· O peso dos imigrantes estrangeiros, registadas
no Registo Central de Estrangeiros alcançou no ano passado o valor de 10
milhões, sendo que destes, 5,7 milhões são de países exteriores à União
Europeia, tendo aumentado, desde 2014, cerca de 1,3 milhões
(principalmente da Síria, Afeganistão e Iraque).
Depois da crise
dos refugiados em 2015 em que entraram para a Alemanha cerca de 1,5 milhões, a
nova imigração líquida estabilizou em 2016 em cerca de 480 mil.
A nacionalidade
não-alemã mais frequente no território da antiga República Federal, incluindo
Berlim, ainda é turca.
· Existe uma outra questão muito importante na
perda de votos da CDU/CSU: o conflito com a Turquia. Não nos podemos esquecer que a
Alemanha tem 3 milhões de residentes e eleitores de origem turca (várias
gerações) - os ausländer. Muitos
desses votos terão ido para a extrema-direita, na sequência dos problemas com
Erdogan e a Turquia.
Há cidadãos
alemães residentes em Portugal que são categóricos em afirmar que o voto dos insländer (ou simplesmente länder) não fugiu da CDU/CSU.
· O cientista político, professor da Universidade
Livre de Berlim, Hajo Funke, disse à Sputnik News "Se procurarmos um bode
expiatório, até pode aparecer alguém que parece sério e não ser de direita, a
oferecer esse bode expiatório: os responsáveis pela integração dos imigrantes.
Os refugiados deveriam regressar à Turquia, esses que votaram em Erdogan, que não
pertencem à Alemanha… Mas esta é toda a minoria turca, que vive aqui há 40
anos, tendo até sido convidada pelo governo alemão para preencher a escassez
de mão-de-obra...Só que a Alemanha não tentou ajudá-los a aprender a língua ou
melhorar suas qualificações”. Segundo o cientista político não era de esperar resposta
menos radical.
· O partido do AfD (Alternativa para a Alemanha),
que ficou em terceiro lugar nas eleições federais alemãs com 12,6% dos
votos, obteve o maior apoio no leste, onde na Saxónia obteve 35,5% dos votos, e
na Turíngia 22,7%.
Comentando o
surgimento do partido de direita, Hajo Funke salientou que o seu sucesso está
fortemente justificado na sociedade da Alemanha Oriental.
Para ele, aqui “o
ressentimento em relação aos partidos estabelecidos baseia-se em parte na
antiga experiência da RDA e com o desapontamento em torno da reunificação.
A palavra
Treuhand ("Agência de confiança"), a agência criada pelo governo da
República Democrática Alemã para privatizar as empresas do leste da Alemanha
antes da reunificação, ainda é um insulto presente até hoje na população,
referiu Funke. Muitas antigas tradições e práticas desapareceram. E, após a
união monetária do país, as autoridades não ajudaram no desenvolvimento social,
cultural e económico dos estados federais orientais”.
· O “bloco central “ (CDU/CSU+SPD) que funcionou nos últimos
quatro anos na Alemanha foi o grande derrotado pela política anti-social que
realizou, perdendo, em conjunto, cerca de 20 pontos percentuais de votação e
mais de 100 lugares no parlamento federal (Bundestag).
· A CDU/CSU foi atingida pela abstenção que
cresceu em 5 pontos percentuais e sendo uma importante componente dos seus
eleitores também os restantes imigrantes, não é previsível que eles se tenham
deslocado para a extrema-direita, abertamente xenófoba e racista. Uma parte de
votos anteriores nela terão passado para o FDP, por ser o partido com quem, em
termos de possíveis alianças mais se identificam, ao contrário do que aconteceu
em eleições anteriores com os Verdes ou o SPD. Importa verificar se o
eleitorado tradicional do SPD, com uma base trabalhadora significativa mas
muito fustigada pelas políticas anti-sociais a que o PSD se associou, não se
terá deslocado significativamente para a AfD. Particularmente em estados da
antiga RDA.
· Mal os votos estavam acabados de se contar na Alemanha,
já Macron avançava com as suas propostas para uma «Europa repensada e
simplificada», com quis já marcar terreno no quadro do eixo
franco-alemão.
· Claude Juncker saudou o discurso “muito europeu”
do “seu amigo Macron”. Segundo o seu secretário, as ideias de Macron para
"fortalecer a zona euro" serão discutidas na cimeira do euro em
Dezembro, juntamente com as propostas de Juncker.
· O resultado das eleições, apesar de ter
fragilizado Merkl, não vai impedir que ela prossiga, não sem contradições, com
a França, o aprofundamento do Tratado de Lisboa. A deslocação para direita do
xadrez político vai fazer sentirem-se mais fortes as reclamações de uma Europa
onde vinguem mais a ortodoxia orçamental e os regimes de austeridade que
combatam o “despesismo” dos países do sul para que os alemães não tenham que
lhes pagar os “vícios” (e … as “mulheres”, como diria o autorizado Jeroen René
Victor Anton Dijsselbloem).
Para já os
trabalhos para formar o governo não recomendam a Merkl grandes considerações
sobre o futuro da Europa.
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