Número total de visualizações de páginas

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Bom fim de semana, por Jorge




"Every time man makes a new experiment,
he always learns more. He cannot learn less."
"De cada vez que fazemos uma nova experiência
aprendemos sempre mais, não podemos aprender menos."

Buckminster Fuller
Arquiteto e inventor americano
1895-1983

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A "leiteira", de Johannes Vermeer


 
A “leiteira”, de facto uma empregada de cozinha, é um dos quadros mais conhecidos de Vermeer, que terá sido pintada entre as datas de 1658 e 1661, e encontra-se em Amsterdão no Museu Rijks, onde já tive oportunidade de a ver.
Rembrandt e Vermeer são os pintores mais conhecidos desta época de ouro que foi o século XVII, na Holanda. Os quadros de Vermeer “são admirados pelas suas cores transparentes, composições inteligentes e brilhantes com o uso da luz".
Na “leiteira”, uma mulher de trabalho que lhe marca as feições e as mãos, têm-se ao longo dos anos adivinhado intenções e pensamentos
Vermeer nunca saiu da sua terra-natal, Delft, onde morreu muito pobre em 1675. A viúva viu-se na contingência, para obter uma magra pensão, de vender os quadros que ainda estavam na sua posse ao conselho municipal. Depois da sua morte, Vermeer foi esquecido por os seus quadros terem sido dispersos com a suposta autoria de outros pintores para lhes aumentar o valor comercial. Só em 1866, W. Burger viria a revelar a autoria de 75 quadros, dos quais só restarão 45.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Eis como a Presidência de Trump se irá desenrolar, por Pepe Escobar


Publicado na GlobalResearch em 21/01/2017,
E traduzido por Estátua de Sal, onde o fomos buscar, agradecidos

Nota: Este texto merece ser lido. Nele se tenta perceber quais as orientações da nova administração dos EUA, não em função da análise do carácter, da psicologia e dos discursos de Trump – que é apenas aquilo que os nossos comentadores sabem fazer e a maioria das pessoas sabe discutir, aderindo ou recusando -, mas sim em função dos profundos interesses e confrontos de ordem geopolítica e geoeconómica que se estão degladiar. Percam as ilusões aqueles que se ficam pela superfície das imagens e acham que Trump não passa de um pateta alegre, ou de um doido varrido. Mas ainda que ele o fosse, as gentes ocultas que o apoiam e comandam são tudo menos patetas ou alucinados. Tal como as gentes, também ocultas, que o atacam e que farão tudo para o destruir. Quem acha que a contenda principal é entre muros, piadas sexistas, misogenia e outros atributos de Trump, desengane-se. É pena que ainda tantos acreditem nisso.

Estátua de Sal, 23/01/2017

 


A era de Trump começa agora – com uma série de episódios plenos de suspense, ligados à geopolítica e à geoeconomia, iminentes e imprevisíveis.

Eu defendi que a estratégia de oposição do guru de Trump para a política externa, Henry Kissinger, ao poderoso trio de integração da Eurásia – Rússia, China e Irão – é uma mistura de dividir para reinar; seduzir a Rússia, afastando-a da sua parceria estratégica com a China, e acossar o elo mais fraco, o Irão.

Na verdade, é isso que está a acontecer – como se vê pelas ofensivas dos membros escolhidos para o gabinete de Trump durante suas audiências no Senado dos EUA. As fações dos EUA próximas do Think Tankland, defensores da política de Nixon para a China projetada por Kissinger, estão animadas com as possibilidades de contenção em relação a pelo menos um desses poderes “potencialmente virado contra a América.” Kissinger e o Dr. Zbig “Grande Xadrez” Brzezinski são as duas principais autonomeadas sumidades ocidentais – mestres fantoches – que se disputam na área da geopolítica. Em oposição a Kissinger, o mentor da política externa de Obama, Brzezinski, fiel à sua russofobia, propôs uma lógica de dividir para reinar, apostada na sedução da China.

No entanto, um influente homem de negócios de Nova Iorque, muito próximo dos reais e discretos Mestres do Universo, que previu corretamente a vitória de Trump semanas antes do fato, depois de examinar o meu argumento ofereceu-me não só uma avaliação mordaz dessas queridas sumidades; ele dispôs-se a detalhar-me como a nova normalidade será estabelecida, tendo sido negociada pelos Mestres diretamente com Trump. Vamos designá-lo por “X”.

