Considerando o risco
iminente de uma 3ª guerra mundial, o Kremlin deu ordens aos seus diplomatas e
pessoal em funções no Ocidente para repatriarem as suas famílias sem demora. As
representações e instituições russas serão reduzidas ao mínimo.
Pelo seu lado, o Ministério
russo da Defesa procedeu na passada 4ª feira, dia 12, a três disparos de
mísseis intercontinentais (leia-se poderem atingir os EUA) com o objectivo de
ajustar o respectivo sistema de lançamento (1).
O general norte-americano Mark
Milley afirmou há dias que os EUA farão a guerra contra a Rússia e que esta
sofrerá a maior derrota de sempre. De seguida o Ministério da Defesa russo
afirmou que iria abater qualquer avião ou míssil que sobrevoassem o território
sírio.
Vinte e dois congressistas
norte-americanos pediram a Obama para os EUA não serem os primeiros a usar a
arma atómica.
Nos últimos dias temos
assistido a uma das mais virulentas batalhas de contrainformação sobre os
combates de Aleppo e quem quer e não quer a guerra na Síria.
Os grandes meios de
comunicação social portugueses estão envolvidos até ao pescoço em mais uma das
vergonhosas campanhas de desinformação relativas a algumas questões
internacionais. Infelizmente a Antena Um não está sozinha nesta procissão.
E isso é tanto mais grave quando
a situação encerra o risco real por estes dias do desencadear-se uma nova
guerra mundial ou, pelo contrário, confirmar-se uma nova ordem internacional
mais respeitadora de todos os verdadeiros direitos humanos. A reunião de
Lausana, na Suíça não teve declaração final, presumindo-se que dê origem a
outras iniciativas, também junto da UE, de que ainda não está claro o alcance,
Foram precedidas por contactos entre Kerry e Lavrov. E nela participaram também
os Ministros dos Negócios Estrangeiros do Egipto, Arabia Saudita, Turquia, Irão,
Iraque e Jordânia.
Sou ouvinte habitual da Antena Um, para o bem e para o mal.
A Antena Um sonegou aos seus
ouvintes que no passado dia 8 o Conselho de Segurança esteve à beira de um
cisma, situação relativamente inédita.
Inopinadamente, a França
apresentou um projecto de resolução em que toda a responsabilidade pela
escalada das tensões era da Síria. Também pretendia ser uma tentativa de
proibir voos de aviação na região de Aleppo para proteger os terroristas da
Al-Nusra e outros grupos aliados. Isto depois de há quase um ano os
estados-membros da ONU já terem considerado por consenso a obrigação de lutar
contra os terroristas por todos os meios possíveis, incluindo a Al-Nusra. A
proposta francesa omitia que a crise humanitária em Aleppo foi provocada artificialmente,
quando estes “rebeldes” tinham recusado em Agosto deixar passar comboios
humanitários e ameaçado disparar sobre eles. Além disso, o projeto não referia
a necessidade de lançar o mais rapidamente possível um processo de paz
inter-sírio, já torpedeado pelos opositores apoiados e protegidos pelo
“Ocidente”.
A delegação russa propôs
alterações nomeadamente a importância de definir de forma clara e inequívoca a
distinção entre opositores "moderados" e terroristas. Propôs ainda
desbloquear o caminho para Castello, cortado
pelos terroristas, que é uma artéria fundamental para fornecer o leste de Aleppo.
Em vão e os vetos cruzados foram inevitáveis. A Antena Um falou-nos disto?
A Antena Um entende que nos
deve manter na ignorância de que o Egipto (membro não permanente do CS) votou
as duas moções, com vista a chegar-se a um entendimento, fazendo saber que o
apoio financeiro da Arábia Saudita ao seu país não retirava ao governo egípcio
a soberania na definição da sua política externa ou de que outros membros não
permanentes do CS apoiaram a abordagem russa na discussão das duas moções,
contra a perspectiva da França?
E ignora que o acordo de
cessar-fogo, mediado pela ONU, como referimos, passados dois dias, foi violado
por um ataque aéreo da coligação, liderada pelos EUA à base do Exército sírio
em Deir Ez-Zor, que matou 82 civis e feriu centenas de outras pessoas?
Quer que ignoremos que nessa
data, a Rússia já tinha registado mais de 300 violações do cessar-fogo pelos
chamados rebeldes “moderados” que abertamente se recusaram a participar no
acordo de paz intermediado entre os Estados Unidos e a Rússia, com o líder do
grupo rebelde Ahrar al-Sham referido que não se iria separar da Al-Nusra, essa,
sim, considerada “terrorista” no esboço do acordo de paz?
Porque não nos dizem que
agora não se parte do zero, que passos foram dados e quem os violou?
A Antena Um apresentou uma
Aleppo que não existe. Atualmente, na parte ocidental da cidade vivem cerca de
milhão e meio de pessoas, enquanto na oriental viverão cerca de 30 mil, muitos sequestrados
por alguns milhares de terroristas da Al-Nusra.
Não fala dos ataques destes
grupos terroristas dentro desta pequena faixa de Alepo contra a parte ocidental
da cidade, matando civis, destruindo escolas e hospitais.
Não nos fez saber a Antena
Um que estes são os jiadhistas que mataram os habitantes de Aleppo Oriental que
tentavam fugir durante a pausa de Eid (2). Estes ainda são os que queimaram o
comboio do Crescente Vermelho Sírio para os civis reféns em Aleppo, depois de a
Síria e a Rússia terem permitido que durante o Eid todos os residentes dessa
parte de Aleppo, civis ou combatentes, sírios ou estrangeiros tivessem a
oportunidade de deixar a cidade. Depois disso, o exército sírio e os seus
aliados libaneses, russos e iranianos lançaram uma operação contra os
jihadistas que corria o risco de matar civis que mantêm como reféns.
