Marino Boieira
(publicado no Pravda de26 de
Março de 2017)
Uma das grandes mentiras, que já
tem 70 anos, é de que o Estado de Israel vive ameaçado pelos árabes na
Palestina. Goebbels já dizia que uma mentira repetida mil vezes se transforma
em verdade. Os pobres palestinianos os foram expulsos de sua terra pela maior
potência militar do Médio Oriente...
Os pobres palestinianos foram
expulsos da sua terra pela maior potência militar do Médio Oriente, que inclusivamente
dispõe de armas atómicas e apenas tem o apoio apenas formal dos governos árabes
corruptos da região e, mesmo assim, o lobby judaico no mundo inteiro,
transformou-os num perigo para a paz na região.
Ainda bem que existem intelectuais
judeus que se recusam a pactuar com essa mentira histórica. Vamos lembrar aqui
alguns deles, começando por Noam Chomsky,
o mais conhecido deles todos.
"Nos territórios ocupados, o
que Israel está a fazer é muito pior que o apartheid. (...) os brancos
sul-africanos precisavam da população negra. Era a sua força de trabalho. Tinham
que os sustentar. Os "bantustões" eram horríveis, mas a África do Sul
precisava deles. (...) A relação de Israel com os palestinianos é diferente.
Israel simplesmente não quer os palestinianos. Israel quere-os fora da sua
terra ou, pelo menos, na prisão".
Bombardeamento israelita em Gaza em 2009 |
Sobre o Hezbollah: "Foi fundamental para expulsar os israelitas do
Sul do Líbano, e por isso é classificado pelos Estados Unidos como organização
terrorista "
Sobre o Hamas: "Eu sou contra as políticas do Hamas em quase todos os
aspectos. No entanto, devemos reconhecer que as políticas do Hamas são mais
próximas e mais propícias a uma solução pacífica do que as dos Estados Unidos
ou de Israel"
Shlomo Sand nasceu em Linz, na Áustria, em 1946 e é professor da História
na Universidade de Telavive. O seu livro mais famoso,” A Invenção do Povo Judeu”,
deita por terra o mito fundador do Estado de Israel de que os judeus actuais
são descendentes dos antigos hebreus que viveram na Palestina durante o Império
Romano e, por isso mesmo, teriam direito exclusivo às terras que os árabes
ocuparam depois.
Sand argumenta que é provável que
os antepassados da maioria dos judeus contemporâneos sejam essencialmente de
fora da Terra de Israel (Eretz Yisrael) e que uma "nação-raça" dos
judeus, com uma origem comum, nunca existiu. Assim como os cristãos mais
contemporâneos e muçulmanos são descendentes de pessoas convertidas, e não dos
primeiros cristãos e muçulmanos. O judaísmo era originalmente, assim como seus
dois primos, um proselitismo religioso. Muita da população judaica mundial dos
dias de hoje é descendente de europeus, russos e grupos africanos.
Sand ataca também outra história
cara ao judaísmo, a de que, depois da revolta de Bar Kokhba, os judeus foram
expulsos da Palestina pelos romanos. Diz ele que a maioria dos judeus não foi
exilada pelos romanos e muitos deles se vieram a converter ao islamismo após a
ocupação da Palestina pelos árabes no século sétimo.
O sionismo, segundo Sand, foi
mais um dos movimentos nacionalistas surgidos na Europa no século XIX que
sonhavam com uma hipotética "idade do ouro", existente no passado. Os
judeus seriam então descendentes de um mítico reino de David, o que
significaria uma base étnica comum, quando o que os unia, na verdade, era
apenas a religião comum.
Norman Gary Finkelstein, nascido em 1953, em Nova Iorque, filho de
pais sobreviventes de Auschwitz, doutor pela Universidade de Princeton e
professor da Universidade de Nova York, é mais um dos intelectuais judeu s
proibidos de entrar em Israel, principalmente por causa do seu livro "A
Indústria do Holocausto - Reflexões Sobre a Exploração do Sofrimento dos
Judeus" onde afirma que ""o organizado judaísmo americano
explorou o Holocausto nazista para desviar as críticas de Israel e suas políticas
moralmente indefensáveis
Segundo Finkelstein, depois da
Segunda Guerra Mundial, as organizações judaicas dos Estados Unidos, as mais
poderosas do mundo - sempre com o apoio de publicações como "New York
Times" e "Washington Post", os dois jornais mais conhecidos do
país, além de revistas, como "Time" e "Newsweek" -, esqueceram
praticamente o Holocausto, porque a Alemanha se tornou num aliado fundamental
no confronto dos EUA com a União Soviética.
