1.No passado dia 15 de Setembro, os
EUA, Reino Unido e Austrália anunciaram um tratado entre eles que criava o
AUKUS,…,explicitamente para combater a influência da China, ficando claro que
pretende ser instrumento de guerra nuclear contra este país.
O AUKUS não é apenas um cão
raivoso. Nem uma estirpe de vírus. Nem tão pouco uma variante pós-moderna de
monstros primitivos. Nem uma recriação de poderio perdido pelo Reino Unido
depois do Brexit através de uma nova “anglosfera”. Nem apenas o “tratado dos
submarinos nucleares. Nem apenas uma nova “NATO” para a região do
Indo-Pacífico. Mas poderá ter de tudo isso um pouco.
Nem é apenas uma punhalada da
Austrália à França com desvio de mais de 56 mil milhões de euros de um negócio
da França com a Austrália de venda de 12 submarinos para negócio semelhante,
mas com os EUA…É, sem dúvida, um negócio também tanto mais mafioso quanto a França
não terá sido consultada para a rutura do contrato e que fará entrar a
Austrália no domínio do armamento nuclear.
E também se anuncia como não tratando
apenas de dotar a Austrália com submarinos de propulsão nuclear, mas também de
a equipar com mísseis Tomahawk e Hornet, e de a fazer participar nas pesquisas
em matéria de mísseis hipersónicos, capazes de rivalizar com os mísseis
nucleares russos.
Já anteriormente tinha sido
lançado o Diálogo de Segurança Quadrilateral (QUAD) – integrado pelos EUA,
Austrália, Japão e Índia, também visando o confronto na região do
Indo-Pacífico.
Tal como o PCP referiu “a
agressividade do imperialismo, mais do que força, traduz debilidade face à
crise estrutural do capitalismo e ao declínio relativo dos EUA e de outras
potências capitalistas, que estes procuram contrariar por todos os meios” (1).
2.Numa primeira reacção, o
governo da China salientou que os EUA sancionaram noutras alturas e unilateralmente
outros países por desenvolverem tecnologia de enriquecimento de urânio, mas
pouparam a Austrália, o que certamente trará o risco de proliferação de
tecnologia nuclear e materiais nucleares e impactará o sistema internacional de
não proliferação nuclear.
O Primeiro-Ministro da China foi
taxativo: "Os submarinos nucleares são forças de segurança estratégicas
com capacidade para entregar armas nucleares. A ação da Austrália quebrará o
equilíbrio estratégico regional e transformará o compromisso assumido ao
assinar o Tratado de Zona Franca Nuclear do Pacífico Sul em letra morta"
(2).
Até agora, apenas os cinco
membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas dispunham de
submarinos de propulsão nuclear. A Índia tornou-se o sexto e a Austrália deverá
ser o sétimo.
A oposição ao projeto vem também
de organizações internacionais de cientistas, que dizem “esperar a proliferação
de tecnologia nuclear militar muito sensível nos próximos anos, com toneladas
de novos materiais nucleares em circulação, livre ou sem salvaguardas
internacionais, em rutura com o Tratado de Não-Proliferação Nuclear (TNP) que
apenas permite que países sem armas nucleares produzam urânio altamente
enriquecido para combustível de reator naval e que no entanto, o acordo para
transferir tecnologia de submarinos nucleares dos EUA ou do Reino Unido,
incluindo possivelmente urânio altamente enriquecido, foi descrito como um ato
de proliferação nuclear” (3)
A China e os restantes países da
ASEAN e de outros países da região ao longo do tempo, dotaram a região de
grande dinamismo, que se traduziu no crescimento mais rápido do mundo. No seu
seio vários países mantinham alguma tensão com a China nomeadamente na disputa
de fronteiras marítimas. O aparecimento do AUKUS aproveitou-se disso e avançou
para criar novas tensões regionais. Lançou uma sombra sobre a paz, estabilidade
e desenvolvimento da região. E dificultará a construção de uma zona livre de
armas nucleares no Sudeste Asiático.
A favor da AUKUS, além dos
autores, estão até agora Taiwan e as Filipinas. Os restantes países da região
estão contra ou mantêm um distanciamento crítico ou ainda não se pronunciaram.
