Depois de no ano passado por esta
altura os BRICS terem realizado a sua última cimeira em Goa, na India, está
neste momento a terminar hoje a 9ª Cimeira, em Xiamen, na província de Fujian,
na China.
Embora o tema da 9ª Cúpula BRICS
tenha sido "Uma Parceria mais Forte para um Futuro Mais Brilhante",
esteve presente alguma tensão entre os participantes.
As rivalidades entre países da
Eurásia, como as disputas de fronteiras, não são novas, é claro, mas, mais uma
vez, mostraram que os desentendimentos não impedem a cooperação. Além disso,
como potencias emergentes que desejam ter uma peso na abordagem dos assuntos
globais, e com capacidade alavancagem em pontos críticos de conflito, como o da
Península Coreana, os membros do BRICS certamente irão usar esta plataforma
para propor um caminho a seguir para quebrar a espiral atual.
Na frente económica, a China e a
Índia continuam a ser motores importantes do crescimento da economia mundial, tendo
beneficiado de um sistema de comércio aberto ao longo dos anos. Sem dúvida que
esta cimeira BRICS irá refletir a unanimidade no compromisso dos membros com um
sistema económico global aberto, que, no quadro das relações comerciais
comandadas pelo imperialismo, contribuiu para grandes desigualdades mas que os
BRICS, se pesarem de outra forma nesses processos poderão fazer um acerto de
agulha, vencendo inclusivamente barreiras defensivas por parte dos que perderam
protagonismo, usando inclusivamente esse comando que ainda partilham para
sabotar economias e decretarem bloqueios com objectivos políticos contra os
países que consideram ser o "eixo do mal".
A China, a Índia, o Brasil e a
Rússia ratificaram o acordo de facilitação do comércio da Organização Mundial
do Comércio (com a África do Sul a preparar-se para o fazer). Isso é importante
porque a "conectividade" promovida pela Iniciativa "Cinturão e
Rota", proposta pela China, não respeita apenas à construção de portos,
estradas e ferrovias, mas também sobre os mecanismos institucionais suaves que
ajudem o comércio em todo o mundo.
A Índia não se juntou a essa
iniciativa chinesa, e anunciou uma nova iniciativa com o Japão denominada
"Corredor de Crescimento Ásia-África" (AAGC), que também procura
melhorar a conectividade entre os dois continentes. A AAGC foi, de facto,
lançada na reunião anual do Banco Africano de Desenvolvimento na Índia, 10 dias
após o Fórum Cinturão e Rota para a Cooperação Internacional realizado em
Pequim nos dias 14 e 15 de Maio passado. Tal como aconteceu com a iniciativa
União Económica Eurasiática de Moscovo, em que o presidente russo Vladimir
Putin em 2015 concordou cooperar com a Iniciativa Cinturão e Rota, a AAGC
oferece muitas oportunidades de complementaridade.
O fato de que as três iniciativas
são lideradas por membros do BRICS pode ajudar a fortalecer os vínculos
práticos entre o agrupamento e outros países - uma forma de "BRICS
Plus". No entanto, isso exigiria esforços concertados para colmatar as
diferenças e remover as suspeitas mútuas sobre maquinações geopolíticas.
A África do Sul foi o primeiro
país nos BRICS a iniciar uma ponte para outros países quando presidiu à cimeira
de 2013. Com ele e com as presidências seguintes, foi-se facilitando o
envolvimento entre os BRICS e outras economias em desenvolvimento.
Cinco anos depois de criados, os
BRICS, esta instância não gerou iniciativas próprias mas tem-se constituído
como plataforma para discutir a cooperação a nível bilateral ou multilateral com
os resultados já referidos
Os estados africanos reconhecem
as oportunidades oferecidas pela AAGC e a Iniciativa Cinturão e Rota para o seu
desenvolvimento, embora esta ainda precise de definir o que isso pode
significar para todo o continente além da costa leste africana. Os países
africanos valorizam as suas parcerias com a Índia e a China e percebe-se que
irão trabalhar em complementaridades em vez de rivalidades. Há projetos
suficientes para se iniciarem ou continuarem.
Além desses planos, o que é
crucial para o desenvolvimento de África numa era de incerteza global é que as
maiores potências do mundo em desenvolvimento desempenhem um papel ativo e
construtivo na redução de pontos críticos de conflito, enquanto gerem as suas
próprias rivalidades regionais.
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