 

A China em observação ininterrupta

“X” começa por dizer algo que aqueles que regularmente mantém ligações ao Deep State e que reverenciam os seus ídolos, nunca ousam dizer, pelo menos em público: “É importante não atribuir muita importância a Kissinger ou Brzezinski, pois eles são apenas fachadas para aqueles que tomam as decisões e o seu trabalho é recobrir e justificar as decisões com um refinamento de intelectualidade. O seu contributo não vale nada. Eu uso os nomes deles de vez em quando pois não posso usar os nomes daqueles que realmente tomam as decisões “. Está então aberto o caminho para” X ” detalhar a nova normalidade:

 “Trump foi eleito com o apoio dos Mestres para se inclinar para a Rússia. Os Mestres têm os seus instrumentos nos media e no Congresso mantendo uma campanha de difamação contra a Rússia, e têm o seu boneco Brzezinski também a pregar contra a Rússia, afirmando que ‘a influência global da América depende da cooperação com a China’. O objetivo é pressionar a Rússia para ela cooperar, colocando essas fichas negociais na mesa de Trump. Em termos de uma abordagem tradicional de polícia-bom, polícia-mau, Donald é retratado como o polícia bom querendo boas relações com a Rússia, sendo o Congresso, os media e Brzezinski os policias maus. Trata-se de ajudar Trump nas negociações com a Rússia supondo que Putin, à medida que for vendo o seu amigo numa posição mais ´precária´, estará disposto a fazer maiores concessões.”

E isso leva a explicar como é que Taiwan – e o Japão – entram em cena:

“Donald mostrou a sua inclinação para a Rússia conversando com os taiwaneses, de forma a demonstrar que a mudança é a sério. Mas foi decidido fazer entrar o Japão na peça como sendo um predador contra a indústria dos EUA, através de um ataque à Toyota, bem merecido. Isso moderou a nossa posição já que os Mestres recearam que a perceção de que estávamos a apoiar o Japão contra a China seria considerada uma provocação excessiva “.

Por isso, espera-se que a China – que “não tem demasiada importância”, como afirmou Kissinger – seja mantida sob controlo ininterrupto:

“Os Mestres decidiram reindustrializar os Estados Unidos e querem trazer de volta os postos de trabalho da China. Isso é aconselhável do ponto de vista chinês; por que razões devem eles vender seu trabalho aos EUA por um dólar que não tem valor intrínseco, não recebendo realmente nada pelo seu trabalho. Cada trabalhador chinês deve ter um carro na sua garagem e a China deve tornar-se num produtor de carros maior do que a UE, EUA e Japão combinados, mantendo a sua riqueza no seu próprio país “.

 

E porquê a China e não a Rússia?

“A Rússia, no que toca a este tema, é um país com muitos recursos naturais, com um gigantesco complexo industrial militar (sendo este o único motivo pelo qual é secretamente respeitada), mas está fora destas difíceis negociações, pois quase não exporta nada além de recursos naturais e equipamentos militares. Os Mestres querem os empregos de volta do México e da Ásia, incluindo do Japão, de Taiwan, etc., e isso é já visível no ataque de Trump também ao Japão. A principal razão subjacente a esta estratégia é que os EUA perderam o controlo dos mares e não podem defender os seus destacamentos militares durante uma grande guerra. Esta é a realidade que interessa ter em conta no momento presente e esta é a verdadeira história que se desenrola nos bastidores. “

 

Em poucas palavras, “X” resume o conteúdo da reversão de um ciclo econômico:

 “Os Mestres ganharam dinheiro com a transferência da indústria para a Ásia (A Bain Capital especializou-se nisso) e Wall Street ganhou dinheiro com taxas de juro mais baixas sobre os dólares reciclados dos défices comerciais. Mas agora, a questão é estratégica; eles ganharão dinheiro de novo com o regresso das indústrias que reduzirão os seus investimentos na Ásia devolvendo-os aos Estados Unidos, à medida que reconstruímos a produção aqui “.

” X ” continua a ser um grande admirador da estratégia de negócios de Henry Ford, e esse é o ponto que ele vai usar para trazer à baila um tema crucial: a defesa nacional. De acordo com “X”:

 “Ford dobrou os salários que pagou e ganhou mais dinheiro do que qualquer outro fabricante. A razão é que um salário mínimo mais elevado que permitiu à mulher ter muitos filhos, dependendo só do salário do marido, foi psicologicamente bom para o aumento da produtividade nas suas fábricas de automóveis, além de que permitiu aos próprios trabalhadores comprar-lhe os seus carros. Desse modo ele reconheceu que numa sociedade deve haver uma mais justa distribuição da riqueza, coisa que o seu admirador, Steve Jobs, não pode fazer.

