 a 2011, foi preso por pertencer à Irmandade da Irmandade Muçulmana. Foi libertado numa amnistia geral decretada pelo presidente al-Assad a pedido de países terceiros. Durante vários anos, Zahran Allouche aterrorizou os habitantes de Damasco declarando que iria "limpar" a cidade. Anunciava todas as sextas-feiras [1] os ataques ele iria cometer contra a capital. Em 2013, sequestrou famílias Alauitas [2] em Aadra. Recporreu ao uso de escudos humanos e percorreu fez desfilar uma centena de alguns destes em gaiolas, antes de executar esses homens para que se pudesse saber o destino que reservava aos "infiéis". Após a sua morte, um empresário, Sheikh Isaam Buwaydani, sucedeu-lhe segundo o "Abu Hamam".
O primo Mohammed Allouche, tornou-se famoso por reprimir os costumes.Criou o Conselho Judicial Unificado, que impôs a versão saudita da lei da Sharia a todos os residentes em Ghouta. Organizou, nomeadamente, execuções de homossexuais, lançadas do telhado de edifícios. Representa o grupo nas negociações da ONU em Genebra.
A família Allouche está agora confortavelmente instalada em Londres.
Quando foi criado, o Exército do Islão reunia cerca de cinquenta pequenos grupos. Numa declaração amplamente divulgada na Ásia, apresentou-se como o defensor dos muçulmanos e pediu aos muçulmanos de todo o mundo para se juntarem a ela e fazer a jihad (guerra santa) na Síria.Em julho de 2017, o Exército do Islão, após uma mediação egípcio-saudita, concordou em reconhecer Ghouta Oriental como uma "zona de desescalada" sob controlo russo.
Conta do Twitter em inglês:
https://twitter.com/islamarmy_eng3
Site: https://twitter.com/islamarmy_eng3
O canal do YouTube acabou por ser fechado.
 
Faylaq al-Rahman ("A Legião do Todo-Misericordioso")

 Grupo mercenário do Qatar, do qual recebe armamento moderno, especialmente RPG (lançadores de granadas). É praticamente composto por estrangeiros.
 
 













Ahrar el-Cham (Movimento Islâmico dos Homens Livres do Levante)

 Harakat Ahrar al-Sham al-Islamiyya, abreviadamente como Ahrar al-Sham. "Homens livres" não se referem aqui à "liberdade" no sentido ocidental do termo.
Não se libertaram de uma ditadura, mas foram libertados da sua condição humana praticando o Islão salafista. Para que não haja dúvida sobre a interpretação da palavra, aparece um minarete no logotipo do grupo.
Este grupo, muito internacionalizado, foi criado pelos egípcios quando do derrube de Hosni Mubarak pelos Estados Unidos [3]. Irmãos muçulmanos sírios, que foram presos por pertencerem a uma organização terrorista, se juntaram-se a ele depois de indultados em 2011 a pedido de países terceiros. Entre eles, vários ex-colaboradores de Osama Bin Laden no Afeganistão, que passaram para a Iugoslávia. Isso explica sua proximidade com os talibãs, que muitas vezes os citam como um exemplo de fé.
Em todas as suas publicações, define-se como um "movimento islâmico completo, lutando por Allah e defendendo a religião".
O grupo é comandado por Hassan Soufan, conhecido como "Abu al-Bara", que foi preso por dez anos por pertencer à Irmandade Muçulmana.
O ministro dos Negócios Estrangeiros deste grupo, Labib al-Nahhas, viaja para o Ocidente. É um oficial britânico do MI6 (espionagem britânica). Em julho de 2015, patrocinava tribunas livres no Washington Post e no Daily Telegraph.
O grupo é apoiado pelo Qatar e pela Turquia. É considerada uma organização terrorista pelos Emiratos Árabes Unidos.
Site:
ahraralsham.net
Conta no Twitter: https://twitter.com/ahrar_alsham_pt
CanaldoYouTube: https://www.youtube.com/cha…/UCCAgcKXwipFldow9ipQH2oA/vídeos
 
Pontos em comum nestes três grupos

 Não têm entre si diferenças ideológicas. Todos se reclamam do pensamento da Irmãos Muçulmanos [4]. Para eles, a vida diária é dividida entre o que é lícito do ponto de vista do islamismo e o que não é.

 Há, no entanto, diferenças entre os três grupos sobre devem tratar pessoas que não compartilhem os seus pontos de vista. Seja como for, não há ninguém que viva sob o seu domínio sem ser sunita.
Como todos os combatentes da "revolução islâmica", os seus homens geralmente mudam frequentemente de grupo e esses grupos lutam entre si ou se aliam com freqüência. É absurdo tirar daqui conclusões fundamentais. No máximo, podemos ver conflitos territoriais entre seus líderes e oportunidades para seus soldados.
Todos estes grupos e inúmeros outros têm bandeiras e logotipos bem projetados, bem como vídeos de qualidade. Todo este material de comunicação é fabricado pelo Reino Unido. Em 2007, este tinha uma unidade de propaganda de guerra, a Unidade de Informação e Comunicação da Pesquisa (RICU) liderada pelo oficial do MI6 (Serviço Secreto) Jonathan Allen.

O oficial os serviços secretos britânico e encarregado de negócios de Sua Majestade, Jonathan Allen, dando uma conferência de imprensa na ONU na companhia do seu aliado privilegiado, o embaixador de França, François Delattre.

A partir do caso de armas químicas no verão de 2013, a RICU financiou uma empresa externa para auxiliar a comunicação dos combatentes na Síria (e, posteriormente, no Iémen). Inicialmente, foi a companhia Regester Larkin, depois a Innovative Communications & Strategies (InCoStrat). Ambas as empresas são dirigidas pelo oficial do MI6, coronel Paul Tilley.
Jonathan Allen, cuja graduação não conhecemos, tornou-se número dois na representação permanente do Reino Unido nas Nações Unidas. É ele que tem actualmente o encargo de conduzir o Conselho de Segurança contra a Rússia e a Síria.
 
[1] A sexta-feira é o dia da oração para os muçulmanos.
[2] Os Alauitas são sírios que, depois de praticar uma religião antiga, se converteram sucessivamente ao cristianismo, depois ao islamismo xiita. Para eles, apenas os elementos atestados pelos Evangelhos (e não pela Bíblia) e pelo Alcorão podem ser considerados como a Palavra de Deus.
[3] Hosni Mubarak não foi derrotado na rua ("Praça Tahrir"), mas pelos Estados Unidos. Demitiu-se por ordem do enviado especial do presidente Obama, o embaixador Frank G. Wisner (sogro de Nicolas Sarkozy).
[4] A Irmandade Muçulmana é uma sociedade secreta que forneceu quase todos os líderes de grupos terroristas islâmicos em todo o mundo. Leia obrigatoriamente o meu estudo sobre a sua história e o seu papel político internacional ao serviço do Reino Unido em Under Our Eyes: do 11 de setembro a Donald Trump, Demi-Lune, 2017
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Tradução do editor

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