Lembrar o Holocausto nazi levava
a etiqueta de causa comunista. As associações judaicas chegaram a fazer vista
grossa à entrada de nazis nos Estados Unidos.
Ainda segundo Finkelstein, a
partir de junho de 1967, com a guerra árabe-israelita, o Holocausto tornou-se numa
fixação na vida dos judeus americanos. Desde a sua fundação em 1948 até a
guerra de junho de 1967, Israel não figurou como foco no planeamento
estratégico americano. "A indústria do Holocausto só se difundiu depois da
dominação militar esmagadora e do florescente e exagerado triunfalismo entre os
israelitas".
Diz Finkelstein: "Não foi a
alegada fraqueza e isolamento de Israel, nem o medo de um “segundo holocausto”,
mas antes a sua comprovada força e aliança estratégica com os Estados Unidos,
que conduziram as elites judaicas a produzir a indústria do Holocausto, depois
de junho de 1967.
Outro forte motivo por detrás
desta farsa era material. O governo alemão do pós-guerra compensou os judeus
que estiveram em campos ou guetos. Muitos desses judeus recriaram os seus
passados para atender a essas exigências"
Ilan Pappé: nascido em 1954, Haifa, Israel, é um historiador,
professor de História na Universidade de Exeter, no Reino Unido. Foi docente em
Ciências Políticas na sua cidade natal, na Universidade de Haifa.
É um dos chamados Novos
Historiadores, que reexaminaram criticamente a História de Israel e do
sionismo. Pappé faz uma análise profunda sobre os acontecimentos de 1948
(criação do Estado de Israel) e dos seus antecedentes. Em particular, defende
no seu livro mais importante, “Limpeza Étnica na Palestina” que houve a
expulsão deliberada da população civil árabe da Palestina - operada pelo
Haganah, pelo Irgun e por outras milícias sionistas.
Pappé considera a criação de
Israel como a principal razão para a instabilidade e a impossibilidade de paz
no Médio Oriente. Segundo ele, o sionismo tem sido historicamente mais perigoso
do que o islamismo extremista.
Ilan Pappé é um importante defensor da solução
de um único estado para palestinos e israelenses.
Em 2008, Ilan Pappé exilou-se na
Grã-Bretanha, onde atualmente é professor de História na Universidade de Exeter
e diretor do Centro Europeu de Estudos sobre a Palestina.
Antes de deixar Israel, foi
veementemente condenado no Knesset, o parlamento de Israel. Um Ministro da
Educação pediu a sua demissão da universidade, e a sua foto foi publicada num
jornal, como o centro de um alvo. Além disso, Pappé recebeu várias ameaças de
morte.
"Fui boicotado na minha
universidade e houve tentativas de me expulsarem do meu trabalho. Recebo
chamadas telefónicas com ameaças todos os dias. Não estou a ser visto como uma
ameaça para a sociedade israelita, mas o meu povo pensa que sou louco ou que a
minha opinião é irrelevante. Muitos israelitas acreditam também que estou a
trabalhar como mercenário para os árabes.
Judith Butler, nascida em Cleveland, Ohio, em1956, de origem
judaica, teve a sua família, pelo lado materno, morta em campos de concentração
nazis na Hungria. É professora de Filosofia na European Graduate School, na
Suiça, sendo considerada uma das principais teóricas do feminismo no mundo
inteiro. O seu livro "Caminhos Partidos: Judaísmo e Critica do
Sionismo" a levou-a a ser considerada como antissemita pelo jornal
Jerusalem Post, porque defendeu o binacionalismo em Israel, dizendo que "é
preciso acabar com a ocupação, que é ilegal e é uma extensão de um projeto
colonial".
Judith Butler defende outra tese,
que os governantes de Israel detestam ouvir: o direito de retorno dos
palestinos expulsos de suas casas e de suas terras e que eles sejam indemnizados
pelas suas perdas.
O autor deste texto é
Marino Boeira é jornalista, formado em História pela Universidade Federal do
Rio Grande do Sul.
Como seu editor e
revisor do texto para português de Portugal, entendo emitir a minha opinião de que
a utilização pelos que, justamente, criticam Israel, da expressão “indústria do
holocausto” tem sido aproveitado por Jihadistas para negar a existência do Holocausto,
em prejuízo da verdade histórica e reforço dos lobbies sionistas.
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