A produção em série e a produtividade de Henry foi a maravilha que fez os Estados Unidos ganharem a Segunda Guerra Mundial. A Amazon não contribui em nada para a defesa nacional, sendo apenas um serviço de marketing na Internet baseado em programas de computador, nem o Google que simplesmente organiza e fornece melhor os dados. Nada disso constrói um míssil ou um submarino melhor, exceto de modo marginal. “

 

É o Pentágono, estúpido

Então sim; tudo isto tem a ver com a reorganização do poder militar dos EUA. “X” fez questão de se referir a um relatório do CNAS (Centro para uma Nova Segurança Americana), que citei na minha coluna inicial:

 “É muito importante o que se depreende do relatório. E é por isso que estamos em grande dificuldade por estarmos tecnologicamente atrás da Rússia em várias gerações de armamento, o que vem na sequência da afirmação de Brzezinski, que diz que já não somos uma potência global”.

Esta é uma análise completa e abrangente de como a Rússia conseguiu organizar as melhores forças armadas do mundo. E o relatório nem sequer leva ainda em conta o sistema de defesa de mísseis S-500, que agora está sendo ultimado e que, sem dúvida, vai fechar por completo a totalidade do espaço aéreo russo. E a próxima geração – S-600? – Será ainda mais poderosa. “X” aventura-se mesmo no território tabu do Deep State, referindo a forma como a Rússia, ao longo da última década, conseguiu posicionar-se muito à frente dos EUA, “eclipsando-o como o poder militar mais forte”. Mas a vantagem deles no jogo deve estar perto do fim – seja isso desejo auto- realizável ou seja lá o que for:

“Esperamos que o Secretário de Defesa James Mattis entenda isso e que o Secretário Adjunto de Defesa tenha as competências técnicas, a capacidade organizacional e de previsão para entender que as armas da III Guerra Mundial são mísseis ofensivos e defensivos, e submarinos, e não poder aéreo, tanques e porta-aviões. “

Um realista, “X” admite que o status quo neoconservador / neoliberal – representado pela maioria das fações do Deep State dos EUA – nunca abandonará a postura padrão de hostilidade incessante em relação à Rússia. Mas ele prefere concentrar-se na mudança:

 “Deixe Tillerson reorganizar o Departamento de Estado de acordo com a eficiência da Exxon. Ele pode ser válido nessa tarefa. Ele e Mattis podem parecer falhos de coragem mas se você disser a verdade ao Senado você nunca vai poder ser confirmado. Por isso, o que eles lá dizem não significa nada. Mas veja o que se passou no caso da Líbia. A CIA tinha um objetivo de empurrar a China para fora da África e por isso criou o AFRICOM (Comando dos EUA para a África). Esse foi um dos segredos da nossa intervenção na Líbia.”

Não que tal tenha tido sucesso; A NATO / AFRICOM transformou a Líbia num terreno baldio dirigido por milícias, e a China ainda não foi afastada do resto da África.

“X” também admite: “A Síria e o Irão são linhas vermelhas para a Rússia. Assim como o é o leste da Ucrânia a partir do Dnieper. “

Está também plenamente consciente de que Moscovo não permitirá qualquer ameaça de mudança de regime em Teerão. E está também ciente de que “os investimentos da China no petróleo e no gás iraniano implicam que a China também não permitirá o derrube por Washington do governo iraniano”.

As coisas vão tornar-se complicadas no que toca à NATO; “X” está convencido de que a Rússia: “invadirá a Roménia e a Polónia se os mísseis não forem retirados da Roménia e se o compromisso de aceitação de mísseis pela Polónia não for rescindido. A questão não são os mísseis defensivos não perigosos dos Estados Unidos, mas a possibilidade de os substituir por mísseis nucleares ofensivos nesses silos. A Rússia não tolerará esse risco. Esses mísseis não estarão sujeitos qualquer negociação. “

Em contraste com a “perpétua ameaça”, contínua propaganda do Partido da Guerra dos Estados Unidos, Moscovo dá é atenção aos factos reais que ocorrem no terreno desde a década de 1990; a rutura do histórico aliado eslavo, a Sérvia; a anexação pela NATO das nações do Pacto de Varsóvia e até mesmo de ex-repúblicas da URSS, para não mencionar as tentativas de incluir também a Geórgia e a Ucrânia; o apoio e a organização, pelos EUA, de revoluções coloridas; o fiasco “Assad deve ir”, na tentativa de mudança forçada do regime da Síria, incluindo inclusive o armamento de Salafi-jihadis; as sanções económicas, a guerra de preços do petróleo e os ataques ao rublo; o continuado assédio da NATO. “X”, plenamente consciente destes factos, acrescenta:

