Vivemos em democracia, mas também
vivemos numa mentira. A nossa memória histórica foi amputada de muito do que se
passou. O jornalista Miguel Carvalho escreve um livro, Quando Portugal
ardeu [1] , em que se resgata parte da história de Portugal.
Nestas quase 600 páginas ficamos a saber que nos venderam um conto de fadas em
que os maus vermelhos e totalitários foram derrotados por um grupo de pacíficos
democratas impolutos e respeitadores da liberdade. Por baixo do tapete ficaram
escondidos anos de terror e mais de 560 ataques da "rede bombista",
que aterrorizaram os militantes pró-revolução e mataram muita gente.
Depois de escrever este livro, acha que vai ter problemas?
(Risos) Confesso que tenho pensado bastante nisso, pelo seguinte: uma das
pessoas com quem eu tentei falar para este livro foi Ramiro Moreira. Recusou.
Eu não fiz o contacto direto com ele, usei uma cunha de uma pessoa muito
próxima dele, e ele, quando ouviu falar do meu nome, disse: "Eu não falo
com esse filho da puta." Ele tinha-me processado há uns anos por causa do
Apito Dourado, por eu ter referido num texto as suas ligações ao Valentim
Loureiro. E processou-me, não por eu ter feito referência a esse negócio, mas
por lhe ter chamado bombista. Obviamente, acedi a muita documentação sobre ele,
cartas pessoais e elementos dos processos, mas queria falar com ele.
Acedeu à gravação da sua confissão?
Sim, já a conhecia, o Diário de Lisboa publicou-a na altura e agora
ouvi-a. Tem havido uns zunzuns de pessoas que já leram o livro, dos vários
lados da barricada, que me têm telefonado a dizer: "Eh pá, se calhar, na
sessão de apresentação é melhor ter cuidado", mas confesso que não tenho
levado muito a sério.
Esses operacionais da altura já devem estar velhinhos e com alguma
dificuldade de locomoção, mas há um conjunto de interesses ligados à "rede
bombista" que são revelados e postos a nu no seu livro.
Há uma série de coisas que nunca tinham sido reveladas. Para este nível de
pormenor que o livro revela contribui o facto de muita gente ter falado,
passado mais de 40 anos, e a muita documentação consultada. As recusas de gente
para falar para o livro mostraram-me que o assunto ainda está quente. Tive três
tipos de recusas: a primeira foi do género de contactar o advogado x ou a
figura y, pessoa que esteve bastante envolvida a nível processual no julgamento
da "rede bombista" e que agora diz que não lhe convém nada, porque é
advogado de empresas conhecidas, ser lembrado como advogado das forças de
esquerda. Segundo tipo de recusa, mais expectável, é do género: "Eh pá,
não me meta nisso porque os meus filhos estudam na universidade z, não sabem o
que o pai fez e não quero ser associado a isso." E a terceira recusa, que
vai ao encontro da sua pergunta: "Não me meta nisso porque isto foi no
século passado, mas não foi assim há tanto tempo, em termos temporais foi
ontem, e ainda há muita gente que sabe fazer as bombas, portanto deixe-me em
paz."
Uma coisa que se percebe no seu livro é que, para além de Joaquim Ferreira
Torres [empresário ligado à rede que foi morto a tiro quando seguia ao volante
do seu Porsche vermelho, em 21 de agosto de 1979], se percebe que ao longo dos
anos houve bastante gente que desapareceu de forma misteriosa.
Nomeadamente, alguns operacionais da FLAMA [movimento independentista de
extrema-direita da Madeira] que apareceram, como eles gostam de dizer,
"suicidados", e o Ferreira Torres, de que fala. Este é um caso que
ficou sem conclusão, apesar de, na fase final da investigação, com os cacos
deixados por investigações policiais anteriores direcionadas para que nada se
soubesse, se terem conseguido algumas pistas. Na parte do livro sobre o
ex-coronel Ferreira da Silva [que dirigiu as investigações à "rede
bombista"], ele relata uma conversa que teve com um elemento do esquadrão
Chipenda [grupo ligado à FNLA - Frente Nacional de Libertação de Angola, que
estava em guerra com o MPLA e, em Portugal, associou-se a atos de violência da
extrema-direita e da "rede bombista"] que lhe diz, numa boate, que
foram eles que mataram o Ferreira Torres por uma questão de dinheiros.
Ele também interpreta como uma ameaça a abordagem, salvo erro no Tamila, de
quem diz: "Sabemos quem tu és e sabemos como te encontrar."
