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terça-feira, 14 de dezembro de 2021

A propósito da questão da Ucrânia antónio abreu


O reforço progressivo de meios bélicos na Ucrânia ao longo deste ano é enorme e continua nestes dias. A sucessão de supostas ameaças da Rússia, fabricadas pelos serviços de informação ocidentais, e de ameaças contra a Rússia não param. 

Os EUA, a NATO e UE têm-se desdobrado em ameaças de sanções reforçadas contra a Rússia em caso de intervenção desta na Ucrânia. Mas são sanções que ela tornearia eficazmente e que refletem tão só algumas linhas de recuo relativamente à “resposta” militar à “invasão” russa da região do Donbass…, leitmotiv da crispação entre o Bem e o Mal, como nas estórias mais mal contadas às criancinhas… 

A chamada “revolução laranja”, de facto um golpe de natureza fascista, de 2014, em Kiev, capital da Ucrânia, traduziu-se na tomada do aparelho de estado, em termos violentos, por paramilitares organizados em partidos declaradamente nazis e, de imediato aos habitantes de origem russa ou que falassem russo, o que provocou inclusivamente a tentativa de habitantes do Donbass se deslocarem do Donbass para Kiev para protegerem os direitos dos habitantes de origem russa na parte ocidental do país. O novo poder em Kiev desencadeou uma linha de ataque contra o Donbass (região que inclui Luhansk e Donetsk), que reagiu criando meios próprios de defesa. É significativo que os partidos fascistas do golpe de Maidan tivessem como referência histórica o chefe dos nazis ucranianos que se aliaram aos nazis alemães, Stepan Bandera, que cooperou nos progrons antissemitas, e que tenha sido com o governo saído do golpe que EUA e UE andaram ao colo enquanto se realizavam perseguições contra os habitantes de origem russa. 

Neste quadro, a Crimeia aprovou em consulta popular, de resultados esmagadores, a integração na Federação Russa dias depois aceite pela Duma russa. Luhansk e Donetsk seguiram-lhe o exemplo, mas a Federação Russa já não aceitou a integração. 

Esta situação não se alterou substancialmente desde então. Nestes sete anos as condições económicas na Ucrânia agravaram-se muito, o neoliberalismo levou a alterações dramáticas e aventureiras na actividade produtiva, no emprego, na precarização das condições de trabalho e no alastramento da corrupção. A miséria subiu muito no país. 

Questão de particular importância tem sido o esforço das administrações norte-americanas desde Obama para “libertar” a Europa da sua dependência do gás russo. Para elas a Ucrânia não deveria aceitar que a nova conduta de gás natural da Rússia (Nord Stream 2) atravessasse o seu território, evitando a repetição do atravessamento da Ucrânia pelo anterior gasoduto, principal fonte de abastecimento da Europa. No ano passado 45% do consumo de gás natural na UE provinha da Rússia. A perda desse novo atravessamento faria a Ucrânia perder milhares de milhões de dólares de rendimentos. Porém as intenções dos EUA nada têm a ver com os interesses vitais da Ucrânia. O seu grande objetivo é travar a construção para poder exportar mais do seu próprio gás natural liquefeito (LNG, na sigla em inglês) para a Europa. Em abril de 2016, o porto de Sines foi o primeiro a receber um navio-tanque de LNG vindo dos EUA… 

A NATO e os EUA desejariam a entrada da Ucrânia para a organização. Mas a Rússia tem-se oposto a que se permita a outros países da NATO juntarem-se aos que já têm fronteira com a Rússia: Noruega, Estónia, Letónia, Lituânia, Polónia e a Turquia. Quer a questão do Nord Stream 2 quer a da eventual entrada da Ucrânia dividem os países ocidentais e não devem integrar uma frente comum contra os interesses da Rússia.

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