Algumas das conclusões
As conclusões da COP 26 traduzem-se
num progresso quanto à definição de
responsabilidades que daqui por um ano poderão ser revistas e avaliadas, se
o percurso está a ser compatível com manter o acréscimo de temperatura nos +
1ºC, acima dos registados antes da revolução industrial, até 2040.
A aprovação de um «livro de regras» sobre todos os
aspetos de aplicação do acordo era essencial, bem como a necessidade de um
consenso em torno de atualizações anuais, em vez dos cinco anos das CND
(contribuições nacionalmente determinadas) de todos os países, como forma mais
eficaz de sincronizar os compromissos nacionais com o espírito da COP 25, de
Paris.
Os países menos desenvolvidos
são os mais afetados e os menos preparados para resistir às alterações
climáticas. É uma difícil transição energética, que os países mais ricos
têm outras condições para percorrer. O acordo de Paris reconhecia a necessidade
de os países mais ricos contribuírem com financiamento foi um dos pontos de
maior discórdia. O texto final da COP 26 regista "com preocupação"
que o financiamento climático para medidas de adaptação "continua a ser
insuficiente", já que não foram cumpridos os compromissos de mobilizar 100
mil milhões de dólares em 2020. O Pacto "incita" os países
desenvolvidos a duplicar o financiamento até 2025.
Importa ter sempre em conta que a “crise climática” é uma das crises que o
capitalismo provocou, que as emissões que levam ao cálculo do número 1.5ºC
contêm valores acumulados dos países ricos, há muito mais tempo que os países
pobres que, por sua vez se apresentam com maior fragilidade no enfrentar os
desastres naturais nos dias de hoje.
Também foram discutidos os apoios
para catástrofes reais provocadas pelas alterações climáticas, as perdas e danos. Foi reiterada a
urgência de aumentarem os apoios, financeiros e de tecnologia, para minimizar e
enfrentar as perdas e danos, reforçando também parcerias entre países ricos e
pobres.
Para se cumprir com limite de
1,5º C até 2030, ficou consagrado o conselho do IPCC de que são necessários cortes de emissões de 45% até 2030, relativamente
às de 2010 (mitigação).
O livro de regras destinadas a ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2), também impede por exemplo a dupla contagem do carbono (pelo vendedor e comprador).
A COP 26 fala pela primeira vez na questão dos combustíveis fósseis. Um rascunho inicial apelava aos países para que acelerassem a eliminação gradual dos subsídios ao carvão e aos combustíveis fósseis (sem referência explícitas ao petróleo e gás natural), mas o texto final aprovado, apesar dos protestos da EU, da Suíça e mais alguns países, refere "intensificação dos esforços" para reduzir o carvão e eliminar os subsídios a combustíveis fósseis.
A China e os EUA na COP
26
Ora não é que, no dia 10, a China e os EUA - que representam quase 40%
das emissões mundiais de carbono - reconheceram que há uma lacuna entre os
esforços atuais e os objetivos do Acordo de Paris. Por isso, os dois países vão "fortalecer em conjunto a acção climática".
Uma declaração do Ministério de
Ecologia e Meio Ambiente chinês refere que os negociadores concordaram em
melhorar a implementação do acordo climático de Paris de 2015, bem como novas medidas baseadas no "princípio de responsabilidades comuns,
mas diferenciadas e respectivas capacidades."
Os EUA comprometeram-se a atingir
emissões líquidas de carbono zero até 2050. A China atingirá o pico de emissões
antes de 2030 e as eliminará até 2060, o que, segundo eles, representa a
transição mais rápida do carbono de qualquer grande economia. Os dois são
atualmente os maiores emissores de gases de efeito estufa, embora a produção per capita da China seja a metade da dos
EUA e também tenha um histórico muito mais curto de atividade intensiva em
carbono.
Falando da declaração conjunta,
Xie disse que abrange áreas como a implementação
da tecnologia de captura de carbono, electrificação da economia, novas medidas
para prevenir o desmatamento global e redução das emissões de metano. O
metano, que é até 86 vezes mais potente do que o dióxido de carbono como gás de
efeito estufa, é uma questão especial para causar o maior impacto nesta década.
A China disse que vai produzir um plano de ação nacional para conter a sua
descarga no meio ambiente.
O apoio aos países em desenvolvimento
tem sido um ponto crítico particular na última ronda de negociações sobre o
clima, com uma promessa de 100 mil
milhões de dólares em fundos anuais, que não foi concretizado. A China
disse que havia concordado com os negociadores dos EUA em realçar a importância
de cumprir essa meta.
Falando numa conferência de
imprensa separada, o representante dos EUA, John Kerry, disse que o acordo representa uma determinação de não
permitir que as tensões entre Pequim e Washington ameacem a saúde do planeta. E
acrescentou, procurando fazer ironia “Os
Estados Unidos e a China não têm falta de diferenças entre si”, acrescentou.