As duas coisas. Ele sabe que é isso, mas também dá crédito à informação. Fica convicto de que lhe estão a contar a verdade, fruto das várias histórias que sabia e investigou. Ele meteu a mão na massa e sabia bem o que tinha um fundo de verdade. Aquilo também foi uma forma de o avisar e de lhe dizer: "Aquilo foi tão perfeito, já sabe o que lhe pode acontecer." Eu consultei o processo Ferreira Torres e muita papelada ligada à matéria, e nunca vi nesses documentos uma afirmação tão direta sobre o motivo eventual do crime. Insinua-se em muitos lugares sobre os negócios e o dinheiro que teria ido para a "rede bombista" à sombra do MDLP [Movimento Democrático de Libertação de Portugal, juntamente com o ELP - Exército de Libertação de Portugal, a principal organização política da rede, dirigida pelo, na altura, general no exílio António de Spínola]. Mas nunca se fala claramente, nessa conversa, sobre as fortunas que ajudou a passar para Espanha e os valores e negociatas à sombra da organização terrorista. Com tudo isso, não é difícil de imaginar que esse elemento do esquadrão Chipenda estivesse a falar verdade quando confessou que Joaquim Ferreira Torres tinha sido morto por causa de "negócios mal resolvidos".
As duas coisas. Ele sabe que é isso, mas também dá crédito à informação. Fica convicto de que lhe estão a contar a verdade, fruto das várias histórias que sabia e investigou. Ele meteu a mão na massa e sabia bem o que tinha um fundo de verdade. Aquilo também foi uma forma de o avisar e de lhe dizer: "Aquilo foi tão perfeito, já sabe o que lhe pode acontecer." Eu consultei o processo Ferreira Torres e muita papelada ligada à matéria, e nunca vi nesses documentos uma afirmação tão direta sobre o motivo eventual do crime. Insinua-se em muitos lugares sobre os negócios e o dinheiro que teria ido para a "rede bombista" à sombra do MDLP [Movimento Democrático de Libertação de Portugal, juntamente com o ELP - Exército de Libertação de Portugal, a principal organização política da rede, dirigida pelo, na altura, general no exílio António de Spínola]. Mas nunca se fala claramente, nessa conversa, sobre as fortunas que ajudou a passar para Espanha e os valores e negociatas à sombra da organização terrorista. Com tudo isso, não é difícil de imaginar que esse elemento do esquadrão Chipenda estivesse a falar verdade quando confessou que Joaquim Ferreira Torres tinha sido morto por causa de "negócios mal resolvidos".
Uma das coisas que não são
totalmente novidade, porque já era revelada no livro "A Descoberta de Uma
Conspiração", do jornalista Günter Wallraff [2] , é a promiscuidade entre os
"democratas" do atual regime e os bombistas: eles eram uma espécie de
plano B dos "democratas".
É precisamente este lado sombrio da história que é importante. Embora eu tenha
consciência de que não é este livro que o consegue revelar. Eu tenho um ponto
de vista e não abdico dele: quero provar, sem nenhum tipo de ajuste de contas,
que a narrativa oficial diz que estivemos à beira de uma ditadura de esquerda
quando estivemos muito mais próximos de um golpe de extrema-direita. A direita
não foi tão ordeira e civilizada como hoje nos querem fazer crer.
Há muito mais gente assassinada pela "rede bombista" do que pelas FP25.
Estamos cansados de ouvir que o 25 de Novembro foi o princípio da "normalidade democrática" quando os atentados mais mortais da "rede bombista" foram depois dessa data e já corria o ano de 1976. Ninguém dá resposta para isso. A única coisa que nos pode valer é a confissão do Ramiro Moreira, em agosto de 1976, em que ele diz para um gravador: "Interessava que continuasse a haver bombinhas." Porque havia uma série de frustrados com a independência de Angola e porque os comunistas continuavam a existir. Duas das coisas que essa gente assumiu como os objetivos do seu combate, impedir a independência de Angola e liquidar os comunistas, não tinham acontecido.
Não era também uma espécie de chantagem das almas negras para os novos donos do poder e seus anteriores cúmplices?
Há muito mais gente assassinada pela "rede bombista" do que pelas FP25.
Estamos cansados de ouvir que o 25 de Novembro foi o princípio da "normalidade democrática" quando os atentados mais mortais da "rede bombista" foram depois dessa data e já corria o ano de 1976. Ninguém dá resposta para isso. A única coisa que nos pode valer é a confissão do Ramiro Moreira, em agosto de 1976, em que ele diz para um gravador: "Interessava que continuasse a haver bombinhas." Porque havia uma série de frustrados com a independência de Angola e porque os comunistas continuavam a existir. Duas das coisas que essa gente assumiu como os objetivos do seu combate, impedir a independência de Angola e liquidar os comunistas, não tinham acontecido.
Não era também uma espécie de chantagem das almas negras para os novos donos do poder e seus anteriores cúmplices?
Onde quer chegar?
