Depois do Orçamento de Estado para 2017 já ter sido aprovado, já veio um novo relatório do FMI, que deu para os comentadores de serviço fazerem dele interpretações contraditórias e agora para a Dra. Teodora Cardoso fazer algumas previsões negativas, apesar de já ter ocorrido o Diabexit da direita.
Porque a poeira está a assentar retomo aqui algumas considerações sobre o OE 17 (1ª parte), que completarei com dados recolhidos dos grupos parlamentares (parte 2).
Considerações prévias
Num artigo anterior, em Outubro,
sublinhámos os aspectos positivos contidos na proposta que o Governo apresentou
à Assembleia da República. E acrescentámos que ela consolidava a reposição de
direitos já alcançados para 2016 e que importaria ir mais longe para 2017, indo
ao encontro de muitas lutas travadas em anos anteriores com tais objectivos.
Importa agora referenciar os
ganhos que a discussão na especialidade trouxe em acréscimo a esses aspectos
positivos.
Mas antes disso, importa insistir em que PSD e CDS no debate procuraram falar de tudo menos do OE.
Sempre que entraram na discussão
do Orçamento, PSD e CDS ora defenderam a política que tinham feito, apontando-a
como o caminho certo para o País, ora disseram que aquela não era a sua
política e que tinham sido “obrigados” a executá-la…Frequentemente em termos soezes e trauliteiros.
A proposta de OE para
2017
contemplava inicialmente
contemplava inicialmente
A reposição de salários e pensões
para camadas de menores rendimentos e para a Função Pública, um crescimento do
PIB de 1,5%, valor que multiplica por quatro a média do crescimento da economia
portuguesa nos últimos 30 anos, um aumento da procura externa, uma inversão na
queda do investimento – em ambos estes casos com medidas de política para que
isso aconteça – a redução ligeira da carga fiscal, mas com uma redistribuição
dela em benefício dos que menos ganham.
E também continuava a redução do
desemprego, o descongelamento do Indexante de Apoios Sociais (compromisso
assumido no OE de 2016) com impacte muito significativo no aumento do valor de
várias prestações sociais, um apoio à capitalização das empresas e redução de
encargos para a banca, a criação do adicional ao Imposto Municipal sobre
Imóveis (IMI) quando não afecte a actividade económica que será consignado à
Segurança Social.
Era uma proposta que conseguia
prever um déficit de 2,4% para 2017 (2,6% segundo o Conselho de Finanças
Públicas).
E que apontava para a subida das
exportações em 7,7%, apesar da retracção dos mercados de Angola, Brasil, devida
à queda dos preços do petróleo, e da Rússia (que fechou os mercados em vários
sectores, em resposta às sanções que EUA e UE decidiram).
Podia concluir-se então que o
projecto inicial, sendo uma proposta do PS, reflectia a aceitação por parte
deste das imposições, constrangimentos e limitações, decorrentes do compromisso
com o Pacto Orçamental, da disciplina do euro, da União bancária e do serviço
da dívida. O PS sabe que são desses constrangimentos comunitários, cada vez
mais contestados, que vêm as dificuldades ao crescimento.
E que o governo teria que dar passos
mais largos na inversão da política realizada pelo anterior governo de direita.
A sua proposta podia consolidar,
porém, uma mudança de rumo da política portuguesa em relação ao anterior
governo da direita.
Quanto à posterior
discussão na especialidade
Importa referenciar os ganhos que
a discussão na especialidade trouxe em acréscimo aos aspectos positivos da
proposta inicial do Governo.
PSD e CDS quando discutiram
medidas e propostas que no Orçamento melhoravam a vida dos trabalhadores e do
povo ou respondiam aos seus problemas, PSD e CDS ora agitavam os fantasmas dos
riscos externos, da incerteza e das críticas da União Europeia, ora se
justificavam com o clima externo favorável e a benevolência de quem olha para
Portugal de fora.
Não conseguindo enfrentar a
discussão de mais um Orçamento que destruía o seu discurso das inevitabilidades,
PSD e CDS acabaram por ter um comportamento deplorável e quiseram tornar a CGD
questão central no debate do OE.
Um dos avanços mais evidentes da
discussão foi o do aumento das pensões. A AR não
se ficou pela actualização automática das pensões do Orçamento de 2016 e enveredou
por um aumento do valor real das pensões. Isto porque quem descontou uma vida
inteira também tem direito a ter a sua pensão aumentada. Os deputados
comunistas defenderam essa posição mesmo quando foi atacada com falsos
argumentos de injustiça por quem se limitava a defender aumentos semelhantes
aos que PSD e CDS tinham feito. Ao aumento geral de 10 euros acresceu mais 6
euros para as pensões mínimas.
Os trabalhadores da
Administração Pública vêem aumentado o seu rendimento com o aumento
do subsídio de refeição. Os trabalhadores do Sector Público Empresarial vêem
reposta a contratação colectiva e os direitos correspondentes.
O conjunto dos trabalhadores é
beneficiado pelo aumento do abono de família para 130 mil crianças que vão
passar a receber até aos 3 anos de idade a majoração que hoje recebem apenas no
primeiro ano de vida e também pelo avanço na gratuitidade dos manuais escolares
que se estende a 370 mil crianças de todo o 1º ciclo do ensino básico.
Avançou-se no combate à
precariedade na Administração Pública com a abertura de lugares nos
mapas de pessoal e a contratação de trabalhadores, valorizando a experiência de
quem já exercia funções.
Aprovaram-se medidas de apoio aos MPME, com a redução do PEC de 1000 para 850 euros na
perspectiva da sua eliminação, e também foram apoiados os
agricultores e pescadores no gasóleo agrícola e na gasolina para a
pesca artesanal e costeira.
Em matéria de energia foram aprovadas importantes propostas para a redução
do preço do gás de garrafa, para o prolongamento da tarifa regulada na energia
eléctrica, para reduzir os preços da energia e dos combustíveis por via da
eliminação das rendas do sector energético.
A tributação do
património imobiliário de valor mais elevado ficou assegurado de uma
forma mais firme do que constava da proposta do Orçamento com as alterações e
correcções feitas ao texto inicial.
Os aspectos menos
positivos que persistem prendem-se com a atitude em relação à União Europeia.
Não se questiona o Euro, nem o
Pacto Orçamental nem a União Bancária.
Não se coloca a questão da
reestruturação da dívida quer em montantes, quer em prazos quer nos juros,
sendo certo que estamos a pagar 8 e 11 mil milhões de euros anuais só de juros
o que daria para um salto assinalável no funcionamento da economia e na
melhoria das condições de vida para os trabalhadores.
Adia-se a abordagem destas
questões para depois das eleições no próximo ano na França, Holanda e Alemanha.
Mas prendem-se ainda com a não
alteração do Código do Trabalho e a fixação em valores mais justos e
sustentáveis do salário mínimo. A questão decisiva da contratação colectiva e a não caducidade são outros aspectos negativos.
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