As eleições de ontem na Alemanha
tentarão ser aproveitadas para rematar o projecto anti-social do eixo
franco-alemão, que se agravou na Alemanha por parte de governos da CDU/CSU com
os liberais do FDP ou os sociais-democratas do SPD com as leis Wartz, iniciadas
em 2005, e está agora a ser testado em França com o pacote Macron.
Merkl passará pelas dificuldades
de formar governo e Macron, fustigado nas ruas pelos trabalhadores franceses, e
sofrendo uma derrota nas eleições para o Senado, vão manter o projecto caro aos
grandes grupos económicos que levaram ambos ao poder e aí, para já, os
sustentam na medida que ambos se identificam muito com eles. A forma como ambos
estão projectados como grandes líderes políticos no circo mediático revela o
suporte desses grandes grupos. Em ambos os países as classes medias e populares
pagam o preço da ortodoxia orçamental que praticam.
A idéia de que na Alemanha tudo
vai bem e que ela pode constituir exemplo para o resto da Europa, não resiste à
análise dos números. Merkl pode brandir ter o mais baixo desemprego da Europa
mas os alemães e o próprio FMI sabem e dão conta disso, que os jovens para
sobreviverem têm que ter dois ou três “empregos” por dia, em virtude dos tempos
parciais de trabalho (com o correspondente corte de remunerações), que a
precaridade disparou no país, que aumentam as desigualdades sociais que já
atingiram os níveis arrepiantes dos EUA, e que cresceu a parte da população a
viver abaixo da pobreza, que os serviços públicos e a protecção social se estão
a degradar.
O envelhecimento da população e a
possibilidade de encontrar trabalho alternativo levou os industriais a
pressionar a aceitação de uma imigração de 800 mil pessoas, essencialmente
síria, forçada a sair do país pela guerra de agressão que sofreu mas que está
em vias de ser vencida. Não há “humanismo” de Merkl ao aceitar imigrantes com
bons níveis de formação e qualificação (as “vítimas” de Assad) que vão aceitar
remunerações de trabalho mais baixas.
Em França, Macron, seguindo o
exemplo da colega alemã, chantageia: ”Querem reduzir o desemprego? Então
aceitem a precaridade”!... As Leis do Trabalho podem cair pela base. Macron,
como referimos, quer introduzir, com o seu nome, as leis Wartz que foram
introduzidas na Alemanha a partir de 2005.
Esse pacote inclui o facilitar
dos despedimentos, a redução dos apoios aos desempregados, o disparar do tempo
parcial de trabalho, particularmente entre as mulheres, mini-empregos mal
remunerados, a degradação dos serviços públicos e o deteriorar de
infraestruturas como as escolas (muitas das quais a carecerem de reabilitação),
como as estradas, com o risco que isso traz para passageiros e condutores, ou
como as pontes onde já existem muitas em que os camiões deixaram de poder
passar.
E depois os sustos e os medos são
canalizados na Alemanha para o AfD e na França para a Frente Nacional…Sem
dúvida que há que importa estar alerta, mas já os mesmos media estão a colocar
ambos como cooperantes nas suas representações nas instituições…
O crescimento da extrema-direita
em ambos os países deveu-se às políticas anti-sociais de um governo
"socialista" num caso e num centrão de geometria variável noutro
caso.
Na Alemanha o AfD, de
extrema-direita cresceu nos meios rurais ou desactivados industrialmente,
particularmente na antiga RDA. É aí que também o Die Linke, que já era
maioritário em alguns distritos, tem grande influência, mas subindo no conjunto
da Alemanha. Os extremos tocam-se como alguns dizem? Não. A extrema-direita
aproveita-se dos deserdados. A Esquerda recolhe o apoio dos seus, que não tem
defraudado.
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