 “A Rússia sempre quis a paz. Mas eles não vão jogar um jogo com os Mestres do Universo que apresentam Trump como o tipo bom e o Congresso, CIA, etc., como o tipo mau, usando tal cenário como um estratagema de negociação. É assim que eles veem a situação. Eles não acham que este circo seja real. “

O circo pode ser apenas uma ilusão. Ou uma wayang – uma espécie de teatro de fantoches indonésio – como eu já sugeri. “X” avança uma interpretação nítida deste jogo de sombras do ponto de vista de Moscovo, admitindo que “vão ser necessários vários meses para ver se Putin pode aceitar negociar um desanuviamento com Trump que essencialmente passará por uma Ucrânia oriental autónoma, um tratado de paz na Síria com Assad no lugar, e uma retirada das forças da NATO, regressando esta à linha de defesa que existia no tempo de Ronald Reagan. “Quem prevalecerá; Os Mestres, ou o Deep State? Prepare-se para a colisão.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Bom fim de semana, porJorge

"Whatever the establishment is, I'm against it."

"Sejam quais forem os poderes instituídos, sou contra."

Noam Chomsky
linguista e ativista político americano, n.1928,
em entrevista de 1990.

Barack Obama, santo subito, de Manlio Dinucci

Barack Obama foi santo subito ( santo de repente) quando mal chegou à Casa Branca, lhe foi atribuído "preventivamente" em 2009 o Prémio Nobel da Paz em virtude dos "seus esforços extraordinários para fortalecer a diplomacia internacional e a cooperação entre os povos." Enquanto isso a sua administração já estava a preparar secretamente, através da Secretária de Estado, Hillary Clinton, a guerra que dois anos mais tarde iria demolir o estado líbio, para se estender de seguida à Síria e ao Iraque através de grupos terroristas adequados à estratégia dos EUA / NATO.
Donald Trump, pelo contrário, é "de imediato o demónio", antes de entrar na Casa Branca. Ele é acusado de ter usurpado correio para Hillary Clinton, graças a uma operação maléfica ordenada pelo presidente russo, Vladimir Putin. A "prova" foi fornecida pela CIA, a maior especialista em infiltrações e golpes de estado. Basta recordar: as suas operações para provocar e conduzir guerras contra o Vietname, Camboja, Líbano, Somália, Iraque, Jugoslávia, Afeganistão, Líbia e Síria; os seus golpes de Estado na Indonésia, El Salvador, Brasil, Chile, Argentina e Grécia. Milhões de pessoas presas, torturadas e mortas; arrancadas aos milhões das suas terras, que se transformaram em refugiados objeto de um verdadeiro comércio de escravos. Especialmente as meninas e mulheres jovens foram submetidos à escravidão, foram violadas e forçadas à prostituição.
Tudo isto devia ser lembrado por aqueles que, nos EUA e na Europa, organizaram para dia 21 de Janeiro, a Marcha das Mulheres para defenderem precisamente a paridade conquistada por lutas duras constantemente postos em causa pelas posições sexistas como as expressas por Trump . Mas não é por isso Trump é acusado numa campanha que é um facto novo no processo de alternância na Casa Branca: desta vez, a parte vencida não reconhece a legitimidade do presidente recém-eleito e tenta um impeachment preventivo. Trump é apresentado como uma espécie de Candidato da Manchuria que, tendo-se infiltrado na Casa Branca, seria controlado por Putin, o inimigo dos EUA.
Os estrategas neo-conservadores, arquitetos desta campanha, tentam desta forma evitar uma mudança de rumo nas relações dos EUA com a Rússia, que a administração Obama tinha feito regressar aos termos da Guerra Fria. Trump é um "trader", que, ao continuar a basear a política dos Estados Unidos na força militar, pretende abrir uma negociação com a Rússia, possivelmente, também para enfraquecer a aliança de Moscovo com Pequim.
Na Europa, os que temem um abrandamento de tensão com a Rússia são principalmente os dirigentes da NATO, que ganharam importância com a escalada militar da nova Guerra Fria, e os grupos no poder em países do leste, particularmente na Ucrânia, Polónia e nos países bálticos, que manifestam hostilidade em relação à Rússia por terem um crescente apoio militar e económico de a NATO e da UE.
Neste contexto, não podemos calar nas manifestaçõles de 21 de Janeiro, as responsabilidades daqueles que transformaram a Europa na linha da frente do confronto, inclusive nuclear, com a Rússia.
Devemos manifestar-nos não como norte-americanos que não querem um presidente "mau" e exigem um "bom", mas para: nos libertar da submissão aos Estados Unidos, independentemente de quem é o presidente, exercem a sua influência na Europa através da NATO; e ficarmos fora desta aliança de guerra, exigindo a remoção das armas nucleares dos EUA nos nossos países.
Deveremos manifestarmos para ter a palavra, como cidadãs e cidadãos, na escolha da política externa que, indissociavelmente ligada a opções políticas económicas e internas, determinam nossas vidas e nosso futuro.
Manlio Dinucci

