Tal como na COP 25, nesta COP 26 velhas ideias estão a ser traficadas, desconsiderando o esforço dos países em vias de desenvolvimento, das organizações ambientais e da discussão da calendarização do combate ao desastre ecológico e os objectivos e datas das acções que o possam conjurar.
Uma dessas situações é a luta política conduzida para ajudar a criar a ideia de que se a COP
26 fracassar, a responsabilidade seria dos políticos que não se teriam entendido.
Desde que Joe Biden foi eleito no
início do ano, passou a fazer guerra à China e Rússia. Isso hoje está presente
em múltiplos aspectos das relações internacionais. Biden também aproveitou a
oportunidade da COP 26 para meter veneno.
Joe Biden, no final do G20 expressou “decepção” com o facto de a Rússia e a China “não terem assumido quaisquer compromissos” para lidar com as alterações climáticas. E que, por isso, as pessoas se sentiriam desapontadas. Porém nem os EUA nem o G 20 assumiram compromissos no parar o financiamento a centrais eléctricas a carvão em países pobres e assumiram um vago compromisso de atingiriam a neutralidade do carbono por volta de meados do século.
Quer a China
quer a Rússia assumiram compromissos. E trabalharam desde a COP 25 de Paris
para os cumprir. Existem reflexões produzidas sobre as alterações climáticas
sentidas em ambos os países, que determinaram uma série de medidas para as
resolver. Que foram realizadas.
Biden mentiu. Mas os participantes nesta COP 26 têm estes relatórios.
A RTP e outros media em Portugal não se referiram a eles enquanto têm insistido na
mistificação, limitando-se a reproduzir sound bites de origens sem
credibilidade.
Apesar da ausência dos seus presidentes, quer a China quer a Rússia têm
poderosas delegações nesta conferência, estão a conversar com as outras partes,
a prepararem as posições comuns sobre diversas questões para serem assinadas.
Isso apesar de nem Xi-Jinping nem Putin se terem deslocado a Glasgow por razões
que foram conhecidas.
Declaração, de natureza completamente
diferente da de Joe Biden, foi a de Xi-Jinping na passada 2ª. feira. Quando se
trata de desafios globais como as mudanças climáticas, o multilateralismo é a
receita certa, disse Xi, destacando a importância da Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês), e seu Acordo
de Paris.
A China, o maior emissor mundial
de gases de efeito estufa na actualidade, entregou oficialmente, no passado dia
28, os seus novos compromissos climáticos.
Na sua nova "Contribuição
Determinada em Nível Nacional (NDC, na sigla em inglês)", Pequim
compromete-se a alcançar o seu pico de emissões "antes de 2030", e a
neutralidade de carbono, "antes de 2060". Estas metas mantêm-se
dentro do que já havia sido antecipado pelo presidente Xi Jinping.
Apresentadas no site da UNFCCC,
estas novas contribuições prevêem reduzir a intensidade de carbono (emissões de
CO2 em relação ao PIB) em mais de 65% em relação a 2005.
Na sua anterior NDC, a China
comprometia-se a reduzir a sua intensidade de carbono entre 60% e 65%, até 2030,
e a conseguir o seu pico de carbono "por volta de 2030".
Neste novo contributo, Pequim
lembra que os países desenvolvidos devem "assumir as suas
responsabilidades históricas e continuar a assumir, com clareza, a redução de
emissões".
A China também se comprometeu a
aumentar a participação de combustíveis não fósseis a 25% no seu consumo,
contra 20% na sua NDC anterior, em particular com o aumento de sua capacidade
instalada de energia solar e eólica para 1,2 biliões de kW até 2030, assim como
com o aumento florestal em 6 mil milhões de metros cúbicos em relação a 2005.
A nova contribuição da China,
responsável por mais de um quarto das emissões globais de gases de efeito
estufa, era, portanto, aguardada com ansiedade antes da COP26. O compromisso
chinês era especialmente aguardado, depois do anúncio pela ONU, na
segunda-feira, de que os novos compromissos climáticos assumidos nas últimas
semanas ainda conduziriam o mundo a um aquecimento "catastrófico" de
+2,7°C.
Não só os EUA mentiram quanto às metas da China, só publicando as suas, englobadas nas do G
20, um dia depois (29), da publicação pela ONU das da China (28), e, como
tinham feito até então, tentaram traficar a mentira impondo mais um anátema
contra este país. Mais, porque não foi ainda permitido à China apresentar uma
mensagem do seu presidente em vídeo?
Quanto à Rússia, Vladimir Putin, participa na cimeira de forma virtual, com mensagem que já foi emitida.
O país é o quarto maior emissor
de gases com efeito de estufa e pretende reduzir as emissões em 79% até 2050 em relação a 1990.
Moscovo procura ainda alcançar a
neutralidade carbónica até 2060.
Putin afirmou no G 20 que a
participação de fontes de energia neutras em carbono - nuclear, hidroelétrica,
eólica e solar – ultrapassou os 40% na Rússia. Se se contar com o gás natural,
que entre os hidrocarbonetos tem a menor pegada de carbono, essa participação
seria de 86%. É um dos melhores resultados do mundo.
(abro parêntesis para referir que
a comunidade internacional pode vir a considerar como não poluentes a energia produzida
pelas centrais nucleares e pelo gás natural).
Putin sugeriu que a comunidade
mundial precisa testar vários projetos climáticos em termos do seu impacto
líquido nas emissões por cada dólar de investimento, “Pode muito bem acontecer
que, por exemplo, a conservação das florestas na Rússia ou na América Latina
seja mais eficaz do que investir em energias renováveis em algumas nações".