Há setores do CDS, PSD e até PS que aparecem, no seu livro, a colaborar e a
apoiar a "rede bombista". Coloca no seu livro um chefe da segurança
do PS, preso por causa das chamadas armas de Edmundo Pedro [armas dadas pela
direita militar e o Grupo dos Nove ao PS] a dizer na cadeia ao Ramiro Moreira:
"Cala-te senão ainda apareces morto."
Eu não sou ingénuo, mas confesso que o grau de envolvimento de setores do PS
com a "rede bombista" é muito maior que eu imaginava.
Setores ou implica a própria direção?
Há zonas do país em que as diretrizes do PS não são seguidas. Se, em Braga, o
dirigente da distrital do PS é um dos grandes organizadores da manifestação da
Igreja [que acaba com o assalto e incêndio da sede do PCP], há outras pessoas,
como um dirigente do PS de Viana do Castelo, que se recusam a cumpri-las. Esse
dirigente demite-se porque não quer obedecer a uma ordem do Largo do Rato sobre
um envio de armas.
No seu livro até há um bombista a dizer que colocou um petardo na sede do PS
do Largo do Rato, no dia do debate televisivo com o Cunhal, a mando do próprio
Partido Socialista, para se vitimar. E quem acaba por indultar o Ramiro Moreira
não foi o Eanes.
Pois não. Foi o Soares. O próprio julgamento da "rede bombista", a
própria forma como o julgamento terminou deve muito às manobras do governo PS
da altura. Não me custa nada fazer minhas as palavras do advogado Levy Baptista
de que o julgamento da "rede bombista" foi uma farsa. Aquilo ter ido
para o fórum militar foi uma forma de condicionar uma data de coisas; o papel
de Almeida Santos nesse assunto está por esclarecer; o próprio papel de Mário
Soares não é claro. Relembro que, depois dos acontecimentos em Rio Maior [manifestação,
a 13 de julho de 1975, que culminou em assaltos às sedes do PCP e FSP], Soares
faz um comício em Rio Maior em que diz, "Era bom que este exemplo fosse
seguido em várias zonas do país", e a Igreja aproveita logo as declarações
em várias dioceses. Uma coisa espantosa, mesmo conhecendo bem a documentação
desse período, são as coleções do Diário do Minho [jornal de
propriedade da Igreja], que quase chegam a ser uma espécie de Ação
Socialista daquele período: abundam fotos e elogios ao Mário Soares.
Outra coisa impressionante no seu livro é a dimensão de guerra suja, com operações de provocação que podiam ter custado centenas de vidas, como da vez em que pediram a Ramiro Moreira para colocar 100 quilos de explosivos no Santuário de Fátima para depois acusarem os comunistas do massacre.
Outra coisa impressionante no seu livro é a dimensão de guerra suja, com operações de provocação que podiam ter custado centenas de vidas, como da vez em que pediram a Ramiro Moreira para colocar 100 quilos de explosivos no Santuário de Fátima para depois acusarem os comunistas do massacre.
Não tenho dúvidas de que é verdade. Acho que quando o Ramiro Moreira é genuíno
é quando foi ouvido, poucas horas depois de ser detido, não é quando em 1991 é
indultado e reescreve a história, e diz que têm de lhe erguer uma estátua
porque ele lutou pela democracia. Ele é verdadeiro quando está assustado e está
convencido de que, "abrindo o livro", pode ser salvo.
É muito curioso o facto de ter sido o próprio Sá Carneiro, de quem Ramiro
Moreira tinha sido guarda-costas, a expulsá-lo do PSD, dizendo: "Eu não
posso ter um bombista no partido".
Francisco Sá Carneiro não era um líder político como os de hoje, que são completamente
viciados no aparelho.
Havia uma diferença entre os dois na forma como ligavam com a estrumeira dos respetivos aparelhos. Sá Carneiro, quando começa a saber do envolvimento de certas figuras do PSD, nomeadamente Ramiro Moreira, que não era só segurança, era militante número 7 do partido, tinha feito parte da comissão política distrital do Porto, tinha sido levado ao colo por Mota Freitas, essa figura altamente protegida pelos militares... Quando Sá Carneiro chama Ramiro Moreira a casa e lhe diz, "Meu amigo, ou entregas o cartão ou és expulso", isso é uma tentativa, admito que já desesperada, de que o partido não resvale par aí. Podemos discutir se o conseguiu ou não, até porque o PPD aparece envolvido em muita coisa. Já os militantes do CDS aparecem bastante envolvidos, são eles que fazem grande parte das ligações, em algumas regiões, da Igreja com a "rede bombista". Basílio Horta chega a reunir com os responsáveis da Igreja, que lhe dizem o que estão a fazer. Claro que ele, depois, diz que não alimentaram isso, mas ele sabia o que estava a ser preparado. Espantoso, para mim, é o grau de envolvimento dos setores do PS nisso. O que me leva a tirar a conclusão de que não sou o primeiro a tirá-la o Partido Socialista se aliou a tudo para combater o PCP.
s contactos de Günter Wallraff, a fingir de traficante de armas, com
Spínola para armar um golpe de Estado de extrema-direita são posteriores ao 25
de Novembro?
