Os
deputados de Estrasburgo votaram na 4ª feira passada uma resolução, sem
carácter legislativo, que exige que a UE "responda à guerra de informação conduzida
pela Rússia". A agência de notícias RussiaToday e a Sputnik News estão
entre as "ferramentas" mais perigosas da "propaganda
hostil".
O relatório foi aprovado com
os votos a favor de cinco deputados do PSD e de uma deputada do PS. Os três
deputados do PCP, dois deputados do PS, a deputada do BE, o deputado do MPT e
Marinho Pinto votaram contra. Abstiveram-se o deputado do CDS-PP e cinco
deputados do PS. No total, o relatório foi aprovado com 304 votos a favor, 179
contra e 208 abstenções.
A proposta, apresentada por
uma deputada conservadora polaca, Anna Fotyga, é inaceitável no quadro da
muitas vezes invocada liberdade de informar e ser informado existente na
maioria dos países europeus. Hoje é reconhecido por organizações de jornalistas
e um número crescente de países e organismos internacionais que a liberdade de expressão baseia-se no
princípio de que os factos são sagrados e os comentários livres e que mesmo que
um comentário possa não nos agradar, este princípio deve prevalecer.
Trata-se, de uma forma clara
e sem sofismas, de perseguir cidadãos russos ou de nacionalidades europeias que
trabalham para esses meios de comunicação social russos…Imaginemos que a Organização
dos Estados Americanos fazia o mesmo em relação aos EUA, cujos grandes media
têm correspondentes e equipamento jornalístico em toda a América Latina. Caía a
Wall Street e a Estátua da Liberdade! E a
indignação espalhar-se-ia
como óleo…
Putin referiu-se à
resolução, no próprio dia, como uma "degradação política" em relação
à "ideia de democracia" no Ocidente.
Putin assinalou que, enquanto
"todos tentam dar lições" sobre a democracia na Rússia, os próprios
legisladores europeus recorrem a uma política de restrições, "que não é a melhor
maneira" de lidar com quaisquer questões. A melhor abordagem é uma
discussão aberta, na qual devem ser apresentados argumentos brilhantes e
sólidos".
Acrescentando que espera que
a e deliberação não leve a sérias restrições, o presidente felicitou os jornalistas
da RT e da Sputnik pelo seu trabalho.
Na votação de quarta-feira,
304 deputados apoiaram a resolução baseada no relatório "Comunicação
estratégica da UE para neutralizar a propaganda contra ela por parte de
terceiros", 179 votaram contra e registram-se 208 abstenções. E isso
significou que a maioria dos
eurodeputados presentes não apoiou a resolução.
A resolução afirma,
nomeadamente, que é intencional nesses meios de comunicação social "distorcer
a verdade, provocar dúvidas, dividir a UE e seus parceiros norte-americanos,
paralisar o processo de tomada de decisão, Desacreditar as instituições da UE e
incitar ao medo e à incerteza entre os cidadãos da UE ". Enfim!...
O relatório sugere que
Moscovo fornece apoio financeiro a partidos e organizações de oposição nos
estados da UE, causando a sua desintegração. E ainda que promove uma "guerra de informação", através do canal de TV
Russia Today, da agência de notícias Sputnik, da agência federal
Rossotrudnichestvo e do fundo Russkiy Mir, que figurariam entre as suas ameaçadoras
ferramentas de propaganda. O documento coloca estes ao lado de grupos terroristas
como o Estado Islâmico. E apelou para o estabelecimento de medidas para
enfrentar a ameaça de propaganda russa, por meio do "investimento em sensibilização,
educação, meios on-line e locais". Também sugere uma cooperação mais forte
entre a UE e a NATO "sobre a comunicação estratégica". É evidente na
resolução o objectivo de parar a sua actividade na UE. No debate um
eurodeputado afirmou que a UE estava em guerra com a Rússia, numa rota de colisão
a uma velocidade mais rápida da de um caça a jato…Um outro declarou que muitos
dos que apoiaram o documento são da Europa Oriental, enquanto os representantes
da parte sul da UE se abstiveram ou votaram contra.