"Mas, no que diz respeito ao clima,
a cooperação é a única maneira de fazer esse trabalho."
A aprovação de um «livro de regras» sobre todos os aspetos
de aplicação do acordo era essencial, bem como a necessidade de um consenso em
torno de atualizações anuais, em vez dos cinco anos das CND (contribuições
nacionalmente determinadas) de todos os países, como forma mais eficaz de sincronizar
os compromissos nacionais com o ciclo de ambição de Paris.
Nesta declaração de ambos os
países, ambos reiteraram que observarão o acordo climático de Paris para manter as temperaturas abaixo de dois
graus.
Eles concordaram em acelerar a redução das emissões verdes e de carbono,
trabalhando em conjunto com outros países.
A China e os Estados Unidos
também chegaram a um consenso sobre o
financiamento do clima e as contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) de
Paris (fundos de apoio aos países com dificuldades em cumprir com a transição
verde).
Ambos manterão um diálogo
político sobre as energias renováveis num esforço para reduzir o poder do
carvão.
Alguns pontos nos ii
de
os países mais poluentes serem a China, a India, os Estados Unidos e a
Federação Russa. Só um jornalista inculto pode aceitar tais
afirmações que são baseadas apenas na emissão total de CO2 sem ter a linha de
conta o número de habitantes desses países.
Os valores per capita destes países são, respectivamente, e referindo-se
a toneladas de CO2 emitidas em 2018 (dados do Banco Mundial), a China 7.4, a
India 1.8, os EUA 15.2, e a Federação Russa 11.1.
Isto é, os EUA produzem o dobro
das emissões da China, mais oito vezes que a India, ou mais um terço que a
Rússia.
Não nos referimos a outros
países, como vários países árabes que chegam a emitir o mesmo ou muito mais que
os EUA…
Depois existem os que debitam opiniões falsas, como é o caso (incurável) de Tereza de Sosa que no Público deste último domingo escreveu “Não foi por acaso que Xi e Putin não encontraram tempo para se deslocar a Roma, para o G20, e a Glasgow, para a COP26. Não admitem ser confrontados, nem nas salas das reuniões, nem nos protestos e nas denúncias das ruas” ...
Será que a jornalista estava à
espera de grandes refregas entre manifestantes e dirigentes de alguns países?
Outros apontamentos
Ao longo da última semana foram discutidos três rascunhos das conclusões. Mas até se chegar à
aprovação em plenário das delegações dos vários países, ainda houve mais dois rascunhos, em consequência das negociações por grupos de países que não se reviam em versões anteriores e até no plenário de aprovação, um grupo de dezenas de países, representado pela India, e onde se incluíam a China, os EUA, a Rússia, com sérias reservas da UE, Suíça e outros.
Se a Conferência de Paris de 2015 definiu metas importantes - nalguns
casos de longo prazo -, o que é certo é que não foram definidas as acções que
se foram desenvolvendo, por opção de cada país, e os CND (Contribuições
Nacionalmente Determinadas) por eles apresentados, analisados ao longo deste
ano, foram de modo a que o Secretário-Geral da ONU falasse na abertura desta
conferência de estarmos “no caminho para
um desastre climático”. De facto,
foram seis anos em que só alguns países definiram um planeamento de acções de
transição energética que executaram.
Se a COP 25, de Paris, popularizou metas a atingir, terminando em
grande confiança, ao longo de 2021 foram-se acumulando presságios que geraram
um clima de desespero que persistiu até ao final da COP 26.
E nos primeiros dias da
conferência, Joe Biden, John Kerry e
Barack Obama criticaram a Rússia e a China por subestimarem a conferência
pela ausência física dos seus presidentes, pouco se importando com o facto da
generalidade dos países presentes não seguirem tal narrativa.
Foi lamentável a criação de um ambiente visando atribuir
responsabilidades por eventuais resultados negativos, omitindo o contributo dos
EUA para isso. E omitiram o trabalho feito por centenas de técnicos de
ambos os países e de muitos outros países, incluindo dos EUA. Foi um trabalho de
negociação, procurando harmonização de compromissos nos temas mais difíceis,
procurando mais metas de curto prazo do que encher a boca com as metas de longo
prazo.
Nesta COP 26, ficou claro ser
importante passar do diagnóstico para a
“prescrição”. As alterações climáticas têm soluções. Mas ninguém nos vai dar um novo ambiente. Vai ter que se trabalhar para isso
mudando políticas e paradigmas, planos e prescrições. Assim se prosseguirão caminhos de progresso,
longe do simples diagnóstico e em direção a soluções viáveis de serem
trabalhadas.
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