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Interrogações sobre a intervenção da China na Cimeira de Davos

 
As declarações do Presidente da China, Xi-Jinping, na cimeira de Davos, poderão ter causado surpresa em muita gente quando se opôs ao encerramento dos mercados de outros países e defendendo a globalização.
Obviamente que Trump seria um dos destinatários que tem defendido um controlo do acesso e circulação de bens e serviços oriundos da China. Mas a questão é mais vasta.
Enquanto a globalização capitalista benefici...ava mais o chamado “mundo ocidental”, a liberalização do comércio e a livre circulação de bens e serviços não era contestada por ele mas por aqueles países que dela eram vítimas.
Por se traduzir numa amarração da generalidade dos países, às crises económicas dos países que dominam o comércio. Por outro lado quando os Estados Unidos colocam no mercado uma grande quantidade de dólares, boa parte deles acaba em países emergentes, provocando a valorização das suas moedas, o que leva a favorecer as importações e desfavorecer as exportações das empresas dos países emergentes. Também como na globalização os mercados dos países estão interligados, milhares de milhões de dólares podem entrar ou sair de um país segundos, acabando este capital especulativo acaba por provocar grandes prejuízos às economias dos países que não conseguem controlar este fluxo de capitais. Neste quadro, os mais fortes deslocalizam empresas em busca de salários e outras condições mais apetecíveis, levando a despedimentos nos seus e fortes pressões sobre os seus trabalhadores para nivelarem “por baixo” salários e direitos. E a globalização passou a tentar equipar-se com acordos intercontinentais que consagrem esta redução de padrões de trabalho e de vida, como outros relativos à qualidade e controlo sanitário bem como a deslocalização das instâncias judiciais de resolução de conflitos para fora dos controlos nacionais.
Agora é a China, primeira potência comercial mundial, a “dar as cartas”.
Mas poderá a China neste novo quadro, ao afrontar o dedo pontado de Trump, contribuir para uma globalização de efeitos negativos diferentes? Penso que é esta a questão que os amigos e admiradores do progresso fantástico deste país gostariam de ver expressos em compromissos firmes

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Dia após dia novas razões para a saída do euro


Se um dos argumentos para a adesão à CEE foi diminuir a inflação que em Portugal se tinha passado a situar nos dois dígitos, é agora a inflação na Alemanha num dígito apenas que tornará mais problemático o crescimento em Portugal por via do financiamento muito mais caro da economia com negativas repercussões na economia, no emprego e nas funções sociais do estado.



Há um mês, Mario Draghi tinha anunciado que em 2017, último ano de compra da dívida pública pelo BCE esta seria ainda reduzida em 25% a partir de Abril.

E agora, o espectro de uma subida das taxas de juro da dívida pública a dez anos no nosso país para mais de 4% (Cavaco Silva admite mais) em consequência da subida da inflação na Alemanha de 0.7% para 1,7% (para já, porque irá subir ainda por efeito dos aumentos dos preços da energia nos de outros bens e serviços) é o que temos no horizonte. Ferro Rodrigues referiu que as dificuldades começaram “já com esta situação em que a vulnerabilidade de Portugal, do seu sistema financeiro, da economia e da situação do país está bem à vista na subida das taxas de juro — para as quais nada contribuímos”.

Foi a segunda vez que os juros de Portugal superaram os 4% desde que começou o programa de compra de dívidas (março de 2015).
António Costa pretendeu meter água na fervura, dizendo que esta subida é geral, que o governo acompanha a situação e que os mercados irão progressivamente “percecionando a realidade da economia portuguesa, designadamente no que respeita à execução orçamental, à redução da dívida líquida e ao facto de termos um dos maiores saldos primários da União Europeia”.

Se isso é assim, mais uma razão para que governo e BCE evitem tais consequências para Portugal.

Porém, Edgar Caetano, responsável pela análise de mercados de dívida do holandês Rabobank, e outro quadro dirigente deste banco, em Londres, disseram ao Observador – todos, é claro, a deitar achas para a fogueira da fuga dos investimentos - no passado sábado que: “ Portugal está vulnerável quanto aos riscos "sistémicos" que assolam a Europa. E que “as taxas de juro de Portugal no mercado superaram esta semana os 4% no prazo a 10 anos. É o valor mais elevado desde os dias tensos de Fevereiro do ano passado, quando o governo discutia os planos orçamentais com Bruxelas, e contrasta com os juros abaixo de 2% de Espanha e Itália”. E ainda que “há uma perceção de risco latente que pode levar a que os investidores cada vez mais considerem a dívida portuguesa demasiado arriscada, independentemente da rendibilidade generosa”.

