Todas as situações da envergadura
das eleições norte-americanas são complexas. O percurso do conhecimento do que
ficou para trás e das suas consequências ainda vai no adro e terá que de
coexistir em nós com uma evolução rápida da situação (em baixo a Time Square
ontem).
Mesmo que Trump tenha referido que poderia
evoluir para situações de cooperação com a Rússia ou a China, as suas
referências anteriores agressivas em relação a situações internacionais, que
são pedras de toque de uma efectiva expansão da cooperação internacional, do
fim de conflitos e das perspectivas de paz mais duradoura, comportam perigos
adicionais enormes. Ninguém esquecerá que há semanas atrás a tensão entre EUA e
Rússia nos aproximou de uma nova guerra mundial.
O conteúdo reaccionário das suas intervenções
orais expressou sentimentos enraízados e não meras cedências populistas.
Mas também teve a inteligência de chegar a
temas caros aos americanos (mas não só): o reerguer da economia americana, o regredir
na desindustrialização, o criar de milhões de novos empregos, o querer uma
relação pacífica e não conflituante com todos os países que tenham atitude
recíproca, o não continuar a apoiar
países e instâncias internacionais que estão a contribuir para a quebra de
recursos internos dos Estados Unidos (com citações sobre a Arábia Saudita e a
Comissão Europeia), o mudar o relacionamento com a Rússia, o pôr em causa o
TTIP.
A responsabilidade de os EUA chegarem a esta
situação - mesmo, sendo certo, que o sistema eleitoral permitiu mais uma vez
que os votos à escala nacional tenham dado um resultado superior a Hillary e
uma grande maioria dos membros do colégio eleitoral a Trump - cabe às
anteriores administrações Clinton e Bush.
Ambos os partidos aplicaram as teorias
neoliberais ao seu comportamento económico e financeiro, dividindo
profundamente o país entre os que mais têm, e mesmo os que têm oportunidades, e
os deserdados cuja voz calada se fez sentir nas urnas. Ambas as administrações
lançaram os EUA e a NATO num novo ciclo de guerras, agressões e ameaças, que,
entre outras coisas, provocou um anormal fluxo de imigrantes não documentados
da África e Médio Oriente para países europeus e para a América do Norte.
A camada dirigente norte-americana
é a grande derrotada destas eleições as
políticas que realizou.
Grande derrotada foi também a esmagadora
máquina mediática que pôs em marcha uma campanha à escala (quase mundial)
contra o novo presidente.
Mas também saiu derrotada a habitual dominação
política da cena política americana pelos tradicionais partidos republicano e
democrata, com uma voz nova de uma grande camada descontente, afastada da
política e das oportunidades. Ambos irão ter sobressaltos internos e a falência
dos partidos tradicionais será uma oportunidade para uma oposição de esquerda
ao novo governo se constitua.
Em Portugal, os directores de informação da
generalidade dos mídia foram também grandes derrotados. Importaram
acrìticamente tudo o que lhes impingiram.
Ninguém esquecerá que há semanas a tensão
entre EUA e Rússia nos aproximou de uma nova guerra mundial.
A vigilância e a intervenção são essenciais
para encarar uma nova situação potencialmente mais perigosa.
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