3.O distanciamento da UE ficou logo expresso pela Presidente da
Comissão, Ursula von der Leyen, que
discursava sobre o Estado da União (no próprio dia de anúncio do Pacto AUKUS),
que declarou ter ficado “em choque”. Ela evocava, então, a sua nova estratégia
na zona do Indo-Pacífico, quando os britânicos lhe tiravam o tapete debaixo dos
pés…
Numa declaração posterior de Joseph Borrell foi por ele afirmado que
o desenvolvimento das relações com a China é uma agenda importante da UE e é
muito importante para os dois lados manterem uma comunicação próxima e
tranquila, disse o ministério. A UE, continuou ele, está disposta a trabalhar
com a China para se preparar para a próxima fase de intercâmbios de alto nível
entre as duas partes.
A UE sempre segue a política de
uma só China, que é uma pedra angular importante de suas relações com a China e
a UE não realizará intercâmbios oficiais com a região de Taiwan, disse ele.
Borrell acrescentou que o bloco
está pronto para continuar a fortalecer a cooperação com a China no combate ao
COVID-19, mudança climática e conservação da biodiversidade.
Emanuel Macron terá saído humilhado ao receber a carta do
primeiro-ministro australiano Scott Morrison a horas de ser anunciada a decisão
de cancelar o contrato firmado em 2016 para comprar 12 submarinos convencionais
do Grupo Naval da França em favor de submarinos nucleares construídos com
tecnologia dos EUA. Humilhado também o foi porque a França é a única nação
europeia presente na região com perto de dois milhões de cidadãos e mais de 7
mil militares…e porque os EUA mandaram às malvas…
Como se sabe, a França não está
restrita ao território europeu, antes dispondo de uma constelação de
territórios em todo o mundo, e faz dela o segundo maior domínio marítimo
mundial (depois dos Estados Unidos). Na região do Indo-Pacífico, ela possui os
departamentos da Reunião e de Mayotte, as comunidades da Nova Caledónia e da
Polinésia Francesa, o território de Wallis e Futuna, as Terras Austrais e
Antárcticas francesas (TAAF). O conjunto é habitado por 1,6 milhões de
franceses.
Para muitos analistas estes
factos levantam uma questão mais geral sobre a relação entre a Europa e os
Estados Unidos, que está a “afastar-se” e não parece importar-se muito com a opinião
“europeia”. O sistema de “consultas transatlânticas” está a entrar em falência
e afecta, uma vez mais, a já tão depauperada fiabilidade dos EUA entre os seus
“aliados” europeus.
Entre nós Nuno Severiano Teixeira, (só mesmo ele…) sempre ao dispor da
falcoaria atlantista, publicou um escrito que mais parecia um press-release da própria novel
organização. (4).
4. Este afastamento dos EUA de
decisores europeus faz emergir de novo as opiniões entre estes que, face aos
fracassos sucessivos da NATO, as estruturas e forças desta deveriam passar em
assumir em exclusivo o comando destas forças.
De novo a questão do exército europeu esbarrará na oposição
dos EUA e Reino Unido.
Mas este exército, face às
atitudes conhecidas dos estrategas militares europeus, traria uma acentuada
dependência da soberania, e alargaria o quadro das missões em que Portugal e
outros países teriam de participar.
Os principais dirigentes europeus
têm declarado que querem este exército para confrontar a “ameaça russa”, para
defender valores e direitos próprios da sua “civilização”.
Borrel celebrizou-se com as
entradas de leão contra a China, para logo sair delas, de sendeiro no jeito mas
não nas ideias.
E esta intervenção seria na maior
parte dos casos com fins não meramente humanitários, mas também de domínio de
riquezas minerais e outras e de controlo do território que poderia facilitar
intervenções de outros organismos internacionais contra governos locais,
afectando seriamente as soberanias. E isto não são suposições. Já tem sido
realizado nomeadamente em vários países do Sahel, à boleia do antigo domínio
colonial francês e das referências francófonas de uma parte do continente
africano. E os ingleses também intervêm noutras zonas “da sua influência”.
(1) Comunicado do Comité Central de 28/09/21.
(4) Publico, 06/10/21.
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