Antes
da votação de quarta-feira, o documento tinha sido criticado por alguns
deputados, que o designaram por demente e ridículo. A
UE "precisa desesperadamente de um inimigo, seja a Rússia ou qualquer
outro", que pode culpar por qualquer de suas próprias falhas, disse o
deputado francês Jean-Luc Schaffhaueser à RT. O eurodeputado espanhol Javier
Couso Permuy disse que "promove a histeria contra a Rússia", enquanto
o deputado britânico James Carver observou que o relatório "lembra preocupantemente
a Guerra Fria" também à RT.
O eurodeputado do PCP, João
Pimenta Lopes referindo-se ao relatório, afirmou: ”Absolutiza-se como
verdadeira a informação da UE distinguindo propaganda e crítica, balizando o
que é a crítica aceitável. Abrem-se assim as portas da censura que tantas páginas
negras escreveu em solo europeu. Práticas dignas de regimes autoritários e
ditatoriais”.
A porta-voz do Ministério
dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Maria Zakharova, disse em entrevista ao
canal Rossiya 1 que as autoridades
russas sempre trataram com respeito a comunicação social estrangeiros que
trabalha na Rússia e "nunca discriminaram" jornalistas de outros
países. Segundo a mesma diplomata, Moscovo nunca impediu ninguém de fazer
relatos da Rússia na base dos seus conteúdos e ideologias, disse o
diplomata, acrescentando que agora pode estar a ser forçado a agir em
conformidade e responder aos movimentos da UE se os jornalistas russos forem
oprimidos no Ocidente.
As
reacções das organizações internacionais de jornalistas não se fizeram esperar.
O presidente da Federação Europeia de Jornalistas
condenou a resolução como um acto de “demonização e censura” e que pretende
perpetuar uma “narrativa de guerra fria” e considerou “bizarra” a comparação
dos meios de comunicação social russos com os terroristas do Daesh. E
aproveitou para convidar os EUA a promover um jornalismo independente, um
pluralismo mediático e uma maior compreensão do grande público em relação à
comunicação social. Quanto à Federação
Internacional dos Jornalistas, que representa 320 mil jornalistas de 43
países, o seu presidente Philippe Leruth comentou a resolução, afirmando que,
na sua opinião, esses órgãos de
comunicação social deveriam
ter sido ouvidos antes pelo Parlamento Europeu, para explicarem o seu trabalho,
e isso não lhes foi proporcionado.
Não é a primeira vez que a
administração Obama suscita junto de alguns países europeus “preocupações” com
o êxito de meios de comunicação social russos, outros não russos e na
blogosfera, na condenação da política atlantista de agressão a outros povos e de
retrocesso em relação a períodos de maior estabilidade e confiança nas relações
internacionais. Também no universo
mediático, os que apostam na guerra e em atitudes imperialistas se sentem a
perder terreno na eficácia da sua propaganda. Sem que isso signifique que
não dominem já, numa base de grande desigualdade esses meios com consequências
na ausência de pluralismo e no curso da História, como mostram os casos
recentes do Brasil, Argentina, Venezuela ou na Ucrânia, não nos alongando em
mais exemplos.
A
ameaça à liberdade de informação está também mais presente na linguagem de
altos quadros militares da NATO, numa altura em que os EUA
instalam nos países fronteiros com a Rússia bases de mísseis, susceptíveis de
serem equipadas com
engenhos nucleares.
Nestes países, uma
orientação anti-imperialista e de melhoria das condições de vida de camadas
significativas dos seus povos, dos respectivos governos, resultantes de
eleições livres, não foi bastante para fazer respeitar a vontade popular. Isso coexistiu
com a propriedade de meios privados de comunicação que desencadearam contínuas
e agressivas (mais do que já conhecemos aqui em Portugal) campanhas baseadas na
mentira e na falsidade, na criação de factos e provocações, na falsificação de
imagens em vez de jornalismo.
Mais
uma vez, a liberdade de informar e ser informado, caminha a par da defesa da
paz e da rejeição do imperialismo.
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