Não dramatizar, porquê? Porque o BCE vai proteger Portugal, que foi o que mais sofreu com a imediata especulação nos mercados? Em rigor não há indicações de que tal intervenção venha a acontecer, devendo acentuar-se a tendência contrária quer no que respeita ao valor da taxa de juro quer no que respeita às reduções de aquisição da dívida pública por parte do BCE.

É ou não verdade que a perspectiva da “estagflação” que se registou nos anos 70, na sequência do primeiro “choque petrolífero”, está a ser considerada por alguns economistas? É verdade, mas não se pode concluir que isso virá acontecer. Então o mundo capitalista defrontava uma situação, aparentemente anormal, na Economia keinesiana, que foi a estagnação no crescimento coincidir com a subida dos preços, de forma continuada. Nessa altura os governos e os bancos elevaram as taxas directoras de uma forma muito rápida e intensamente para evitar possíveis regressos de aumentos de preços, mas penalizando a economia. Em 1994, a Reserva Federal dos EUA provocou assim um craque mundial. Por outro lado, negligenciaram outra forma de inflação, já não não sobre os preços dos produtos, de certos activos financeiros, tais como imobiliário. A incompletude da união monetária promoveu, assim, a formação de uma enorme bolha imobiliária em Espanha no ano 2000. Oito anos depois a explosão registou-se de forma violenta, como todos estamos lembrados.

Ainda assim, as instituições monetárias superaram a inflação. E, após a crise de 2008, é o oposto que se veio a verificar com os preços se mantiveram baixos, o que os tem preocupado até hoje. Por enquanto, o aumento dos preços das matérias-primas e a eleição do novo presidente norte-americano Donald Trump permitem prever um aumento da inflação. Enquanto, ao mesmo tempo, o crescimento global continua a ser modesto. O retorno da estagflação ainda é perspectiva exagerada mas era um cenário de pesadelo para os bancos.

Mas, antes de voltar à questão das taxas de juros, importa referir o gangsterismo anunciado na passada semana pela Comissão Europeia de três grandes bancos “de referência” – o Deutsche Bank, o RBS e o Societé Générale - terem manipulado o índice Euribor que é a taxa de juro interbancária que serve de referência a grande parte dos contratos financeiros firmados na Europa.

Segundo o Jornal de Negócios deste domingo, “os três bancos fazem parte de um grupo de sete [os restantes gangsters foram o JP Morgan, o Crédit Suisse, o HSBC e o Barclays] que terão actuado em conluio entre Setembro de 2005 e Maio de 2008 para manipular elementos definidores do custo de derivados sobre a taxa de juro do euro, e trocado informação relevante, no que constitui uma violação das regras europeias de concorrência, avançou a Comissão Europeia, numa mensagem por e-mail”. Segundo o jornal, os três bancos deram-se como culpados em Dezembro de 2013, pagando em conjunto 820 milhões de euros. O Barclays evitou a multa por ter avisado a Comissão.

O índice Euribor, alvo da manipulação que se estendeu também ao Libor do Reino Unido, reflectem o custo dos empréstimos entre os bancos para diferentes maturidades, isto é a curto médio e longo prazo, respectivamente até 1, 5 ou 10 anos.

Mas antes de tudo isto, situação semelhante se passara no EUA, onde importa registar o abandono, por parte da Fed, no final de 2015, das taxas de juro próximas de zero, que causou sérios problemas às economias dos mercados emergentes que têm grandes necessidades de financiamento internas e externas, grandes quantidades de dívida em dólares, e fragilidades macroeconómicas e políticas. E renovou a consideração da substituição do dólar como moeda de referência. E que vários membros do comité de política monetária do banco central norte-americano se pronunciaram na reunião de Setembro passado por uma subida da taxa de juro "em breve", ao que a Wall Street reagiu positivamente.

