O reforço progressivo de meios bélicos na Ucrânia ao longo deste ano é enorme e continua nestes dias. A sucessão de supostas ameaças da Rússia, fabricadas pelos serviços de informação ocidentais, e de ameaças contra a Rússia não param.
Os
EUA, a NATO e UE têm-se desdobrado em ameaças de sanções reforçadas contra a
Rússia em caso de intervenção desta na Ucrânia. Mas são sanções que ela
tornearia eficazmente e que refletem tão só algumas linhas de recuo
relativamente à “resposta” militar à “invasão” russa da região do Donbass…,
leitmotiv da crispação entre o Bem e o Mal, como nas estórias mais mal contadas
às criancinhas…
A chamada “revolução laranja”, de facto um golpe de natureza
fascista, de 2014, em Kiev, capital da Ucrânia, traduziu-se na tomada do
aparelho de estado, em termos violentos, por paramilitares organizados em
partidos declaradamente nazis e, de imediato aos habitantes de origem russa ou
que falassem russo, o que provocou inclusivamente a tentativa de habitantes do
Donbass se deslocarem do Donbass para Kiev para protegerem os direitos dos
habitantes de origem russa na parte ocidental do país. O novo poder em Kiev
desencadeou uma linha de ataque contra o Donbass (região que inclui Luhansk e
Donetsk), que reagiu criando meios próprios de defesa. É significativo que os
partidos fascistas do golpe de Maidan tivessem como referência histórica o chefe
dos nazis ucranianos que se aliaram aos nazis alemães, Stepan Bandera, que
cooperou nos progrons antissemitas, e que tenha sido com o governo saído do
golpe que EUA e UE andaram ao colo enquanto se realizavam perseguições contra os
habitantes de origem russa.
Neste quadro, a Crimeia aprovou em consulta popular,
de resultados esmagadores, a integração na Federação Russa dias depois aceite
pela Duma russa. Luhansk e Donetsk seguiram-lhe o exemplo, mas a Federação Russa
já não aceitou a integração.
Esta situação não se alterou substancialmente desde
então. Nestes sete anos as condições económicas na Ucrânia agravaram-se muito, o
neoliberalismo levou a alterações dramáticas e aventureiras na actividade
produtiva, no emprego, na precarização das condições de trabalho e no
alastramento da corrupção. A miséria subiu muito no país.
Questão de particular
importância tem sido o esforço das administrações norte-americanas desde Obama
para “libertar” a Europa da sua dependência do gás russo. Para elas a Ucrânia
não deveria aceitar que a nova conduta de gás natural da Rússia (Nord Stream 2)
atravessasse o seu território, evitando a repetição do atravessamento da Ucrânia
pelo anterior gasoduto, principal fonte de abastecimento da Europa. No ano
passado 45% do consumo de gás natural na UE provinha da Rússia. A perda desse
novo atravessamento faria a Ucrânia perder milhares de milhões de dólares de
rendimentos. Porém as intenções dos EUA nada têm a ver com os interesses vitais
da Ucrânia. O seu grande objetivo é travar a construção para poder exportar mais
do seu próprio gás natural liquefeito (LNG, na sigla em inglês) para a Europa.
Em abril de 2016, o porto de Sines foi o primeiro a receber um navio-tanque de
LNG vindo dos EUA…
A NATO e os EUA desejariam a entrada da Ucrânia para a
organização. Mas a Rússia tem-se oposto a que se permita a outros países da NATO
juntarem-se aos que já têm fronteira com a Rússia: Noruega, Estónia, Letónia,
Lituânia, Polónia e a Turquia. Quer a questão do Nord Stream 2 quer a da
eventual entrada da Ucrânia dividem os países ocidentais e não devem integrar
uma frente comum contra os interesses da Rússia.
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