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sexta-feira, 1 de setembro de 2017

A bipolaridade no "Publico" e a Festa do Avante!


O Publico nem na véspera nem no dia de início da Festa do Avante! lhe faz qualquer referência. Em contrapartida brinda-nos hoje com uma pérola “Um partido bipolar: uma crítica de esquerda” do sociólogo de Coimbra Elísio Estanque. Um artigo em jeito de “uma no cravo, outra na ferradura”, onde o autor não pode deixar de reconhecer o papel importante do PCP (para a mentira ser segura e atingir profundidade tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade...).

Da biografia do autor, que considera que “o verdadeiro revolucionário do século XXI é o reformismo radical”, retira-se que “foi activista sindical e de diversos movimentos sociais no período revolucionário (1974-1975) ”. Fica-lhe bem mas 43 anos depois, ser de esquerda é uma etiqueta que exige outros créditos que, pelo que temos lido do autor, carecem de incorporação das lições e perspectivas da realidade que não podem passar por identificar o PCP com o “modelo soviético”, um golpe baixo há décadas papagueado por críticos em geral pouco creditados para discutir estas matérias.

Isso e todo o conjunto de perguntas que os militantes do PCP estariam hoje a fazer a propósito da “implosão” do comunismo, como e porque ocorreu, se isso só se deveu a factores internos ou também internos, o que é o comunismo hoje e se se deve pactuar com características negativas de alguns países identificados pelos States como o “eixo do mal”, são questões que há mais de vinte e cinco anos já foram discutidos, com grande abertura e coragem, num discussão de que se tiraram conclusões no XIII Congresso do PCP, em 1990 e seguintes. Há que saber ler e ouvir o PCP…E ó Elísio Estanque, o PCP não defende “um partido único a dirigir o aparelho de Estado”. E essa da bipolaridade…Tenha maneiras!...Daí para o insulto falta muito pouco.

Eu tenho reservas em aspectos da política externa dos governos da Rússia, ou da Coreia do Norte, ou da Venezuela. Mas chegados aqui, atenção! Nos confrontos conduzidos pela administração norte-americana e os dirigentes não eleitos da União Europeia, eu estou do lado dos agredidos, dos que defendem a sua soberania, dos sobre-explorados, dos remetidos por guerras sujas para a fome, a doença e a morte ou para a emigração maciça, dos que sofrem de boicotes e bloqueios. Não hesito, não dou uma no cravo e outra na ferradura para me remeter à não intervenção que sossega as consciências de alguns para golpes, invasões, muita guerra, muita fome e algumas pinochetadas.

Uma coisa é a compreensão do papel da Revolução de Outubro na mudança de paradigmas universais no sentido da centralização do papel do trabalho no processo produtivo com o conjunto de direitos políticos e regalias dos trabalhadores, e do combate à exploração do homem pelo homem que manteve uns como deserdados embora produtores da mais-valia apropriada pelos construtores do sistema capitalista. Sistema capitalista que, foi, entretanto, criando deformações da democracia a coberto de apelos a respostas consumistas, negando na prática o direito de informar e de ser informado, condicionando drasticamente os direitos de eleger e ser eleito. E depois com a financeirização da economia que a alienou para a propriedade das multinacionais e à ditadura dos mercados condicionados, das bolsas e sujeitos ao dólar como moeda única, que agravou desigualdades em cada país, entre países e quis esmagar as riquezas e a humanidade em continentes inteiros.

Outra coisa ainda é ser facilmente verificável, quer à saída das rotativas clandestinas quer nas consultas hoje possíveis na internet, que o PCP mesmos nos duros tempos da clandestinidade, elaborou e aperfeiçoou também já no regime democrático saído da Revolução de Abril, as características que a democracia a conquistar na revolução portuguesa deveria ter. E, entre elas, estão as vertentes não apenas políticas mas também económicas, sociais e culturais dessa democracia. E que nos direitos políticos se encontravam entre outros, a existência de diferentes partidos políticos, a liberdade de imprensa. Vivi intensamente esses processos de discussão mesmo com os que tinham ideias muito diferentes das minhas. Os anos de 1969 a 1975, pela riqueza da experiência pré e revolucionária foram muito importantes para formação de centenas de milhares de cidadãos.

Neste estado das coisas sugiro ao autor uma leitura, que não seja en passant , do “Rumo à Vitória” ou do actual “Programa do PCP, Uma Democracia Avançada - Os Valores de Abril no Futuro de Portugal”. E que recorde que, quer nas conclusões do III Congresso da Oposição Democrática, em Abril de 1973, quer nos documentos programáticos do “movimento dos capitães” de 1974, essas diferentes vertentes da democracia já estão expressas devido a anos e anos de reflexões sobre a luta da resistência e as características do fascismo em diversos planos, dentro e fora do PCP.

Por outro lado, há que não esquecer que o PCP não “se conformou”, como alguns que nada fizeram pela democracia costumam brincar, como o autor insinua em jeito de “puxão de orelhas”, com a democracia, pela razão evidente para qualquer docente que investigue como faz qualquer estudante, que a matriz essencial que o PCP dela concebeu ficou expressa na Constituição da República Portuguesa, apesar das suas sucessivas revisões.

Na convivência nesta esquerda plural e alargada, ninguém em jeito de “crítica de esquerda” (qual?) pode intentar que uma força política como o PCP faça o que o autor entende, deixar de ser o que é.

 

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