A Antena Um quando fala de
“rebeldes” de Aleppo sabe que devia dizer “terroristas” ou os grupos
terroristas expulsos do Iraque para a Síria mudam de nome?
E porque omite o esclarecimento
de Putin sobre o ataque ao comboio humanitário para Aleppo, foi da autoria dum
destes grupos, como é do conhecimento dos EUA que acompanharam a operação com
um drone?
A Antena Um quer fazer de
Vladimir Putin e Bachar al-Assad os maus da fita, os índios, em contraponto com
os cowboys de Washington, do Eliseu ou de Londres. E embandeira em arco com o
delírio da pretensão de Hollande em levar Putin aos tribunais…
Nem destas nem de outras
coisas mais a Antena Um nos dá notícia, preferindo sistematicamente omitir ou
distorcer.
A Antena Um tem que se
definir, e informar os seus ouvintes, sobre se está ou não a deitar achas para
a fogueira que se avizinha.
AAntenaUm só tem um ouvido e
prefere ouvir só de um lado. Sendo uma rádio, mandou a estereofonia às urtigas,
e regressou aos velhos tempos. Importa que a Antena Um tenha em conta, que a
agressão directa ou por interpostos aliados dos EUA está a ter respostas.
Se o New York Times revelou
que Obama estava insatisfeito com a recusa do Congresso em lhe permitir entrar
pela Síria dentro e que era obrigado a atribuir essa tarefa a aliados (3), os
EUA já fizeram deslocar aviões AWAC para a região e o Ministério da Defesa
Russo já anunciou que abaterá qualquer avião estrangeiro que invada o espaço
aéreo sírio que controla a pedido do governo legítimo do país. A Antena Um não
achou que isso tivesse interesse jornalístico? Também no Iémen a Rússia se
instalou militarmente para defender o país dos ataques sauditas e outros países
do Golfo atrelados à Arábia Saudita. “No passado dia 7 o Iémen disparou um
míssil terra-mar contra o HSV-2 Swift, um catamarã cruzador do exército saudita
e destruiu-o. A imprensa ocidental, que a isso se referiu, atribuiu o disparo
aos Houthis e que o emblemático navio teria sido apenas danificado... A
Federação Russa estava assim a dirigir a mensagem à NATO e às petro-ditaduras
do Golfo: a guerra geral é possível e Moscovo não vai fugir dela” (4). Os EUA
não reagiram directamente. A Arábia Saudita fez um novo massacre bombardeando o
país nesse dia “Pelo menos 140 pessoas mortas e 525 feridas é o balanço de um
bombardeamento, atribuído à Arábia Saudita, durante um funeral no Iémen” (5). Depois
disso um mesmo cruzador norte-americano sofreu por duas vezes, em dias
consecutivos, disparos de mísseis voindos do Iémen.Que nos disse a Antena Um?
Zero!
Putin, entretanto, revogou o
acordo russo-norte-americano relativo à limitação de plutónio militar, decisão
que resulta da dissuasão nuclear. Com a apresentação de um projeto de lei na
Duma, pediu que o acordo sobre o plutónio seja restaurado quando Washington
cumprir as suas promessas: a remoção de armas instalados pela NATO nos
ex-estados soviéticos e a revogação das sanções anti-russas (6) A Antena Um
falou da revogação do acordo mas quanto o resto, nada!
Para além das atitudes
destes e de outros propagandistas de frases produzidas algures, a realidade é
outra coisa. Já passou o tempo em que meia dúzia dos mais enfrenesiados
atlantistas podia cavalgar as boas normas das relações internacionais em seu
favor. Estamos numa nova era de reequilíbrio entre grandes potências, em que
acordos mutuamente vantajosos a nível bilateral e multilateral poderão
contribuir para o desenvolvimento de todos, particularmente dos que mais para
trás foram deixados. E o desenvolvimento é a base mais sólida para a paz.
(1) “Russia orders all officials to fly home any
relatives living abroad, as tensions mount over the prospect of a global war”,
Julian Robinson, Daily Mail, 13 de Outubro, 2016
(2) Eid al-Adha, também
chamado "Festa do Sacrifício", é o segundo de dois feriados
muçulmanos comemorado todos os anos em todo o mundo, e considerado o mais santo
dos dois. Homenageia a disposição de Ibrahim (Abraão) para sacrificar seu
filho, como um acto de submissão à ordem de Deus, diante de Deus, antes de Deus
enviar o seu anjo Jibra’ill (Gabriel) para o informar que o seu sacrifício já
tinha sido aceite. A carne do animal sacrificado é dividida em três partes. A
família fica com um terço, outro terço é dado aos parentes, amigos e vizinhos e
o terço restante é dado aos pobres e necessitados.
(3) “Audio Reveals What John Kerry Told Syrians Behind
Closed Doors”, Anne Barnard, The New York Times, 30 de Setembro, 2016.
(4) Thierry Meyssan,
voltairenet.org.
(5) “Avante!”, 13 de
Outubro, 2016.
(6) Thierry Meyssan,
voltairenet.org.
PS - Numa versão original
deste artigo, publicado noutra plataforma, citei várias vezes o jornalista
Miguel Soares, da Antena Um, como o autor de algumas afirmações atrás
atribuídas à sua estação. Fazendo fé num pedido de esclarecimento e correcção
que então fez, com todo o gosto, corrigi a autoria das afirmações que terão
sido feitas por terceiros, mas mantive, porque as ouvi bem e continuei a ouvir
que elas foram feitas e não é da ética do meu comportamento, inventar tais
declarações.
Sem comentários:
Enviar um comentário