Como os comunistas portugueses sublinharam no seu último congresso:
 “A integração de Portugal na CEE/União Europeia e na UEM foi e é um processo de permanente confronto com as conquistas da Revolução de Abril e a Constituição da República Portuguesa. Política de direita e integração capitalista europeia são duas faces de uma mesma moeda. A ruptura com a política de direita e com as imposições e constrangimentos da União Europeia – em que avultam no imediato o Euro e a União Económica e Monetária – e a luta em defesa da soberania e independência nacionais são elementos centrais da construção em Portugal de uma alternativa política, patriótica e de esquerda.”
 
artigo originalmente publicado nesta mesma data em "abrilabril"

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Bom fim de semana!, por Jorge

"L'avenir tu n'as point à le prévoir mais à le permettre"
"Não temos nada que prever o futuro, temos que o permitir"

Antoine de Saint-Exupéry
escritor e pioneiro da aviação francês, 1900-1944)

População, emigração e imigração


Dados económicos recentes são ligeiramente positivos mas insuficientes no que respeita ao crescimento do PIB.
Este depende de: consumo, investimento, despesa pública  e balança comercial.

São factores condicionantes externos: os juros pagos da dívida e esta própria que impedem recursos para o investimento público, donde a necessidade de reestruturar dívida, e os destinos de exportações bloqueados por crises e boicotes (Angola, Venezuela, Brasil, Rússia que exigem novos parceiros para a exportação e que contribuamos para acabar com boicotes políticos contrários aos interesses dops povos        
São factores internos condicionantes: baixo consumo limitado por baixos rendimentos,a banca recapilatizada não está a apoiar a economia, e o investimento privado

 

É inevItável  acompanhar as oscilações da população, população activa, emigração e imigração

Em 2011-2015, ou seja, em cinco anos, em que estivemos condicionados pela troika e o governo PSD/CDS, Portugal perdeu cerca de 500 mil habitantes para a emigração. Nos dez anos anteriores, ou seja desde o início do século até 2010 tinha perdido 700 mil.
 

Assim, em 2015, a população residente em Portugal foi estimada em 10.341.330 pessoas, menos 33.492 do que em 2014, o que representa uma taxa de crescimento efetivo de menos 0,32%, quando no ano anterior tinha sido de menos 50%. A tendência de decréscimo populacional que vinha desde 2010 (efeito da crise internacional) parou, porém, em 2014, 2015 e 2016 (dados ainda não publicados).

Nos últimos 5 anos 2011-2015 (troika+ governo PSD/CDS) houve uma redução da população activa de cerca de 269 mil pessoas.

 De acordo com os últimos censos, entre 2001 e 2011 o volume de regressos de emigrantes de longa duração (superior a um ano) alcançou os 40%, na sua maior parte não para exercer uma actividade económica.

Nas décadas de 60 e 70 do século passado, o grosso dos emigrantes tinha pouca ou nenhuma escolaridade, como o resto da sociedade. Agora, apesar de haver um número significativo e crescente de pessoas com ensino superior, a maioria dos que saem tem escolaridade média ou baixa.

Em 2015 existia uma população activa de cerca de 5,2 milhões (49% mulheres) para uma população em idade activa de 6,7 milhões (isto é, 23 desempregados em cada 100 portugueses em idade activa, com 15 ou mais anos até 65). Nos últimos 5 anos 2011-2015 (troika+ governo PSD/CDS) houve uma redução da população activa de cerca de 269 mil.

 
Qualquer política económica tem que atender a diferentes vertentes e o déficite humano é o mais emergente dos défices que o país enfrenta: a sua sustentabilidade demográfica, a braços com uma baixa taxa de natalidade, brutalmente agravada com a emigração massiva de jovens, afectam muito o potencial produtivo.~

 

Notas

(1) Saldo migratório é a diferença entre as pessoas que entram e saem de um país. Pode ser positivo, negativo ou nulo. SM=I-E. O saldo migratório pode também ser calculado pela diferença entre o acréscimo populacional e o saldo natural. Saldo natural é a diferença entre o número de nados-vivos e o número de óbitos, num  dado período de tempo. Pode ser positivo, negativo ou nulo. SN= N-M. 

Cessar-fogo na Síria e as futuras negociações com vista a uma solução política


 
No passado dia 30 de Dezembro os presidentes Putin e Erdogan anunciaram os termos de um acordo de cessar-fogo em que ambos os países se constituíam como garantes de quatro acordos que recolheram o apoio do governo sírio e da generalidade dos oposicionistas armados, excluindo apenas o Daesh/ Estado Islâmico e a Frente al-Nusra/Al Qaeda, que já em anteriores tentativas de cessar-fogo mediadas pela ONU não foram convidadas para o acordo por serem considerados como grupos terroristas. O Irão acompanhou a elaboração do Acordo mas fica, para já, como observador.

No dia seguinte, o Conselho de Segurança da ONU aprovou este acordo e a ONU envolveu-se no processo. Mas os EUA, a França e a Grã Bretanha deixaram expressas as suas reservas, tanto mais que foram preteridas como garantes no novo acordo de cessar-fogo, devido aos boicotes que promoveram ou aceitaram nas versões anteriores em que participaram, através dos EUA.

