As reflexões que se seguem não são novas mas foram-me suscitadas a propósito de uma conversa com um
cidadão, futuro eleitor no dia 4 (que espero que acabe por votar bem).
Os direitos sociais, económicos e culturais são três das vertentes da
democracia tal como uma boa parte da esquerda a entende. Não foi sempre assim.
A democracia foi encarada como o direito de propriedade pelo menos até ao final
da 1ª Guerra Mundial, e quando muito como o direito de votar em eleições muito
limitadas nas capacidades de eleger e ser eleito e no direito de propaganda
política sem discriminações.
Por influência da Revolução Socialista de Outubro e de fortes
movimentos sindicais e intelectuais nesse sentido, é que as vertentes sociais,
económicas e culturais passaram a ser consideradas no mundo capitalista, e
ainda assim de forma limitada. A liberdade económica que começara por ser o
direito mercantil da burguesia, acabou por ser uma livre concorrência, em que
esta era condicionada pela concentração capitalista, financeira e monopolista,
e mais tarde se alienou na especulação crescente que retirou o homem e a
economia do centro da vida dos países capitalistas, para dar lugar à
especulação bolsista. A liberdade sindical foi exercida e suportada por fortes
lutas de classe. A liberdade cultural tornou possível, para além de novas
expressões da cultura popular, o consumo, de forma diferenciada, de acordo com
as classes sociais. A liberdade política passou a existir não apenas em
eleições mas na capacidade, conquistada a pulso, da existência permanente de
associações, e nos movimentos de direitos das mulheres.
A 2ª Guerra Mundial consolidou essas vertentes da liberdade pela
observação de como elas eram progressivamente realizadas de forma progressista
na nova Europa socialista de leste. Os dois blocos entraram numa emulação nem
sempre positiva mas que colocaram o campo socialista, entretanto alargado à
China e a Cuba e mais tarde ao Vietname, numa posição cimeira em diversos
planos da vida internacional.
O peso das ideias de esquerda na vida cultural, as diversas vertentes da liberdade, a luta contra o fascismo, a consolidação e
apuramento ideológico dos sindicatos, um longo período de paz assente na
coexistência pacífica e na contenção na corrida aos armamentos, a consolidação
de empresas de dimensões diversas, a criação do Estado Social, assente nas
funções sociais do Estado, com destaque para o Ensino, a Saúde e a Segurança
Social públicas. As descolonizações sucederam-se. O Programa do MFA de 1974 e a Constituição de República de 1976 expressam bem essa dinâmica de novas realidades.
Depois da derrocada do socialismo a leste, Hayek, patriarca do
neoliberalismo, alertou para o facto de que a teorização e a presença no
Ocidente destes direitos remetiam à influência, por ele considerada nefasta, da
"revolução marxista russa".
Ele sabia o que estava a dizer como o sabiam outros que lhe executaram
as ideias como Ronald Reagan, Margaret Thatcher, João Paulo II (depois da
estranha morte do antecessor).
As guerras regressaram em força deslocando milhões de pessoas no
planeta.
O significado histórico da Revolução Russa de 1917 é hoje recuperado ao
longo deste mesmo planeta, mesmo que as pessoas já não relacionem as conquistas
civilizacionais que, em parte se mantêm e fazem parte da estrutura mental de
muita gente, nomeadamente entre a juventude.
Só recearia o futuro se perdesse as minhas raízes, todo esse capital
histórico e não tivesse uma grande confiança nas mais jovens gerações.
Tem de ser!!!
ResponderEliminar