Ele acrescentou que a Rússia não
apenas reduzirá as emissões de gases de efeito estufa na economia do país, como
investirá também em os capturar por meio de projectos de reflorestação,
preservação da natureza e melhoria da eficiência da agricultura.
A Rússia também sofreu taxas
altas de perda de cobertura arbórea em 2020, em grande parte devido a incêndios
na Sibéria. A Sibéria sofreu com temperaturas altas em 2020, incomuns para a
primavera e o verão, provavelmente devido à mudança climática, que ressecou
florestas e levou a incêndios intensos. Os incêndios também queimaram turfas
ricas em carbono, que estão habitualmente congeladas.
Além disso, a Rússia foi
explícita quanto ao esperar vantagens concretas em troca da cooperação em
matéria de mudança climática, inclusive na forma do levantamento de algumas sanções.
Os EUA são o
segundo maior emissor de gases com efeito de estufa e estiveram durante quatro
anos de costas voltadas para o clima, quando o ex-presidente Donald Trump
abandonou o Acordo de Paris. O país regressou ao acordo no início deste ano, no
próprio dia em que o novo presidente, Joe Biden, tomou posse.
Em abril, durante uma cimeira
sobre o clima, Joe Biden prometeu cortar as emissões de gases de efeito de
estufa do país em 53% até 2030 (relativamente aos níveis de 2005) e "passar a
liderar" a luta global contra o aquecimento global. Biden também estipulou como
objetivo descarbonizar a economia dos EUA inteiramente até 2050. Aguardam-se
ainda os seus compromissos para esta COP 26.
Em 2015, a Índia
tinha-se comprometido a cortar a intensidade carbónica em 33% a 35% até 2030 em
relação aos níveis de 2005, alcançando uma redução de 24% até 2016. O país
também se está a aproximar agora da meta de atingir cerca de 40% da produção de
electricidade com base em energias renováveis – uma meta colocada até 2030.
Aguardam-se a confirmação dos compromissos para esta COP 26.
Quanto à União Europeia,
os seus 27 Estados-membros apresentaram em Glasgow cinco novas medidas para
combater as alterações climáticas. Entre elas está a redução em 30%, e até 2030, das emissões de metano, um dos gases que mais contribui para o aquecimento
global (se bem que num tempo menor que o CO2, por exemplo), a atribuição de mais mil milhões de euros para a preservação das
florestas e o envio de cinco mil milhões até 2027 para os países mais
desfavorecidos combaterem as alterações climáticas.
Mas, estarão os compromissos dos
países alinhados com os objetivos a que todos se procuram ajustar? António Guterres, secretário-geral da Organização das Nações
Unidas (ONU), já respondeu a esta questão e é claro: os compromissos dos países
"são um caminho para o desastre". Afirmou também que há um
"défice de credibilidade e um superavit de confusão sobre redução de
emissões, com metas e métricas diferentes.
Apesar dos compromissos
assumidos, as concentrações de gases com efeito de estufa atingiram níveis recorde
em 2020, mesmo com a desaceleração económica provocada pela pandemia do covid-19, segundo a ONU, que estima que ao actual ritmo de emissões, as
temperaturas serão no final do século superiores em 2,7 °C.
Por isso, além dos mecanismos
estabelecidos no Acordo de Paris, anunciou, no primeiro dia da conferência, que
iria constituir um grupo de especialistas para propor padrões claros para medir
e analisar os compromissos de emissão zero de atores não estatais.
A forma como os EUA e Reino Unido
declaram ter conseguido “mobilizar mais de 450 instituições financeiras que se
comprometeram em deixar de injectar dinheiro nos combustíveis fósseis” é típico
de uma mentalidade administrativa que não se compadece com a diversidade de
percursos na transição energética de que diferentes países carecem. Atingir a
neutralidade carbónica pode ter de passar, em não poucos pelo uso de energias fósseis.
Foi muito positivo o acordo sobre as florestas.
A agência da ONU para a
Alimentação e Agricultura (FAO) estimava em 7/5/2020 que o ritmo de destruição
das florestas tinha descido de 7,8 milhões de hectares anuais na década de 1990
para 4,7 milhões de hectares entre 2010 e 2020 por causa da redução da
desflorestação em alguns países e o aumento da cobertura florestal em outros.
Segundo esse relatório da FAO, desde
2010, as maiores perdas aconteceram em África e na América do Sul. Entre 2015 e
2020, o ritmo de desflorestação situou-se nos 10 milhões de hectares por ano,
menos dois milhões do que nos cinco anos anteriores. No ano de 2015, perderam-se
98 milhões de hectares devido a incêndios, sobretudo nas zonas tropicais, onde
arderam 40% das florestas, sobretudo em África e na América do Sul.
Globalmente, existem 4.050
milhões de hectares de floresta, cobrindo um terço da superfície do planeta.
Mais de 90% das florestas regeneraram-se naturalmente, estima a FAO, que
analisou dados de 236 países.
Os dias da conferência, até ao seu encerramento no dia 12, permitirão novos acordos com discussões, trocas de experiências e ajustes de posições de forma a garantir parte da expectativa que ela criou no mundo.
A credibilidade perdida de
algumas previsões mais catastrofistas do passado, exigem compromissos assentes
em dados e previsões bem sustentados na realidade para não se repetiram
mentiras tão grosseiras como as produzidas por Al Gore no filme “Uma verdade
inconveniente” (2007), que ganhou um Oscar e fez do seu autor Prémio Nobel da
Paz…
Biden insiste em ser líder neste processo,
mas o resto do mundo encara-o como uma construção coletiva assente no
multilateralismo.
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