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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Francisco Assis, Claude Juncker e o (mau) Estado da União


De Francisco Assis já nada espanta! Mas atendamos, quase a arriscar o masoquismo, às apreciações ao discurso de Juncker de ontem sobre “O estado da União”, dadas à estampa no Público de hoje.

Consideração geral, sem comentários, “O presidente da Comissão Europeia sabe do que fala, já que constata todos os dias as dilacerantes divisões que atravessam a União Europeia, a tormenta dos discursos nacionalistas a roçar a xenofobia e a pusilanimidade de grande parte dos governantes nacionais, exageradamente dispostos a capitular diante da verborreia que caracteriza os sectores antiliberais e antidemocráticos da esquerda e da direita.”

Mas ocorre-me que à “xenofobia” se pode contrapor a russofobia, à pusilanimidade a criminosa agressividade e à “verborreia” a diarreia mental. E que quererá Assis dizer com essa dos “obscenos ataques ” a Juncker?

Assis gostou em particular do desejo de Juncker criar uma estrutura militar da UE articulada com a NATO porque…há “uma nova realidade política que circunda o espaço europeu”, porque os EUA já estão a reduzir os gastos no seu “espaço de influência europeu” e a UE precisa de “investir mais na defesa dos seus cidadãos”. Mas a Europa tem que ter um exército” para se confrontar com outros continentes ou países? Com o circundar do espaço europeu refere-se certamente ao cerco militar e nuclear à Rússia, à atracção desenvergonhada de países fronteiros desta para integrarem a UE e a NATO. Não referiu, porém, como é que Portugal e esses países de fronteira comum, ficariam livres da resposta adequada que a Rússia teria em caso de ataque dos EUA pelos interpostos países referidos…Assis é um atlantista aventureiro e mede pouco as responsabilidades de ser eurodeputado de Portugal e não da Europa ou dos Estados Unidos.

É muito rasteiro chamar aos que defendem a paz no espaço europeu “arautos de um pessimismo primário e criminoso” e “as belas almas puras do costume”.

Assis defendeu as negociações para o TTIP para a EU não perder a “capacidade de influenciar” diversos aspectos “susceptíveis de assegurar uma correcta regulação da globalização em curso”. Passando en vol d’oiseau pelas cedências que seriam feitas, que estrutura de controlo e fiscalização e que capacidade restaria à soberania portuguesa, incluindo a judicial, para intervir em zonas de conflitos de interesses.

Sobre o messianismo do presidente da Comissão Europeia lembrou que ele “é um velho militante da democracia-cristã europeia; um típico representante desse centro hoje em dia tão execrado pelos extremismos de toda a espécie”, e expressão da “democracia liberal e a economia social de mercado” que – não disse – de vitória em vitória nos conduziram ao estado em que estamos. Mas então quem é responsável pela crise?

Para terminar, diria eu que, certamente não por acaso, palavras como povo, trabalhadores, Portugal, entre outras, estão ausentes das considerações de Assis. Socialista?

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