    - Todos os sete grupos armados que são parte do conflito, e as forças que as suportam, foram convidados a assegurar na data e hora acima referidas, as seguintes obrigações:

    - A cessarem todos os ataques, quaisquer que sejam as armas utilizadas, incluindo foguetes, morteiros mísseis anti-tanque e bombardeio aéreo;

    - A absterem-se de conquistar ou procurar conquistar territórios ocupados por outras partes no acordo de   cessar-fogo;

    - A recorrerem à força de forma proporcional (ou seja, apenas na medida necessária para responder a umameaça direta) e apenas em legítima defesa.

A Federação Russa apelou a que o Governo sírio, os grupos armados de oposição que favoreceram uma solução pacífica para o conflito e não se reclamem de ligações a organizações terroristas internacionais, bem como aos estados que têm influência sobre as partes do conflito, para aceitarem os termos propostos para a cessação das hostilidades

Em declaração semelhante, a Turquia referiu também que interveio decisivamente para finalizar evacuações humanitárias de Aleppo,  e que espera que, no pleno respeito do cessar-fogo e a perspectiva de transição política genuína de acordo com o Comunicado de Genebra e da resolução 2254 (2015) do Conselho de Segurança, o regime e a oposição comecem de imediato as conversações em Astana, na presença dos países que se constituíram como garantes, a tomar medidas concretas para reiniciar o processo político sob a égide da ONU, que continuará a trabalhar incansavelmente para alcançar este objetivo.

Rússia e Turquia aprovaram ainda um segundo Acordo sobre a criação de uma comissão mista, pontos de controlo para o estabelecimento de um mecanismo para registar as violações da cessação das hostilidades estabelecidas na República Árabe Síria de 30 de dezembro de 2016 e o estabelecimento de um sistema de sanções para violações

Entre os acordos assinados um terceiro é sobre a constituição das delegações responsáveis por iniciar negociações sobre uma solução política para uma solução abrangente para a crise síria através de meios pacíficos

O governo sírio tem constituída uma delegação que procurará trabalhar em conjunto com a delegação da outra parte a partir de 15 de janeiro de 2017, na cidade de Astana (Cazaquistão), com a participação das Nações Unidas.

Finalmente o quarto acordo contempla a constituição das delegações responsáveis por iniciarem negociações sobre uma solução política para uma solução abrangente para a crise síria através de meios pacíficos

 

A oposição concordou em constituir, até 16 de Janeiro de 2017, com a participação directa dos garantes signatários, uma delegação para as negociações e esta delegação procurará trabalhar em conjunto com a delegação da outra parte a partir de 23 de janeiro de 2017, na cidade de Astana (Cazaquistão), com a participação das Nações Unidas.

Entretanto o exército sírio continua a destruir recursos de equipamentos militares da Al-Nusra e Daesh em Deir Ezzor, Homs e Aleppo, e provocando muitas baixas de militares dos dois grupos.

Os terroristas realizaram um atentado terrorista com um carro armadilhado na semana anterior na cidade de de Yableh na província costeira de Latakia, causando numerosas vítimas mortais e feridos.

E o Exército Sírio foi obrigado a responder a um corte de água que atingiría 5 milhões de habitantes de Damasco. O grupo Jaysh al-Islam, financiado e apoiado pelo MI6 británico, que já no ano passado poluíra a rede de água da cidade, veio agora retirar-se do processo, ameaçando arrastar os outros seis grupos de “rebeldes armados” com a acusação de que a reacção síria teria violado os acordos…Esta posição levou as agências noticiosas internacionais a referirem que “mais uma vez o cessar-fogo tinha falhado”.

 

Porquê este novo posicionamento da Turquia?

Após ter alimentado a esperança de conquistar a Síria, o presidente Erdogan está a ser, em consequência da sua própria política, contestado em três frentes: pelos Estados Unidos e a FETO de Fethullah Gulen, pelos separatistas curdos do PKK e pelo Daesh.

A estes três adversários, poderia voltar a adicionar a Rússia, como no passado. Mas preferiu aliar-se com Moscovo e poderá, mesmo, sair do comando integrado da NATO.

Para isso contribuiu a ousadia da diplomacia da Federação Russa.

Isto vai alterar decididamente os equilíbrios no Medio Oriente e as potências ocidentais rapidamente se aperceberam disso e a multiplicidade de ataques terroristas na Turquia, Iraque e Síria que se seguiu não pode estar desligado disso.