Aliás, o primeiro contacto que Günter Wallraff diz ter com alguém da "rede bombista" é uma conversa que tem, por acaso, com um homem com um cão que é o próprio líder dos Corrécios.
Alguns pormenores do livro do jornalista alemão podem ter sido romanceados mas,
no geral, ele é rigoroso. Na altura, o semanário O Jornal foi
conferir os dados do livro e concluiu que eram verdadeiros. Há vários elementos
do ELP e do MDLP que vêm confirmar que o livro acertava em cheio. Quando me
perguntam como era possível os bombistas, como os Corrécios, irem gabar-se dos
seus atos para os cafés, eu respondo: muito facilmente, grande parte do país
era anticomunista e era fácil fazê-lo sem nenhuma consequência.
Um dado desconhecido pela maior parte das pessoas é a cumplicidade de
membros do Conselho da Revolução com a "rede bombista".
Tanto o Canto e Castro como o Vítor
Alves sabiam o que estava a acontecer e quem eram as pessoas que estavam por
detrás dessas ações. O Vítor Alves "aterrou" várias vezes em casa do
Joaquim Ferreira Torres. Aliás, há um frase do Joaquim Ferreira Torres, quando
o vê na televisão, que diz: "Este filho da puta veio tantas vezes jantar a
minha casa e comer o meu fumeiro e, afinal, não fez nada do que se
comprometeu." Para além de tudo isso, está também por esclarecer o papel
de Ramalho Eanes em tudo isto.
Mas o grau de compromisso dele com tudo o que ardia é muito maior do que se pensa. Lê-se em vários documentos e em depoimentos de várias pessoas que há muita gente que suspeita do seu envolvimento. O próprio Álvaro Guimarães, diretor da Polícia Judiciária do Porto, afirma que um dos objetivos do Eanes foi colocar um espião na PJ para controlar os movimentos da Judiciária e saber o que a investigação sabia.
Não falou com Ramalho Eanes?
Não, e confesso que não tentei. O
objetivo do livro era sobretudo ouvir uma data de gente que, apesar de não ser
conhecida, tem mais coisas a dar. Quando eu digo que não acho que haja um
esclarecimento total do seu envolvimento naquele período, não penso que fosse
conversando com ele que isso se conseguiria apurar. Acho que seria mais
importante ouvir pessoas que estiveram com as mãos na massa, investigaram e
produziram muita documentação.
Mas o seu livro acaba por ficar na mesma situação em que ficaram as investigações judiciais: os executantes da arraia miúda foram apanhados e logo libertados, os mandantes foram falados mas permaneceram intocados, e quem politicamente estava por detrás nunca foi incomodado.
Mas o seu livro acaba por ficar na mesma situação em que ficaram as investigações judiciais: os executantes da arraia miúda foram apanhados e logo libertados, os mandantes foram falados mas permaneceram intocados, e quem politicamente estava por detrás nunca foi incomodado.
Isso é legal, o processo não tem
de ser público?
Eu acho que sim, mas está protegido.
Como está protegido o depoimento prestado por Ramiro Moreira a uma das
comissões ao acidente/atentado de Camarate. O depoente só aceitou fazer o
depoimento quando lhe garantiram que nunca seria tornado público. Se pedir à
Assembleia da República, a resposta que lhe vão dar é que o Ramiro tem de
autorizar. Aliás, há muitas atas dessa comissão que são impossíveis de
conseguir. Isto é tudo formalmente legal. Mas, para mim, isso é uma
privatização da memória pública. Legitima que se possa pensar que isto não é
por acaso: se calhar, sabendo-se tudo sobre a "rede bombista",
algumas biografias vão ficar desfocadas.
E o Ramiro Moreira terá lido o livro?
Agora, há outros, como o cônsul dos EUA no Porto, que, pelo seu depoimento, ficamos a saber que ele só organizava chás e sessões de relações públicas, e que nunca viu um espião da CIA...
O homem que está no centro do furacão e que garante que a sua vida não passava de jogar golfe. Mas é importante o seu depoimento estar aí. É o relato de alguém que tenta reescrever o sucedido, como quando ele diz que isto tudo não passou de uns tipos a baterem com o guarda-chuva na cabeça uns dos outros.
12/Abril/2017
[1]
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu , Oficina do Livro, 2017, 560
p., ISBN: 9789897416675
[2] Günter Wallraff, A descoberta de uma conspiração , Bertrand, 1976, 242 p.
O original encontra-se em ionline.sapo.pt/558127
[2] Günter Wallraff, A descoberta de uma conspiração , Bertrand, 1976, 242 p.
O original encontra-se em ionline.sapo.pt/558127
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